Desde a visita de Cristopher e Letícia, Kaiser estava esquisito. Joui percebeu o comportamento estranho do amigo a partir do momento que confessou que estava sem fumar três dias inteiros. Não só isso, como também não saia de casa e sempre que o asiático dizia que iria sair para algum lugar, ambos começavam a brigar porque o Cohen não queria que o amigo saísse de sua visão.
Aquele comportamento estava irritando Joui, nunca havia visto um colega tão super-protetor. Sabia que era um traço muito forte da personalidade do colega ser assim, mas aquilo estava fora de controle e se sentia sufocado. Tentava entender e guardar para si a sua revolta, mas não aguentava mais! Todo lugar para onde ia, sempre tinha César em sua cola como se fosse uma criança indefesa, ou até mesmo lhe espiando de longe como um ladrão.
— Você está fazendo o quê? — Kaiser apareceu na porta da cozinha.
— Cortando legumes. — Estava tão perdido em seus pensamentos sobre a superproteção de César que nem havia notado a forma fria que dizia e a agressividade que cortava o pepino - o que fez a cena ser um pouco estranha -.
— Ah, entendi. Tome cuidado, as facas estão bem afiadas e você pode acabar se machucando. — Estranhou a forma ríspida que o colega respondeu.
— Não se preocupe com isso, eu sei me virar e uma faca de cozinha não vai me matar com um simples corte.
— Por quê está agindo dessa forma?
— Você sabe o motivo.
— Você diz como se fossemos começar uma briga.. Se eu soubesse o motivo, não perguntaria. — Respondeu simples.
— O motivo é você me tratar como uma criança.
César o observou ainda mais confuso.
— Como..?
— Não se faça desentendido! Você está me tratando como um bebê faz tempo. Eu nunca me incomodei com essa sua obsessão em me proteger, mas eu também preciso de um tempo para mim! Parece até que eu não tenho privacidade na minha própria casa, você está sempre cuidando de mim e me protegendo gratuitamente onde eu não preciso ser protegido! César, eu não sou uma criança indefesa, consigo me virar e me defender.. Todo esse seu comportamento apareceu de repente quando sua família veio te visitar aqui, mas você nem se deu o trabalho de dizer o que está te incomodando tanto desde aquele dia! Você duvida de mim quando te digo que sou forte?! — Desabafou indignado, já havia parado de cortar os legumes fazia um bom tempo.
— Em momento nenhum eu duvidei de você, eu confio fielmente que você é forte e consegue se defender.. Mas, Joui.. As coisas não são tão fáceis como você imagina...
— E por qual motivo? Você realmente não vai me explicar o motivo da sua estranheza?!
— Você nem ao menos entenderia se eu explicasse para você.
— Se você ao menos tentasse, talvez eu entendesse.. — Respondeu encabulado. — Não esconda as coisas de mim! Parece que apenas eu sou um livro aberto nessa casa, você nunca se abre comigo.
— E isso te magoa tanto?
— Não me magoa, não quero te forçar a falar sobre coisas que você não quer... Mas ainda sim é injusto. — Confessou. Kaiser suspirou.
— Não sabia que isso te deixava triste.. Sendo assim, eu posso reverter essa situação. — Se aproximou de Joe, estava usando o pouco charme que tinha para confortar o amigo assim como em todas as poucas vezes que o ginasta precisou de ajuda. — Sinto muito por não ter percebido que eu estava te sufocando, eu não quis dar a entender que você é indefeso.. E me perdoe por esconder tantas coisas de você
Ficou em silêncio por alguns minutos.
— É que... Se eu falasse para você mais coisas sobre a minha vida, não sei se me olharia com os mesmos lindos olhos de sempre.
— Por qual motivo você acha isso? — Olhou para Kaiser nos olhos. — Vou gostar de você não importa o que aconteça, não ligo se o seu passado te condena ou sei lá o que.
— Eer.. Tsc. Tudo bem, você venceu. — Limpou a garganta. — Bom, há muito tempo atrás eu era um homem um pouco diferente do que eu sou hoje. Eu digo.. Eu não era tão simpático e também usava métodos de torturas para seres que eu simplesmente não gostava... Resumindo, eu era um grande ‘cuzão’. Mas, essas ações minha no passado fizeram com que eu ganhasse inimigos no presente.. Sendo eles um dos demônios mais fortes que não faz parte da família Cohen.
— Acho que entendo aonde você quer chegar.. Está com medo que eles consequentemente me machuquem também?
— Você não imagina quanto..
