Este seria mais um dia normal na vida de Abarai Renji. O ruivo acordou com uma incrível vontade de jogar seu despertador pela janela, mas, como todos os dias, ele conteve-se e levantou a contragosto. O garoto andou a passos lentos em direção ao banheiro, perdendo a conta de quantas vezes tropeçou nas coisas jogadas pelo caminho, machucando seus pés — ocasionando o humor matinal característico dele: O pior humor possível.
Já na estação de trem, Renji esperava pacientemente pelo transporte que sempre pegava para ir à escola enquanto jogava um dos milhares de jogos que tinha instalado em seu celular. Embora sua expressão não fosse uma das melhores, o que mantinha as pessoas afastadas, ele estava divertindo-se mais do que aparentava.
— Um personagem lendário! — Ele sorriu animado, coisa que assustou as pessoas ao seu redor.
Os jogos sempre estiveram presentes na vida dele e ele acompanhou sua evolução arrebatadora graças à tecnologia, entretanto Renji não podia negar que o bom e velho fliperama jamais poderia ser substituído em sua vida. As memórias de sua infância ainda eram vívidas graças ao seu amado fliperama.
Ao deixar a estação, o ruivo continuou seu trajeto em direção à escola — onde foi, como sempre, bem recebido pelos amigos.
— Renji!! — gritou um estudante ao vê-lo.
Ainda distraído com seu celular, mas ciente do que aconteceria, o Abarai apenas deu um passo para o lado e o tal estudante passou de raspão por ele. Aquele era um de seus amigos, Ikkaku, e tinha uma mania de recebê-lo agressivamente — jogando-se contra o ruivo.
— Você realmente não perde uma oportunidade, Ikkaku — disse outro estudante acompanhado de um suspiro.
— Calado, Yumichika! Ainda o matarei! — Ikkaku levantou-se com fogo nos olhos.
Na verdade, Ikkaku estava irritado apenas por um motivo: sempre perder para Renji. Claro, era sobre o fliperama. Era rotina do grupo sair depois das aulas e ir até a loja que ficava na mesma esquina que a escola, um tanto velha, mas sempre frequentada pelos estudantes das redondezas..
— Hoje eu finalmente vou te derrotar no Street Fighter! — Ikkaku apontou para o ruivo.
Renji desligou o celular e sorriu, levantando seu olhar para fitar o careca.
— Vamos ver se consegue. — Um tom zombeteiro saiu da boca do ruivo.
Os dois se encaravam com faíscas saindo de seus olhos.
— Ah, é sempre a mesma coisa — resmungou Yumichika balançando a cabeça em reprovação à atitude infantil dos amigos.
Era mais um dia normal na vida de Renji, ou pelo menos era o que ele pensava.
— C-Como? — Renji olhou atordoado para o dono da loja.
O homem de cabelos loiros bagunçados balançava o seu leque com certa animação enquanto mantinha seu rosto um sorriso divertido.
— Seus recordes foram todos ultrapassados por alguém — repetiu Urahara mantendo seu sorriso.
— Isso é verdade?? — perguntou Ikkaku em descrença.
— Uh-hum — Urahara balançou a cabeça confirmando novamente.
— Wow! E pensar que existe alguém capaz de ganhar o nosso grande Renji… — comentou Yumichika surpreso.
Renji ainda estava tão surpreso que não conseguia formular uma frase. Há anos não havia ninguém que conseguia derrotá-lo, seus recordes eram ultrapassados por ele mesmo e mais ninguém! Agora, alguém apareceu e ultrapassou tudo?! Impossível.
Depois de respirar fundo o ruivo olhou para o dono da loja com o olhar afiado, igual uma águia, e indagou:
— Quem foi?
Por breves segundos a tensão no ar foi sentida por todos, juntamente com a curiosidade.
— Eu não sei! Hahaha. — Urahara riu quebrando toda aquela atmosfera e fazendo os estudantes quase caírem para trás com suas expectativas arruinadas.
Renji andou até a máquina de jogos a passos pesados e foi ficando cada vez mais boquiaberto.
— Street Fighter, Pac-man, Donkey Kong, Spacewar e até mesmo no Tetris?! Quem diabos é essa pessoa?! — gritou Renji.
Claro, seus amigos não deixaram de ficar espantados, pois os recordes de Renji estavam comendo poeira agora — algo inacreditável. O delinquente da escola Shinigami, o rei de todos os recordes dos famosos jogos eletrônicos… Ele não poderia deixar isso ficar assim.
— "Donuts"? Quem diabos usa um nick desse? — Ikkaku olhava para a tela da máquina com desdém.
— Até que é fofo. — Yumichika disse sorrindo.
Com seus amigos falando, Renji ficou em silêncio por longos segundos e respirou fundo ao encarar a tela da máquina. Logo a dupla se assustou ao vê-lo batendo o pé no chão.
— Eu certamente vou o encontrar e ultrapassar ele! — afirmou o ruivo com um olhar cheio de determinação.
Nenhum dos três arrastou o pé para fora da loja até anoitecer, até a loja fechar e Urahara os colocar para fora. Pelas faces sombrias, era evidente que nenhum deles conseguiu bater nem um recorde.
— Eu não acredito nisso… — sussurrou o ruivo.
