Olhando para a imensa casa de tijolinhos vermelhos, Nico se perguntou se tinha tomado a decisão certa. Não que a casa fosse feia, muito pelo o contrário, a casa era linda de todos os ângulos, o sol parecia bater ali de uma forma muito única mesmo com a neve e o frio de inverno. As portas brancas faziam um contraste com o vermelho dos tijolos e pareciam as portas e janelas mais bem cuidadas do mundo. A casa era perfeita e Nico pensava como seria aquele lugar na primavera. Tudo perfeito demais, tinha que significar que algo estava errado.
Tudo bem, calma.
Respirou fundo soltando o ar devagar tentando acalmar o coração que começava a pular como louco dentro do peito. Tinha que ter algo errado. Discretamente olho para o lado, viria alguma pegadinha? Talvez houvesse buracos escondidos no caminho e ele cairia de cara no chão frio. Mas não, como ele mesmo constatou, o chão, sem neve, estava limpo e perfeito sem qualquer buraco no calçamento.
Céus! Porque ele tinha aceitado isso? Porquê?
Nico sentia que ia se desfazer se tivesse que sair daquele carro. Não. Não ia sair, pisaria no acelerador, pararia em qualquer posto de beira de estrada e...e faria o que? Passaria o Natal sozinho comendo frango frito em um balde?
— Você já está aqui mesmo. — Disse para si mesmo, não que fosse de muita ajuda.
Pelo retrovisor olhou os para os presentes que tinha comprados. Todos estavam embrulhados de mal jeito com um papel vermelho com carinhas de renas e Papai Noel. Conseguia lembrar exatamente quantos tinha ali e o que eram, embora tivesse resolvido comprar de última hora e sequer sabia se entregaria as pessoas. E se eles não gostassem? E se falassem NA CARA DELE que eram péssimos presentes e que PREFERIAM QUALQUER OUTRA COISA? Começou a bater com os dedos no volante. Certo, não ia levar os presentes, deixaria no carro e só entregaria um, ou talvez pegasse amanhã e colocasse escondido de baixo da árvore. Mas se percebessem? Até porque o papel de presente é bem espalhafatoso. E agora?
— Calma.
Estava começando ficar cada vez mais desesperado. Tentou fazer o que a terapeuta recomendou. “Nico respire fundo. Foque em algo a sua frente e pense uma passo de cada vez. Uma passo de cada vez.”
Nico respirou fundo.
Olhou para o pinguim de óculos balançando no retrovisor. Um pinguim muito feio e meio torto. E pensou no próximo passo. Abrir a porta do carro? Não, era um passo grande demais. Não sabia se estava pronto para isso. Então levantou a mão e deu um pequeno peteleco no pinguim que balançou. Aquilo o acalmou. Apesar de ser um pinguim de biscuit mal feito, ele amava aquele acessório. As vezes pensava que se tivesse o carro roubado ia pedir o brinquedinho, mesmo que nunca mais tivesse lugar para colocá-lo.
Voltou a olhar para os presentes empilhados no banco de trás. Certo. Tinha que entregar ao menos um.
Retirou o cinto de segurança, tocou a trava da porta. Puxou. Então lembrou que precisava desligar o carro antes. Desistiu, sentindo que todos aqueles pensamento voltavam a sua mente. Tentou meditar o real motivo disso. A terapeuta falou que sempre tinha uma razão, “são coisas pequenas, Nico, mas com motivos maiores. Pense nos motivos.” Mas ele não queria pensar naquilo. Balançou a cabeça tentando jogar os pensamentos para longe. E de uma única vez. Desligou o carro, abriu a porta e colocou o pé para fora.
Só o pé.
A porta continuou aberta e ele sentado no banco.
O impulso tendo acabado e as dúvidas voltando. Ele deixaria os presentes no banco de trás? Levaria todos? Levaria apenas um? Voltou o pé e fechou a porta. E se não gostassem dele?
Tentou reprimir aquele maldito pensamento que já sabia ser o motivo de todo alvoroço. Mas e se não gostassem dele? E se isso acabar com tudo aquilo? E se Will ver que Nico não é bom o suficiente?
“Nico, você precisa todas as coisas que aconteceram até este momento. Você é bom em todos os ângulos, apenas pensa que não é.”— A voz da terapeuta ecoou em sua mente. Tentava pensar que ela estava certa, e com isso voltou a olhar o pinguim balanço no retrovisor. Fechou os olhos com força e tentou lembrar de todo o seu histórico até ali: foi difícil, mas chegou. Tinha dirigido até ali.
