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História Um estrangeiro em Paris - A festa em Amsterdam - História escrita por camieroux - Spirit Fanfics e Histórias
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História Um estrangeiro em Paris - A festa em Amsterdam


Escrita por: camieroux

Notas do Autor


Oi gentchy ><
*foge das pedras*
Eu sei que costumo postar de 15 em 15 dias, mas essas últimas semanas eu tive o próprio Ares reinando minha vida, então me perdoem ;-;
Esse chaps é dedicado a todas que me procuraram para saber se eu estava viva, obrigada por se importarem, suas lindas!
Agradeço também a quem escreveu pra mim e deu aquele fav brilhante na história, muito obrigada mesmo!

Esse capítulo foi escrito ao som de “Amsterdam” do Gregory Alan Isakov.

Espero que gostem!


Boa leitura! ♥

Capítulo 18 - A festa em Amsterdam


Fanfic / Fanfiction Um estrangeiro em Paris - A festa em Amsterdam

Assim que chegaram ao térreo do hotel, o taxi já estava à espera.

Ambos se sentaram no banco de trás e ficaram em silêncio até o local da festa. Nervoso, Camus olhava para a cidade colorida através do vidro, desejando estar seguro em seu apartamento em Paris.

Milo não entendia a angústia do francês. Tinha certeza que Afrodite havia lhe dado uma dica sobre isso, mas não havia sido suficiente. Queria confortá-lo, dizer que ficaria tudo bem, mas nada poderia fazer. Apenas o mirava de esguelha, desviando o olhar das luzes vibrantes que traspassavam o vidro do taxi, se sentindo completamente inútil.

O motorista reduziu ao se aproximar da entrada de uma enorme mansão. A festa seria no salão de um dos amigos do pai do francês e reuniria a elite da engenharia europeia, assim como arquitetos, projetistas, gestores e alguns acadêmicos em destaque. A suntuosa entrada era cercada por um jardim imenso, rodeado por fontes majestosas e inúmeras esculturas em mármore.

Camus uniu as mãos sobre seu colo em um ato de nervosismo que não passou despercebido por Milo. O grego tentava entender o que fazia um homem de quase um metro e noventa¹ hesitar.

Após o taxi estacionar em frente a escadaria que levava ao salão principal, Camus agradeceu e pagou ao motorista pela corrida. Nesse momento, Milo decidiu que era hora de mostrar o quão vingativo um escorpiano poderia ser. Em um movimento furtivo, puxou o elástico que unia os fios ruivos com uma rapidez invejável. Camus só teve tempo de se virar e ver as longas mechas avermelhadas dançarem ao sabor do vento frio.

– Devolva! – Rosnou baixo e perigosamente.

– Não. – Sorriu insolente e começou a subir os degraus. Uniu o novo elástico ao primeiro em seu bolso. Em sua cabeça, a brincadeira ainda serviria para descontrair a tensão que o professor exalava.

– Milo, por favor. – Implorou, tentando se manter digno.

– Não. – Terminou a subida e olhou para o francês atordoado no patamar – Te encontro lá dentro. – Piscou um dos brilhantes olhos azuis antes de se virar para a porta de entrada.

Camus levou nano segundos para chegar ao topo. Colocou uma mecha atrás da orelha nervosamente e inspirou fundo.

– Vamos entrar, então.

Ao abrirem a porta de madeira escura, depararam-se com um salão ainda maior do que era possível assumir pela fachada. Havia um número incontável de pessoas com vestimenta de gala e garçons elegantes, desfilando com taças de gim, champanhe e vinho. O som delicado de um piano ecoava por todo o recinto. A iluminação era garantida por altos lustres espalhados pelo teto. Via-se uma escada que Milo supôs levar aos outros cômodos da mansão, além de porta laterais, que deveriam dar em outros jardins.

Belíssimas mulheres com vestidos longos e apertados passavam por eles enquanto lançavam olhares convidativos. Milo sorria de volta, apesar de não ter interesse algum. Gostava de ser notado e exercer seu natural poder de sedução. Já Camus parecia procurar por alguém, alheio à cobiça que sofria.

O grego olhava para as costas nuas de uma morena a sua frente quando sentiu a mão fria de Camus tocar a sua por uma fração de segundos.

– Estão vindo. – Sussurrou.

