O reality foi passando e um por um, os participantes do quarto lollipop, foram sendo eliminados. Eles iam para o paredão com o grupo dos meninos e um deles se despedia, aos poucos o quarto foi ficando vazio e toda aquela maldade foi se calando, isso não significou qualquer alívio para Arthur, pois todos os demais participantes continuaram a tenebrosa perseguição ao rapaz.
Conforme os integrantes do quarto rosa iam saindo e o grupo dos meninos ia ficando, Pá, Scooby, DG e Gustavo passaram a achar que o público os aprovava e que a torcida deles era fortíssima lá fora, afinal, todos saíam e eles ficavam. Nunca passou pela cabeça deles que eles não tinham torcida alguma aqui fora, e que tudo, absolutamente tudo, sempre foi a Padaria de Arthur Aguiar. O jogo se movia ao redor de Arthur, o protagonista da edição.
***
Linn da Quebrada, era uma atriz e rapper que o Brasil jamais tinha ouvido falar, e ela almejava espaço após o reality. Ela e Arthur já tinham feito uma série juntos, apenas um capítulo, mas foi suficiente para Linn o invejar por sua atuação de milhões e segurança. Quando ela estava apenas travada em cena Arthur fez tudo e ganhou os elogios de toda a equipe. Linna nunca o perdoou por isso.
No reality Linn da Quebrada era péssima jogadora, assim como profissionalmente ela nunca foi boa. Indo para o BBB ela acreditou que o fato de ser travesti garantiria uma torcida por militância e consequentemente a vitória, mas o Brasil esperou dela um jogo inteligente e articulado, acabou se frustrado com a falta de ação da moça. Então a máscara de Linn caiu, e ela se mostrou pequena, invejosa e fofoqueira. Observadora ela reparou que Arthur era o favorito e todos deveriam juntar forças contra ele ou ele levaria aquele prêmio. Esperta Linn migrou para o quarto rosa juntamente com suas baba-ovo idiotizadas Jessy e Natália, a esse trio o público apelidou de as comadres. Grupo formado de mulheres fracas no jogo.
Linn assumiu o lugar de Jade Picon na perseguição a Aguiar, não aquela loucura infantilizada e psicopata de Jade, mas algo sutil, a ideia era minar e isolar Arthur Aguiar. Ela tinha um plano na cabeça, e ia colocar em prática na festa de hoje a noite, e era colar em Scooby, PA e DG e isolar Arthur totalmente.
O tema da festa tinha muito brilho e elegância. E claro, Arthur estava incrível, ele estava todo de preto com um tipo de kimono dourado para complementar o look.
– Você está vendo? Os looks dele são sempre os mais elaborados – comentou Eliezer com Lucas assim que Arthur passou pela sala.
– Os caras gostam dele mesmo – assentiu Lucas com inveja.
– E devem me odiar – disse Scooby chateado com a camisa estranha e larga que lhe deram.
– Os looks dele são sempre os melhores, é fato – disse Gustavo, também com inveja. – Mas, pô, o cara é ator e modelo… eu não saco como é isso, mas deve ter técnica para ficar bem em cada roupa, né?
– Ah, mano, acho que não tem essa parada aí não. O DG é ator também e tudo que dão para ele vestir fica horrível – brincou Scooby com DG que ia passando na hora.
– Ah, foda-se! Pedro Scooby. Cê tá falando do Arthur, né? O cara fica bem em tudo. Essa parada é dele mesmo, não tem a ver com nada de ser ator não – disse DG dando de ombros.
– Eihn, Pa? Arthur tá gato, não? – provocou Scooby, mas o amigo não pareceu ouvir, embora estivesse sentado no sofá. O atleta estava concentrado no corpo de Arthur que estava se olhando no espelho perto do banheiro.
– Ele tá hipnotizado – disse Lucas sorrindo e saiu indo terminar de se arrumar. Gustavo e DG foram com ele. Foi a deixa para Scooby se aproximar de Pa.
– Tá com cara de quem vai fazer meda – disse Scooby ao pé do ouvido de Paulo André.
– Porra, Scooby! – Pa se assustou. – Que foi, mano? Quer me matar do coração com essa brincadeira?