Mas outro pensando veio a sua mente. E se estivesse olhando para o carro da janela? Olhou rapidamente para as janelas. Eram amplas, com suporte brancas e vidros cobertos com uma cortina. Com toda aquela demorar para sair, se estivesse sendo observado, iam achar que ele era louco, ou que estava fazendo algo errado. E se chamasse a polícia?
Todos esses pensamentos o impulsionaram a sair do carro. Abrir a porta traseira e pegar apenas um presente. Pronto! Ia tocar a campainha entregar o presente e sair. Não queria correr o risco de acharem que ele doido e que não gostassem dele.
Caminhou pelo calçamento que levava até a porta, e parou a centímetros a guirlanda pendurada na porta branca. Seus dedos tremiam ao tocar a campainha.
O barulho foi grande.
Escutou passas correndo pela escada. Gente falando. Algumas pessoas rindo e música. Alguém gritou falando da porta e três segundos depois o rosto vermelho de Will Solace apareceu junto com um sorriso enorme que fez todo o rosto de Nico esquenta ainda mais.
— Você veio! — Will jogou os braços pelo pescoço de Nico lhe dando um abraço forte. Ele cheirava a biscoitos, doces e naftalina...? Nico só não se afundou mais no abraço, pois o presente em suas mãos não permitia.
Will logo notou o presente
— Sabe que não precisava. — indicou o presente — Só de você estar aqui já me deixa feliz demais.
Mas como se algo ruim tivesse passado pela sua cabeça. Will empurrou Nico para trás e fechou a porta atrás de si. E ficou muito sério.
Toda aquela mudança de reação fez Nico ficar com muito medo. E se Will mudou de ideia? E pedir para ele voltar para o carro? Ele não tinha falado que ficará feliz?
— Olha vou te dizer uma coisa antes.
O coração de Nico quase passou. Aquilo não podia ser boa coisa. Tinha certeza que estava ficando branco e seus mãos iam começar a tremer.
Will o puxou para mais longe da porta e passou a mão pelos cabelos de forma nervosa. Aí meu Deus. Will ia terminar ali. Tinha que ser isso, ou ele não estaria tão nervoso. Prensou os lábios com força. “Você precisa tomar cuidado com os pensamentos obsessivos, é seu cérebro mesmo que os cria. São como conclusões precipitadas que você não consegue parar de pensar. Mas são apenas isso”. Fácil falar, doutora.
— Você está bem? — Will o tocou no rosto de forma muito amável e Nico soube que não iria acabar ali — Você está ficando muito branco. Quanto tempo está aqui fora?
Nico apenas balançou a cabeça. Se Will estava preocupado assim com ele significava que estava tudo bem.... Ou era só o lado médico falando?
Nico reprimiu aquilo.
— Olhe, vamos entrar. Não quero te deixar congelando aqui. — Pegou-o pela mão começando a puxa-lo para a porta.
Nico parou.
— Você não ia falar algo?
As sobrancelhas de Will se curvaram, como se não lembrassem, mas logo sorriu de lado.
— Hmm... verdade. — O nervosismo em Will voltou, junto com a preocupação de Nico — Mas posso te contar lá dentro, não vou deixar você congelando aqui fora.
— Não, fale primeiro. — Se fosse ruim, Nico não queria saber dentro da casa de tijolinhos vermelhos, como faria para sair depois?
A mão de Will, a que não segurava a de Nico, voltou a bagunçar os cabelos loiro.
— Bem... É que... Minha família é meio doida e...queria te avisar isso, para que você não fosse pego de surpresa.
Nico piscou sem entender.
— Como?
— É que o natal aqui em casa meio louco. Meus irmãos vem e as minhas tias também, é uma confusão só e está todo mundo meio animado demais para te conhecer. E tia L sempre quer empanturrar as pessoas de doces, e eles são ruins, mas você vai ter que fingir que gostou. E tia Yew gosta que a gente use esses suéteres de tricô horríveis... — Nico pela primeira vez notou a roupa que Will vestia. Um suéter vermelho com uma cabeça de rena pendurada, realmente não era bonito —... E tenho certeza que o Michael vai ficar fazendo piadinhas, ele faz desde que soube que estou namorando. Tem os filhos do Lee, eles são sinceros até demais. E meu pai... Ele ligou avisando que levou um pé na bunda da nova namorada e ele deve estar insuportável. E a minha mãe...ela vai...
