- - - - - VITOR NARRANDO - - - - -
As vezes as coisas acontecem como tem que acontecer, seja elas impulsionadas por a ação de uma pessoa ou não.
Mas há um ditado que diz, que toda ação, tem uma reação, certo?
Então todas as ações, atitudes que tomamos. O decorrer da vida, são respostas involuntárias de atitudes, ações que temos ao decorrer de nossas vidas? Ou estamos simplesmente vivendo do jeito que acreditamos ser a melhor forma? Mesmo que as olhos dos outros, possa parecer a forma errada?
Era o segundo dia de aula, e eu estava indo pra direção, por me envolver em uma briga, eu sou um grande idiota.
Idiota por perder a razão, e socar a cara de alguém, as coisas não deveriam ser resolvidas assim, mas eu simplesmente não posso deixar o Pedro continuar com isso, me xingando, intimidando a mim ou ao Renato como se tudo estivesse perfeitamente bem.
O garoto é um insuportável, e se acha no direito de falar várias merdas pra gente, como se fosse algo natural, algo que ele faz com tudo mundo.
Quer saber, ele mereceu todos os socos que dei nele, e merecia muito mais!
- Sentem-se. - O vice diretor Samuel diz, quando chegamos em sua sala, e nos sentamos nas cadeiras que estão ali. Benjamim senta entre mim e Pedro.
Ele parece estar mais nervoso que a gente, e com razão, ele é novo na escola, coitado, deve estar preocupado, segundo dia, e já na direção.
- Podem me dizer o que aconteceu com vocês? Porquê estavam brigando ? - o vice diretor pergunta e há um imenso silêncio em sua sala.
Eu poderia dizer tudo, e acabar com o Pedro ali, mesmo, mas eu não disse nada, pois queria ver o que o ele usaria de desculpas pra justificar as porradas que ele levou na cara. Queira ver se ele era homem suficiente pra assumir que foi um belo filho da puta.
- Ninguém quer falar nada agora ? - O vice diretor pergunta nos olhando com aquela cara péssima, mas nenhum de nós três move um músculo.
- Ótimo. Não querem falar nada, então suspensão para os três! - O vice diretor Samuel diz irritado.
- NÃO! - os três dissemos juntos.
- Então comecem a falar! Vou ajudar a vocês soltarem a língua! Começamos por você Benjamim. Novo na escola, segundo dia de aula e já participando de brigas? - o vice diretor pergunta, e o Benjamim quase se afunda na cadeira.
- Eu…Tecnicamente não fiz parte da briga…Eu a separei na verdade…- Benjamim olha pra mim preocupado.
- Separou é? - o vice diretor pergunta.
- Sim…Quando cheguei eles já estavam brigando, enquanto os demais alunos só olhavam. - Benjamim diz.
- Sei…E qual de vocês dois começou a briga? Pedro ou Vitor? - o vice diretor pergunta nos encarando.
Fico em silêncio novamente, porque eu queria saber como Pedro tentaria se safar, já que eu estou com a razão, mesmo que a boca dele esteja sangrando agora.
- Vitor não supera o fato de eu estar namorando a antiga namorada dele. - Pedro diz cruzando os braços.
- QUE??? Ah vai se foder! Nem da Flávia eu lembro! - digo irritado.
- Que Flávia? A Flávia da nossa sala??- Benjamim pergunta assustado.
- Sim, ela mesma! Porquê? - Pedro pergunta irritado.
- Porque eu fiquei com ela ontem…- Benjamim diz, eu começo a rir, Pedro arregala os olhos, e depois fica cabisbaixo, e o vice diretor Samuel balança a cabeça negativamente.
- Vocês adolescentes, com tantos hormônios explodindo, fazem tanta coisa errada, que nem cabem aqui, e aí tenho que perder o meu precioso tempo, arrumando as bagunças de vocês! Então foi você quem começou tudo, né Pedro?! - o vice diretor pergunta bem nervoso.
- Sim…Fui eu mesmo…Eu quem comecei a briga…Zoando o fato do Vitor ser gay… - Pedro diz sem jeito, ele mal consegue levantar a cabeça.
- E o que isso tem demais ? - o vice diretor pergunta, e eu não acredito naquilo que ouvi.
- Como assim o que isso tem demais?! O cara foi um escroto comigo, fazendo piadas preconceituosas, sendo um homofóbico, e você pergunta o que isso tem demais?? - eu pergunto revoltado.