Um par de homens sofisticados se aproximavam.

– Estimado Camus, há quanto tempo! – O mais alto deles partiu para cima do francês, abraçando-o cordialmente.

– Como vai, Zachary?

– Muito bem, obrigado. Vejo que trouxe companhia. – Olhou para o grego.

– Sim, este é Milo Halkias, aluno sob minha orientação.

– Muito prazer, Sr. Halkias. – Zachary estendeu a mão direita.

– O prazer é todo meu. – Esbanjou seu sorriso mais encantador, fazendo Camus revirar os olhos, já habituado ao charme do grego.

– Este é meu amigo Connor. – Apontou para o homem ao seu lado.

– Muito prazer. – Milo estendeu a mão para o homem baixinho com jeito bonachão.

– Prazer. – Apertou a mão do loiro vigorosamente para depois abraçar Camus – Vejamos se não é o filho do Raul.

– Quanto tempo, Connor. – Camus respondeu automaticamente.

– Pois é, quem é vivo sempre aparece.

O francês deu um sorriso amarelo e chamou um garçom com o indicador, pegando uma taça de vinho.

– Então os rumores são verdadeiros! Confesso que quando Raul me ligou contando que você estava orientando um aluno de direito eu custei a acreditar. – Disse Zachary.

– O que foi uma honra, já que ser aluno do professor Sivan é somente para alunos seletos. – Milo aproveitou o momento para exaltar Camus.

– Na verdade foi uma surpresa positiva para todos nós, já que orientar um aluno de direito não é uma simples tarefa para um professor de filosofia. – Alfinetou.

– Nós ficamos muito felizes em saber que você está prosperando, Camus. – Connor entrou na conversa – Já estava na hora de a Sorbonne te dar uma chance, você é tão dedicado!

O ruivo levantou levemente a taça, como que em concordância, e acabou com o líquido que ela continha em uma única golada.

– Na verdade o Camus é um pesquisador notável. Ele gera um conteúdo acadêmico insubstituível para a universidade. – Milo se interpôs.

Um garçom foi interceptado pelo francês, que trocava sua taça vazia por outra, também de vinho.

– Mas infelizmente isso não é muito útil quando o teor desse conteúdo é apenas filosofia, não é mesmo? – Riu Zachary – Você deveria explorar outras áreas, Camus, como o direito, por exemplo.

– Bom, todos temos que fazer algo para viver, não é mesmo? – O ruivo se pronunciou pela primeira vez, terminando com a segunda taça de vinho como se fosse um copo d’água.

– Com certeza. – Sorriu Connor.

Milo quis voar em ambos, mas seu pensamento foi cortado pela chegada de mais dois homens. Estes se apresentaram como Noah e Aidan. Exceto por Connor, que tinha um forte sotaque britânico, os outros três eram claramente estadunidenses.

Conversaram um pouco sobre carreiras, engenharia e economia, sempre buscando a opinião do grego, como o futuro advogado em que se tornaria.

– Mas é importante que um homem tenha uma bela esposa ao seu lado, sempre dá credibilidade ao se fechar um negócio. – Disse Zachary – Inclusive, as nossas estão logo ali. – Apontou para um grupo de mulheres entretidas em uma animada conversa.

– Por falar em mulheres, fiquei sabendo que a Srta. Kido está em Paris. Vê se não a deixa escapar dessa vez, Camus. – Brincou Aidan, fazendo com que todos, exceto Milo, rissem do comentário.

– Na verdade a Saori está visitando Paris à trabalho. – Camus disse de modo frio. Não se importava que falassem sobre sua vida, contando que deixassem a japonesa e o irmão de fora dos assuntos.

– Sim, ela é a advogada dos meus irmãos. – Completou Milo.

– Os seus irmãos também estão em Paris? – Perguntou Zachary.

– Sim, são promotores lá.

– Vejam só, uma família de homens da lei! Só falta me dizer que seus pais são advogados também?

– Sim, são. – Respondeu em um sussurro desgostoso.

– É o que eu sempre digo, uma maça não cai longe da árvore! – Disse de modo presunçoso – Bom, na maioria das vezes. – Olhou para Camus, fazendo com que todos sorrissem.

O francês já havia ingerido uma quantidade absurda de vinho, mas, por incrível que pareça, ainda se mantinha sóbrio. Decidiu apelar para o bom e velho destilado, escolhendo uma taça de gim da bandeja de um dos garçons perambulantes.

