Os olhos claros do ruivo miravam o teto da sala.
O corpo repousava tranquilamente sobre o sofá, a cabeça descansando no apoio para braços. O sono o havia abandonado, não conseguia dormir. A luz fraca da copa iluminava o ambiente atrás de si.
Com o dorso da mão descansando sobre a testa, Camus observava o teto com bastante atenção. Por mais que devesse estar nervoso, aflito, ou até mesmo irritado, somente sentia tranquilidade. Um pouco de resignação, talvez.
Sentiu a ponta gelada do nariz afilado lhe tocar o pescoço e seu corpo foi abraçado com mais força.
Tirou a mão da testa, buscando pelo celular que repousava ao lado de sua cabeça. Verificou as horas com os olhos semicerrados, a luz o incomodava. 4:17h. Precisava dormir.
Mas como?
Tentou se mexer, porém seu outro braço estava embaixo de um emaranhado de fios loiros. Desistiu, não achando necessário arruinar o sono de mais uma pessoa.
Uma das pernas fortes de Milo estava dobrada entre as suas. Metade do corpo do grego repousava sobre o seu.
Apesar de somente o hóspede estar vestido com um de seus curtos shorts de treino, Camus jurava que podia senti-lo sob o jeans. Senti-lo por inteiro.
Braços fortes rodeavam possessivamente sua cintura, o que também não cooperava muito para a vinda do sono.
Por fim, Camus se virou como pôde, escorando as costas no sofá até ficar em frente ao grego. Puxou os ombros largos para ainda mais perto de si e afundou o nariz nos cachos aloirados.
Estava cansado de mirar o teto.
Algumas horas antes
Milo encontrou a república principal, vendo uma quantidade incontável de pessoas no jardim de entrada. Sorriu, agora sim se sentia em casa.
Andou a procura do sueco ou de Shina. Cumprimentou algumas pessoas que faziam aula consigo e com Marin, além de algumas outras que Afrodite havia lhe apresentado.
Além da iluminação habitual, tochas guiavam o caminho do convidado até a porta da casa, mostrando que o evento havia sido muito bem organizado e o ambiente cuidadosamente decorado.
Milo entrou, percebendo que a música abafada que ouvira do lado de fora estava na verdade ensurdecedora. Vendo tanta gente bonita, os lábios esboçaram um sorriso perigoso enquanto analisava todos que passavam ao seu lado.
Viu Afrodite, Carlo, Marin e Aiolia conversando animadamente em um canto. Andou em direção aos amigos.
– Boa noite, senhores! – Mirou os três homens – Boa noite, senhorita! – Disse sedutor, beijando o dorso da mão da ruiva.
– Nem vem, Milo. – Aiolia disse emburrado, apertando Marin contra seu peito.
– Eu estou brincando, cara! – Riu – Eu jamais daria em cima da Marin. – Piscou descaradamente para a moça que riu – Mas então, não te esperava aqui hoje, gatinho.
O promotor ficou vermelho e a ruiva riu ainda mais. Ela se virou e segurou o rosto do namorado com ambas as mãos, lhe dando um beijo leve.
– Não fique com vergonha. E daí se eu te chamo de gatinho com meus amigos?
– Amor, se o Milo que é SEU amigo encheu meu saco, imagina os MEUS amigos? – Segurou a moça pela cintura.
– Ah é, você trabalha com os irmãos dele, não é?!
O namorado apenas acenou positivamente com a cabeça. Marin se virou para o amigo.
– Milo, não conte para os gêmeos. – Imperou rindo e apontando o dedo acusatoriamente.
– Tarde demais. – Deu de ombros.
Aiolia reclamou e ambos riram mais ainda.
– Você está lindo hoje, Miluxo. – Afrodite se pronunciou. O sueco tinha a cintura rodeada pelos braços fortes do namorado atrás de si.
– Obrigado, Dite, você também! – O grego notou como o amigo e o italiano formavam um bonito casal. Afrodite era mais delicado, trajava um jeans claro e justo que descia até o meio de suas panturrilhas. Calçava tênis baixinhos em modelo feminino. No torso, vestia uma blusa soltinha na cor rosa bebê. Os cabelos loiríssimos caiam em gigantescas ondas, ressaltando os olhos muito claros, fazendo-o lembrar-se de Camus.
Pela primeira vez reparava no acompanhante do sueco, definitivamente um homem muito másculo. Os cabelos grisalhos, apesar de aparentar pouca idade, eram penteados para trás, lhe dando um ar rebelde. Vestia uma camisa social de botões na cor preta, dobradas até o cotovelo. O jeans era chumbo escuro e nos pés um sapato social elegante. O rosto possuía uma barba malfeita que Afrodite dizia adorar.