– Nem foi brincadeira, eu só estou falando da tua cara de quem vai fazer merda na festa – disse Scooby movendo o queixo para onde estava Arthur, alheio a conversa deles enquanto Natália o ajudavam com o kimono.
– Porra, Scooby ele tá muito lindo, né? Pode dizer! Ele tá gostoso pra caramba… essa bundinha dele, mano… – disse Pa fazendo uma expressão de safado.
– Sei lá, cara. Eu não gosto de homem, não véi – disse Scooby divertido. – Mas sei que o moleque é cheiroso demais.
– Ele é perfeito, Scooby… – disse Pa sem tirar os olhos de Arthur.
– Cara, se liga! – o sorriso de Scooby morreu conforme ele observou a expressão de seu amigo. – Pa? – o surfista já não parecia mais brincar, era um daquele raros momentos que se via o susrfista sério. – O Arthur é um cara maneiro pra caramba, eu fiquei com o pé atrás com ele no começo e nós tivemos nossos problemas porque eu achava ele cheio de marra, mas depois das paradas que rolaram entre vocês, eu consegui entender que essa marra toda dele é um mecanismo de defesa. Tipo um escudo para afastar um possível perigo. Então, irmão, não faz nada que machuque o cara, beleza?
– Como assim? Eu não vou fazer nada demais, pô…
– É sério, Pa. o Arthur é um moleque muito sensível. Para de mexer com ele se você não tem certeza do que quer – pediu Scooby.
– Lá vem tu com essas neuroses, mano. Não to pedindo o cara em casamento, só tô olhando a bunda dele – disse Pa com ignorância, Scooby revirou os olhos e ergueu as mãos, como se indicando que não estava mais ali quem falou.
***
A festa estava incrível, todos curtiram e dançaram. Havia uma espécie de plataforma suspensa com uma luz escura que seria usada para a publicidade do patrocinador da festa mais tarde e onde eles podiam tirar fotos.
Arthur pela primeira vez resolveu relaxar e beber, ele estava aliviado com a saída de Jade e vivendo a ilusão que teria dias de paz. Que mal havia em se divertir um pouco? Pensou Arthur bebendo enquanto dançava na plataforma.
– Eu prefiro você assim – disse Pa se aproximando eles estavam sozinhos, o foco das câmeras estavam na pista de dança onde Natália fazia uma coreografia estranha se arrastando pelo chão.
Arthur se virou. Pa estava tão perto. – O que você quer, Paulo André?
– Aproveitar que estamos sozinho aqui – disse o atleta fazendo as famosas aspas com os dedos, afinal, eles nunca estavam sozinhos, Pa notou que as câmeras estavam na performance de Natália. Ele passou os braços longos pela cintura do ator sem aviso e juntou seus corpos.
– O que você está fazendo, cara? – assustou-se Arthur.
– Ah, não Thurrar, relaxa! Não mete sua fachada de marrento. Eu prefiro você assim… – disse Pa.
– Assim como? – perguntou Arthur, estavam tão próximos, os corpos colados.
– Alegre, pô. Você não precisa ficar na defesa o tempo todo, sabia? Pode relaxar e abrir a guarda de vez em quando – sugeriu o atleta apertando a cintura de Arthur com mais vigor.
– Sempre que eu abro a guarda eu me machuco – falou o ator.
– Você não vai esquecer isso nunca, né? Vai me jogar isso na cara pro resto da vida? – disse Pa.
– Eu já te perdoei de coração, mas esquecer… – Arthur moveu a cabeça exageradamente para o lado, docemente cômico – Isso não dá… eu não quero me machucar de novo…
– E a segunda chance? Não conta pra mim? – Pa estava determinado nessa noite. Ele estava se segurando para não beijar Arthur e forçar outra situação entre eles.
– Mas eu te dei a segunda chance – disse Arthur. – Agora cabe a você me mostrar que mudou, que se arrependeu…
– Eu estou arrependido, pô e posso te provar isso…
– Ah, Paulo André, você não pode provar nada hoje. Essas coisas demandam tempo para…
– Posso te beijar!? – perguntou Pa o interrompendo bruscamente.