– Mas me diga, Camus, a Srta. Kido era realmente apaixonada por você. Ainda não entendo como não a seguiu mundo a fora. – Zachary prosseguiu.

Logo Camus já havia finalizado sua primeira taça de gim. Pensava em Afrodite a todo momento. Estava aguentando a companhia daquelas pessoas detestáveis por ele.

– Sim, verdade. Essa é uma dúvida que todos nós compartilhamos. – Interferiu Noah – O mundo hoje é moderno, não há problemas em um homem ficar em casa cuidando das crianças enquanto a esposa trabalha.

Todos concordaram.

Antes que o francês pudesse reagir, Connor se interpôs.

– Talvez seja por conta desse cabelo seu. – Sugeriu – Você não é mais um estudante, Camus, é um professor. Está na hora de se comportar como tal.

Tocando em um ponto de insegurança do francês, Connor o deixou sem palavras e com a face rubra. O britânico resolveu prosseguir.                                                     

– Meu caro Milo, você deveria ver a guerra que seu professor travou quando mais novo. Ele e o pai se engalfinhavam sempre que as férias chegavam. Bastava Camus retornar da Suécia ou da Rússia para que Raul se enchesse de cólera.

Camus apoiou o peso do corpo em um pé e desviou o olhar. Apenas o fato de ver aqueles homens tão familiares já lhe remetia aos momentos repulsivos de seu passado. Contudo, ouvir possíveis relatos era algo ainda pior.

– Também, Natássia criava as crianças como selvagens, onde já se viu... – Aidan opinou antes de bebericar seu vinho – Raul tinha todo o direito de impedir que seu filho fosse criado como o filho do Hillesheim.

– Isso é verdade, não me esqueço daquele dia em que seu pai não pode buscá-lo no aeroporto e o motorista o levou direto para a festa do Sebastian. Você chegou com os fios abaixo do ombro, caindo pelo smoking infantil como as madeixas de uma garotinha. – Zachary resolveu participar da conversa.

Camus dobrou os dedos sobre a palma da mão com força, tentando aplacar a vergonha que o consumiria quando os homens terminassem o relato daquele dia. O sangue corria por seu corpo rapidamente, deixando as extremidades fisicamente dolorosas.

– Raul armou uma briga enorme, logicamente envergonhado pelo filho aparecer tão desleixado na frente de todos nós. Ele gritou com Camus e o menino nem se assustou! Veja bem, todas as pessoas da festa se intimidaram e o pequeno cenourinha nada.

Milo olhou para o professor, sentindo o coração falhar uma batida em meio a tanta vulnerabilidade. Arrependeu-se enormemente de não ter dado ouvidos ao mais velho, enfiando a mão no bolso e sentindo os dois elásticos roubados entre seus dedos. Se as mechas de Camus estivessem presas, talvez todo aquele momento teria sido evitado.

– Raul ficou tão nervoso com a indiferença da criança que enfiou a mão nesse rosto pálido sem um pingo de piedade! O pobre menino voou uns bons metros! – Zachary riu do próprio comentário, causando divertimento nos demais – Você se lembra, Camus? De como era uma criança selvagem e desobediente?

O grego não sabia o que fazer, sentia o peito doer e sabia que a situação de Camus estaria ainda pior. O tão sério e implacável professor estava sendo exposto de um jeito cruel. E o pior, os homens falam diretamente para si.

– Lembro-me de ouvir Raul gritar por uma tesoura e cortar aquela cabeleira na frente de todos os convidados. Ele fez com que Camus se ajoelhasse e embolou os dedos nesses fios vermelhos, cortando um por um. – Connor retornou a conversa, animado e sorrindo – Pelo menos todos levaram na esportiva, até mesmo Camus, que não derramou uma lágrima. Sempre foi um rebelde, não é mesmo, Camus?

– Se me dão licença, preciso cumprimentar um amigo. – O ruivo se desvencilhou da turma, chegando ao seu limite. Ziguezagueou entre as pessoas sem realmente enxergá-las, sentindo o estômago embrulhar com a lembrança tão nítida em sua mente. Lembrava-se da dor nos joelhos quando o pai o forçou a ajoelhar. O barulho da tesoura tão próxima aos seus ouvidos era seguido pela imagem dos fios que tanto havia cultivado para que Afrodite não se sentisse sozinho. Algumas pessoas lhe sorriam, como se fosse apenas uma criança teimosa que buscava por atenção, outras lhe olhavam com tristeza. Contudo, ninguém fez nada para impedir.

