Um Homem de Família
Cap. 17: Um Homem Que Esconde
A M A R O
Com o tempo, Kyungsoo passou a passar mais tempo na casa do Kim do que em seu próprio apartamento. Mingyu deveria ter ficado com o quarto de hóspedes, mas o pequeno alfa sempre dava um jeito de entrar sorrateiramente no quarto dos pais e dormir com eles. Kyungsoo sabia que era um péssimo costume, mas também sabia que o garoto do gostava nada de ficar no outro quarto, que ao seu ver, era chato.
Haviam quatro quartos no apartamento. O quarto de Jongin, o quarto de hóspedes, o quarto da Bom e mais um que estava sempre trancado. Kyungsoo não sabia o que tinha ali, a princípio sempre achou que se tratava de mais um quarto de hóspedes, ou simplesmente um cômodo que havia sobrado na hora de decorar o apartamento todo, cogitou até mesmo a ideia de que fosse uma dispensa ou um depósito usado para guardar coisas que não usavam mais. Todavia, Jongin sempre se mostrou alguém que não guardava quinquilharias, e Bom também era desse tipo.
Quando perguntou para Bom, viu a beta ficar meio travada, mas ela acabou dizendo se tratar de um quarto que haviam perdido a chave, e que Jongin sempre procrastinava em chamar um chaveiro para trocar a fechadura. Ele não acreditou, mas acabou deixando isso para lá, não parecia ser tão importante.
Jongin já havia chegado, estava na cozinha comendo alguma coisa, pois afirmara estar com fome demais para esperar até o jantar. Kyungsoo estava vendo TV com Mingyu ao seu lado no sofá, o garoto estava mexendo no tablet que havia ganhado no dia anterior, tablet este que gerou uma briga imensa, pois o ômega não queria que Jongin comprasse algo caro para o filho, sempre afirmando que o alfa estava deixando o garoto extremamente mimado. Mas no fim, após Mingyu ter chorado muito, ele ganhou o tablet.
O ômega ouviu um barulhinho vindo da mesa de vidro ao lado do sofá, vendo se tratar do celular do moreno. Não era de seu feitio mexer nas coisas do companheiro, mas acabou pegando-o como quem não queria nada. Estava sem senha, ele havia tirado porque Mingyu já havia o bloqueado várias vezes. Havia um nome na tele, alguém havia enviado uma mensagem, um nome brilhava na tela.
“Myungjun”.
Já tinha uma certa intimidade com o Kim, afinal, os dois tinham planos de se casar, o conhecia o suficiente para saber que não era assim que o alfa salvava os contatos de seus sócios, pois sempre usava seus sobrenomes. Myungjun era o primeiro nome, um contato salvo assim demonstrava que havia uma certa intimidade os entres. Achou ser um amigo, mas nunca ouviu aquele nome dentro daquela casa. Estranhou. Abriu a mensagem, não era como se Jongin fosse brigar por isso, mas o que leu o deixou ainda mais assustado.
“Você sempre irá amar apenas a mim”.
Não havia mais nada, mas aquela mensagem não parecia ser apenas algo aleatório, era como se houvesse tido algo antes, que foi deletado para não deixar rastros. Seu cenho se franziu, algo muito errado estava acontecendo. Jongin tinha outro? Abriu a foto do perfil, era um rapaz, delicado o suficiente para saber que era um ômega, tinha um sorriso bonito. Realmente, era um rapaz muito bonito.
— Vem tomar banho comigo, amor? — o Kim surgira atrás do sofá, beijando seu pescoço.
— Jongin, quem é Myungjun?
Viu quando o alfa congelou por um ou dois segundos. Se afastou de si, mas continuou ao lado do sofá.
— Ninguém, Kyungsoo. — ele respondeu, parecia nervoso.
Mas o ômega ficou de joelhos no sofá, se virando para ele com o celular em mãos, mostrando o contato com aquela mensagem estranha. Os olhos do alfa pareciam em choque, viu quando os desviou para o lado, colocando um sorriso sem graça na cara.
— E quem é esse, alfa? — seu tom parecia bravo — Eu tô vendo aqui, Jongin, um ômega, Myungjun, mandou uma mensagem pra você dizendo que você sempre irá amá-lo! Quem é esse, Jongin?
— Kyungsoo...