- Olha Vitor…Vocês se doem por qualquer coisa mesmo hein…Ele mentiu quando disse que você era gay? Todos nessa cidade sabem que você e o Renato são gays, então foi só uma brincadeira do seu colega. - o vice diretor diz e eu continuo incrédulo, e até o Pedro parece não estar acreditando naquilo que está ouvindo.
Benjamim me olha surpreso, e coloca a sua mão sobre a minha, a segurando.
- E só por isso, por todos saberem que eles são gays, todos podem zoar com eles, agredi-los de alguma forma? - Benjamim pergunta nervoso, apertando mais a minha mão.
- Não, não foi isso o que eu quis dizer! - o vice diretor diz bravo.
- Foi isso o que você quis dizer sim! Você tá praticamente dizendo que o Pedro só agiu assim, porque sou gay e tudo bem! O cara fez piadas comigo, das quais ele não tem liberdade alguma pra fazer! - eu digo MUITO nervoso.
- Olha, eu acredito que por você e o seu irmão adotivo serem gays, a sua mãe já deva ter vários problemas! Então não vou comunicar sobre o que aconteceu, voltem pra sala de aula de vocês e sem confusão. Esse assunto está encerrado!- o vice diretor diz e eu não estou acreditando nisso ainda.
- Esse assunto está encerrado né? Eu já estou avisando que se o Pedro ou qualquer outro filho da puta nesse escola, zoar a mim ou o Renato, nessa porra dessa escola, eu vou xingar também! E se virem me bater, vou bater de volta! Não vou aguentar essas merdas calados! - eu grito dentro da sala.
- Isso é uma ameaça?! - o vice diretor me olha sério.
- Entenda como o senhor quiser! - bato na mesa.
- Vitor, vamos embora. - Benjamim toca o meu ombro, e eu seguro a minha vontade de chorar, de tanta raiva que sinto.
Saio da sala do vice diretor, e me apoio na parede ao lado, levando as minhas mãos ao rosto.
- Calma…- Benjamim diz tentando me acalmar.
- Não velho, não temos um minuto de paz, e essa merda de vice diretor passou o maior pano pro Pedro! Eu tô cansado disso! - Digo com raiva.
- Eu sei…Isso tudo foi uma grande merda, mas você não pode se igualar a esses merdas. Já deu seu recado, duvido que o Pedro vai fazer gracinha com você de novo. - Benjamim diz e Pedro sai da sala do vice diretor, e ele me olha, como se fosse um cachorro que acabou de cair do caminhão da mudança.
- Vitor…A gente pode conversar? - ele pergunta.
- Aaaaaah! Agora você quer conversar? Vai se foder Pedro! - digo saindo.
- Aí, foi mal pela Flávia. - Benjamim diz e acelera o seu passo pra poder me alcançar.
Vamos pra sala de aula, e a professora de Artes nos deixa entrar.
Eduardo, Denis e Renato nos olham com um olhar espantados, penso que devem estar preocupados, já que eu mal cheguei na escola, e briguei com o Pedro, pessoal deve estar comentando.
Me sento ao lado do Eduardo, enquanto Benjamim se senta do lado da Flávia, que já vai o agarrando.
- O que aconteceu?? Tá tudo bem? - Renato pergunta pegando em meu ombro.
- Você arrebentou bem a cara dele ? - Denise pergunta.
- Levou advertência? - Eduardo pergunta.
- Eu tô bem gente, eu tô bem! Fiquem calmos.- respondo rindo.
- Mas os bonitos não vão ficar conversando na minha aula não né? - a professora chama a nossa atenção.
- Foi mal profe. - Edu diz e a professora volta a escrever na lousa.
Alguém bate a porta, a professora abre e é o Pedro, ela o deixa entrar, e quando ele passa, Edu coloca a perna na frente, fazendo Pedro tropeçar e quase cair, a sala toda ri. Pedro olha feio pro Edu, que estava mordendo a sua caneta.
- Opa, foi mal Pedrão! Esqueci de colocar a perna pra dentro da carteira. - Edu ri.
Pedro o olha, mas não consigo decifrar sua expressão, mas tenho quase certeza que ele iria chorar.
Ele olha pra mim, abaixa a cabeça e volta ao seu lugar, seus amigos o ignoram totalmente.