Quando alcançou o banheiro, outras lembranças de seu pai lhe tomaram os pensamentos violentamente. Rememorou de sua adolescência, do tanto que Raul tentava provar sua masculinidade, sua virilidade. Lembrou-se dos momentos em que sua timidez havia sido posta à prova e dos momentos em que seu pai lhe forçara a fazer coisas que ele definitivamente não queria fazer, apenas para melhorar a impressão que os amigos teriam de seu único filho.

Empurrou a porta da cabine e vomitou como há muito não fazia, deixando toda aquela sensação de impotência se esvair. Ele tremia, mas não iria chorar. Ele não derramaria uma lágrima sequer.

Milo o seguiu desesperadamente, parando ao entrar no banheiro e ver apenas uma cabine ocupada. Andou até a porta que o separava de Camus e espalmou a mão no plástico rígido, inspirando fundo antes de chamar pelo professor.

– Camus... está precisando de alguma coisa? – Apoiou a testa na porta gelada e mordeu o lábio inferior. Sabia que não estava sendo nada efetivo em seu momento de resgate.

– Milo? – O mais velho assustou-se, levantando rapidamente e acionando a descarga – Não, está tudo bem, já estou saindo.

O grego se afastou, indo em direção a pia. Fingiu lavar as mãos enquanto mirava a porta atentamente através do enorme espelho. Acalmou-se parcialmente ao ver o professor sair sem ter qualquer expressão de choro.

Camus lavou as mãos e jogou uma quantidade abundante de água em sua face, encarando o próprio reflexo com desprezo. Em momentos como aquele, o ódio e repulsa que sentia de si mesmo mal cabia dentro de si.

– Ei... – Foi desperto do transe pelo toque do grego em seu ombro.

Ao se virar, viu Milo soltar os próprios cachos com dificuldade, bagunçando-os ainda mais.

– Diz pra mim que não estou parecendo um modelo nórdico, só que bronzeado? – Fez caras e bocas no espelho, jogando os fios revoltos de um lado para o outro, como se estivesse em um ensaio fotográfico.

Camus sorriu, fazendo com que o grego se sentisse vitorioso.

– Modelo nórdico... bronzeado? – Ecoou.

– Isso mesmo. Um viking que ficou tempo demais na costa britânica!

Nesse momento, ambos engataram uma risada gostosa. Não pelo comentário aleatório do grego, mas pela necessidade de se esquecer o que havia acontecido. No final dela, Camus soube que estava tudo bem.

– Vamos para o jardim? – O ruivo propôs.

– Claro. – Milo seguiu o professor salão afora.

Camus esquivou-se habilmente, identificando os homens que deveria evitar. Antes de deslizar para umas das laterais da mansão, fez questão de apanhar mais duas taças de gim de um garçom desatento.

Do lado de fora, Camus se sentou na beirada de umas das enormes fontes do jardim, sentindo o vento frio invadir suas roupas confortavelmente. Ele gostava do frio, lhe lembrava a Suécia e a Rússia. Era protetor como estar em casa. Começou a beber o conteúdo de uma das taças quando o aluno se sentou ao seu lado.

Milo levou a ponta dos dedos até a água clara e iluminada por lâmpadas verdes.

– Gelada. – Recuou rapidamente – O que é isso? – Apontou com o indicador para o recipiente entre os dedos alvos.

– Jenever, a bebida mais famosa dos Países Baixos. Quer provar? – Levantou uma sobrancelha e sorriu ladino.

– Claro! – Milo pegou a outra taça e tomou um pequeno gole, fazendo uma careta instantânea.

– Você não é muito de álcool, não é mesmo? – Camus brincou.

– Meu problema é com destilados. Até gosto de cervejas. – Deu de ombros – E você, não fica bêbado nunca?

– Dificilmente.

Como? – Perguntou em revolta, divertido.

– Eu passei a adolescência na Rússia, tem lá suas vantagens. – Camus brincou, bebendo o restante do conteúdo de sua taça – Posso? – Esticou a mão para pegar a do aluno, que prontamente lhe entregou. Os dedos se roçaram levemente durante a troca.

