S/n e Yoongi foram para o restaurante que sempre iam antes de tudo acontecer, fica perto da casa dele, o que é mais fácil pra moça que sempre tem que o levar bêbado para dentro. Eles pediram os petiscos de sempre e ficaram bebendo uma cerveja gelada enquanto não chegava à comida. O silêncio permaneceu.
- Vai ficar calada? – Yoongi a questionou.
- Você me chamou, puxe assunto você. – Continuou bebendo.
- Bom, então por que não me conta do problemático? – Deu de ombro.
- Só depois de me contar do que ficou desconfiado mais cedo. – Rebateu.
Yoongi fez cara de tédio, a amiga o havia mandado começar o assunto e o interrompeu logo em seguida, isso é bem perfil dela.
- Vamos começar com a Itália. Como foi parar lá? – Cruzou as pernas.
- Eu não lembro de quase nada, não importa. – Coçou a têmpora.
- Voltou magra e machucada, sua mãe fez aquilo de novo? – Continuou a encarando.
- Aquilo o que? – Ela não lembrava.
- Do armário, ela te prendeu no armário de novo? – Tentou a fazer lembrar.
Yoongi convivo com S/n tempo o suficiente para saber que quando ela fala que não lembra, é porque realmente não lembra, mas o pouco que entendia sobre o porque disso acontecer o deixava incomodado, então ele sempre a forçava a lembrar dos acontecimentos e as vezes até funcionava parcialmente. S/n continuou com uma feição confusa tentando lembrar de algo, mas tudo era borrado demais.
- Eu não sei, acho que não. – Negou com o rosto – Ela só faz isso comigo quando faço algo ruim.
Ele sabia que isso era uma mentira que ela acreditava fielmente.
- Bom, Jungkook estava estranho quando você sumiu, deve ter sido isso. Contou algo para ele? – Voltou a beber. Ela pensou e negou com o rosto. Ele ficou um tempo e lembrou de algo – Acho que sei o que é. Contou alguma coisa sobre Eric?
- Quem é Eric? – Os olhos dela estavam confusos.
O rapaz ficou surpreso por ela não conseguir lembrar dele, talvez pelo fato do homem que espancava a mãe e ela, e ainda tentou fazer coisas bem piores com ela desde muito jovem, não conviver mais em seu ciclo, ela acabou esquecendo... não era tão ruim se visto desse ponto.
- Me conta o que lembra. – Mexeu na garrafa.
S/n gastou seu tempo para coletar o máximo de informação possível, mas as memórias se misturavam com delírios e sonhos, não sabia o que era real e o que não era. Teria que contar mesmo assim.
- Eu estava com você e Hoseok no laboratório do prédio de medicina, então Jungkook apareceu e me disse que tinha algo para me contar... – Mais um tempo pensando – Tinha algum lugar... alto, eu sei porque o vento era frio e eu estava abraçada em algo quente... e-eu... e-eu acho que era um lugar seguro, então deve ser o telhado da faculdade.
- Por que era seguro? Você tem medo de altura. – Estranhou.
- Porque eu me sentia segura, conseguia sentir que não iria cair, sabia que se escorregasse ainda estaria segura. – Lembrou.
Yoongi teve um pouco de malícia na situação, Jungkook e S/n foram para direção do estacionamento e não para direção dos prédios, além de que ela estava abraçada em algo quente no topo de um prédio no qual ela, uma pessoa que tem medo de altura, subiria sozinha?
- S/n, você estava sozinha? – A olhou desconfiado.
- Estava. – Ela parecia tão certa daquilo.
- Subiu sozinha? E o que era a coisa quentinha que te deixava protegida no topo de um lugar que tinha a chance de cair? – Inclinou um pouco para frente.
S/n pensou um pouco. Tinha alguém com ela, mas não se lembrava de quem era... talvez essa parte de ter outra pessoa fosse delírio, ela estava certa de que estava sozinha. Parece que quanto mais tentava lembrar mais a imagem sumia.
- Não, estava sozinha mesmo, tenho certeza. – Bebeu a cerveja.
- Hm... e depois, como foi parar sozinha na Itália? – Deu um espaço para a garçonete servir seus pratos.
No começo os dois tinham medo de falar sobre assuntos como esse em público, mas com o tempo eles foram pegando o jeito de não usar palavras que assustariam os humanos ou chamaria a atenção, sempre que queriam usar uma palavra suspeita eles abaixavam o tom ou achavam um substituto... até o momento deu certo.
- Eu lembro de ter dormido em uma barraca na floresta, ter acordado bem cedo e de pegar um trem. Depois disso não lembro muita coisa. Só que... eu estava na praia e depois estava na estação de Roma, foi quando comprei seu vinho. – Pegou um petisco – Sabe como é, não me esforço muito para lembrar de detalhes.
Yoongi pensou mais um pouco, de certo modo achava um pouco divertido ter que interpretar as histórias contadas pela metade da amiga.
- Vamos recapitular. Você não lembra porque Jungkook te chamou para conversar, depois disso você foi para um lugar alto sozinha, foi andando até a floresta sozinha, montou uma barraca sozinha, viajou para Itália sozinha, passou um tempo na praia e foi para Roma. – Ficou dando ênfase no “sozinha” – Não se lembra de mais nada?
S/n pensou um pouco enquanto comia uma batata frita.
“- O que isso?”
“- Um microfone”
“- Por quê?”
“- Porque eu canto.”
“- Mentira. Deve parecer um gato atropelado.”