Arthur olhou profundamente para o atleta e se perguntou como foi se colocar nessa situação? Pa era uma das pessoas que mais haviam lhe machucado na vida, mas ele ainda não conseguia odiar.
Talvez fosse só o efeito do álcool, carência, necessidade de ser amado ou só que a mão grande do atleta em sua cintura parecia um encaixe perfeito. O ator fechou os olhos e Paulo André entendeu que era a permissão que Arthur estava lhe dando. Ele estudou o rosto bonito de Arthur, os cílios longos, a pele cremosa, e então beijou aqueles lábios de forma suave e sossegada. Era assim que Arthur gostava de começar um beijo, suavemente.
O beijo dos sonhos estava acontecendo, era como se a festa não existisse para Pa e Arthur, apenas os dois e seus toques íntimos tinham importância. Linn da Quebrada, porém, tinha outros planos para a noite de Paulo André. Ela subiu na plataforma então fingiu tropeçar no imenso salto plataforma que usava e foi com todo corpo contra o cantor.
Linn caiu sobre Arthur, os dois se desequilibraram. Pa que era um atleta de alto nível e tinha o chamado reflexo de gato optou por “salvar” Arthur e impedir que o rapaz caísse da plataforma alta. Os dois foram ao chão na plataforma. Pa por cima de Arthur, mas ao menos o pãozinho do povo não havia caído lá embaixo.
– Arthur! – Paulo André chamou enquanto segurava o ator firmemente pela cintura o puxando para si.
– Pa! – Arthur o olhou assustado, tinha sido por pouco aquele tombo.
– Arthur… – Paulo André repetiu, então abriu um sorriso lindo, genuíno e sincero. Um sorriso que fez o coração de Arthur Aguiar se derreter.
– Pa… – repetiu Arthur olhando a beleza do menino acima de si, aquele era seu Pa, o doce menino espontâneo, ele estava lá de novo, sem barreiras, sem maldades, sem inveja. Arthur imaginou como seria viver ao lado desse Paulo André fora dessa casa e longe das pessoas maldosas. Como seria acordar e ver as covinhas do sorriso dele todas as manhãs?
– Você me chamou de Pa de novo – disse o atleta. Sua mão grande contornou a testa de Arthur, descendo pela bochecha, brincando com a pele perfeita, escorregando pela barba por fazer, até chegar aos lábios. Pareciam tão macios dali.
– Chamei, né? – sussurrou Arthur fechando os olhos. Eles iam se beijar de novo… até que…
– AAAI! Porra! Caralho! Porra! PA! – berrou Linn da quebrada. O berro se espalhou pelo jardim quebrando o clima de romance entre os pombinhos.
– Linn! – gritou Pa erguendo a cabeça e foi achar a mulher estatelada na grama com a perna num ângulo estranho. – Caraca, Thurrar… ela caiu, mano! – disse o atleta.
– Óbvio, Paulo André, do jeito que ela veio pra cima de mim era para eu e ela estarmos lá embaixo – disse Arthur se movendo para que Pa saísse da posição montada sobre seu corpo.
– Qual é, Arthur!? Não pira, a mina não fez de propósito! – o atleta ergueu a voz e se moveu de cima do outro rapaz. – Lá vem você com suas neuroses.
– Eu? Ela veio pra cima de mim! – rebateu Arthur.
– Foda-se! Você já tá com essa porra de se fazer de vitima. A mina toda quebrada lá embaixo, mano! Deixa de ser cuzão! – disse Pa e saltou para ajudar Linna. – Liga pra ele não. O Arthur é maluco, cara! – desculpou-se Paulo André enquanto ajudava Linn.
– Deixa ele pra lá e me ajuda aqui, preciso de um preto forte e gostoso assim como você… – derrete-se Linn da quebrada.
– Você precisa de um médico e não de homem. Parece que torceu o joelho! – disse Arthur dando de ombros.
– Ah, Arthur! Quem sabe o que preciso sou eu e eu preciso que o Pa me ajude a ir lá pra dentro – disse Linn olhando feio para Arthur.