Era como se uma nuvem negra estivesse sob sua cabeça, como se os céus não estivessem sorrindo para ele agora. Ele deu o melhor de si e mesmo assim ele não conseguiu nem chegar perto da pontuação.
— Se prepare, Donuts… Eu certamente vou destruir você! — Renji gritou tão forte que assustou seus amigos.
Na manhã seguinte, o ruivo acordou com o despertador e, como de costume, conteve-se para não jogá-lo longe.
Hoje seu humor estava pior do que o normal, fazendo as pessoas tomarem ainda mais distância dele. Na escola nem mesmo seus joguinhos de celular conseguiam distraí-lo por um breve momento que fosse — bastou entrar na loja de Urahara para que ele descarregasse todo o mau humor nos jogos.
— Eu não acredito nisso! — Ele perdeu a conta de quantas vezes, em cinco minutos, ele chutou o chão abaixo de si.
— Calma, assim você não vai conseguir ganhar de jeito nenhum. — Yumichika desviou a atenção de seu celular para o ruivo.
— Sim, se jogar com raiva assim vai apenas afundar os botões da máquina. — Ikkaku concordou com as palavras de Yumichika. Algo um tanto raro.
O Abarai levou as duas mãos até a cabeça e balançou seus cabelos vermelhos com fúria e respirou fundo, mas foi como se o conselho de seus amigos não tivesse nem chegado nele. Os clientes se afastaram dos jovens por verem a aura extremamente agressiva de Renji ao jogar. Novamente, eles foram expulsos da loja ao fechar. Renji estava com uma aura tão depressiva que foi capaz de deixar até mesmo alguém como Ikkaku preocupado por ele.
— Não fica assim. Hoje também não foi um dia de sorte. — Ikkaku confortou o amigo que estava jogado do lado de fora da loja.
Yumichika ficou pensativo por um tempo antes de dizer::
— Vamos nos encontrar amanhã cedo aqui, antes da escola. — Ele disse sem revelar suas intenções, e então despediu-se de seus amigos.
Como dito, no dia seguinte antes da aula eles se encontraram na frente da loja.
— E agora? — Ikkaku olhou para Yumichika com um semblante desconfiado..
— Vamos ficar aqui até esse tal de "Donuts" aparecer — revelou o jovem.
— Hã? Até ele aparecer? Mas e a escola? — indagou Renji.
— Isso é o de menos, você não quer ver seu rival? — Yumichika replicou com outra pergunta.
Renji se calou, pois não poderia negar que queria conhecer quem o tinha tirado do sério. Caso viesse, ele certamente iria estrangular o cara até a morte.
— Além do mais, você é um delinquente! Desde quando se preocupa em matar aula?
O ruivo franziu um pouco o cenho com o que Yumichika disse, embora não fosse totalmente mentira.
Os jovens acamparam na frente da loja, ficando o dia todo esperando o tal jogador aparecer, mas não teve sinal nenhum dele, deixando-os decepcionados.
— Parece que vocês estão realmente dando duro em superar aqueles recordes, não é mesmo? — disse Urahara ao sair da loja.
Os adolescentes olhavam para o loiro com faces abatidas, arrancando uma risada do mais velho.
— Sério, você não sabe realmente quem é?
Urahara colocava o leque em frente ao seu rosto para esconder o seu sorriso divertido, que o entregava totalmente.
— Quem sabe... — respondeu de maneira vaga e depois entrou na loja.
— Não acredito que ele sabe! — bufou Yumichika.
— Okay, já chega! — Renji levantou-se da calçada e respirou fundo. — Eu vou superar esse maldito Donuts! — falou cheio de confiança e entrou na loja.
Os dois o seguiam dando gritos de motivação para ele. Foram exatamente três semanas depois que ele conseguiu recuperar a sua coroa de volta.
— Eu sabia! Eu sabia que você iria conseguir! — Ikkaku pulou em euforia.
— Bom trabalho! — Yumichika deu palmadinhas no ombro do ruivo.
Renji não podia esconder toda a sua alegria, ele realmente tinha se superado mais uma vez. Certamente gostaria de ver a cara do tal Donuts ao ver que todos os seus recordes foram batidos!
Nesse momento, a porta da loja se abriu, revelando uma figura feminina.
— Senhor Urahara!
Sua voz suave e doce atraiu a atenção de todos. A jovem, que carregava uma caixa de Donuts, andou lentamente até o balcão onde estava o dono da loja.
— Bem-vinda, Hime-chan! — disse o mais velho calorosamente.
— Eu trouxe mais donuts! — a ruiva deixou a caixa em cima do balcão e pegou uma das rosquinhas, a levando até a boca e saboreando-a.
Os três jovens, que ainda a pouco estavam eufóricos com a quebra recente de recordes, não conseguiam tirar os olhos dela — principalmente Renji.
— Donuts… — Yumichika observou, tendo certeza de quem seria ela.
Quanto mais a olhava, mais admirado Renji ficava. A jovem, chamada Inoue Orihime, virou-se para os jovens tirando o Donuts de sua boca e sorrindo de maneira gentil.
— Parece que ele perdeu novamente. — Urahara comentou baixinho, escondendo seu rosto com o leque.
Com o seu rosto avermelhado, Renji mal percebeu que o jogador chamado Donuts tinha o derrotado novamente — desta vez levando seu coração consigo.
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