– Acho que já podemos ir para casa. – Milo observou.

– Apoio sua sugestão.

Ambos sorriram, cúmplices.

Saíram “à francesa” pelas laterais da mansão, sem serem vistos por ninguém. Decidiram ir andando ao invés de esperar por um taxi bem na entrada.

Quando já se encontravam distantes o suficiente para chamar um motorista, nenhum dos dois tocou no assunto, optando pela caminhada até o hotel.

Andavam pelas iluminadas ruas de Amsterdam, atentos às cores e músicas que pareciam vir de todos os lugares.

Diferentemente de Paris, que dormia à noite, Amsterdam se mantinha a todo vapor. A Cidade Luz tinha seus locais específicos em que jovens se divertiam durante a madrugada. Já a capital holandesa parecia ainda mais populosa ao cair do sol.

– Então, o que realmente aconteceu entre você e a Saori? – Omitiu a conversa que havia tido com o melhor amigo e o italiano.

– Nós namoramos durante a faculdade e terminamos quando ela acabou. – Camus caminhava com as mãos nos bolsos despretensiosamente.

– Por que? – Já Milo tinha os braços cruzados sobre o peito largo. O vento estava frio, arrepiando-o.

– Por que ela sempre foi do mundo e eu sempre pertenci a França.

– Não entendo por que acha isso. Você morou mais tempo fora do que aqui. Está tudo na sua cabeça. – Descruzou os braços, batendo com o indicador na lateral da testa repetidas vezes.

– Eu já decepcionei meu pai o suficiente. – Disse com a voz melancólica.

– A sua mãe sabia? – Não poderia mais fingir que nada aconteceu.

– Claro que não. Se ela soubesse jamais me deixaria vê-lo.

– Camus, relacionamentos abusivos não ocorrem apenas com casais. Também há abuso de pais para filhos.

– Milo, você não entende...

– Então por que não me explica?

Camus encarou aqueles olhos brilhantes antes de prosseguir. Talvez conversar lhe fizesse bem, afinal, nem Afrodite sabia sobre seus dias na França. Ele nunca teve com quem se abrir.

– Meu pai sempre esperou muito de mim. Eu sou seu único filho e ele tinha muitas expectativas. Só que no fim eu não cumpri nenhuma.

– Camus, você é um profissional incrível! Como pode dizer uma coisa dessas?

– Meu pai é dono de uma empresa de engenharia, Milo. Ele não tem sucessor. Desde pequeno eu o ouvi dizer sobre eu ser a única pessoa que ele tem, que se eu não retornasse nas próximas férias ele ficaria sozinho, que tudo o que ele fazia era para o meu bem...

– Você era apenas uma criança, Camus, você não precisa mais passar por isso.

– Mas agora nós estamos em paz! Minha mãe me convenceu a estudar o que eu queria e meu pai simplesmente passou a me odiar. Foi muito custoso para mim retomar os laços e agora está tudo indo tão bem... – Correu os dedos pelos fios ruivos nervosamente – Ser professor da Universidade de Paris para um homem tão nacionalista foi o equilíbrio que eu consegui atingir para que nós dois estivéssemos satisfeitos na medida do possível.

– Sabe, Camus, você não deve se diminuir para caber no mundo de alguém.

Sem palavras, o ruivo apenas mirou seus olhos claríssimos no canal a frente. Parou em diante a ponte, ao lado de uma bicicleta com uma cesta colorida.

– Desculpe pelo que lhe fiz passar. – O ruivo disse enquanto apoiava o corpo no parapeito do canal, vendo a água correr abaixo de si. Milo fez o mesmo, ficando ao seu lado. O conjunto de smokings e cabelos despenteados criava um ar de fim de festa.

– Você não me deve desculpas, Camus. Eu gostei muito de estar com você hoje, apesar dos pesares. – Milo brincou com uma das flores no parapeito, resistindo a vontade de entregá-la a Camus. Sorriu com o rumo que seus pensamentos haviam tomado.

– Sabe o que podemos comprar? – O ruivo mudou de assunto drasticamente, estava se sentindo desconfortável.

– O quê?

– Queijo.

– Queijo? – Milo riu, gostosamente.

