Jane sabia que ela devia estar feliz, aquela era uma oportunidade que só aparecia uma vez na vida, e qualquer outra pessoa com interesse em zoologia daria um braço para estar no lugar. Ela se sentia bem honrada pela rainha ter encarregado a ela e seu pai o trabalho de estudar a sereia que havia sido capturada pela marinha britânica. Mas felicidade seria dificil de sentir vendo o olhar melancólico que a sereia tinha quando nadava pelo aquario que havia sido construído para ela.
Os marinheiros que a haviam capturado disseram que a sereia falava, mas ela não havia pronunciado uma palavra sequer desde que Jane havia passado a estudá-la.
Jane se perguntava se a sereia havia parado de comunicar por um desgosto pessoal por ela e seu pai, ou se os hematomas em sua pele e cortes em sua calda tinham alguma coisa haver com isso. Ela suspeitava a segunda opção como a mais provável.
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Na maior parte dos dias Jane ficava no andar debaixo do centro de pesquisa e vendo os movimentos da sereia pelo vidro e formulando teorias, mas naquele dia ela estava sob a superficie na beirada do aquario fazendo anotações e comendo um pedaço de pudim que ela havia comprado em uma delicatessen a caminho do trabalho mais cedo.
Aí ela viu que a sereia estava na beirada também, e ela estava olhando diretamente para Jane.
"Olá" Jane disse.
E a sereia continuou quieta, mas ao contrario das outras vezes ela não mergulhou logo em seguida.
"Você quer isso ?" Jane disse apontando para o pudim.
A sereia fez que não com a cabeça
"E isso ?" Ela disse apontando para o garfo.
A sereia fez que sim com a cabeça, e Jane estendeu o garfo até ela e a sereia pegou e por uns dez segundos ficou encarando o objeto como se este fosse a coisa mais preciosa do mundo. E aí ela começou a pentear seus longos cabelos ruivos com o garfo.
Jane ficou tão surpresa que ela não conseguiu evitar de rir disso por um segundo.
A sereia olhou para ela como se estivesse ofendida e colocou o garfo de volta na mão de Jane. Quando ela estava prestes a mergulhar, Jane interviu.
"Eu sinto muito pela minha reação. E você não precisa ficar embaraçada, garfos não são o instrumento geralmente usado para ajeitar os cabelos, mas eu não vejo nenhum motivo porque eles não possam ser usados para esse intuito" ela disse e para provar que ela realmente acreditava nisso pegou o garfo e ajeitou sua franja para o lado com ele.
Dessa vez foi a sereia que riu.
"Qual o seu nome ?"
Aquela era uma pergunta que Jane havia lhe feito todos os dias desde a sua chegada, mas pela primeira vez a sereia olhou para ela como se ela quisesse responder.
Ela não respondeu, mas naquela noite pela primeira vez desde a sua captura a sereia cantou.
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