O céu estava nublado e o vento frio penetrava meu casaco, Hazel que estava sentada ao meu lado se encolhia cada vez mais em seu moletom, sua cabeça pairava sobre meu ombro e dividíamos um pacote de batata chips, nosso grupo estava sentado no gramado da faculdade, aturando o frio congelante de Nova Iork, esperando Nico aparecer, ele finalmente ia nos apresentar seu namorado, depois de quase seis meses escondendo, posso dizer que todos estavam ansiosos.
- Será que é alguém que já conhecemos?_ falou Piper, que abraçava o tronco do namorado, afim de se esconder do frio.
- Nico pediu pra gente se comportar, então não é ninguém que a gente conheça_ Jason respondeu, abraçando mais o corpo da namorada.
- Correção. Nico falou para o Percy e Leo se comportarem e não fazerem ele passar vergonha_ disse Hazel, a olhei ofendido, puxando o salgadinho de seu alcance.
- Ei, isso não é verdade! _ Leo exclamou, largando o copo de café, que pertencia a Grover, o qual nem percebeu que estava sendo “roubado”.
- É sim, vocês são especialistas em fazer o resto do grupo passar vergonha.
Hazel riu com nossa expressão, quando eu ia responder sua provocação, Piper avistou o mais novo casal chegando.
Todos viramos na direção da entrada do campus, avistando um garoto baixinho, vestindo preto da cabeça aos pés, e em contraste um garoto alto, de cabelos loiros e roupas com tons claros, Nico segurava a mão do garoto alto, seu olhar encontrou com o grupo, podia saber, mesmo de longe, que ele estava tímido, o menino alto tinha uma largo sorriso no rosto.
- Pessoal esse é Will, meu namorado_ disse Nico, assim que ficou na frente do grupo. - E Will, essas são as pestes que eu chamo de amigos.
Will gargalhou, logo dizendo:
- Uau, eu sou apaixonado pelo sua delicadeza_ Nico revirou os olhos, mas suas bochechas estavam vermelhas. - É um prazer pessoal.
Não demorou muito e Will já tinha se enturmado, parecia que fazia parte do grupo a tempos, me peguei observando o novo casal,
Will estava sentando, as pernas esticadas e com Nico entre elas, ele conversava animadamente com Grover, sobre plantas medicinais, já Nico estava mais concentrado em suas batatas do Mc donalds, antes de eu perceber, a dona dos olhos cinzas passava pela minha cabeça, eu e ela somos tão o oposto um do outro? Assim como Nico é o oposto de Will, será que algum dia eu poderia apresentá-la aos meus amigos?
O que raios eu estava pensando? Eu nem sabia minha relação com Annabeth, tudo bem, aquele beijo não saia da minha cabeça, eu não sabia qual era nossa relação, já que não a via desde domingo, depois que Octavian chegou em casa, aquela preocupação rotineira voltou a assombrar a minha mente, e se ele tivesse feito algo? Quando eu saí de casa para ir pra faculdade, eles tinham saído, não fazia a mínima ideia para onde.
Foi nesse momento que me senti deslocado ali, entre meus amigos, não que eu não gostasse deles, ou das suas companhias, mas eu queria ela, estar com ela, nem que fosse para escutar falando de coisas que eu não entendia, ou pra simplesmente observá-la fazendo algo comum, como lendo, ou observando esculturas em um museu.
Merda, Annabeth estava acabando comigo, chacoalhei a cabeça, tentando ao máximo afastar esses pensamentos e voltando a atenção para meus amigos.
•••
- Sabe o que eu tava pensando?_ gritou Grover da sala.
Por volta da sete e meia da noite, eu e Grover nos despedimos de todos, e fomos para o meu apartamento, afim de rachar uma pizza e ficar vidrado no videogame, com uma pequena pausa para buscar mais comida.
- Fala_ gritei da cozinha.
- Que agora você e Leo são os únicos solteiros do grupo.
Fui até a divisa da cozinha com a sala, com uma expressão confusa no rosto, pois ao meu ver tinham quatro solteiros no grupo e agora três casais completos.
- Percy, qual é? Frank e Hazel não contam.
- Ué, por que não?
- Porque os dois se pegam às escondidas, todo mundo sabe_ eu não sabia, concordo, eles tinham química, mas não fazia ideia que eles estavam ficando. - Não me diga que você não notou?!