“- Teria me sentido ofendido se tivesse saído da boca de outra pessoa, mas sei que você não economiza nas críticas.”
“- Agora você me deixou curiosa.”
“- Posso cantas para você um dia.”
A cabeça dela tentava lembrar de quem era aquela voz e de que ocasião estavam falando, mas parecia mais algo inventado.
- Acho que não. – De qualquer modo ela não lembraria - Mas aquele nome que você disse mais cedo me é familiar. Quem era?
- Ninguém que valha a pena. – Comeu seu petisco de carne – Sério, quem não gosta de carne? É só a melhor coisa do mundo.
- Pessoas que não comem braços de deuses nórdicos. – Deixou escapar.
Yoongi fez cara de tédio e olhou discretamente para os lados, ninguém ouviu, um alívio. S/n deu uma risadinha sem graça como pedido de desculpas.
- Me conta mais sobre sua relação com o pestinha. – Insistiu.
- Credo Yoongi, isso de novo? Está com ciúmes? – Estalou a língua – Ele que fica me seguindo, deveria questionar a ele.
- Eu só tenho minhas suspeitas sobre ele.
- Tipo o que? Que ele invadiu meu apartamento? Estava uma bagunça e eu recebi ameaças realmente sérias, ele pode me odiar, mas não acho que seja tão insano assim. – Negou com o rosto.
- Acho que ele tem sentimentos por você. – Confessou.
S/n ficou um tempo calada olhando para o rosto do amigo e depois começou a gargalhar.
- Adoro sua imaginação. – Continuou rindo.
- Ele morre de ciúmes do Hoseok chegar perto de você, e ficava me perturbando perguntando onde estava quando sumiu, está tentando se aproximar e está fazendo favores. Isso tudo é muito suspeito. – Bebeu a cerveja.
- Ele não está com ciúmes, só achou alguém que o confronte de frente, ele não estava perguntando por preocupação e sim para poder me entregar caso o pressionassem, meu pai o paga muito bem para ficar me cercando, até eu ficaria me aproximando e fazendo favores. – Arqueou uma sobrancelha.
- Eu não sei S/n, mas estou de olho. – Estalou a língua – Aquele garoto já trouxe problema de mais.
- Isso não vem ao caso. Não vai me contar sobre o que ficou desconfiado? – Continuou comendo suas batatinhas.
- Eu conto se me contar como conseguiu a jaqueta do Jungkook. – Continuou desconfiado, aquilo rendeu uma boa cara de tédio e ódio da amiga.
- Eu não sei, que cisma. – Reclamou.
- S/n, você fumou no dia que fugiu? – Cerrou os cílios.
- Como eu vou lembrar? Não sei nem como fui parar em Roma? Pra que quer saber disso? – Jogou a batatinha de volta no prato – Estou começando a me arrepender de vir.
“- Bom, acho que se quiser vai ter que andar um pouco, a loja mais próxima fica a duas horas de caminhada daqui.”
“Não fume só por essa noite”
Aquilo estava a deixando muito confusa, não gostava daquilo.
- Vamos encerrar o assunto aqui. – Estalou a língua.
- Suspeito. – Coçou a nuca – Fiquei sabendo que o cachorro do Hoseok te mordeu.
- Estamos falando só dos assuntos de seu interesse, vamos para os meus. – Voltou a comer.
Yoongi estava com medo daquele momento, sabia que S/n poderia fazer uma pequena gota virar um oceano inteiro quando queria.
- Só para deixar claro, minha irmã é inocente. – Defendeu-se e recebeu um olhar de reprovação – Enfim, hoje eu percebi que ela ficou mais calma quando as acusações não penderam para ela. Ficou super na defensiva quando comecei a questionar, ela não era assim, quando estava certa continuava firme. Te garanto que ela não mandou as ameaças nem invadiu seu apartamento, mas sinto que ela sabe de alguma coisa que não quer contar.
- E ainda a chama de inocente. – Revirou os olhos – Você gostando ou não, ela está no topo da minha lista de suspeitos.
- S/n, ela é inocente! Pode ser suspeita, mas te dou 100% de certeza que ela não está envolvida em algo ruim. – Comeu um pouco – Talvez ela... só esteja confusa.
- Se vai ou não nos trair.
- Não! – Bufou – Ela não é disso, S/n. Eu te garanto!
- Não confio na sua garantia, ainda mais com isso que me disse. – Arqueou as sobrancelhas rápido.
Um silêncio ficou enquanto comiam, eles pareciam pensar em argumentos.
- Eu só queria que desse uma chance para ela. – Pediu.
- Eu não confio nela, Yoongi! Credo! – Encarou o amigo – Ficaria perto de alguém que não confia? Tipo o Jungkook?
- Por você sim. – Foi direto e tirou as palavras dela – É só uma chance!
S/n ficou de cara fechada e negou com o rosto, não sabia se valeria a pena correr o risco.
- Almoça lá em casa amanhã, vamos comer nós três e tire as próprias conclusões. – Sugeriu – Até porque ninguém tem nada concreto contra eles.
- Só uma história totalmente duvidosa. – Murmurou.
S/n ia colocar outra batatinha na boca quando o colar esquentou de novo, aquilo estava a incomodando então ela tirou de dentro da camisa.
- Que isso? – Yoongi estranhou.
- Jungkook com esse comportamento estranho. Ele me deu essa pedra doida que, dizendo ele, esquenta quando alguém que quer fazer mal para mim se aproxima. – Ia tirar o cordão quando viu a feição um pouco estranha do Yoongi – O que?