- O que foi isso? - cochicho com o Edu.
- Tô com você Vitor. Não vou mais aceitar esse babaca fodendo com a gente e nada acontecer. Se ele provocar, vai levar também. - Edu diz e aquilo me deixa um pouco assustado, não queria que isso virasse uma guerra, ou que o Pedro fosse humilhado, por mais que ele merecesse isso. É como o Benjamim disse, não posso me igualar a pessoas como ele, ou o vice diretor Samuel.
Olho para o Pedro e me sinto um burro, sei lá, que merda Vitor, você tá sentindo empatia por esse babaca.
Duas aulas mais tarde, o intervalo chega, vamos até a cantina, pegar o nosso almoço, mas acabo não pegando, por não estar com fome naquele momento, já que tomei um café reforçado com o Davi.
Minha irmã Letícia se junta a nós, sentamos a mesa e conto ela,Edu, Renato e Denise, o que de fato aconteceu entre mim, Pedro, o vice diretor e o Benjamim.
Eles ficam abismados com as merdas que o vice diretor Samuel disse, e com o fato do Benjamim já ter ficado com a Flávia.
E por falar neles, vejo da nossa mesa Benjamim conversando com a Flávia, e os dois parecem se desentender.
- Não acredito que o Benjamim é hétero, e ainda ficou com a Flávia. Que decepção. - Edu diz e o Renato o olha.
- Sempre disse que ela era uma cretina. Mas vocês não acreditaram. - Denise diz enquanto come batatas fritas.
- Você dizia mesmo! - Renato ri.
- É uma droga quando nos decepcionamos com alguém que era um grande amigo né…? - Letícia pergunta chateada.
- Nossa, você então Letícia, que fazia dupla sertaneja com ela! Quem mandou o Vitor gostar de menino também. - Renato ri.
- Tá afiadinho hoje hein? Trouxa! - digo rindo também.
- Olha quem tá vindo aí. - Edu diz, “apontando com o nariz”, e todos nós viramos, e Benjamim vem na direção de nossa mesa.
- Aff. - Renato revira os olhos.
- Oi gente. - ele diz sorrindo quando chega a mesa.
- Oi. - respondemos.
- Vitor, podemos conversar? A sós? - ele pergunta.
- Ah…Claro. - me levanto da mesa e o sigo, que vai até a quadra.
Não sabia bem o que o Benjamim queria comigo, mas, só pelo fato de que ele estava falando com a Flávia há dez minutos atrás, ter ficado com ela, e ela ser a minha ex namorada, imagino que o assunto seja sobre ela.
Nos sentamos na arquibancada, um pouco mais afastado do pessoal que também estava ali.
- Cara, eu tô vindo aqui pra te dizer que…Sua ex ainda te ama. - ele ri.
- Que? Credo, eu não amo ela! - digo rindo.
- Não, eu sei! Ela já me contou todo o rolê de vocês dois…Por isso digo que ela ainda te ama, porque ela só fala de você! - ele diz rindo.
- A versão da história dela né? - pergunto arqueando a sobrancelha.
- Sim…Porque ela falou bem mal de você…- ele diz meio sem jeito.
- Normal…Ficaria surpreso se fosse o contrário. - digo rindo.
- Mas eu não acreditei em nada…Porque no Natal, aquele dia na sua casa, quando meu pai fechou negócio com o seu pai…Eu senti uma coisa boa, quando te vi…Quando entrei na sala ontem, e vi que ficaríamos na mesma sala, me senti mais aliviado, era como se já te conhecesse…Me senti mais confortável, isso foi muito bom pra mim. - ele sorri.
- É…Eu acho que sim…- digo sorrindo meio sem jeito.
- Acho que a gente pode se dar a chance de se conhecer melhor e tal…- seu rosto fica vermelho.
- A-ah sim, claro! Eu acho isso uma ótima ideia! - digo sorrindo.
- Eu por exemplo, amo jogar vídeo game, então, se você quiser ir em casa qualquer dia desses, ta super convidado. - ele sorri tímido, e com o rosto ainda muito vermelho.
- Pode deixar que vamos marcar sim. Também amo jogar vídeo-game. - digo sem graça.
- Aaah top! Vou esperar por isso então. - Benjamim diz.
O sinal que anuncia o fim do intervalo toca, voltamos para a sala, e o Edu parece eufórico pra saber sobre a minha conversa com o Benjamim.