— Bem, sendo assim.. Você pode continuar com suas esquisitices, mas com um limite.
— Um limite?
— Sim, um limite para não ficar desconfortável para nós dois. — Segurou os ombros de Kaiser.
— E isso vai te deixar feliz?
— Claro que vai.
— Então tudo bem..
Pensou um pouco e voltou a falar em seguida.
— Tente não me espionar, nem colocar mini câmeras no banheiro, cozinha, quarto ou me seguir para todos os lugares que eu for como um ladrão. — Kaiser fez uma expressão triste.
— Ficar dentro do seu guarda-roupa ou te espionar dormindo está proibido também?
— Com certeza!
— Oh, certo..
[...]
Kaiser andava para lá e pra cá, estava sem dormir há semanas. Eram quase quatro horas da manhã, definitivamente precisava se acalmar.
Esteve tão preocupado com Joui e seus amigos que mal conseguiu cuidar de si próprio, por exemplo pelo fato de que não fumava a dias. Sim, sabia que fumar não era se cuidar, mas precisava acender pelo menos um baseado para me sentir mais calmo.
Andou até o quarto de Joui e viu a mais linda e pura cena do asiático dormindo abraçado ao gato de pelos negros, se ainda estive com seu celular em boa forma com certeza tiraria uma foto. Sorriu levemente, desejando ver aquilo todos os dias.
Foi até uma de suas próprias gavetas no quarto do colega e tentou ser o mais silencioso possível na esperança de encontrar algo para fumar, felizmente encontrou um dos cigarros que Thiago lhe entregou. Assim que pegou, andou sorrateiramente até a sala e se sentou no sofá pensando no que iria fazer.
Se fumasse em casa, o cheiro de nicotina infestaria a casa, Joui acordaria e com toda certeza brigaria com Kaiser por ter tido uma recaída, já que parecia feliz por saber que o amigo não fumava a semanas.
Mas, se saísse para fumar, deixaria Joui desprotegido e colocaria todos em risco, incluindo Arthur, Liz e Thiago. Sabia que não era tão fácil para demônios normais saírem do inferno e virem para a terra quando bem entendessem. Kaiser, Christopher e Letícia só conseguiam ir e voltar do inferno por serem da realeza.. Mas ainda sim tinha receio do que pudesse acontecer se saísse de casa. Estava ciente de que Joui sabia se cuidar, mas não tinha muitas chances contra um ser infernal.
Mas precisava fumar um antes que enlouquecesse completamente!
— César...? — Joui apareceu esfregando os olhos ao lado da parede do corredor. — ..Ainda não dormiu?
— Eu te acordei? — Perguntou meio nervoso enquanto escondia o cigarro atrás de si.
— Sim... Eu ouvi você entrando no quarto e ‘fuçando’ as gavetas, está tudo bem?
— Sim.. Está sim. Não se preocupe. Por quê você não volta a dormir? Vou logo depois de ir ao banheiro. — Se levantou ainda com as mãos para trás e foi andando até o banheiro.
— Tudo bem.. Durma na cama comigo, o Kenji fez xixi no seu colchão... — Se virou e foi andando até o quarto de forma sonolenta.
Kaiser apenas concordou levemente mesmo que Joui não fosse ver e suspirou. Não estava acostumado com essas frases que mais pareciam flertes em sua mente. Esperou o asiático sumir de sua visão para chegar a uma conclusão.
Sabia que era perigoso sair e deixar os amigos sem sua proteção, mas era ainda mais perigoso lidar com um Joui Jouki irritado se sentisse o cheiro de cigarro.
Vestiu apenas uma jaqueta preta e calçou seus sapatos, indo até a rua, precisava respirar um pouco de ar fresco também. Acendeu o cigarro e deu uma longa tragada, sentindo quase que de imediato o enorme alívio. Sentia a brisa fria bater em seu rosto, aquela vista escura e melancólica da rua dava a Kaiser uma sensação estranha. Há alguns meses atrás aquela vista seria linda em sua opinião, agora, lhe dava um ar de solidão.
— Aceita companhia, Alteza? — Uma voz conhecida soou vindo até a sua direção. Kaiser deu um suspiro e outra tragada em seu cigarro.
— Falando no diabo.
— Está a tanto tempo sem me ver e é assim que me recebe? Eu esperava mais, Majestade! — Se fingiu ofendido — E que roupas são essas?! Está parecendo um...Humano.
Observou o pijama de morangos de César, definitivamente não esperava alguém como o Cohen usando uma vestimenta assim.