Ele estava sentado de um jeito que conseguia ver a porta e ela de costas pra entrada, e o rapaz olhava um pouco assustado para frente.
- Esconde isso e vai pro banheiro. – Disse de forma discreta.
- Que? Por quê? – Ela tentou olhar, mas ele a puxou.
- Os policiais do laboratório estão aqui e estão claramente procurando algo. – Disse baixo – Só levanta e vai para o banheiro, escapa pela janela.
S/n arregalou os olhos e espiou rápido, Yoongi já estava colocando o pagamento na mesa.
- Merda. – Murmurou ao ver que eles se aproximavam – E quanto a você?
- Finge que está terminado comigo. – Ele também estava assustado.
- O que? Não era para ser discreto? – Ela resmungou.
- Só faça! Vou conseguir sair pela porta da frente e você escapa pela janela. – Eles sussurravam alto.
S/n descordava completamente daquilo, o certo seria girem o mais natural possível, mas aquelas máquinas em suas cinturas poderiam apitar a qualquer momento. A garota pegou um copo d’água na bandeja da garçonete que passava do lado e jogou na cara dele. A água estava gelada e com gelo, e estava nevando lá fora, era a forma dela de se vingar pela forma que foi tratada nos últimos dias. Obvio que todo mundo olhou.
- SEU BASTARDO! COMO PÔDE ME FAZER SAIR DE CASA PARA VIR AQUI SÓ PARA ME CONTAR QUE ESTÁ DORMINDO COM A SUA IRMÃ? – S/n se vingaria até seu último suspiro.
- Porra S/n, como a irmã? – Yoongi ficou um pouco bravo por ter usado uma ocasião tão problemática em público. Mas tinha que entrar no personagem ignorando os cochichos a sua volta – Não é culpa minha! Eu tentei te amar mais, mas não deu certo!
- NÃO DEU? EU DEI TUDO DE MIM E VOCÊ TEM A CARA DE PAU DE DIZER ISSO? VOCÊ É MESMO UM IDIOTA! – Cruzou os braços.
- De fato o idiota sou eu de ter gastado tanto tempo da minha vida tentando te mostrar meus sentimentos, mas só tendo que ver sentado tudo acontecer diante dos meus olhos. – Limpou o rosto e aquilo calou S/n – Depois de anos de esforço eu consegui ter seu coração, mas você me tratava como os outros. E QUER SABER? EU DE FATO ESTOU DORMINDO COM ELA! PORQUE ELA ME VALORIZA MAIS DO QUE VOCÊ ME VALORIZOU EM TODOS ESSES ANOS!
As pessoas ficavam cada vez mais espetadas com essa história de novela mexicana. S/n começou a recolher suas coisas com certa raiva.
- Você é um idiota Min Yoongi. – Disse mais baixo e foi batendo pé para o banheiro.
Yoongi ficou sentado vendo a cara de espanto da garçonete que viu tudo acontecer de camarote. Ele mostrou o dinheiro e levantou.
- Fica com o troco. Eu estou indo ali... ficar com a minha... irmã... porque ela me valoriza mais. – Ele estava com tanta vergonha que só andou o mais rápido que pode.
Assim que ele passou do lado dos policiais a máquina disparou, ele tinha duas opções, ou ele fingia surpresa ou fugia. Obvio que ele já sabia que isso aconteceria, e é obvio que ele escolheu fingir surpresa. Primeiro ele fingiu tomar um susto com o apito, depois ele começou a olhar para os lados a procura do tal “culpado”.
- Vamos checar todos, formem uma fila. – O policial anunciou.
- Droga, seu policial, isso vai demorar? Tenho que buscar minha filha na casa da cuidadora dela! Está tão tarde. – Olhou o relógio de punho.
A cara do policial estava quase que escrita um: “a filha não é com a irmã, certo?”. O homem viu o estado do Yoongi e só estalou a língua.
- Só saia daqui moleque. Você já passou por maus bucados aqui. – Fez um sinal com a cabeça para que ele saísse.
- Obrigado, seu policial. O senhor é o melhor. – Disse sarcástico e só saiu dali. Não achou que seria tão fácil, então saiu o mais rápido possível antes do homem notar o erro que cometeu.
Yoongi poderia ir embora, mas ajudaria S/n a pular quando atravessasse a janela, então só ficou escondido ali. Enquanto o garoto se mantia esperando, a moça estava tentando subir no vaso para alcançar a janela que parecia pequena de mais para ela, mas não custava tentar.
- Ideia idiota, é claro que eu teria que ficar com o mais difícil. – Murmurou jogando sua mala para o outro lado.
S/n tentou pular mas assustou quando quase caiu do vaso, seria um tombo feio e ela já estava cansada de mais de machucados. O calcanhar não ajudava e o fato de o punho estar enfaixado a fazia escorregar.
- Quer saber? Quem liga? – Desenrolou as faixas do punho e o forçaria mesmo que doesse, era a única forma de sair dali.
Mesmo com medo ela começou a dar pulinhos e por fim conseguiu se prender na janela, poderia sorrir pela vitória, mas a dor a incomodava. Já ia dar impulso para subir quando a porta do banheiro de uma vez, o susto foi tão grande que ela só soltou e, por sorte, conseguiu aterrissar de forma descente. Os olhos dela estavam arregalados como os de coruja, não fazia ideia de quem estaria ali, mas sabia que tinha o pisado firme.