Sentia-se culpado por invejar o amigo naquele momento. Pelo pouco que havia visto, Carlo era louco pelo amigo, colocando-o como prioridade máxima em sua vida.
Sorriu. Afrodite era uma das melhores pessoas que já havia conhecido. Ele definitivamente merecia alguém que o amasse de verdade.
– E a dona Shina, onde está? – O sueco indagou, sorrindo.
– Estou procurando, viu se ela já chegou?
– O Milo está com a Shina? – Carlo perguntou confuso.
– Hoje sim. – Afrodite respondeu.
– Mas vocês duas andam rápido, hein? – O italiano volveu para Marin.
A ruiva apenas riu, levantando as mãos como se não soubesse de nada.
– Que? – Perguntou Aiolia.
Marin, Afrodite e Milo riram, deixando os outros dois sem entender.
– Boa noite, gente. – Todos se viraram na direção da voz feminina.
A boca de Milo se abriu em um pequeno “o”. Shina surgiu com um curto e apertado short preto que subia até acima de sua cintura. Um cropped verde escuro, juntamente com um par de tênis desleixados aliviavam o visual, deixando-a jovem.
O grego a olhou de cima a baixo, focando nas pernas longas, quadril desenhado e cintura fina.
– Uau, Shina, verde definitivamente é a sua cor!
A morena sorriu.
– Olá, gente, tudo bem? – Acenou educadamente para os amigos, sendo retribuída – Vamos beber alguma coisa, Milo?
– Com certeza! Até daqui a pouco, galera. – Milo abraçou a acompanhante com delicadeza, sentindo-se o dono da festa por ter sido escolhido pela moça como sua companhia.
No meio do caminho, sentiu-se puxado para a pista de dança, tendo a italiana colada em si.
– Não íamos beber? – Sorriu, abraçando-a possessivamente.
Shina passou os braços delicados ao redor do pescoço do grego.
– Gosto dessa música.
Milo estava encantado. Só seguiram para a cozinha duas músicas depois, quando a morena decidiu que era hora de beberem algo. Já distante do som, Shina assumiu o controle, separando as garrafas certas na enorme mesa.
– Sabe, Milo, eu sei que você gosta do Camus. – Disse diretamente, aproveitando que não havia mais ninguém no cômodo.
– O que? – O grego se sobressaltou, paralisando-se.
– Vem. – Ela lhe puxou pela mão, entregando um copo com bebidas misturadas. A italiana sumiu por uma das portas da cozinha que levava até o jardim traseiro, sendo seguida por Milo.
Já sob o céu denso e sem estrelas, Shina foi a primeira a se pronunciar. As pessoas ao redor não pareciam notar a presença de ambos.
– Olha, quero conversar com você, tudo bem? – Sorriu docemente – Eu não quero te ferrar, nem nada do tipo. Só te achei interessante.
– Shina, eu...
– Escute, – Cortou – a Marin te contou por que terminamos?
O grego apenas negou com a cabeça.
– Eu faço Belas Artes. – Prosseguiu com o obvio – Eu quero conhecer o mundo, Milo. Quero conhecer muitas pessoas, quero viver antes de ter um relacionamento.
– Tudo bem, e o que isso tem a ver comigo... e com o Camus? – Estava resignado.
– O Dite desaprovou um pouco eu mostrar interesse por você. Eu sei muito bem que ele ama o irmão e acha que você seria um cunhado perfeito. Mas veja bem, isso não me interessa.
Milo a olhou surpreso.
– Eu só te achei um cara bem gato e queria curtir enquanto você se resolve. Tudo bem pra você?
O grego pensou em infinitas coisas que poderia dizer. Acabou escolhendo a mais simples.
– Tudo bem pra mim. – Sorriu francamente e foi correspondido.
Beberam o conteúdo de seus copos e a morena riu da careta do que o companheiro esboçou. Milo teve um relance enquanto voltavam para a pista de dança.
– Shina, como soube sobre mim e o Camus?
A morena riu.
– Qualquer um consegue ver que tem algo na maneira com que você olha para ele, Milo. É bem óbvio.
– Merda. – Praguejou para si mesmo. A italiana só soube rir mais – É, eu meio que gosto dele.
– E ele é gay? – Gritou para ser ouvida enquanto passavam por um corredor de pessoas.
– Não sei. Para ser honesto eu nem tive avanços. – Gritou de volta.
– Boa sorte! – Disse com franqueza.
– Na verdade eu desisti disso, consigo ver que não vou chegar em lugar nenhum.