- Hã... não_ falei me jogando no sofá e colocando um punhado de salgadinho na boca.
- Você anda desligado_ murmurou, me entregando o controle. - O que tá acontecendo?_ um fenômeno chamado Annabeth, ou se preferir Annie e pra mim sabidinha.
- Nada, só não reparei_ falei, dando de ombros e começando o jogo.
- Aham, sei.
Depois disso mudamos completamente de assunto, me deixando aliviado, eu confiava em Grover de olhos fechados, ele era umas das pessoas que eu mais confiava no mundo, ficando atrás apenas da minha mãe, o problema, é que o assunto Annabeth, era complicado até para mim, eu ainda não sabia quase nada sobre ela, ou sobre o que ia fazer com Octavian e se eu e Annabeth tínhamos alguma coisa. Sabia que se contasse, ele ia ficar como eu, de mãos atadas.
Duas horas depois, meu melhor amigo estava indo embora, fechei a porta do apartamento. Como sempre ia levar Grover até a portaria, ele dizia que era falta de educação levá-lo só até a porta, por isso me fazia descer cinco lances de escada toda vez que ia embora.
- Seus vizinhos nunca saem não?_ escutei a voz de Grover. - Me diz, ela é gata?
Olhei para a porta do apartamento e senti um frio na espinha, imaginando as coisas terríveis que aconteciam lá dentro.
- Não e sim_ respondi já descendo a escada, com Grover logo atrás tagarelando.
Empaquei no meio do caminho, fazendo Grover bater em minhas costas e murmurar um palavrão logo depois.
Octavian estava ali, puxando Annabeth pelo braço direito, que estava enfaixado, ela tentava acompanhar os passos, mas tropeçava nós próprios pés.
Meus punhos se fecharam, quando eu fui dar um passo para frente, Annabeth ergueu a cabeça, os olhos dela encontraram os meus, eles estavam vermelhos, ela havia chorado, fiquei com mais raiva ainda, estava pronto para acabar com a raça de Octavian, mas ela balançou a cabeça negativamente, seus lábios formaram as palavras “não, por favor, não”, seus olhos suplicavam para eu não fazer nada.
- Percy, tá vendo isso?_ Grover falou nas minhas costas. - Faz alguma coisa, ele tá machucando ela!
Não respondi, minha consciência falava o mesmo que Grover, mas a forma como Annabeth me olhava suplicante fez eu empacar no chão, mas Grover não estava nesse mesmo dilema, ele me empurrou para o lado, segurou o ombro de Octavian o jogando para trás, fazendo-o ir contra a parede.
Grover não era o maior cara do mundo, e nem o mais forte, mas com certeza era corajoso, Octavian era maior que ele fisicamente, mas Grover não se deixou intimidar, ficou nas pontas dos pés, segurando Octavian pelo colarinho.
- Quem você acha que é para segura-lá desse jeito_ A voz de Grover ressonou pela escada do quarto andar.
Annabeth estava no canto da parede, encolhida, parecia com vergonha, preocupada e sem reação.
- É a minha MULHER! O que eu faço com ela não é da conta de ninguém!
- Isso é da conta de todos, mas ninguém se dá ao trabalho.
Grover era a pessoa mais pacífica que eu conhecia, ele normalmente achava que tudo se resolvia no diálogo, mas naquele momento diálogo não era uma opção, seus olhos transbordavam ira, seus punhos estavam cerrados contra o colarinho de Octavian.
Dei um passo em direção a Annabeth, ela se encolheu mais na parede, Grover nesse momento se distraiu, foi tempo o suficiente para Octavian dar um soco em seu rosto, tudo aconteceu em câmera lenta, vi o corpo de Grover cair escada abaixo, Annabeth fechou os olhos com forças e se encolheu ainda mais contra a parede, e minha parte impulsiva falou mais alto, eu voei na direção de Octavian, o joguei contra a parede lhe dando um soco no rosto, ele tentou revidar mais eu não dava chance, ele era alguns centímetros mais alto que eu, mas por conta da natação, eu era mais forte e mais ágil, Octavian me acertou um soco, senti o sangue escorrer de meu nariz, a raiva me dominou, não era de me meter em briga, e minha mãe iria odiar saber que eu estava socando a cara do meu vizinho no meio da escadaria do quarto andar, mas eu não estava me importando nem um pouco, até eu ouvir aquela voz.