- Tem alguém ai? – Uma voz masculina disse no corredor.
Ninguém respondeu. Ele iria embora, mas teve que voltar quando seu radar começou a apitar avisando que tem algo suspeito naquele banheiro. S/n começou a xingar mentalmente e sentou no vaso escondendo suas pernas, ele andava devagar a procura de quem quer que seja, o colar da S/n esquentou e começou a vibrar... problemas estão a frente. A moça pôde observar um par de pés parados em frente a sua cabine e o som do radar aumentar. Foram milésimos de segundos, ele praticamente arrombou a porta e S/n tentou pular pela janela, suas mãos estavam agarradas as bordas da janela enquanto ele a puxava pelo pé com força, a moça começou a ficar receosa por sentir que os instintos estavam querendo tomar conta de seu corpo novamente, não podia deixar. Não aguentaria muito tempo, o cara deveria ser pelo menos duas vezes maior que ela, sua melhor opção foi dar um chute em seu nariz, o homem a soltou para cobrir o local que sangrava e ela conseguiu colocar metade do corpo para fora, Yoongi a viu e arregalou os olhos e foi ajuda-la a sair, mas novamente o homem a segurou e puxou com muita força a fazendo cair para dentro. S/n bateu de costas no chão e sua cabeça foi junto, alguns resmungos de dor e o policial foi furioso para cima dela a apertando o pescoço, queria apaga-la para ser mais fácil de levar, até porque não poderia a nocautear em público.
- Você vem comigo, vermezinho. – Apertou com mais força.
- Acho que hoje não. – Conseguiu dizer com o que lhe restava de força.
As pupilas dela dilataram e seus olhos pratearam, S/n nocauteou seu rosto com muita força o fazendo bater a cabeça na pia, o chão virou um mar de sangue. A mesma levantou tossindo e com a mão na garganta. Por um segundo ela ficou impressionada pela resistência do homem, pois ele levantou e voltou a uma posição de luta como se a cabeça dele não estivesse sangrando horrores. Ele a tentou dar um murro, mas ela desviou, conseguiu acertar um golpe na boca do estômago do cara e o jogar contra a parede.
- Não sabe com quem está se metendo, eu acho melhor você se render. – Ele disse ofegante enquanto levantava.
- E eu acho que não passa de um mortal com medo. – Sorriu ladina e lhe acertou um chute no queixo.
O homem ficou tonto e essa foi a chance de ela avançar com mais confiança, S/n pegou a cabeça do cara e arrebentou no espelho, era possível ouvir um gemer de dor e isso parecia alimentar mais seus instintos. O policial tentou encostar nela mas a mesma agarrou seu grande punho fechado antes de acertar seu rosto e começou a torce-lo, o sorriso foi aumentando quando via a cara de desespero e sentia o medo aumentar, S/n conseguiu quebrar a mão dele e enfim o soltou. Aquele começou a se afastar assustado e S/n fez questão de pegar o bastão de choque que caiu durante e briga e posicionar bem na garganta dele.
- Sinta seu próprio veneno. – Sorriu largo e ativou na potência máxima enquanto o assistia agonizar no chão. O cheiro de carne queimada subiu e ela parou.
S/n estava orgulhosa de seu feito quando virou de costas e deu de cara com uma mulher completamente em choque, em nenhum momento a viu ou ouviu dentro do banheiro, mas isso não aprecia problema... na verdade, para alguém que estava sendo dominada pelos instintos tão gananciosos e sujos, aquilo era sua deixa. A mulher bem vestida não dizia uma palavra, apenas tremia e sentia as lágrimas caírem, a outra foi andando em passos lentos até a mesma com um sorriso diabólico.
- Não chore, querida. – Tocou-lhe um rosto – Esse é seu momento de brilhar.
- V-você... – Apontou para o homem praticamente sem vida no chão.
- Shhhhhhh. – Colocou o dedo em seus lábios enquanto passava o bastão de choque para a mulher que pegou por reflexo – Eu não, você!
Os olhos da S/n voltaram ao normal assistindo a ficha da outra cair do que aconteceria ali, a mesma começou a negar com o rosto desesperadamente e foi quando S/n forçou uma lágrima a cair, foi só uma, mas o suficiente para seu teatro quando começou a gritar desesperadamente. S/n não tinha nenhum ferimento, então não seria possível provar que ela teria entrado em uma briga corporal, sem contar que a mulher era maior que ela... isso parecia justo. Os policiais estraram de uma vez e S/n fez mais drama, saiu correndo para direção deles e escutou as máquinas apitando loucamente.
- E-ESSA MULHER! – Apontou fazendo a cara mais assustada que conseguia – Não deu tempo de fugir, e-eu...
Os policiais nem a escutaram, tudo já estava ali. S/n ficou por perto apenas para ver as máquinas apitando e entregando a pessoa errada, um sorriso sínico e completamente discreto mantinha em seus lábios enquanto assistia o circo pegar fogo. Ela não se reconhecia quando estava assim, não sabia no que se tornava, era como se outra pessoa tomasse conta de seu corpo... quase como um parasita, mas não podia negar que cenas como essas a deixavam mais vivas. S/n saiu pela porta da frente ao lado dos policiais, nunca que um sobrenatural teria essa audácia. Ela foi sorrindo para o amigo que segurava sua mala com uma cara assustada.
- Você o que fez? – Yoongi começou a cheirar ela – Não! – Disse preocupado.