Nico gargalhou. Sentindo todo o alivio daquela situação. Will estava nervoso. Nervoso por achar que Nico poderia achar da sua família. Ele queria que Nico gostasse da família dele. Queria que Nico não se assustasse.
— Você está rindo de mim?
— Estou.
Will tentou não rir, mas não conseguiu. Seus olhos voltaram a brilhar.
— Estou fazendo papel de idiota.
— Está.
— Ok, engraçadinho. Vamos entrar. — Puxou Nico para a porta e dessa vez, Nico foi — E se você tiver um indigestão, não diga que eu não avisei.
Passando pela porta, todo nervosinho de Nico voltou e não foi pela possibilidade de indigestão.
A casa estava toda decorada para o Natal. Cheia de luzes. Uma enorme árvore com bolinhas coloridas e a lareira acesa. O cheio era de biscoitos e coisas queimada.
De cara, Nico viu Lee com duas crianças perto da árvore (que reconheceu pela fotos que Nico mostrou). Os rostos viraram para ele e Lee fez uma careta. Todos vestiam suéteres idênticos ao de Will.
— Credo, Will. Tia Yew vai ficar furiosa com você. — Voltou a mexer na árvore.
Nico não entendeu, mas Will largou a sua mão ali. Será que a família de Will não gostava de...?
— Se vai ficar tanto tempo conversando lá fora, era melhor ter levado o suéter com você. — Lee continuou e Nico continuou sem entender.
— Ao menos diga “oi” para o meu namorado. — Will rebateu.
— Se ao menos você apresentasse ele direito, eu daria “oi”. — Uma voz feminina retrucou atrás do outro lado da sala.
Nico olhou para a mulher alta de cabelo claro no batente que dava para a cozinha. Ela estava com a mão na cintura e com a outra segurava um saco plástico cinza. Nico a reconheceu, Tia Yew, mãe de Michael.
Will rapidamente fez uma careta que Nico não entendeu. Ele se desculpou e começou a apresentar Nico a todos ali na sala, inclusive as duas crianças (um menino e uma menina) que estavam com Lee, os pequenos estavam anormalmente calados (coisa que Lee apontou ser estranho demais e perguntou o que os dois tinham aprontado para estar tão quietinhos) o que não combinou com o que Nico sabia dos dois, Will sempre falava dos sobrinhos como dois pestinhas em forma de gente.
Após as apresentações, Tia Yew (ela falará para Nico que devia chama-la assim, pois não gostava do nome e ameaçou Lee caso ele resolvesse falar, e podia chamar de tia porque todo mundo chamava de tia mesmo) começou a brigar com Will, coisa que Nico não entendeu, até que ouviu:
— Você não disse que ele era tão magro! Agora não vai dá. — E Nico percebeu que estavam falando dele.
— Mas ele não é tão magro assim, tia. Eu mostrei foto.
— Essas fotos enganam. Já ouviu falar que a televisão engorda?
A discussão continuou e Nico não sabia bem onde se meter. Não gostava que falassem do seu peso. Ele não estava até mais pesado do que já fora. Estava conseguindo manter uma rotina alimentar e ganhará mais massa saudável. Vários pensamentos vieram a sua mente, lembrando do seu pouco peso de antes e de que como era...
— Relaxa. — A voz de Lee sussurrou no seu ouvido, como ele tinha chegado ali sem ser ouvido, a Nico não sabia — Tia Yew sempre acha que as pessoas estão magras, ontem ela levou duas caixas de biscoitos para o Papai Noel do Shopping só porque ela achou ele magro. E olha como ele é. — Apontou para um quadro em cima da lareira.
Nico olhou. Era uma foto de um Papai Noel ao lado de duas crianças (os gêmeos de Lee) e o bom velhinho não era nada magro.
Nico sorriu e quis agradecer ao Lee por aquilo, mas não disse nada.
— Vocês já estão atormentando a cabeça do menino?
Uma nova voz feminina se sobressaiu. Nico não precisaria ter visto fotos para reconhecer aquela mulher. O rosto bondoso, os cabelos loiros rebeldes e o ar tranquilo já deixava transparecer que aquela era Naomi Solace, a mãe de Will.
Ela sorriu para Nico. Foi até ele e lhe deu um abraço quase tão caloroso quanto o do filho.
—Obrigada por ter vindo. — Sussurrou para ele em meio ao abraço.
— Eu que agradeço pelo convite. — Respondeu ao fim do abraço.
Nico recebeu mais um abraço e dessa vez foi da Tia Yew que tinha desistido de reclamar com Will sobre o peso de Nico, ao fim lhe entregou o saco cinza.