– Sim, o queijo holandês é famoso! Você gosta de festas, podemos comer em algum desses restaurantes. Amsterdam é a cidade perfeita para você. – Camus sorriu, solícito. Estava realmente disposto a sair de sua zona de conforto por Milo.

– Na verdade, hoje preferiria comprar a comida e comer em casa. O que acha? – Estava hospedado com Camus e, por mais que soubesse que sofreria depois, queria aproveitar todo o tempo que pudesse com o francês, na intimidade de um quarto.

– Certeza? – O ruivo levantou uma sobrancelha.

– Certeza. – Milo confirmou convicto.

– Vamos comprar algo para comer, então.

Em uma das lojas ainda abertas, compraram uma pequena porção de queijo, alguns Suikerbrood, pães típicos para comerem com o queijo, e de sobremesa alguns BosscheBols, bombas de chocolate com chantili.

Seguiram em uma conversa animada até o hotel, carregando os sacos pardos pelas ruas iluminadas da capital holandesa.

 

 

Já no quarto do hotel, Milo tirou o smoking sem maiores pudores e colocou uma cueca samba canção grande e larga sobre a cueca justa que usava. Optou por ficar sem camisa, o aquecedor mantinha o clima confortável.

Camus preferiu trocar-se no banheiro, usando a desculpa verdadeira que precisava urinar. Por mais que não se embriagasse com taças e taças e álcool, não significa que sua bexiga aguentasse tanto. Entrou no quarto com a roupa de gala devidamente dobrada no cabide, vestindo um short curto de treino e uma regata larga na cor preta, destacando os músculos bem definidos.

Milo mexia em sua mochila quando o francês retornou. Este, por sinal, prendeu a respiração ao vê-lo sentado confortavelmente na cama. Lembrou-se de quando dormiu ao lado do grego pela primeira vez na noite da dedetização. Inevitavelmente, lembrou-se do fatídico dia da festa e do famoso (pelo menos em sua cabeça) banho. Não conseguia decidir-se se havia gostado mais do banho ou de dormir abraçado com o grego no sofá. Sorriu, indo arrumar suas coisas na mala ao lado da cama.

– Ei, Camus, olha só o que eu achei! – Mostrou um boné verde, desbotado e velho, com uma coleção de furos na tela de pano. Dentro do boné havia uma pequena e puída caixa de baralho.

– Que coisa horrível.

– Para, vai ficar ótimo em você! Verde combina com ruivos.

– Desde quando?

– Desde sempre, lembra da Hera Venenosa do Batman, por exemplo? – Disse animado.

– Não, Milo, estou perguntando desde quando esse boné é verde.

– Haha, engraçadinho. – Ironizou, jogando o boné na direção do francês, que se esquivou rindo.

Camus pegou o objeto no chão e jogou a franja farta para trás com os dedos. Colocou o boné com a aba virada para trás.

– Ficou bom? – Perguntou sorrindo.

– Com você sorrindo desse jeito qualquer coisa fica boa.

O francês enrubesceu e fechou a cara, fazendo Milo rir.

– Vamos comer. – Virou-se, ainda corado.

Em cima do minúsculo frigobar havia um pequeno armário, onde buscaram por facas.

– E sobre o baralho, quer jogar? Eu sei que não é o programa ideal para se fazer em Amsterdam, mas pode ser divertido... – Milo se pronunciou.

– Quero sim.

– Sabe jogar poker?

– Milo, sou estudante de humanas. Sei fazer qualquer coisa com um baralho. – Riu de si mesmo.

O grego estava definitivamente se divertindo. Estava sem camisa, descalço, em um apartamento com Camus de short e regata. Não precisava de mais nada.

– Ótimo, vamos jogar enquanto comemos!

O ruivo cedeu sua cama para o jogo e levou a comida consigo quando rumou para o quarto. Milo gritou da cozinha, perguntando o que iriam beber.

– Veja se tem algo no frigobar. – Camus sugeriu com a voz um pouco mais alta.

O grego voltou com uma das garrafas de vodka e dois copos.

– O que pensa que está fazendo? – Camus riu.

– Você vai me ensinar a beber isso. – Sentou-se de frente para o francês com as pernas cruzadas sobre a cama.

– Não se ensina a beber vodka.