- O sangue dele tem um gosto amargo. – Sorriu e colocou o dedo que estava com sangue do homem na boca.
- S/n! – Dessa vez foi mais surpreso do que preocupado, mas pode ver a moça voltando realmente ao normal e se livrando dessa sua sombra.
- O sangue dele... tem um gosto... amargo... – Repetiu em um tom preocupado e afastou a mão da boca para ver os dedos melados de sangue alheio – E-eu j-juro que não f-fiz... nada. – Ela olhou seu estado – Eu juro... O que eu fiz? – Os olhos foram de sedutores e sádicos para algo assustado e apavorado – Eu não...
S/n apagou nos braços do amigo que a puxou para um lugar mais reservado. Ele a deitou na neve e sentou do lado passando a mão no rosto, não podia acreditar que aquilo havia acontecido de novo. De longe ele conseguiu ver a ambulância chegando e carregando um corpo, parecia que um caminhão tinha atropelado o homem em questão, os médicos tentavam reanima-lo em vão. Yoongi já sabia o destino daquele cara... ninguém sai vivo das mãos daquela mulher.
- Porra porra porra! – Levantou e chutou a neve.
Ele passou as mãos no cabelo e a viu deitada tão inocente na neve, parecia tão jovem e inofensiva... no que a S/n havia se tornado? Começou a pensar em possibilidades do que fazer, teria que a levar para sua casa e torcer para a irmã estar dormindo, era mais perto que a casa dela. Yoongi deu um jeito de pega-la no colo e foi dando pequenos passos até seu prédio, não queria escorregar na neve, por sorte o elevador estava vazio e isso o fez ganhar tempo. Ele tentou abrir a porta em silêncio, mas seu plano foi completamente falhado quando CL só abriu a porta de uma vez.
- Por que demorou? – Ela parecia um cachorrinho com o irmão agora – Me deixou preocupada.
- Tudo bem, só me dê espaço. – Ele de fato não queria trombar com a irmã naquela ocasião.
- Que cheiro de sangue é esse? – Fungou o ar enquanto o irmão levava a amiga para o quarto de hospedes – Fenrir, ela está cheirando a sangue humano, não consegue sentir?
- É Yoongi. – Virou de uma vez para ela quando posicionou melhor S/n na cama – E sim, eu consigo.
- O que aconteceu? Por que ela está aqui? Está machucado? – Ela nem respirou.
- Só vamos sair daqui. – Pediu a tirando do quarto.
- Não, me conta o que aconteceu! – Segurou sua mão a fazendo voltar – Não vou conseguir dormir com esse cheiro forte.
Yoongi respirou fundo, confiava na irmã, mas sabia que S/n não confiava e que ficaria muito chateada se soubesse que ele saiu espalhando isso para os outros.
- Ela só, acidentalmente, machucou alguém. – Fechou a porta – Agora vá dormir, está tarde.
- O cheiro está muito forte para um machucado, o que ela fez? Rolou na ferida? – Tentou espiar – O que está escondendo?
- Chaerin, só esquece isso e não comenta com ela amanhã okay? S/n precisa da nossa ajuda agora, então colabora. – Suplicou.
- Por que eu deveria a ajudar? – Arqueou uma sobrancelha.
- Porque ela é minha amiga. – Ficou um tempo calado – E você já esteve na situação dela, então só se coloque no lugar.
CL pensou um pouco e ligou os pontos. Os sobrenaturais em geral não gostam de matar as pessoas, por isso eles ainda estão vivos, mas as vezes era preciso se defender de um jeito mais agressivo.
- Disse que sabia o que ela é, se isso for verdade, vai entender. – Yoongi finalizou e respirou fundo – Só me deixa respirar um pouco.
A mesma continuou parada quando o irmão saiu, sentiu na pele o peso que é isso. Apenas abriu uma fresta da porta e viu que S/n estava de fato desmaiada e não dormindo, então respirou fundo e trancou a porta... sim, trancou. Se ela era capaz de fazer aquilo com um mortal, faria com eles também. Não queria perder o irmão de novo.
[...]
Os meninos foram para faculdade no outro dia como se nada houvesse acontecido, S/n nem questionou o fato de ter dormido na casa do amigo ou de só lembrar de ter tentado pular a janela no outro dia, para ela a noite acabou naquilo.
- Nossa, você está péssima. – Hoseok viu a moça com uma cara séria e olhando para o nada enquanto soltava a fumaça pela boca.
- Só não dormi bem. – Murmurou.
- Ficou com medo do que aconteceu ontem? Fiquei sabendo que aconteceu perto do apartamento do Yoongi. – Arrumou melhor a mochila.
Yoongi o jogou um olhar de repreensão, mas o amigo não entendeu a razão.
- É, pode ser. – Coçou a sobrancelha e voltou o cigarro na boca.
- Vocês não viram a movimentação? Já tinham ido embora quando aconteceu? – Cruzou os braços.
- Vamos parar de falar disso. – Yoongi murmurou.
- Não, deixa ele falar, que mal tem? – CL colocou lenha na fogueira – Fiquei sabendo que um sobrenatural agrediu e matou um policial.
S/n nem estava ouvindo, estava em outro paralelo, também não se importava.
- Foi, parece que pegaram ela, só que os testes deram negativos. Iam liberar, mas analisaram melhor e viram que uma mulher normal não teria força para fazer aquilo. – Hoseok comentou.
- Normal? – Yoongi fechou a cara.