— É para mim?
— Sim. — Ela cruzou os braços e ficou esperando ele abrir — E você é obrigado a usar até amanhã a noite.
— Nico, você não...— Will tentou, mas a sua tia o olhou com cara feia.
Ao abrir a sacola, Nico viu o tecido fofo e cinza. Ao puxar viu um suéter natalino com listras e renas brancas, era bem diferente do resto da família, ao mesmo tempo que se sentiu agradecido, se sentiu estranho.
— Obrigado. Não precisa ter tanto trabalho.
— Porque o dele é diferente? — A filha do Lee perguntou? Ao menos tempo que o irmão dela correu até Nico.
— A gente pode trocar?
— Ninguém vai trocar nada aqui. — Tia Yew puxou o menino pelo braço. — Vamos, coloque!
— Tia...
— Calado, Will. — Ela o rebateu — É tradição.
Nico se apressou e meio bobo colocou o suéter natalino de renas e listras
— Porque o dele é diferente? — A menina voltou a perguntar.
— Muito obrigada. Ficou perfeito. — Nico agradeceu de verdade, ao menos tempo que queria saber a resposta da pergunta da menina — Deve ter dado muito trabalho para a senhora, por isso agradeço.
Isso causou um alguns barulhos de risos contidos dos adultos e gargalhadas das crianças. Nico se sentiu um grande bobo e corou, queria saber se tinha falado algo errado.
— Vou te contar um segredo, Nico. — Lee falou jogando o braço pela pescoço de Nico. — A tia aqui compra tudo em janeiro e guarda o ano todo e desenterra em dezembro só para gente ficar cheirando a naftalina.
— Em janeiro?
— Em janeiro tudo que é de natal tá com mais de 50% de desconto, A Yew aqui é a primeira da fila nas lojas de departamento. Se a gente deixasse, ela acamparia no último dia do ano em frente as lojas. — Naomi quem responde.
— Eu não consegui encontrar um igual para você. — Tia Yew fala como se se desculpasse — Mas aí Will todas as fotos que Will mandava você estava igual roqueiro eu achei que você fosse se sentir mais confortável com um suéter preto e não vermelho como o nosso.
Nico sentiu que lágrimas caminhavam para os seus olhos. Não apenas a mulher o tinha incluindo na tradição de natal como tinha adaptado para que ele se sentisse confortável.
— Muito obrigado.
O dia seguiu tão maravilhoso que Nico ficou com medo de estar cometendo algum pecado. Will ficou ao seu lado o tempo todo, lhe mostrou a casa inteira e lhe roubou alguns beijos escondidos. Sempre arranjava uma oportunidade de lhe agradecer por ter vindo. Perguntou sobre a estrada e se queria alguma coisa.
Quanto aos outros, Nico não conseguia parar de comer, Tia Yew sempre dizia que ele estava magrinho e que tinha errado no tamanho do suéter (Tudo culpa do Will, ela deixava claro). Os gêmeos aos poucos foram acostumando com a presença de Nico e viviam perguntando coisas a ele. “Porque você fala engraçado?”, “É que eu sou de outro país.”; “Qual país?”; “Itália”; “Uau. Você é da Marfia?” Nico teve que rir com essa pergunta, nunca tinha lhe perguntando se era da Marfia, mas não conseguiu responder porque a mãe dos gêmeos (uma mulher chinesa chamada Yue) chegou e perguntou como eles sabiam o que era Marfia.
Nico conheceu Apolo, o pai de Will, três horas depois de receber o suéter. Mas não conseguiu falar muito com ele, Apolo lhe deu boas vindas e disse para se sentir em casa, mas depois sumiu para a garagem com Lee e Tia Yew, mas tarde ficou sabendo que eles tinham ido jogar sinuca.
Michael, o irmão do meio, e a tia L (mãe de Lee, Nico teve que acrescentar) chegaram bem mais tarde trazendo um enorme peru assado. Will explicou que o tia L havia queimado o peru e eles tiveram que sair para comprar um (Nico se lembrou do cheiro de coisa queimada quando entrou na casa) Era assim todo ano, Michael explicou sorrindo.
— Sempre penso em deixar um de reserva, mas tia L diz que isso é falta de confiança na família e se eu fizer isso, ela me expulsa do Natal. — Michael piscou para a tia, que revisou os olhos e foi para a cozinha (não antes dá um grande abraço em Nico e dizer que ele vai amar os biscoitos que tinha feito, “vou pegar uns para você”)
— Então esse é o namorado do caçulinha. — Michael mede Nico com os olhos, e abre um sorriso — Você TEM que ver as fotos de Will bebê.