- Percy... para_ a voz de Annabeth falhou por conta das lágrimas.
Olhei sobre os meus ombros, ela estava sentada no chão, abraçando as próprias pernas, seu rosto estava marcado pelas lágrimas e seus olhos... transmitiam medo, ela me olhava com medo, seu corpo todo tremia, aquilo me destruiu.
Soltei Octavian, limpei meu nariz com a mangua da blusa, avistei Grover deitado no chão, Annabeth levantou, fui me aproximar, mas ela foi mais rápida, puxando Octavian escada a cima, mais rápido do que achei que fosse possível.
Ouvi um murmúrio de dor, olhei para Grover, ele estava sentado na escada, com as costas apoiada na parede, parecia bem, mas seu pé estava em um ângulo estranho.
- Eu avisei que ela era gata_ falei, fazendo-o se apoiar em mim.
- Puta merda, são seus vizinhos?_ concordei. - Você tá ferrado_ ele disse, logo soltando um murmúrio de dor.
- É, eu sei. Me da a chave do carro vou te levar pro hospital.
Entrei no quarto todo branco, Grover estava sentado na cama, olhando para a perna engessada.
- Ei_ disse me aproximando. - Está melhor?
Ele balançou a cabeça confirmando.
- O médico disse que assim que sair do intervalo vai me liberar_ concordei, me sentando na cadeira dos acompanhantes. - Me sinto mal, a gente sabe que essas coisas acontecem, mas presenciar é totalmente diferente.
- Sei como se sente, desde que descobri, não consigo me desligar dessa história nem por um minuto.
- Então você já a conhecia? Sabia de tudo?
- É, sim... eu, nós, a gente conversou algumas vezes_ falei, me xingando por ter enrolado.
Grover me examinou, ficando em silêncio, fiquei tentando parecer despreocupado, mas não consegui, minha perna mexia constantemente, Grover pareceu notar.
- Ah não!_ o olhei, sua expressão dizia claramente que já tinha chegado em uma conclusão. - Você está apaixonado por ela?!
- O QUE? NÃO_ levantei exasperado, percebi que tinha gritado um pouco alto, Grover me olhou seriamente.
- Está apaixonado por ela.
- Não, eu só..._ fiquei em silêncio, meu melhor amigo ergueu uma sobrancelha, suspirei. - Grover, não.
- Está apaixonado pela sua vizinha casada, que tem um marido abusivo!
- Claro que não_ ele me olhava seriamente, merda, odiava não saber mentir para ele. - Sim, estou.
- Merda_ Grover bateu na perna que não estava engessada. - O que vamos fazer?
- Como assim?
- A mulher com que você é apaixonado precisa de ajuda.
Eu suspirei, não fazia a mínima ideia do que fazer.
- Eu não sei, Annabeth me fez prometer que ficaria longe de Octavian, mas agora eu soquei a cara dele, eu estou tão no escuro quanto você.
Estava dirigindo, Grover ficou em silêncio, seus olhos estavam vidrados nas ruas a sua frente, sua respiração estava tensa e ele estava pensativo, me mantive em silêncio esperando ele dar a primeira palavra, tinha acabado de contar toda a história, desde o dia que eu conheci Annabeth, ao dia que fomos ao The Met, o piquenique e até mesmo o beijo.
Depois de terminar de narrar Grover ficou em silêncio, pensando, quase conseguia ver as engrenagens de sua cabeça processando cada palavra falada.
- O que você acha que ela tá escondendo?_ perguntou, a voz baixa.
- Não faço a mínima ideia, se eu pressiono, ela entra em desespero, tinha até meio que esquecido disso.
- Claro que sim, ficou só pensando no beijo_ Grover zombou, revirei os olhos em resposta.
- Merda, eu queria ajudar e acabei estragando tudo, será que ele fez algo com ela?_ ele fez a pergunta que eu temia a resposta.
Essa questão tava rondando minha cabeça desde a hora que ela subiu as escadas para o quinto andar, e eu estava com medo de chegar em casa e descobrir que alguma coisa podia ter acontecido.
- Eu não sei, estou pensando nisso a horas.
E assim voltamos ao silêncio, minha cabeça estava a mil, rezava para todos os deuses, de todas as crenças para que protegessem Annabeth e que ela estivesse bem.
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