“Faz alguma coisa, Belinda. Dá um soco, um pisão no pé, empurra ele escada abaixo, mas não deixa ele entrar…”
Minha consciência gritava e um alerta soou histericamente em minha cabeça, mas fiquei paralisada com aquela cena.
— Ah, oi querido! — Mamãe se colocou na minha frente, usando o quadril para me empurrar discretamente e abriu os braços para receber o safachorro que teve a cara de pau de levar os filhos até a minha casa — Venha cá.
Eden abraçou minha mãe e me lançou uma piscadela por cima dos ombros, e eu apenas assisti a tudo aquilo com os braços cruzados.
As crianças eram encantadoras, e mesmo que viessem daquele espermatozóide amaldiçoado de Hazard, eu não podia culpá-los ou tratá-los mal.
— Hmmm, entrem por favor. — Ouvi minha própria voz entredentes e fechei a porta, observando os garotos à vontade na minha sala. Meu filho mais novo espalhou uma centena de brinquedos no tapete e de repente o cômodo parecia uma creche.
Lucas ficou observando as crianças com um sorrisinho no rosto e não consegui evitar sorrir também. Meus filhos podiam ser duas pestes descontroladas, mas eles adoravam se juntar com outras crianças.
— Posso lhe servir uma bebida, Hazard? — Mamãe pestanejou com os enormes cílios comprados na Sephora e o belga sorriu.
— Eu aceito, sim senhora. Obrigado.
— Deixemos a formalidade de lado, querido — Ela deu uma piscadela e alisou o peito dele com as unhas esmaltadas de vermelho. Se eu não estivesse tão furiosa, com certeza eu daria uma boa gargalhada — Me chame de Sônia, apenas. Sem o senhora.
— Claro, me desculpe Sônia. A senh… Quer dizer, você é mesmo muito jovem para ser chamada de senhora! — As crianças na sala foram a única coisa que me impediram de cortar as bolas de Eden naquele momento — De fato, você nem parece ser a mãe da Linda. Eu facilmente acreditaria que são irmãs!
Mamãe levou a mão ao peito dramaticamente e deu uma risadinha sedutora e aquilo foi a gota d'água para mim.
— Hazard! — Minha voz parecia a de outra pessoa, completamente irreconhecível porque eu usava muito autocontrole para não gritar — Pode vir aqui comigo?
Puxei o seu braço e abri um sorriso de orelha a orelha, enquanto mamãe deu de ombros e caminhou até o bar para servir as bebidas.
— Calma, Lindazinha… — Eden sussurrou enquanto eu o arrastava. O empurrei para a varanda e fechei a porta de correr, longe de toda a platéia.
— Ou você é muito idiota, ou muito sacana para ter trazido seus filhos aqui tentando me amolecer, Eden Hazard.
— Eu…
— Acho que você é os dois. Idiota e sacana. — Murmurei sentindo o pescoço queimando, o fogo subindo para as bochechas, e parecia que meu corpo explodiria de raiva a qualquer minuto.
— Isso que você está sentindo — Ele diminuiu a distância entre nós, segurando a minha mão. — É porque se importa, Linda. Eu sei que gosta de mim.
Dei as costas, me afastando bruscamente, cruzando os braços acima do peito. Senti um nó na garganta, a cabeça pesando e o coração disparando e dei um pulo quando senti suas mãos em minha cintura.
— Eu sei que pisei na bola — Ele murmurou em meu ouvido.
— É o eufemismo do século, Eden — Girei o corpo, tirando as mãos deles de mim — Eu já te disse que não me deve explicação. Apenas transamos, nada mais. Não somos namorados nem nada do tipo. Pronto, agora pode ir embora.
Fechei a cara e deixei um suspiro exausto escapar da minha boca, mas ele não arredou o pé.
— Eu deveria ter te contado. Eu sei que deveria. Mas não estou mais com ela, Linda. Já assinei os papéis do divórcio e só falta ela fazer a merda da parte dela e assinar também.
Engoli em seco, sufocando a vontade de chorar.
— Só vai embora, Eden. Por favor.
— Não pode me mandar ir embora, Belinda. Eu já tô envolvido demais. — Sua boca se abriu e se fechou novamente, como se buscando pelas palavras certas, mas elas saíam atropeladas — Eu quero você. É só o que sei, Belinda.
Meneei a cabeça, mordendo o lábio com força e abafando um gemido quando ele avançou para me tocar de novo.