— Não!
Mas o grito de Will não adianta. Nico, muito contente, se deixa ser puxado para longos minutos onde ver fotos do pequeno Will peladinho na piscina de borracha, com fantasia de Dia das Bruxas, com o Papai Noel e tentando surfar na praia. É um álbum de família completo que até Will para de ficar constrangido e passa a contar a situação de cada foto.
Nem mesmo Nico percebe quando começa a participar da conversa, de fazer algumas piadas junto com Michael, ou de se sentir confortável naquela casa de tijolinhos vermelhos. Ele só percebe quando se vê sentado para o jantar à mesa junto com toda a família que, de tão grande, precisou pegar cadeiras extras para todos. As crianças ficaram com cadeiras dobráveis, o marido da Tia Yew (um alto homem havaiano) ficou com um banquinho alto, Lee e a esposa grávida em poltronas, os demais conseguiram as cadeiras da mesa.
O jantar foi barulhento e Nico mal conseguiu escutar os próprios pensamentos e isso nunca tinha acontecido antes. Fez uma anotação mental para conversar com a terapeuta sobre isso quando voltasse.
Descobrira muita coisa sobre Will. Ele, por mais que reclamasse dos irmãos, os amava muito e não questionava as condições que tinha nascida (final seu pai tivera dois outros casamentos e suas tias na verdade não era suas tias e sim mães dos seus meios-irmãos e que também tinham virado as melhores amigas da sua mãe). Will também era um tio coruja e não conseguia resistir aos pedidos dos pequenos, e que ele estava muito ansioso para ver o rostinho do novo sobrinho que estava a caminho.
Descobriu também que o Natal podia ser um data especial.
Nico sorriu ao sentir a mão de Will sobre a sua no meio do jantar. Sentiu o calor, não só dá mão ali, mas de toda a casa, e de toda a família ali. Nico conseguia se ver naquela situação nos próximos anos. Isso o fez sorrir ainda mais, sentindo que talvez a terapeuta tivesse razão. Ele só precisava viver um momento de cada vez e aceitar que coisas boas podiam acontecer com ele.
— Aqui.
Nico aceitou a xícara de chá quente que Will oferecera. Os dois sentaram no sofá e ficaram olhando a lareira acesa. Por um tempo o silêncio reconfortante predominou. Will passou os braços pelo pescoço de Nico e o puxou para perto (o que fez com que beber o chá fosse quase impossível, mas ele não reclamou, nunca reclamaria disso) os dois ficaram assim.
— Espero que você não tenha ficado assustado.
Nico riu um pouco. Sim, tinha ficado assustado, mas não pelo motivo que Will esperaria.
— Sua família é incrível.
— Uma bagunça só, você quer dizer.
— Isso é verdade, tudo aqui é um pequeno caos completo.
Os dois riram.
— Feliz Natal, Nico.
— Você já me disse isso umas quatro vezes só nessa hora.
Já se passavam da uma da manhã. Quando o relógio bateu as 00h da noite, Will lhe dera um pequeno beijo no nariz o desejando feliz natal e fez a mesma coisa diversas vezes depois. E como sempre, Nico não reclamara. Se sentirá realmente feliz em todas elas.
— Comprei um presente para você. — Nico disse. — Mas agora eu não sei onde ele está.
Quando chegou naquela tarde, tinha deixado o presente em algum lugar para vestir o suéter, e se esquecera dele.
— Está ali. — Will apontou para árvore.
Nico olhou para o seu presente e percebeu que não era o único que escolhera um papel de presente espalhafatoso e natalino. Todos os papéis ali eram verde, vermelho, dourado, com papais noeis, renas e sinos. Parecia se encaixar perfeitamente com os outros presentes.
— Um dos gêmeos pegou e colocou em baixo na árvore. — Will retirou o braço e Nico, mesmos sentindo falta, tomou um golinho do chá — Comprei um para você também, mas vou avisando que talvez você não goste. Você é pessoa difícil da dar presentes.
Nico riu. Lembrou-se do pinguim pendurado no retrovisor do carro, amava aquele pequeno presente, até mais do que conseguia revelar a Will.
— Quer abrir o seu?
— Aqui a gente sempre abre pela manhã. — Mesmo falando isso, Will se apressou para debaixo da árvore e chamou para que Nico fosse junto. — Posso confessar que estou ansioso? Tem um algo de extremamente prazeroso pensar que você comprou um presente para mim.