- Acha que um sobrenatural é normal? – Hoseok o olhou.
- Anormal são vo- - Ia falar, mas se conteve – Esquece.
- Não quis ofender, sou até a favor da resistência, mas... – Ia falando.
- Sempre tem o mas. – Revirou os olhos.
- Mas dizer que eles são normais não faz sentido. São diferentes de nós, o caso de ontem só provou isso. – Continuou – Existem coisas que são fatos, e fatos são incontestáveis.
- Então acha que os sobrenaturais são assassinos? – Yoongi o olhou com tédio.
- Alguns são, também não vamos generalizar. – Deu de ombro.
- Os humanos estão matando o planeta que os sobrenaturais fizeram com todo cuidado para eles, vocês os prendem e sabe-se lá o que fazem, e vocês matam uns aos outros, como que nó- - Foi interrompido pela irmã.
- O que ele quer dizer, é que NÓS humanos cometemos erros, mas os sobrenaturais tem um poder destrutivo maior do que os dos humanos. – Explicou para o irmão não se entregar.
- Exato. – Hoseok sorriu para ela – Sei disso porque antes de morrer minha irmã trabalhava na parte de ciência genética do laboratório, ela me contava muita coisa, e realmente não tem como eles serem normais.
Yoongi e CL se olharam no exato momento em que ele contou com o que a irmã trabalhava, um ar de estranheza tomou conta do lugar e Yoon o encarou bem esperando ele rir.
- É brincadeira ne? – Fez careta.
- Não, ela me contava tudo. Me da arrepios só de lembrar. – Passou a mão no peito.
- Sua irmã trabalhava com gene? De sobrenatural? Está me dizendo que sua irmã pegava o gene deles e analisava? – Continuou com a mesma cara.
- Sim, o que tem mal nisso? – Deu de ombro.
Os irmãos trocaram olhares de novo e CL negou com o rosto quase o mandando calar a boca.
- Nada, é que não sabia que existia essa área. – Mentiu.
- É, era bem legal. – Sorriu ladino.
S/n estava completamente distraída fumando seu cigarro sem nem ouvir o que estavam discutindo, mas arregalou os olhos com o susto quando Hoseok só puxou a cintura dela e começou a beija-la, ela podia não saber do que era o assunto, mas sabia que não era sobre ela ou algo que cabia um beijo repentino. Yoongi e CL se olharam um pouco estranhos pelo fato de ter sido algo aleatório, foi quando o motivo chegou. Jungkook puxou o ombro dela a fazendo dar uns passos para trás e meio que ficou entre o casal encarando como a morte Hoseok que mantinha a feição despreocupada.
- São sete da manhã. – Reclamou – É uma ótima hora para engolir os outros na frente da faculdade.
- Se não gosta pode só nos dar espaço. – Hoseok deu de ombro.
- Prefiro manter o café no meu estômago. – Disse mais perto dele.
Jungkook olhou para S/n que só mantia uma cara indiferente, ela voltou a fumar como se nada tivesse acontecido e voltou a posição que estava antes.
- Por que está com essa cara de derrota? – Yoongi o encarou.
Jungkook estava com cara de quem adoeceu e passou a noite em claro, até sua postura era diferente.
- Tive um sonho ruim e não dormi de noite. – Coçou o olho.
- Uhh, tem medo de fantasmas, garoto estrelinha?! – Hoseok provocou.
Jeon poderia arrebentar a cara dele bem ali, seria muito satisfatório para ele, mas o mesmo lembrou de como S/n sorria e estava feliz em seu sonho, a olhou de relance e percebeu como era difícil ver a imagem de agora, uma garota com um olhar completamente e claramente vazio, com uma saúde com certeza questionável e sem nenhum rastro de otimismo... era difícil de mais.
- Saiba que na primeira oportunidade que eu tiver, vou te fazer reviver todos seus medos. Aí vemos quem tem medo de fantasmas. – O rapaz o olhou nos olhos.
Com Hoseok tão perto ele pode prestar mais atenção, ele tem traços familiares que ele não lembra de onde é, talvez tivesse conhecido alguém parecido, mas isso não o trazia memórias boas.
- Estou esperando, vai ser bem divertido. – Provocou de volta.
- Vocês homens são um saco. – S/n murmurou e saiu dali esbarrando nos dois.
Assim que ela passou pelo Jeon, ele sentiu um cheiro estranho, o mesmo pensou um pouco e então olhou surpreso para Yoongi, no mesmo instante o mais velho o puxou para um canto.
- Por que ela está com cheiro de sangue humano? Eu vi o que aconteceu perto do seu apartamento ontem. Por que ela está com cheiro de sangue? Yoongi, o que aconteceu? – Os olhos dele continuavam arregalados.
- Não foi nada, não estávamos lá. Só fica de boca calada. – Continuou o puxando.
- Yoongi, eu sinto cheiro de mentira, não esconde as coisas de mim! Prometemos compartilhar tudo que acontecesse! – Puxou o braço das mãos dele.
- Vamos compartilhar coisas sobre o laboratório, nossas vidas pessoais não tem nada haver com isso. – Respirou fundo.
- Yoongi... – Chamou mais uma vez.
- Eu não vou contar nada! – Mudou um pouco o tom de voz e viu a feição dele, o que o fez parar.
- Eles a machucaram? Ela vai ter que fugir de novo? – Jungkook estava claramente chateado.
Yoongi observou bem aquilo, não sabia distinguir se era genuíno ou atuação, mas nunca foi uma boa confiar em gente como ele.