– Gente! Ajuda aqui! Ela caiu! – veio Jessy, trôpega na direção de Linn.
– Ela caiu! – gritou Elo, completamente bêbada.
– Ela caiu ou empurraram? – perguntou Natália vindo para perto se balançando de um lado para o outro.
– Eu sei o que aconteceu aqui! – veio Lais, também bêbada com Gustavo na sua cola. – Ele empurrou a Linn! Produção! Agressor! Seu baixinho agressor de mulheres! Covarde! – Lais estava enrolando a língua e apontando para o lado, onde estava o segundo Arthur que ela via na névoa da cachaça. – E fica parado aí pô! – disse ela para o vulto do Arthur.
– Ah, Lais, não viaja, cara! Eu não fiz nada com ela. Ela que veio pra cima de mim e se não fosse o Pa eu é que tinha me esborrachado lá embaixo – disse Arthur.
Lais estreitou os olhos, porra, tinham dois deles. Ela ia surtar, dois Arthurs?
– Por mim podia ter caído e quebrado o crânio ou a espinha! – cuspiu Lais com ódio. – Ficasse numa cadeira de rodas pro resto da vida, precisando de alguém para limpar a bunda!
– Credo! – disse Eslo fazendo careta.
– Lais, para de falar besteira! Tu não viu nada! – veio Dg. – A Linn esbarrou no Arthur e caiu, não foi isso?
– Passada de pano – disse Arthur revirando os olhos.
– Eu sei que a Linn quer o Pa e Arthur está eliminando a concorrência mais uma vez. Ele queria fazer isso com a minha amiga Jade, mas não tinha coragem… esse covarde! Minha amiga é foda! – gritou Lais.
– Que loucura! – disse Arthur perplexo.
– Olha só! Ele me chamando de louca! Vocês viram? Brasil? Ele chamou uma mulher de louca! – indignou-se Lais.
– Eu não te chamei de louca! Eu disse que loucura! – rebateu Arthur.
– Ele repetiu! E para de se multiplicar… – disse a médica.
– Lais, você bebeu demais… bora tomar uma água. – Gustavo a retirou.
– Mas, tem vários Arthurs.. eu não acredito que ele se multiplicou. Ele está manipulando minha visão e ninguém faz nada – disse ela enquanto era arrastada pelo jardim.
– Porra! – Linn gritou. – Meu joelho tá do avesso e vocês ficam discutindo! Foi um acidente. Eu esbarrei no Arhur, sem querer, nós dois nos desequilibramos – explicou Linn, pontuando o “sem querer” – E claro que o Pa escolheu salvar o namoradinho dele do tombo.
– Ele não é meu namorado! – disse Pa.
– Não somos namorados! – Arthur o remendou em seguida.
– Vocês estavam se beijando e de língua… tipo filme.
– Mano? Era mesmo? – indagou Scooby olhando de forma reprovadora para Pa.
– Tava nada! Essa maluca aí tá bêbada E ela tava na pista de dança o tempo todo. Tá bêbada! – apressou-se Paulo André numa cara de pau extrema.
Arthur o olhou magoado. De novo aquela merda vindo de Pa? Primeiro beijava e depois renegava? E porque ninguém falava nada de Pa estar chamando uma mulher de maluca? Que loucura toda era aquela?
– Que loucura! – disse Arthur indignado.
– Eu vi sim… eu vi tudo! – disse Natália. –Acho tão romântico um casalzinho assim – disse Natália sonhadoramente. – Eles fazem um par lindinho, né gente? O Pa é negro e o Arthur é branco. O Pa é gigante, o Arthur é baixinho. O Pa é doce e simṕatico, o Arthur é ranzinza e amargo. O Pa fala todo enrolado, o Arthur é todo inteligente… eles se completam – disse ela.
– Ela tá maluca… Eles não estavam se beijando não – disse Linn agarrada ao pescoço do atleta. – Pa, meu gostoso, me carrega no colo lá pra dentro. Tá doendo muito… – disse ela.
Pa carregou Linn em estilo de nova para dentro, e foi seguido pelos demais participantes deixando Arthur confuso e magoado para trás.