– Veremos! – Milo pegou um Suikerbrood e o mordeu, arrancando um pedaço rudemente com os dentes. Apoiou o restante no joelho dobrado e retirou as cartas da caixinha maltratada de papelão.

Camus sorriu enquanto mastigava sua comida.

– Ah, esqueci de contar; o Dite ligou enquanto você estava no banho e pediu para avisar que foi para Londres, mas que te informa assim que puder.

O ruivo pareceu aliviado.

– Então não foi tudo em vão. – Estava visivelmente satisfeito. Por mais terrível que a festa teria sido, tudo valera a pena.

Após o início do jogo, o francês decidiu que era sua vez de questionar.

– Milo, que tal me contar que tipo de aluno você era na Grécia?

– Como assim? – Disse de boca cheia, dando as cartas da segunda rodada.

– Não fale de boca cheia! – Ralhou, vendo o outro revirar os olhos de maneira insolente – E eu aposto que aqui, comigo, você tem muito mais compromissos que na Grécia.

– Isso é verdade. Lá eu tinha muito mais tempo para vadiar.

– Mas continuou exemplar, obviamente, ou o Dohko jamais o teria mandando para Paris.

– Isso é verdade, eu me esforcei bastante para ter a oportunidade de trabalhar com você. – Trocou apenas uma carta, obtendo um full house de duas damas e três reis. Sorriu, vendo Camus trocar três cartas.

– Espero que ainda não tenha se arrependido de ter vindo.

– Jamais, aprendi muito nesse intecâmbio. – Pensou que em Paris havia aprendido o que é amar.

– Fico feliz com isso. – Mostrou as cartas, não tinha nada, logo Milo havia vencido a rodada – Contudo, você ainda não me respondeu.

– Tudo bem. – Se rendeu, rindo – Eu fiz a maior parte do ensino médio sozinho, já que o Kan e o Saga começaram a trabalhar em período integral na promotoria grega. Depois disso quis me mudar de Atenas para Thessaloniki, pois preferia estar sozinho de um todo do que sozinho em minha própria casa.

– Mas mesmo sem seus irmãos você ainda tinha seus pais. – Encheu os copos com vodka, oferecendo um deles ao grego.

– Sim, mas como já havia dito, meus pais foram muito ausentes. Nada daquele estereótipo grego que sua família é grande, unida e comemos carneiro com hortelã em um churrasco no quintal. – Fez uma careta ao beber o líquido translucido, achava impossível alguém gostar daquilo.

– Engraçado como estereótipos são contraditórios, não é? Ao mesmo tempo que deveriam ser facilmente encontrados devido à própria definição da palavra, você não os percebe quase nunca na vida real.

– Verdade. – Distribuiu as cartas novamente.

– Mas prossiga.

– Então, sozinho por sozinho, preferi um lugar novo, onde eu teria que me virar, sabe? Lavar minhas próprias roupas, comprar minha própria comida e limpar meu quarto. – Riu de si mesmo, contagiando Camus consigo.

– Eu gosto disso em você.

– Obrigado. – Jogou uma mecha do cabelo para trás, esbanjando autoconfiança.

Ambos riram.

– Mas aí tudo mudou. Comecei a ler mais, estudar mais, me interessar mais pelas coisas... sair com mais pessoas...

– Aposto que sim, bonito como é.

– Você não para de me elogiar hoje, hein?

– Modesto você, hein? – Retrucou sorrindo, tinha uma quadra de ás.

– Pensando aqui, – Levou o dedo indicador à boca – modéstia é uma das minhas melhores qualidades.

– Eu acredito. – Camus se fez de crente, sorrindo.

– Mas foi isso, meus anos de faculdade foram de estudos, homens, estudo, mulheres, estudo, mais homens e assim por diante. Às vezes ambos. – Deu de ombros.

– E nunca namorou? – Apesar do nível da conversa, Camus não sentia ciúmes. Milo possuía um passado, assim como ele, isso não mudava em nada o que o francês sentia, muito menos tinha uma conexão com a personalidade ou caráter do aluno.

– Na verdade meu “primeiro amor” – Fez sinal de aspas com as mãos – foi meu melhor amigo. Mas depois vi que era só algo infantil, aquela coisa de pré-adolescência, sabe? Além do mais, comecei a me interessar por meninas também.

– Entendo.

– E você, já se apaixonou? – Apesar de já saber muito, Milo tinha interesse na resposta.