– Seja bem-vindo ao grupo dos descompromissados! – Gritou contente, levantando o copo de plástico.
– Minha querida, eu fui um dos fundadores desse grupo. – Milo riu e puxou a mão da morena até a pista de dança.
– Então seja bem-vindo de volta! – Riu, brindando sua bebida com a do grego.
– Obrigado! Acho que meu retorno merece uma dança de comemoração!
Ambos sorriram, iria dançar até o cansaço vir.
O casal dançou por um longo tempo, parando apenas quando o esgotamento se aproximou. A casa possuía cômodos enormes, mostrando ser uma república de respeito. Em um dos sofás no salão principal, Milo pode ver Afrodite e Carlo unidos em um abraço carinhoso, evitando qualquer contato além deste.
– Oi, gente. – Sentou-se ruidosamente ao lado do sueco, fazendo o sofá balançar.
– Cadê a bambina? – Perguntou Carlo.
– Sua conterrânea foi atrás de uma caloura. – Respondeu o grego, dando de ombros.
– Por falar em caloura, consegue ver aquela ali? – O sueco apontou para uma bela loira.
– Estou vendo, o que é que tem?
– O nojento do Philippe está tentando algo com ela desde o início do semestre. – Disse satisfeito, voltando a se aconchegar contra o peito forte do italiano.
– E conseguiu?
O sueco lhe presenteou com um sorriso ardiloso.
– Com licença. – O grego levantou-se enquanto se despedia, a loira era seu novo alvo.
– Você é bem cruel. – Carlo depositou um beijo no topo dos cabelos loiros.
– Você já sabia disso. – Respondeu simplesmente, segurando a mão grande para depositar um beijo em sua palma, devolvendo o carinho.
– É, me lembro bem do quão ignorado eu fui. – Fingiu mágoa.
– Mask, amor, faça-me o favor! Olha só para você!
O italiano levantou uma sobrancelha.
– O que tem eu?
– Você é rude, forte e tem um rosto pouco convidativo quando o objetivo é fazer novas amizades.
– Por causa disso que tive que correr tanto atrás de você?
– Mas é claro! – Jogou os cabelos para trás – E é pelo mesmo motivo que não consigo mais viver sem você, carcamano! – Virou-se completamente, depositando um beijo suave sobre os lábios do amante.
– Dite! – Sobressaltou-se, depois riu.
– Desculpe. – Sorriu docemente, apaixonado – Vamos dançar?
– Com certeza!
Milo sentou-se próximo ao grupo feminino, puxando conversa.
– Olá, como vocês vão? – Viu as meninas sorrirem.
– Muito bem! – Disse uma delas – Você é o grego da Escola de Direito, não é?
O loiro levantou uma sobrancelha, ajeitando a jaqueta jeans. Era vaidoso, gostava de ser reconhecido.
– Sou sim.
Conseguiu criar um assunto sem muito esforço e, apesar de não se importar, fingia interesse com a maestria de um profissional que exerce a função há muitos anos. Já havia observado Philippe enquanto dançava com Shina, decidido a enrolar o grupo de garotas até vê-lo novamente.
A meta foi cumprida assim que o loiro teve um vislumbre do francês que tanto detestava. Chamou a garota para dançar e, aproveitando-se de sua distração, se aproximou sorrateiramente, beijando-a com delicadeza e vontade. Avistou de soslaio Philippe e seus amigos deixarem o cômodo, esboçando um sorriso vitorioso entre o beijo que não tardou em findar.
O grego se despediu encantadoramente, percebendo que ambos haviam ganhado com aquela jogada. Saiu em busca de Afrodite para lhe contar as novidades, encontrando sua belíssima companheira de festa pelo caminho. Decidiu puxá-la para uma dança que, juntamente com bebidas, duraria por horas.
Algumas horas mais tarde, Milo decidiu descansar enquanto conversava animadamente com Carlo e Afrodite, completamente alterado pela bebida. Shina havia lhe abandonado por um tempo, retornando para o momento de descanso.
– Você não quer nada mesmo?
– Não, querida, obrigado. Eu sou o motorista desses dois adolescentes. – Carlo apontou para o namorado embriagado que ria de alguma gracinha feita pelo grego. Não havia bebido com o intuito de levar ambos para casa.
– Você é um bom esposo. – A italiana brincou.
– Com licença, eu ouvi esposo? – Afrodite se virou imediatamente na direção da conversa alheia.
– Ah, agora você entende, não é? Engraçado, quando eu mandei você não pegar aquele copo com etanol puro você não me escutou direito.