Linn não só acabou com a festa como tornou inviável qualquer reaproximação entre Pa e Arthur, afinal, ela estava monopolizando o atleta, exigindo carinho e atenção, de vez em quando o culpava por escolher salvar Arthur ao invés dela.
Os olhos de Arthur se encheram de lágrimas vendo Pa se desmanchar em cuidados com Linn e ignorando completamente, ele não entendia o que se passava com Pa. Primeiro o atleta estava todo romântico e cuidadoso com ele e agora era como se Arthur sequer existisse. Mas então Arthur, que era um cara inteligente, notou um padrão. Havia dois Paulo André; um romântico e interessado que aparecia quando estavam sozinhos ou quando achava que as câmeras estavam desligadas e um outro que ignorava Arthur completamente quando estava no meio dos outros participantes ou no ao vivo… Pa vetezeiro.
Arthur sentiu-se um idiota por novamente caiu naquele papo carinhoso e sei deixar beijar como uma colegial doente de amor. Ele sentiu tanta raiva de si mesmo que passou a chorar. E isso o deixou ainda mais furioso consigo, chorando por causa de Pa?
– Ah, foda-se! – disse ele entre lágrimas e voltou para a área externa indo atacar a mesa de comida. Comia e chorava, chorava e comia e quanto mais comida mais chorava.
***
No dia seguinte Arthur acordou enjoado. Aquilo se tornou uma náusea forte até ele ter certeza que ia vomitar e saltar da caminha e correr para o banheiro anexo ao quarto.
– Gente, que deu nele? – perguntou Naty erguendo a cabeça, os cabelos assanhando e o rosto amassado de ressaca.
– O que deu nele? – sorriu DG. – Caganeira, ele se entupiu de docinho, salgadinho, empadão, purê de batata, sushi e sei lá mais o que… mano, ele é uma máquina de comer.
– Ih! Qual foi? – Pa entrou no quarto.
– Arthur com pi-ri-ri – disse DG.
– Também o moleque parece uma draga. Tu viu na festa ontem? – brincou Pa, mas eles ouviram os barulhos do banheiro. Primeiro um barulho de engasgo e depois o barulho de líquido coisa batendo contra a louça do vaso.
– Ele está vomitando – constatou Pa. – Arthur!? Thurrar? – sem resposta, apenas os barulhos de engasgo.
– Ele vai morrer lá afogado no próprio vômito – caçoou Linn revirando os olhos de forma debochada, deitada na cama com o pé para cima. Após ser medicada na noite anterior no confessionário, ela retornou dizendo que havia sido apenas uma luxação.
Pa não pareceu achar graça alguma, ele estava decidido a arrombar aquela porta se Arthur não lhe respondesse, mas logo em seguida a descarga foi ouvida, a água torneira aberta e finalmente Arthur abriu a porta do banheiro. O ator estava imensamente abatido e pálido, os lábios estavam opacos e os olhos fundos e úmidos de lágrimas.
– Thurrar? – exclamou Pa, completamente assustado com a aparência do rapaz.
– Eu estou bem – disse Arthur com um piado de voz rouca, ele parecia destruído e tão abatido que não teve forças para revidar o apelido.
– Eu… tava preocupado – falou Pa.
– Preocupado comigo? Sério? Me poupe. Paulo André! – disse Arthur com azedume e passou esbarrando em Pa, indo para sua caminha novamente.
– Porra, Arthur, porque tu tá me tratando assim? Que foi que eu fiz? – perguntou Pa, mas Arthur já tinha removido o microfone e se encolhido sob a coberta.
***
Dias depois, Pa voltou a ser indiferente a Arthur, o ator por sua vez usou seu melhor escudo e se fechou dentro de si mesmo. Conforme os dias iam passando Arthur ia se sentindo cada vez mais cansado e estafado. Diariamente acordava enjoado e nauseado, e havia uma dorzinha, uma cólica constante, na altura da virilha, que se espalhava pelos quadris e coluna lombar. Ele também andava hipersensível, tudo tinha o poder de o abalar emocionalmente, era um misto de sentimentos como medo, raiva, tristeza, ansiedade, angústia, inseguranças e então ele se entupia de comida nas festas ou ações de patrocinadores.