Nico corou um pouco. Nesse tempo que estavam namorando, não lembrava de ter dado presente nenhum a Will. Por outro lado, Will sempre lhe trazia coisas, sejam lembrancinhas, doces ou grandes presentes.
Repentinamente, Nico se sentiu envergonhado. Percebeu que aquele presente não era o suficiente para Will. Como poderia? Nunca tinha dado nada ao namorado. Que espécie de namorado ele era? Era ridículo! Will não ia gostar. Ia fingir que gostou apenas para não fazer feio, porque Will é muito educado para dizer na cara. Devia comprar outra coisa. Talvez algo mais caro. Talvez um... Seu coração começou a bater rápido demais quando viu Will pegar o presente mal embrulhado e irregular. Com um só movimento tomou o presente das mãos do namorado.
— O que foi? — Will perguntou meio sorrindo meio estranhando.
— Acho melhor eu te dar outra coisa. Tenho outros presentes no carro. Você pode...
— Não... Posso abrir?
— É que é muito simples, não vai gostar. Eu vi em uma loja e pensei na gente e naquele dia e como, não sei, pensei que talvez você fosse gostar, mas eu nunca te dei nada porque não sei se você vai gostar e pensar que você não vai gostar eu fico... — Nico parou de falar, as mãos de Will tocaram as suas sobre o presente.
— Ei. Está tudo bem. — Will puxou suas mãos até soltar o presente no chão. Levou as mãos a boca e deu um beijo longo ali — Eu já amo muito esse presente. Você mesmo disso, o comprou pensando em mim.
— Mas e si...
— Vou amar do mesmo jeito, Nico. Imagine o meu presente para você, pensa que pode não gostar dele?
— Não! — Respondeu rapidamente. — Amo todos os seus presentes. — Nico guardava todos, inclusive a pedrinha que Will lhe deu no primeiro encontro.
— E porque você ama meus presentes?
— Por que é você quem me dá todos...
— Você está vendo? — Will sorriu e lhe deu mais um beijo nas mãos — Comigo é igual.
O coração de Nico esquentou. Ouvir Will falar aquilo era como...
— Tudo bem — entregou o presente — Espero que goste de verdade.
Will não falou nada. Pegou o presente e rapidamente retirou o embrulho e de lá tirou um pinguim de pelúcia com óculos de sol. Ele não disse nada. Ficou encarando o objeto.
O nervosismo de Nico só cresceu quando o silêncio de Will continuou.
— Eu comprei outros presentes para você. Estão no carro. Eu não sabia se ia gostar e estava com medo de você não gostar. E...
— Obrigado. Eu amei.
— Você só está sendo edu...
— Não, Nico. Eu realmente amei.
Nico quis contestar, sentia que devia. Mas Will estava o olhando fundo, seus olhos azuis brilhavam e ele parecia estar realmente falando a verdade. Ele tinha gostado.
— Aquele dia foi meio doido, mas foi o melhor encontro da minha vida. — Will sorriu tocando óculos torto do pinguim — Você estava todo molhado e parecia que queria me matar.
— E tudo que você fez foi sorrir e dizer que a água me caia bem.
Will sorriu cerrando um pouquinho os olhos levando um arrepio pelo corpo de Nico, ele sabia o que aquele olhar que significava. Will se aproximou trazendo o presente consigo, passou o braço pela cintura de Nico e o puxou, o rosto bem próximo um do outro. Nico sentiu o gosto do beijo que...
— Peguei no flagra. — A voz de Michael ecoou pela sala. Nico empurrou Will para longe que só riu frustrado — Roubando presentes antes da hora! Que coisa feia, meninos, que coisa feia.
A partir dali, Michael os obrigou a irem para a cama (Will, Nico e Michael dividiram o mesmo quarto uma vez que os demais estavam ocupados).
Nico acordou mais cedo que todos da casa. Levantou e foi até o seu carro. Olhou para todos os presentes que tinha comprado, um para cada membro daquela família e mais alguns para Will, pegou todos (foram preciso duas viagens) colocou todos embaixo da árvore e voltou para cama.
Pela manhã, todos pareceram surpresos. As crianças disseram que foi o Papai Noel e enquanto rasgavam os presentes, Nico se sentiu feliz e em casa, também receberá alguns presentes e gostou de todos, mas de todos, gostou mais do longo beijo que Will lhe deu naquela manhã de Natal quando todos estavam distraídos com os presentes.
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