– Você vai me pedir em casamento? – Sorriu bobamente.
– Só se você me prometer que vai frequentar o clube dos alcoólatras anônimos. – Sorriu de volta.
– Vai fazendo gracinha, vai! Saiba que tem muita gente querendo casar comigo! – Imperou, fazendo Milo rir.
– Como você consegue superar esses dois com tão pouco tamanho? – Disse Carlo, ignorando o chilique do namorado.
A morena riu.
– Hábito. – Deu de ombros – E olha que eu bebi mais que eles.
Os italianos perceberam que Milo e Afrodite estavam em um estado de torpor.
– Quer um refrigerante antes de irmos embora? – Shina completou, apontando com o dedão para a cozinha atrás de si.
– Ir? Logo o Dite desperta querendo dançar. Mas eu aceito sim, podemos só dar uma passada no carro antes? Quero pegar algo que eles possam comer.
– Claro!
Ao longe, Philippe viu surgir a oportunidade que almejara durante toda a noite. Sorriu, apalpando um objeto em seu bolso.
No outro canto do salão, Milo sustentava o rosto com a mão aberta, os cotovelos repousando na mesa de modo instável. Já o sueco havia deitado a cabeça sobre os braços cruzados, descansando tranquilamente.
O francês passou pela mesa rapidamente, batendo em sua superfície antes de depositar dois copos cheios. Sumiu pela porta do jardim, iria observar os acontecimentos de longe.
Os amigos acordaram sobressaltados. Afrodite viu Philippe de relance, olhando com desgosto para o autor da brincadeira infantil.
– Que ser irritante, tomara que seja reprovado de novo pelo Camus. – Praguejou na direção que Philippe havia seguido. Levantou o torso, sentando-se ereto – Milo, acorda! Tá perdendo a festa! – Sacudiu o ombro do grego a sua frente, que se desestabilizou e recobrou a consciência devido ao susto.
– Claro que não estou perdendo a festa! Só estava descansando um pouco. – Reclamou enquanto esfregava os olhos.
O sueco bebericou o conteúdo de um dos copos a sua frente. Não havia álcool, apenas refrigerante. Sorriu, perguntando-se onde o namorado estaria.
– Mask deixou refrigerante pra gente.
– Ótimo, não aguento mais beber. Preciso de concentração para poder dançar mais. – Sorriu bobamente.
Ambos tomaram o conteúdo do copo enquanto despertavam melhor, olhando as pessoas em volta. Muitas dormiam pelos cômodos, outras dançavam vorazmente. Estava tarde.
Carlo e Shina retornaram, cada um tomando o lugar ao lado de seu respectivo companheiro.
– Pare de beber isso! – O italiano afastou o copo de Afrodite, lhe entregando uma barra de cereal – Coma.
O sueco não entendeu muito bem, mas mesmo assim obedeceu.
– Milo, trouxe para você também, faça o favor de comer.
O grego pegou a embalagem e a levou na altura dos olhos, analisando-a profundamente.
Shina e Carlo se entreolharam, sem entender. Foram tirados do diálogo mudo pelo som do vômito de Afrodite.
– Cacete! – Carlo agiu rapidamente, segurando a testa do namorado com cuidado. Ao terminar, o sueco foi levado às pressas para o jardim.
– Milo, aguenta aí! – Disse a morena, enquanto corria atrás do casal para oferecer ajuda.
O grego apenas olhou a cena desfocada, sem conseguir ter reação alguma. Viu um vulto preto se aproximar perigosamente para, em seguida, lhe bater no estômago com algum objeto. Seu corpo se dobrou perante a enorme dor que roubava todo o ar de seus pulmões, fazendo-o cair do banco em que se sentava.
Sozinho no chão da república, Milo via muitos passos em câmera lenta, além de ouvir um zumbido que se assemelhava à música distorcida. Pestanejou diversas vezes, levando a mão até os lábios ao sentir um líquido quente escorrer por seu queixo. Guiando os dedos até a frente dos olhos azuis, conseguiu distinguir a cor vermelha do sangue.
Ouviu uma voz que se assemelhava a de Shina. Ela parecia gritar por alguém.
Carlo voltou, levantando Milo do melhor jeito que pode e o encaminhando para o jardim com a ajuda da morena.
– Puta que pariu! O que aconteceu?! Eu saí por dois segundos! – O italiano gritava, olhando para o corpo do grego em busca de ferimentos.
– Não sei, não parece só o efeito do álcool. No caso do Milo as coisas são ainda piores. – Respondeu a italiana, olhando para os dois loiros ao chão.