— Querer não é poder, Hazard.
— Me deixa te provar que eu não sou o cafajeste que você pensa. Por favor, Linda.
Neguei ligeiramente com a cabeça, e ele começou a implorar novamente. Meu coração estava se derretendo, mas minha mente era forte para barrá-lo. Eu só precisava fazer com que meu corpo me obedecesse e tudo ficaria bem.
— Gata… — Deixei os braços penderem ao lado do corpo, soprando forte quando ele enlaçou a minha cintura — Eu não posso ficar longe de você. Não sei o que você fez comigo, Linda. Mas eu preciso… — Seu rosto se curvou entre o espaço de meu ombro e pescoço e meus olhos fecharam-se devagar — Não paro de pensar em como é maravilhoso ter você nos meus braços, querida… Sua pele macia, seu cheiro… Porra, me dá uma chance de mostrar que eu te mereço.
— Eden…
— Eu juro que vou mudar. Eu vou ser o cara que você quiser que eu seja.
Sua expressão estava neutra, mas a sombra em seus olhos flamejava tão fortemente que me fez perder o ar.
“Eram apenas palavras. Não havia nada que pudesse validá-las. Blindar o meu coração era a única forma de eu me ver protegida do efeito que Eden Hazard causava em mim.”
— Você não tem que mudar por minha causa, Eden. — Falei encarando a dor em seus olhos. Eram olhos lindos, tão bonitos que não tinha nenhuma possibilidade de encará-los por muito tempo sem me embaralhar com as palavras. — Se você tiver que mudar, tem que ser porque você quer e não porque acha que precisa mudar por minha causa.
— Besteira — Ele murmurou impaciente — Eu posso ser um homem bom, Linda.
Abri a boca para falar, mas a porta da varanda se abriu com um estrondo e mamãe surgiu abrindo um sorriso em nossa direção.
— Trouxe as bebidas!
Revirei os olhos antes de apanhar um dos copos e virar o conteúdo garganta abaixo, arrancando uma risadinha dos dois.
— As crianças estão se dando muito bem — Minha mãe deu uma piscadela e Eden me imitou, revirando o copo na boca — Então, Eden — Franzi o nariz ao vê-la enganchando o braço no dele e o conduzindo até o balanço grande de madeira onde os dois se sentaram — Você precisa ouvir algumas histórias da época da infância da Belinda.
— Mãe! — Berrei impaciente, virando o conteúdo da garrafa para o copo novamente. Aquele pesadelo só podia ser enfrentado se banhado com muita vodka.
Ela acenou sem me olhar e Eden pediu para que ela continuasse falando, dando encorajamento à sessão de vergonha dirigida pela louca varrida da minha mãe.
— Ah, você sabia que quando a Linda era criança ela quebrou o nariz de um garotinho que tentou beijá-la?
Eden se curvou de tanto rir e a gargalhada histérica de minha mãe o acompanhou. Saquei o meu celular e digitei uma mensagem de SOS para Pilar e Clarice no nosso grupo de whatsapp e me afundei em um puf, observando o quanto Eden parecia feliz e à vontade ouvindo todas as minhas histórias tórridas de infância e adolescência.
“Hazard tem a ver com o SOS?”
A mensagem piscou na tela e resmunguei alto, chamando a atenção dos dois, que viraram a cabeça para me olhar.
Acenei rapidamente e mergulharam na conversa espirituosa novamente.
“Hazard e minha mãe. É sério. Estou colocando uma enorme quantidade de álcool em meu corpo e não respondo por mim.”
Pilar mandou uma dezena de emojis gargalhando e em seguida escreveu “estou indo para aí.”
“segura a língua da sua mãe antes que ela comece a contar das histórias da faculdade, linda. também estou indo.”
Choraminguei com a mensagem de Clarice e desviei o olhar do celular para o balanço.
— Sim, querido. Antes de conhecer o pai dos meninos, a Linda teve uma fase meio rebelde na faculdade. — Eden abriu um sorriso torto e olhou para mim, todo solidário como se não pudesse se soltar das garras da louca da minha mãe — Ela não te contou daquela vez em que fez um ménage com os dois colegas de residência?
Eden quase cuspiu sua bebida, e começou a tossir, fazendo a minha mãe se assustar e afagar suas costas.
— Oh querido, você tá bem? — Ela enrugou a testa.
— T-tô ótimo. Hmm, podemos dar uma olhada nas crianças?
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