- Te conto o que sei se me contar o que aconteceu no dia que a levou embora. – Cruzou os braços.
- Por que quer saber disso? – Era uma coisa intima dele com S/n, um momento raro que ele queria que ficasse só entre eles.
- Por que quer saber se ela vai embora? – Rebateu.
Aquilo o deixou sem saída, odiava quando as pessoas tinham argumentos melhores que os dele.
- Certo, eu conto. – Respirou fundo – Estava em casa quando Seth me ligou pedindo para buscar a S/n porque tinham pego a mão dela, não me contou muito, só me disse que ela levou uma surra do namorado e que o sangue estava por toda parte. Passei o resto do dia a procurando e só encontrei aquela hora. Eu nem sabia onde a deixar, Seth não queria que ela fosse pra casa dele, mas eu fui mesmo assim. Quando estávamos saindo uns policiais chegaram e eu teletransportei a gente para o topo daquela árvore gigantesca que tem do lado do estacionamento.
- Árvore? S/n odeia altura. – Negou com o rosto.
- Eu sei, mas eu consegui a acalmar quando a ab- - Queria deixar o abraço e o milésimo momento de confiança para si – Quando fiquei conversando com ela.
- E a jaqueta? – Continuou questionando.
- Eu emprestei quando ela começou a sentir frio, S/n é mais sensível ao frio já que tem pele quente.
- Como sabe que a pele dela é quente? – Fechou a cara.
Ele mordeu a própria língua por falar demais.
- Porque o pai dela é do Egito e a mãe da Grécia, ate onde eu sei são locais quentes. – Conseguiu reverter a conversa – Enfim, ficamos lá um tempo e ela me pediu para a deixar na entrada da cidade dizendo que tem um carro abandonado lá e que passaria a noite nele. Estava muito frio, então comprei uma barraca e comida, disse que voltaria no outro dia para buscar ela e quando cheguei já tinha sumido. Sua vez.
- Cuidou dela. – Até ele estava surpreso – Você cuidou dela!
- Claro que não, qualquer um faria isso! – Estalou a língua – A deixaria morrer no frio?
- Quanto o pai dela te pagou?
- Eu não sou comprado tão facilmente, okay? – Fechou a cara.
- Quanto?
Um silêncio formou e Jeon ficou mexendo nas mãos.
- 200 euros. Mas eu... esquece, você não entenderia. – Reclamou.
Yoongi já podia esperar que esse “cuidado” havia tido um custo, ele nunca cuidaria dela tão facilmente, sentiu-se um tolo por acreditar que talvez tivesse sido de coração.
- Agora me conta você o que aconteceu. – Respondeu.
- Uns caras seguiram a gente até o restaurante e eu pedi para ela pular a janela do banheiro, só que um dos policiais entrou e tentou a pegar. – Foi falando.
- Ele a machucou? – Fechou a cara.
- Ele tentou sufocar ela, mas acho que já sabe quem venceu a briga. – Estranhou – Enfim, ela fez o que fez e culpou uma mulher que estava lá.
- Ela o matou? – Ele estava exalando preocupação e curiosidade.
- Ela se defendeu, okay? Não tinha outro jeito! Você e eu faríamos o mesmo! – Brigou.
- No noticiário diz que foi uma briga intensa e que o homem foi eletrocutado por mais dois minutos depois que parou de respirar. – Lembrou.
- Pestinha... ugh! Que raiva que você me da! – Bufou – Talvez ela tenha perdido o controle, mas não é culpa dela, ela é sangue puro e essas coisas acontecem.
- Acredita na divisão de sangue? – Ate parou para olha-lo.
- Acredito que não é tão simples manter o controle. – Falou firme – Só não comenta nada com ela, okay? Ela não se lembra e é melhor que fique assim.
- Como ela pode não se lembrar? Aconteceu ontem! – Fez cara de tédio.
- Isso não é problema seu, agora chega de conversa. – Yoongi virou as costas e saiu murmurando.
[...]
S/n estava prestando atenção na aula com a mão na boca, ela mordia as unhas enquanto anotava com outra, estava com muito tédio e sono até que sentiu um gosto metálico em sua língua, a moça tirou a mão da boca e percebeu que atrás das unhas tinham algo vermelho, a mesma voltou a mascar a unha e o gosto foi aumentando.
“O sangue dele tem gosto amargo”, lembrou.
A garota arregalou os olhos e começou a sentir vontade de vomitar, todas as pessoas olharam para ela quando deu o primeiro gorfo, ela saiu correndo com a mão na boca e foi o mais rápido que pode para o banheiro. Não lembrava de muita coisa, mas lembrava de ter passado os dedos em um chão ensanguentado e sair com eles na boca. A mesma colocou tudo e mais um pouco para fora, ela não conseguia parar de vomitar e se sentir péssima, fantasmas do passado sussurravam em seus ouvidos sobre as atrocidades das vidas passadas, em quantas pessoas já matou e em como ela era suja por isso. A mesma só levantou e deu descarga, com uma cara de quem já morreu foi para pia lavar a boca, o gosto ainda estava ali, S/n viu a imagem de uma mulher pingando suor com os cabelos grudados no rosto e pescoço, ela estava morta por dentro e não merecia estar viva por fora. Respirou fundo e deu um murro no espelho o fazendo estourar em vários pedaços, as mãos foram para o caco mais afiado e ela se trancou no banheiro, abaixou a manga e sem muita cerimónia começou a fazer o que tinha que ser feito, ela precisava ser punida pelos seus atos, o suor começou a cair do seu queixo e nariz com mais frequência e os dentes estavam travados de dor. Foram três minutos fazendo aquilo sem parar. Ela jogou o caco para outro canto e pegou um cigarro, ficou sentada no chão fumando como se aquilo não estivesse queimando, não fazia diferença, não importava. Apenas ficou sentada fumando, sem energia nem para esperar que algo acontecesse. Alguns minutos antes do sinal bater ela levantou e limpou tudo, não queria que as pessoas entrassem e vissem que o sangue praticamente negro havia saído dela, limpou os punhos, o chão, recolheu os cacos, vestiu a blusa de frio e saiu, ela não queria contato com ninguém, então só foi para onde costumava passar as horas, o estúdio de artes.