– Ah que ótimo, o Camus vai me matar! – Dizia desesperado, segurando os fios grisalhos entre os dedos, puxando-os para trás enquanto andava em círculos.
– Calma, liga para ele. Você vai precisar de ajuda com esses dois.
– Ele vai me matar DUAS vezes! – Disse fazendo um “V” com os dedos. Respirou fundo antes de buscar pelo celular no bolso da calça.
O sono do francês não vinha muito fácil quando Afrodite estava fora. Claro que o italiano lhe dava certo conforto, mas não conseguia se desligar totalmente. Contudo, nessa sexta-feira as coisas haviam sido um pouco piores. Carlo cuidaria do namorado com a própria vida, disso tinha certeza. Porém, e quanto a Milo?
Quando cansou de preparar aulas, resolveu ler em sua biblioteca. A exaustão o havia vencido por volta de 1:30h, fazendo com que o ruivo cochilasse no pequeno sofá em meios aos livros.
Camus foi acordado com o barulho da vibração de seu celular sobre a mesa de escritório. Levantou rapidamente para alcançá-lo, preocupado com o nome visível na tela.
– Mask?
– Olá, Camus, boa noite. Tudo bom?
– Tudo bom... – Esfregava os olhos com o indicador por baixo dos óculos de armação fina – Aconteceu algo?
– Então, mais ou menos. O Dite e o Milo ficaram meio ruins. Tem como você me ajudar com eles?
– Claro! – Deixou a biblioteca em frações de segundos, seguindo para o quarto – Me dê dez minutos.
– Tudo bem, obrigado! – Desligou.
Camus desligou o aparelho, jogando-o em sua cama. Trocou rapidamente o short curto que usava por uma cueca e jeans. Calçou um par de chinelos enquanto guardava telefone, chaves e carteira nos bolsos fundos. Rumou apressadamente para o estacionamento do prédio.
Após dirigir feito um louco na madrugada, o ruivo diminuiu o ritmo, rodeando a república até encontrar o carro do cunhado.
Girou o volante sem pisar dos freios, fazendo os pneus cantarem. Assim que o carro rodopiou de qualquer jeito, Camus puxou com aspereza o freio de mão, descendo imediatamente sem se preocupar em fechar a porta do motorista.
– Onde eles estão? – Perguntou sem delongas enquanto caminhava a passos rápidos na direção do italiano.
Shina se assustou ao ver o tão renomado professor de blusa puída, jeans e chinelos. Riria se a situação permitisse.
Chegando mais perto, Camus pode ver os dois loiros sentados contra a parede, perto de uma poça nojenta de vômito.
– O que houve, Mask?
– Eu não sei ao certo... eles haviam bebido bastante, então eu fui buscar algum alimento no carro. A situação era essa um minuto depois.
– Acha que alguém pode ter feito algo nesse meio tempo?
– Eu acho que sim. – Shina deu de ombros.
– Levamos para um hospital? – Camus perguntou pensativo.
– Eu acho que não, eles “melhoraram” rapidamente. Se alguém deu algo para deixá-los assim, o objetivo era apenas que eles perdessem o resto da festa. – Concluiu a morena – Acho que descanso seria o ideal agora.
O ruivo desviou os olhos claros para Afrodite. Se abaixou em frente ao sueco, depositando um beijo no topo de sua cabeça.
– Cuide bem dele, do Milo cuido eu. – Disse com a voz baixa e indiferente.
Carlo pegou Afrodite no colo, sendo ajudado por Shina ao colocá-lo dentro do carro.
– Milo, acorde...
O grego despertou ao sentir o toque frio das pontas dos dedos do professor.
– Camus? – Sussurrou.
– Acha que consegue andar até o meu carro? Ele está bem ali. – Apontou com o indicador na direção do Cadillac.
– Acho que sim. – Emendou em uma tosse.
– Tudo bem, eu vou ajudar você. – Camus passou um dos braços do grego sobre seus ombros. Segurou Milo pela cintura, dando passos lentos.
– Eu estou imundo, vou sujar você e seu carro. – Sussurrou, sorrindo tristemente.
– Não tem problema. – Camus sussurrou de volta – Vamos pra casa.
A consciência de Milo oscilou, impedindo-o de continuar o diálogo. Fazia mecanicamente o que lhe era ordenado pelo francês.
Camus dirigia com fleuma, não querendo que movimentos bruscos incomodassem o aluno que ressonava e acordava intermitentemente.
Em uma curva acentuada, o enjoo fez com que Milo despertasse em aflição.
– Camus! Pare o carro! – Apertou desesperadamente o botão que abria a janela do passageiro, jogando a cabeça para fora para vomitar abundantemente.