— Fala logo! — o Do estava muito nervoso, conseguia sentir seu cheiro ainda mais forte.
Não era uma boa hora, na verdade era uma péssima hora. Kyungsoo estava sensível demais, o médico havia dito que ele teria o cio em três ou quatro dias, sendo estes dias muito complicados, e praticamente tudo deixaria o ômega irritado ou magoado, além de inseguro.
— Kyungsoo, não vamos discutir na frente do nosso filho, se acalme. — o alfa pediu, usara sua voz de comando em um tom baixo, não era para ferir ou deixar assustado, era apenas para que Kyungsoo o obedecesse.
Mas isso deixou o ômega ainda mais irritado. Kyungsoo tentou se acalmar, respirou fundo e olhou de relance para a criança que parara para observar os dois. Sorriu para o filho como se estivesse se desculpando com ele por ter perdido o controle.
— É um ex-namorado. — ouviu quando o Kim falou — Ele não superou muito bem o término e me liga às vezes, manda mensagens também, mas eu sempre evito. Havia parado nos últimos dias, mas voltou a mandar mensagens depois que postamos aquela foto juntos.
A foto onde Kyungsoo estava ao lado de Jongin, mostrava orgulhoso seu anel de compromisso. Havia sido postada no dia seguinte em que, entendido nas entrelinhas, ficaram noivos. Kyungsoo não havia acreditado em exatamente tudo, Jongin ainda o olhava com um olhar que apresentava certa tristeza, ao mesmo tempo em que se esforçava para ser convincente. O ômega olhou a foto mais uma vez, mas entregou o aparelho para o moreno.
— Tá bem. — disse, as bochechas infladas soltando ar — Se é o que tá dizendo.
O ômega sentou no sofá, decidido a ignorar a presença do mais alto.
Jongin achou ter escapado de uma briga séria. Passou direto para o quarto, precisava de um bom banho. Kyungsoo estava pensando, pensando demais, mas não pensando como o ômega sensato que sempre foi, e sim como um ômega cheio de ciúmes. Não conseguia engolir essa história de jeito nenhum, tinha algo errado. Olhou novamente para a porta trancada no fim do corredor, e depois para Mingyu, que parecia muito entretido.
— Filho. — chamou, o garoto virou o rosto para ele — Já ouviu o nome Myungjun nessa casa? — perguntou, tentando não parecer desesperado.
O garoto negou com a cabeça.
— Tem certeza, filho? Tenta se lembrar de algo.
Mingyu fez aquela carinha de quem estava pensando, até colocou a mão no queixo. Kyungsoo estava nervoso demais para achar fofo.
— Ele ligou pro papai!
— Sabe quantas vezes?
Ele negou com a cabeça.
— E o que seu pai dizia quando ele ligava?
O garoto meneou a cabeça, estava pensando, ao mesmo tempo que não entendia todo o interesse de seu omma.
— Não me liga, Myujun. — ele disse, parecia animado por ter lembrado — Não liga mais, Myujun.
— Está bem. — respondeu, inquieto demais — Mingyu, você não pode contar sobre a nossa conversa pro seu pai, está bem?
— Por que não, omma?
— Porque é um segredo nosso, está bem?
— Tá bem!
O ômega não falou mais nada. Kyungsoo tentava colocar na cabeça que isso era bom, que Jongin estava mesmo tentando evitar contato com esse rapaz. Mas era como se sentisse que havia algo, uma peça que não estava se encaixando, algo que o Kim não estava contando e isso o deixava ainda mais nervoso. Respirou fundo, fechou os olhos, queria se acalmar, mas estava difícil. Seus hormônios falavam mais alto, seu lobo parecia gritar pedindo para que fosse até o alfa e colocasse contra a parede, o obrigando a falar tudo.
Isso era ruim.
Mingyu ainda ficou no sofá com Kyungsoo por alguns minutos, até ver a porta do quarto aberta e ir até lá. O garoto gostava de ficar na cama dos pais, pois era grande e macia, além de ter muitos travesseiros, e o lençol escorregava, ele achava divertido. Ficou brincando com joguinhos no tablet que havia ganhado.