– Apenas uma vez. – Disse dando de ombros.

– Por quem?

Por você.

Não poderia falar.

– Uma amiga. – Mentiu.

– Entendo. – Ficou pensativo, vendo Camus beber de seu copo até então intocado – Essa amiga foi a Saori?

– Não.

O grego imaginou o corpo impecável da morena pressionando o de Camus e fez uma careta.

– A vodka está te dando caretas até sem beber. – Camus riu gostosamente.

– Se foder, francês! – Também engatou em uma risada fácil.

– Isso não é jeito de falar com um orientador. – Se fez de sério para depois sorrir, embaralhando dessa vez.

Naquele momento, o grego mirou Camus com esmero. Os longos fios rubros escorregavam pelos ombros e costas como um tecido de seda carmim. O boné velho ao avesso prendia a franja farta, dando visibilidade para os olhos claríssimos acima das sardas salpicadas sobre a face alva. Naquele momento, Milo soube que o homem forte a sua frente era tudo o que ele queria para o resto da vida. Vê-lo sorrir seria o combustível que precisaria para ser feliz, independente da profissão que tivesse. O que era a escola de direito perto de Camus? Nada. O que seria seu futuro sem Camus? Nada.

Então o grego decidiu que não desistiria. Que não tentaria seguir em frente e que envelheceria ao lado daquele homem.

– Milo, está me ouvindo? – Foi despertado pela voz grave do ruivo.

– Desculpe. – Pegou a mão de cartas separada para si em cima da cama – Eu quero trocar duas. – Bebeu mais vodka, percebendo que seu rosto se contorcia menos.

Após muito tempo de jogo, a garrafa foi finalizada por ambos. Milo sugeriu abrir uma segunda, mas teve o pedido negado.

– De modo algum, está tarde e temos um trem para pegar amanhã cedo. Além disso, não vou te carregar ou te banhar hoje. – Disse cruzando os braços, irresoluto – Se você ficar de porre eu vou para a sua cama e te deixo babar em cima dessa bagunça. – Apontou para o espaço de cama entre eles, onde haviam os dois copos, a garrafa deitada, farelos de comida e muitas cartas espalhadas.

Milo gargalhou como uma criança, o álcool realmente o estava afetando.

– Tudo bem, senhor estressadinho. Vamos dormir. – Tentou se levantar e caiu de bunda no chão.

Camus massageou a testa, suspirando.

– Para alguém que gosta de farra sua resistência à álcool é realmente humilhante. – Levantou-se e o ajudou a fazer o mesmo – Vamos para a sua cama.

Chegando ao outro lado do quarto, retirou a colcha com a mão livre e depositou o grego cuidadosamente sobre o lençol branco. Retirou alguns cobertores do maleiro do guarda roupa e cobriu o aluno com eles.

Acendeu a luz do pequeno corredor e apagou a do quarto para que o outro tivesse um ambiente favorável ao sono, que não tardou a chegar.

Camus escovou seus dentes e arrumou a bagunça sobre sua cama na penumbra do cômodo. Quando por fim terminou, andou até o guarda roupa para pegar um lençol para si, não sentia frio. Olhou para Milo antes de dormir e sorriu. Havia sido divertido, no fim das contas. O grego o havia ajudado na festa, melhorado sua noite. Como seria difícil viver sem ele. Como seria difícil voltar a ser sozinho e vê-lo acompanhado.

Contudo, teria que se acostumar.

 

Não teria?


Notas Finais


[1] Pra mim o Camus é alto e forte e bonito e gostoso, então me perdoem se eu fugir um pouco da altura e porte do original.

*Passando só pra lembrar que se o Milo ou o Camus tivessem respondido aos insultos, o Dite ficaria sem indicação na galeria de Londres e poderia ter a carreira arruinada, então não me odeiem ainda ;-;*

Eu estou tão trabalhada na derrota que nem sei o que escrever aqui. Enfim, espero que vocês tenham gostado, mesmo não tendo a pegação tão requisitada, hehe
Mas, não sei se vocês perceberam, acabaram os problemas! Simplesmente os laços foram criados!!!
*não digo mais nada*

Obrigada por ler até aqui!
Se tiver um tempinho, escreva pra mim, eu não mordo! (só de vez em quando) ♥


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