– Ah, minha lataria... – Remoeu resignado.
Por sorte o apartamento de Camus estava próximo. Quando o Cadillac foi estacionado na garagem do prédio, o ruivo saiu primeiro com o intuito de ajudar o aluno a descer. Viu a imundice que o esperava no dia seguinte, balançando a cabeça para esquecer o trabalho que teria. Enfiou a mão por dentro da janela aberta para abrir a porta, já que a maçaneta do lado de fora estava inutilizável.
Seguiram com passos cautelosos até o elevador. Camus escorava o aluno com uma mão e apertava o botão do décimo primeiro andar com a outra. Milo ameaçou vomitar no carpete elegante enquanto subiam, mas, para o alívio do ruivo, a vontade cessou.
Com certa dificuldade, o mais velho conseguiu encontrar o molho de chaves em seu bolso, abrindo a porta do apartamento em seguida.
– Sua casa, Camus? – Milo disse com a consciência oscilatória.
– Sim, vamos tomar um banho e depois dormir. – O grego não pareceu discernir a última frase, mas o ruivo prosseguiu com seus objetivos.
Após alguns instantes de hesitação, Camus decidiu que era melhor para o aluno dormir em um lugar confortável, afinal, Milo precisava de descanso profundo. Já que cederia seu quarto, o ideal é que o banho fosse na própria suíte.
Camus guiou o loiro com mil pensamentos invadindo sua mente. Iria banhar Milo, e agora?
Sua respiração se tornou mais pesada ao fechar a porta do banheiro. Apoiou a testa na madeira, invocando todo o seu autocontrole. Teria que conseguir.
O cômodo era amplo. Camus abriu uma das gavetas do armário sob a pia, retirando uma escova de dentes nova. O loiro pareceu despertar do torpor ao sentir dedos frios tocarem seu maxilar.
– Estamos em um banheiro? – Disse debilmente.
– Sim, é o meu banheiro. Não se preocupe, vamos apenas escovar os seus dentes, tudo bem? – Disse atencioso.
– Hum hum. – O grego se comportou, abrindo a boca lhe era solicitado.
Camus se pôs a escovar os dentes perfeitos do grego obediente. Percebeu vestígios de sangue no canto da boca que pacientemente limpava, preocupando-se. Será que havia errado em não o levar a um hospital? Sabia que iria ter o sono leve na sala, atento a qualquer súplica que o grego poderia ter em seu quarto.
– Agora você tem que tomar banho. Jamais te deixaria deitar desse jeito na minha cama. – Disse veemente, apesar de não ser ouvido pelo grego inconsciente a sua frente.
Quando percebeu que Milo não tomaria nenhuma iniciativa, Camus respirou fundo. Olhou o corpo do grego, enchendo todo os seus pulmões de ar, prevendo o que o esperava.
– Tudo bem, Camus, você consegue fazer isso. Você consegue... – Murmurou para si mesmo. Estava dando certo, seu corpo estava em paz.
Retirou com cuidado a jaqueta jeans e espalmou as mãos frias no quadril do grego, subindo lentamente por sua cintura, entrando por baixo da blusa estampada azul. O ruivo olhava esporadicamente para suas mãos, apesar de não conseguir desviar os olhos da face de Milo por muito tempo. Este, por sinal, o encarava incisivamente.
Arrastando a mão lentamente, viu Milo levantar os braços para que a camiseta fosse retirada.
Inspirou fundo novamente. Viu o grego fazer o mesmo. Os olhos azuis de Milo estavam nublados, porém vidrados nos seus. Corou, seu corpo começava a lhe trair.
Viu a vestimenta passar pela cabeça do grego, interrompendo brevemente o contato visual. Olhou para baixo, vendo o torso desnudo. Sentiu o sangue correr por seu pênis, estava se excitando.
– Camus... – O grego sussurrou com a voz masculina, grave.
Agora o ruivo sentia fisgadas. Prosseguiu, agachando-se para retirar os tênis, meias e o jeans do grego. Ao desabotoar a calça, sentiu dedos firmes enlaçando suas mechas ruivas como em um pedido mudo. Olhou para cima, vendo que Milo o mirava em êxtase. Desviou o olhar para os botões recém-abertos, mal contendo o volume gigantesco da ereção sob a cueca do aluno. Pronto, uma fogueira havia sido acesa dentro de si.
Levou a mão brevemente até sua própria ereção, apertando-a levemente e fechando os olhos com o contato. Precisava ser forte.
Abaixou a calça do grego, vendo a cueca colada nas coxas grossas e o desenho perfeito do pênis de Milo sob o tecido branco.