Jongin havia colocado uma senha no aplicativo de baixar jogos, para impedir que Mingyu baixasse o que bem entendesse, ele só podia jogar jogos que os pais aprovassem, além de que deixava que o pequeno alfa só tivesse acesso ao YouTube Kids. Mingyu não entendia o que todos aqueles cuidados significavam, mas não se importava, estava feliz em passar o dia todo pintando coisas, tudo borrado, mas Kyungsoo sempre dizia que estava lindo.
— Tá aí, filho? — o Kim mais velho aparecera, estava com uma toalha na cintura e enxugava o cabelo com outra.
O garoto apenas balançou a cabeça, sem tirar os olhos da tela.
— O que está fazendo?
— Jogando.
— Jogando o que?
— Quebra-cabeça.
O alfa mais velho procurava uma roupa para vestir, enquanto o pequeno alfa continuava entretido em seu joguinho. Não era como se passasse o dia todo assim, Mingyu tinha horário que podia e horário que não podia, além de ter que fazer todas as suas atividades escolares primeiro. Jongin estava tentando ser um bom pai para Mingyu, lera todos os livros sobre paternidade que achou nas livrarias, além de ter conversado bastante com seus amigos que já eram pais, principalmente com os ômegas, porque seus amigos alfas eram pais tão ruins quanto ele.
Chanyeol já havia feito Seokmin quebrar o braço, inclusive.
— Papai. — o garoto chamou — Eu e mamãe temos um segredo. — disse, parecia orgulhoso disso.
— Ah, é? — o alfa estava na frente do espelho, sempre demorava arrumando seu cabelo, mesmo que fosse ficar em casa de qualquer jeito — E que segredo é esse?
— Não posso contar, é segredo, papai!
O alfa mais velho deixou o que estava fazendo. Abriu a gaveta que geralmente deixava trancada, tirando duas barrinhas de chocolate lá de dentro. Já havia aprendido a jogar o jogo de Mingyu. Sabia que era errado tentar subornar o próprio filho, mas sabia que esse tal segredo tinha algo a ver com a quase briga de minutos atrás. Só podia ser isso.
— Nem se eu te oferecer uma barra de chocolate?
O garoto negou com a cabeça.
— E duas?
— Eu conto, eu conto!
O moreno entregou apenas uma barra ao filho, que recebeu todo animado. Chocolate havia virado ouro para Mingyu, pois desde o incidente com a dor de dente, o ômega estava regulando o açúcar que o pequeno poderia ingerir.
— Uma agora e uma quando contar.
— Omma perguntou se o senhor já havia falado sobre o Myujun. — disse, parecia um adulto contando as coisas, todo sério, mas fazia um biquinho com os lábios — E eu disse que ele tinha ligado, mas que o senhor dizia para ele não ligar mais. Mas o omma disse que eu não podia contar pro senhor que ele tinha perguntado, disse que era segredo.
O alfa passou a língua pelos dentes, ele sabia que Kyungsoo não iria parar até descobrir tudo, e isso era ruim, era terrível. Kyungsoo precisava ficar longe de Myungjun, eles não podiam se encontrar de maneira nenhuma. Parecia que seu maior pesadelo estava se tornando realidade.
Quando voltou para a sala, com Mingyu atrás dele, viu Kyungsoo parado perto da porta da sala, pegando seu casaco do cabideiro.
— Pra onde vai? — perguntou.
— Pra casa.
— Por que?
— Porque faz tempo que não durmo em casa, Jongin, tudo deve estar uma bagunça. — o ômega respondeu, mas não parecia falar a verdade, estava evitando o olhar — Vamos, Mingyu, pega sua mochila.
Jongin sabia que estava tudo errado, que o ômega estava fugindo dele porque estava pensando sobre Myungjun e quem ele era. Tentou dar um beijo de despedida no menor, mas o Do se desviou de seu toque, pegando Mingyu pela mão e saindo do apartamento.
Havia acontecido de novo.
Bom surgiu preocupada após ouvir a porta batendo. Jongin estava parado ao lado dela, olhando para a fechadura como se ela fosse a culpada pelo que estava acontecendo. A beta tocou as costas do moreno, que a olhou com os olhos querendo marejar. Jongin nunca chorava, ele realmente não estava bem. A Park o abraçou imediatamente tentando lhe passar algum conforto.
— Aconteceu de novo, Bom. — o alfa disse, a voz estava grossa como se houvesse um nó em sua garganta — Ele fez de novo, ele não me deixa em paz.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.