Então chegou a noite da prova que ia definir o novo líder. Uma prova de resistência da Avon onde os participantes tinham que ficar agarrados num enorme batom, aguentando situações adversas e até mesmo elementos inusitados, como água e vento.
A emissora já havia escolhido o participante que venceria aquela edição. Linn da Quebrada, a militante travesti. Era ano de eleições para presidente e a Globo queria levantar uma bandeira de militância e Linn foi escolhida para ser a campeã da edição com o slogan a primeira travesti campeã de um reality, não aconteceu. O plano era bom, mas esqueceram do detalhe mais importante sobre um reality show, mesmo com toda a manipulação feita pelas emissoras, ainda era do público a decisão.
Linn não caiu no gosto popular. O público rejeitava a ideia de militância dentro de um programa como aquele e há anos esperava o jogador. Ninguém se importava com a cor da pele, gênero, credo, raça, orientação sexual, condição social/financeira. Era sobre o jogo e sobre o que a pessoa era dentro da casa.
Quando a emissora entendeu que o público tinha eleito seu próprio favorito, eles armaram o plano para eliminar Arthur Aguiar, o queridinho eleito. Essa prova foi planejada detalhadamente para prejudicar Arthur.
Após o início da prova, o público da internet reparou que a ducha sobre o ator nunca parava, mas a ducha de Linn, parecia desligada, a moça quase não estava molhada. Durante a dinâmica, Pedro Scooby acabou percebendo que o jogo não estava sendo justo para todos. Ele observou Arthur com cuidado e chegou a conclusão de que o ator estava sendo sabotado.
O surfista chamou Gustavo, que estava a seu lado e fez um jeito com a cabeça para onde estava Arthur e os dois perceberam que tinha mais água caindo por cima de Aguiar do que em Linn da Quebrada.
– O da Linn nem tá saindo água – comentou Gustavo.
– É o da Linn tá fechado, mano. Já o do Arthur parece uma cachoeira – disse o surfista.
Arthur Aguiar, se notou que estava sendo sabotado, nada comentou, ele se manteve firme, mas ele realmente estava sofrendo desde o início da prova. O formato e largura do batom parecia ter sido projetado para machucar seus braços. Ele tinha braços curtos para conseguir abraçar aquela haste.
O grupo atravessou a noite, foi pela madrugada a dentro, amanheceu o dia sem desistências. Arthur estava exausto após uma noite inteira naquela posição, ele estava enjoado, tonto e com dor de cabeça, sua lombar estava ardendo, os ossos de seu quadril parecia estalar a cada movimento, a cólica na região pélvica havia se tornado quase insuportável. Ele tremia de frio e desconforto, sua bexiga parecia prestes a explodir a qualquer momento, fazendo uma pressão imensa em toda sua região pélvica aumentando a cólica, a água fria não parava de jogar sobre ele e a ânsia de vômito o estava deixando zonzo.
Ele se manteve firme até metade da manhã quando seu corpo realmente beirou o esgotamento. Arthur estava muito pálido. A dor em todo o corpo se tornou insuportável. Seus músculos estavam rígidos. Ele sentiu as pernas e os braços dormentes e sem força, suas pernas tremeram e sua vista escureceu, foi aí que tudo aconteceu. O pé dele escorregou, seu peito se chocou com a proteção de acrílico transparente da plataforma a quebrando no processo, ele sentiu o plástico pontiagudo rasgando a pele de seu peito, mas conseguiu se segurar e caiu de joelho na plataforma.
Assim que viu Arthur escorregar e se machucar, Pa quis largar tudo e correr, mas então eles estavam na frente de todo mundo, e aquilo valia a prova da liderança.
– Arthur? Machucou? – perguntou Eli muito preocupado.
– Machucou! – Arthur gemeu mostrando o peito arranhado. Mas antes que ele pudesse falar mais alguma coisa seu corpo apagou, vencido pelo esgotamento total e ele caiu.
– Arthur!? – gritou Eli vendo o ator cair da plataforma no enchimento macio. – Arthur? – repetiu Eli, sem resposta. – Gente! Ele desmaiou!
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