Mordeu os próprios lábios para impedi-los de beijar o corpo a sua frente e descobrir que sabor teria.
O ruivo decidiu manter a cueca, só precisava lavar os respingos de vômito e o cheiro de bebida. Tiraria a peça somente no momento de pôr o pijama no grego, assim evitaria uma possível e provável catástrofe.
Abriu o chuveiro na temperatura de inverno, sabia que Milo sentia frio com facilidade e queria mantê-lo confortável. Se abaixou brevemente para dobrar a barra da calça jeans, precisava estar preparado para uma das maiores provações de sua vida: ou seria um idiota que se aproveita de pessoas inconscientes, ou seria uma boa pessoa perdendo a maior chance que teve.
– Entre aqui. – Guiou o loiro para dentro do enorme box.
“Respira, Camus, respira” Pensou.
Pegou o sabonete líquido e depositou uma certa quantidade em sua mão. Inspirou ruidosamente antes de tocar em Milo novamente. Decidiu começar pelos ombros, uma área que julgava neutra.
O grego estremeceu de imediato, mirando os orbes azuis piscina do mais velho com suplício.
Camus retribuiu o olhar, percebendo o quanto queria unir os lábios úmidos de Milo ao seus. Prosseguiu com a limpeza, descendo a mão espalmada pelo peito forte. Tentou ser mais rápido com o intento de se ver livre da tortura que lhe era imposta.
O loiro encostou parte das costas na parede, mantendo o quadril inclinado para a frente. Nesse movimento, a mão do francês deslizou por cima dos músculos definidos do abdome, parando no cós da cueca molhada. Milo praticamente grunhiu com o contato há tanto esperado.
Camus se atreveu a olhar para baixo. A cueca, que um dia foi branca, estava completamente encharcada, delineando perfeitamente o contorno do membro rígido do aluno. A peça de roupa e nada seriam a mesma coisa. O grego acompanhou o olhar do professor e cravou os dedos em seu peito, puxando-o para perto.
Camus foi pego desprevenido. Quando sentiu os dedos molhados em sua camiseta já era tarde demais. Os lábios úmidos do grego roçaram nos seus, transmitindo espasmos violentos por toda a extensão de seu corpo.
Milo esperava. A sorte havia sido lançada. Camus ainda mantinha o toque no abdome forte. Se apoiou com a mão livre espalmada na parede ao lado da cabeça do grego. Com a outra, subiu rudemente pelo torso esculpido há anos de nado até alcançar a nuca. Puxou os fios loiros para baixo de modo a inclinar a cabeça do aluno.
Se aproximou como um felino, tocando o pescoço a sua frente com lábios hesitantes. Correu a ponta do nariz pelo maxilar do grego, do queixo a orelha, suspirando. Fez com que Milo o encarasse e mirou profundamente os olhos azuis que tanto aparecia em seus sonhos.
– O que eu faço com você? – Sussurrou rouco, suplicante, sensual.
O grego o fitava com olhos nublados e Camus sabia que, apesar de muito desejo ali, havia um misto de inconsciência. Não era Milo e sim apenas uma fração deste. Camus não o queria pela metade.
Afundou o rosto na curva do pescoço do aluno, apertando-o contra si sem se importar com suas roupas cada vez mais molhadas. Mantinha uma expressão frustrada e triste.
– Não posso, Milo. Eu não sou esse tipo de pessoa. – Soltou as mechas de cabelo loiro, se afastando. Fez um carinho na face bronzeada e fechou o chuveiro – Vamos sair, você precisa se deitar.
Após guiar o aluno para fora do box, Camus o abandonou por apenas alguns segundos. Correu até o quarto e pegou sobre sua cama o short que estava usando antes sair de casa, levando-o apressadamente para o banheiro. Hesitava terrivelmente em deixar o grego sozinho.
Retirou a cueca molhada com o rosto virado, não se responsabilizaria por seus atos. O secou como pôde, vestindo o short escuro rapidamente. Segurou a mão do aluno com firmeza, levando-o até sua cama para então procurar uma camisa limpa, quente e confortável.
– Deite-se. – Ordenou gentilmente e foi prontamente obedecido. Milo estava exausto.
O cobriu com um pesado edredom branco, olhando-o por longos minutos antes de se exilar na sala. Não poderia dormir com o aluno. Não conseguiria.
Acendeu a luz da copa para não ser atingido diretamente pela luminosidade e sentou-se no sofá. Olhou para si mesmo, vendo as poças de umidade em suas roupas. Não se importou. Apoiou os cotovelos nos joelhos e abaixou o corpo, levando as mãos até os fios ruivos e os puxando para trás. Ficou nessa posição por um tempo.