- Ele me convidou pra ir na casa dele jogar vídeo game. - digo abrindo meu caderno.
- EU SABIA QUE ELE ERA GAY! - Edu diz abismado.
- Que?! Não viaja Eduardo! - digo rindo.
- Tô te falando! Foi assim que eu e o Renato começamos. Pegando em um controle, e depois pegando em outro. - Eduardo ri e eu acabo rindo também.
- Você não presta! - digo ainda rindo.
///
Quando o sinal da última aula toca, eu e o Edu nos despedimos do pessoal, já que iríamos para a Capital, já que o bonito tem terapia.
Vamos até a rodoviária, e pegamos um ônibus sentido a Capital.
Durante o percurso, Eduardo caçou o perfil do Benjamim no Instagram, é claro, ele o achou, é claro, começou a segui-lo, e no Instagram ele só ressaltava mais a beleza que ele já tinha pessoalmente.
Haviam várias fotos de viagem, umas mostrando o corpo, no melhor estilo biscoiteiro.
Eduardo ainda insistia que ele era gay, e que as fotos passavam uma vibe “sou gay, mas quero parecer hétero.”
E eu disse, “Edu, você é assim”, e ele retrucou, “Por isso digo que com certeza ele é gay!” E aquilo me fez rir.
Ele estava interessado demais no Benjamim, na realidade ele estava interessado em qualquer cara, e acho que aquilo era apenas uma fachada, pra se livrar de possíveis pensamentos relacionados ao Renato.
Quando chegamos a Capital, pegamos um Uber até a clínica que o Edu faria a sua sessão, era um lugar bem bonito.
Chegamos em uma sala, que parecia a sala de espera, e havia um garoto aparentando ter a nossa idade, sentado em uma das poltronas, que se levantou sorrindo, quando chegamos.
- Boa tarde, tudo bem? - o sorriso dele é bem simpático.
- Boa tarde! - eu e o dissemos juntos.
- Sou o Eduardo, tenho uma consulta com o Doutor Junior. - Edu diz sorrindo.
- Sim, é o meu pai, ele estava te esperando Eduardo. Você é o último cliente dele hoje. - o garoto sorri.
- SEU PAI?! - Eduardo pergunta incrédulo, e até eu me assusto com a reação dele.
- É sim…Porque…? - O garoto pergunta sem entender.
- É porque ele parece ser tão novo! E você parece ter a nossa idade! - Edu diz e eu só consigo rir.
- Ele tem 38 anos e eu tenho 18! Mas ele aparenta ser bem mais novo mesmo. - o garoto ri.
- Ah, ele é jovem mesmo! Eu chutei que ele tinha umas 32. - Edu ri.
- Vou avisa-lo que você chegou, hoje tem exames né? - o garoto pergunta.
- Tenho sim. - Edu responde sorrindo.
- Beleza! Só um minuto por gentileza.- o garoto diz todo educado e entra na sala.
- Visão, que garoto lindo né? É filho do meu psicólogo ainda. - Eduardo diz.
- Odeio quando você me chama de Visão! E meu Deus, você não pode ver um garoto que já fica assim. - eu reviro os olhos.
- Aaaaaah! Você fala isso porque tá namorando o filho do delegado né?! - Edu me olha franzindo a testa.
- Cala a boca! - digo rindo.
- Opa Edu, boa tarde, como vai? - o doutor sai da sala e aperta a mão do Edu e depois a minha, e cumprimentando.
- Vou bem e o senhor? - Eduardo pergunta.
- Vou bem também! Olha amigo do Edu, hoje ele vai demorar um pouco, porque temos alguns exames vocacionas a serem feitos, você já almoçou? - o doutor pergunta.
- Não, ainda não. - respondo.
- Luca, leva ele lá no Porto Pirata então, certeza que você vai curtir a comida de lá. Eles fazem uma parmegiana maravilhosa! - O doutor diz sorrindo.
- Ah ótimo! Já estou com fome mesmo. - digo sorrindo.
- Vamos então! Também tô morrendo de fome.- o Luca diz sorrindo.
- Vamos! Até depois Edu. - digo.
- Até. - ele responde.
- Prazer, Luca. - o garoto com o imenso sorriso simpático diz pra mim.
- Prazer, Vitor. - eu respondo com um imenso sorriso também.
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