— Para a sua mísera informação, não fui eu quem escolhi essa roupa. — Jogou o resto de nicotina que sobrou no chão, pisando em seguida. — O que o Kian quer comigo?
— Oh..?
— Você não viria aqui por conta própria se não fosse lhe mandado porquê tem medo de mim. O Kian te mandou aqui, o que ele quer?
— Eu me sinto ofendido se você pensar assim. — Sorriu. — Bom, eu vim aqui por vários motivos, Vossa Alteza. Posso citar todos para você se quiser, mas antes.. Está frio aqui, não está?
— Sim, está. E o que isso tem haver com o assunto? Me diga o que quer aqui antes que eu perca o pouco de paciência que eu tenho. — Retrucou seco.
— Bom, veja com seus próprios olhos. — Se virou para o prédio, Kaiser fez o mesmo.
Ao se virar, desejou nunca ter feito isso. Viu detalhadamente o prédio queimar numa chama vermelha ardente, os vidros das janelas explodiram com a colisão do fogo. Uma parte dentro de seu peito parecia queimar junto ao prédio, estava em prantos.
— Antes que comece um show, retiramos seus companheiros antes de atear fogo neste fim de mundo.. — Olhou para Kaiser com um sorriso diabólico. — Seria um desperdício matá-los de uma vez. Quero que você sofra lentamente, assim como me fez sofrer quando ela morreu.
— Seu...
— O que foi..? Por que não está vindo me matar? Parece até que está com... Medo.
— Medo... Medo de você? Não diga uma atrocidade dessas. — Sua voz estava falha. — Onde.. Onde eles estão..?! AONDE VOCÊ COLOCOU ELES?!
— E como eu vou saber?! Não fui eu o responsável por tirá-los do apartamento, oras. Mas, se te deixa feliz, eles devem estar em algum carro por aí. Isso é tão clichê. — Falou enquanto observava o fogo. — Ah. Que eu me lembre, não vi eles carregando o gato.
— O.. O que?!
— O Gato. Ele deve estar lá dentro ainda. Nós ficamos mais preocupados com o seu cálice então o felino foi o último dos casos. — Citou como se não fosse nada, Kaiser olhou para Gal como se fosse matá-lo.
Em uma rapidez, César correu em direção ao prédio, mas, antes que pudesse fazer algo, sua visão foi consumida por uma grande explosão.
O prédio acabou de explodir.
— Seu filho de uma puta.. — Avançou na direção de Gal, segurando a gola de seus trapos pretos e dando um soco em seu rosto. — VOCÊ AINDA ME CULPA PELA MORTE DA SUA MALDITA IRMÃ?! POR QUÊ VOCÊ NÃO ASSUME QUE FOI VOCÊ O CULPADO PELA MORTE DELA?! AQUELE ANIMAL NÃO TINHA NADA HAVER COM ISSO!
— não.. VOCÊ ESTÁ MENTINDO! EU NÃO TERIA VINDO AQUI SE NÃO FOSSE PELOS SEUS ERROS! — Tentou se soltar, conseguindo com sucesso. — Seu privilegiadinho de merda. VOCÊ NUNCA VAI SABER O QUE EU PASSEI NAQUELE LUGAR! NUNCA SOUBE O QUE É VER A PESSOA QUE MAIS AMA MORRER NA SUA FRENTE!
[...]
Corria o mais rápido que conseguia, sentia o vento frio tomando cada centímetro de seu corpo e aquilo de fato o incomodava, mas uma das coisas que mais lhe incomodavam agora era o medo de não encontrar seus amigos. Tinha lágrimas em seus olhos, lágrimas por Kenji, lágrimas por Joui e por saber que tudo aquilo era sua culpa.
Não havia carros naquela rua, procurou por todos os lados e não encontrou algo que pudesse abrigá-los. Gritou inúmeras vezes o nome de cada um deles, mas nada de uma resposta. Virou em um beco mais afastado da região, foi possível ver um carro completamente destruído perto de uma grande lata de lixo. “Não... Não pode ser.” Pensou, correndo até o carro.
Viu pelo lado de fora do vidro que haviam pessoas lá dentro, sua esperança começou a aparecer. Quando tentou abrir a porta percebeu que estava trancado, suspirou em reprovação.
— SE AFASTEM DO VIDRO, EU VOU QUEBRAR ELE — Avisou, em seguida quebrou o vidro facilmente com uma das mãos.
Foi possível ver os amigos lá den
tro, suspirou aliviado.
Mas algo estava errado.
— ... Onde o Joui está?!
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