Pelos deuses, que dia pavoroso! Pensou. Detestou o fato de Milo ir. Detestou o fato de Milo beber. Detestou o fato de alguém drogá-lo. Se Carlo não estivesse lá, o que poderia ter acontecido?
Gemeu jogando o corpo para trás. Deslizou as costas pelo encosto do sofá cor de chumbo, ficando sentado de modo torto. Abriu as pernas e elevou a cabeça, mirando o teto.
Milo não era uma criança, já deveria ter ido em muitas festas e passado por coisas parecidas. Não era sua propriedade para protegê-lo sempre. Milo era um homem, forte e viril.
Forte... Viril...
Esfregou as mãos no rosto novamente, simulando um grito mudo.
Lembrou-se do corpo definido, molhado, quente, excitado, pedindo por um toque.
O seu toque.
Desceu as mãos do rosto ao sentir-se terrivelmente excitado de novo. Virou o pescoço para baixo, vendo o volume protuberante sob o jeans. Apertou toda a extensão com ambas as mãos, mordendo o lábio inferior.
– Merde, Milo! – Sussurrou.
Abriu o botão e o zíper com cuidado. Levantou o quadril para descer a calça apenas o suficiente para o que tinha em mente. Não abaixou a cueca, apenas retirou seu pênis e testículos de dentro dela.
Segurou a base firmemente com a mão esquerda e lambeu a palma da direita, levando-a em seguida à sua glande, fazendo uma massagem circular. Jogou a cabeça para trás novamente, a respiração entrecortada. Seus dedos deslizavam deliciosamente devido à saliva.
Soltou a base, levando a mão livre até seu próprio abdome, levantando a blusa molhada enquanto sentia seu corpo inteiro reagir. Iniciou o movimento de vai e vem pela extensão grossa, bem devagar, temendo acordar Milo devido à altura de sua respiração pesada.
Pelos céus, como estava excitado!
Pensou na cueca molhada do grego, completamente transparente. Aumentou a intensidade.
Desceu a mão do abdome para os testículos, pressionando-os firmemente para aumentar a sensação de prazer.
Os olhos azuis se mantinham semicerrados e, apesar de mirar o teto, visualizavam apenas Milo.
A boca úmida, os olhos enevoados, os cachos selvagens... Lembrou de sua própria mão deslizando sobre o copo esculpido. Aumentou a velocidade.
Sentiu-se tremer, estava quase. Seu próprio corpo retesava, duro, firme.
Por fim, lembrou-se de seus lábios sob os de Milo. Gemeu com a voz rouca, seca.
Levantou o quadril do sofá, inclinando-o para frente. Gozou, seu corpo vibrava, convulso em ondas viscerais.
– Milo... – Deixou escapar ao sentir as últimas ondas trespassarem seu corpo quente.
Após alguns minutos regularizando a respiração, Camus vestiu-se novamente e deitou-se com a cabeça apoiada no encosto para braços. Retirou o celular e a carteira do bolso, não se preocupando com o estrago que a água poderia ter causado, dormindo imediatamente. O corpo jogado, o dorso da mão direita sobre a testa, uma perna dobrada e o rosto virado para a parede de vidro.
Milo acordou assustado. Não tinha recuperado totalmente a consciência. Sentou-se na cama de casal, olhando para os lados. Conseguiu identificar que estava no quarto de Camus, mas não via o francês em lugar algum. Levantou-se e sentiu frio. Viu a poltrona onde o professor depositava roupas antes do banho, mirando em uma manta curta sobre seu encosto. Fechou os dedos sobre a mesma e saiu arrastando-a pelo chão.
O grego andou em direção ao corredor enquanto esfregava os olhos com a mão livre. Viu a luz da copa acesa e os fios vermelhos de Camus caindo como labaredas de fogo vivo sobre o sofá.
Não pensou duas vezes em ir em sua direção.
Se aproximando, não viu se o mais velho dormia ou não, apenas deitou ao seu lado, passando a perna sobre o corpo do francês e abraçando-o como pode.
O ruivo acordou assustado, sentindo um peso quente sobre si. Contudo, permaneceu estático ao ver que era o grego. O que deveria fazer?
Milo jogou debilmente a manta sobre si e voltou a dormir. Mantinha a cabeça na curva do pescoço do francês e um braço se esgueirou por baixo de suas costas, envolvendo sua cintura. Uma de suas pernas repousou entre as do professor, fazendo-o suspirar.
Os olhos claros do ruivo miravam o teto da sala.
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