[...]
Jungkook acordou assustado e a mãe logo veio o abraçar, ele não conseguia falar por longos minutos e Lilith começou a ficar desesperada com isso, Lúcifer achou tudo muito estranho – já que o filho não tinha pesadelos assim a anos – e viu os desenhos no braço sem tatuagens do menino.
- Lilith. – Chamou atenção aos ver os símbolos.
- O que foi? Ele não está bem a dias, é culpa minha querer dar um pouco de paz pro meu filho? – Brigou ainda com Jungkook em seu ombro.
- O-o que v-você f-fez? – Viu os desenhos no braço.
- Não é nada querido, mamãe só quis ajudar. – Fez carinho em seu cabelo.
- E olha o que fez! Ele parece bem perturbado para mim! Sabe que esse tipo de feitiço só funciona quando a pessoa está psicologicamente bem e que é preciso dar algo em troca para que dê certo! Se sabia que ele não estava bem, por que fez? – Lúcifer brigou.
- Eu não pensei, okay? – Estalou a língua – Vou fazer um chá calmante.
Assim que Lilith saiu do quarto, Lúcifer bufou. Ela era uma ótima mãe, mas não sabia a hora de parar. Lilith sempre deu tudo para Jungkook e eles sempre tiveram uma amizade muito boa, a única desavença vinha quando o assunto era as castas de sangue e a própria S/n, mas de resto, era uma relação de dar inveja; Lúcifer não ficava muito atrás, ele também cuidou muito bem do filho caçula, mas é um cara ocupado, então sempre procurou dar tudo de si nos tempos livres. O pai sentou na cama e viu o filho parando de chorar e tentando limpar os símbolos que a mãe fez em seu braço.
- Hey, calma. – Ele pediu e foi buscar um pouco de álcool para limpar. O silêncio ficou até que ele mesmo o quebrou – Então, sonhou com o que?
- Não quero falar sobre isso. – Disse ainda dando umas fungadas.
- Deve ter sido algo bom, consegui sentir uma energia positiva saindo do seu quarto por um tempo. – Deu um sorriso ladino...
Jeon lembrou da primeira cena de quando S/n apareceu sorrindo em seu quarto, e da cena em que ela dizia que o pesadelo do Laboratório havia acabado, e de quando disse estar gravida dele... foram bons momentos.
- É, talvez. – Desviou o olhar.
- E o sonho desandou tanto a ponto de acordar em pânico? – Terminou de limpar o braço do filho.
- É só que... – Passou a mão no rosto – Esquece, estou cansado.
- Tudo bem, pode me contar se quiser e quando quiser. – Deu dois tapinhas no ombro dele, respeitaria seu espaço.
Lilith chegou com um chá quentinho e deu ao filho, Jeon olhou para aquilo e depois para os pais que estavam com uma feição preocupada.
- Vocês são os melhores pais do mundo. – Sorriu pequeno.
Lilith respirou pesado e abraçou o garoto.
- Desculpa ter feito isso, eu só estava te sentindo muito tristinho esses dias, as pessoas costumam ter sonhos bons com esse feitiço. – Ela estava realmente chateada.
- Tudo bem, mãe. Não foi sua intenção me fazer mal. – Retribuiu o afeto.
Lúcifer foi e abraçou sua família também, e assim como quando era criança, Jungkook dormiu com os pais aquela noite, mas ele não conseguiu pregar os olhos, flashbacks do sonho apareciam e ele só se sentia pior. Quando o sol o apareceu estava exausto, a mãe pediu para que ele ficasse, mas o mesmo afirmou estar faltando muito e que reprovaria se isso acontecesse.
[...]
- ... Mas nós temos que conversar com o time, semana que vem voltam os treinos e nós já vamos ter jogos. – Jimin falava com o canudo do milk shake na boca, o frio externo já não parecia ser o suficiente – Cara, vocês está me ouvindo?
Taehyung chegou com uma sacolinha que continha o lanche que a própria mãe preparou – ele sem sombra de dúvidas era o mais mimado entre os três – e com uma cara desconfiada, sentou ao lado dos amigos e começou a tirar sua comida.
- Que foi que está com essa cara? – Jimin bagunçou seu cabelo.
- Acharam um sangue escuro no banheiro feminino. – Deu a primeira mordida e todos olharam para ele – Mas creio que não seja de uma sangue puro, é bem mais escuro que os nossos.
- Mas então de quem seria? – Jungkook estranhou.
- Não sei, talvez tenha uma ninfa ou ser mitológico aqui. – Deu de ombro.
- Ninfas tem sangue rosa e a maioria dos seres mitológicos tem sangue branco, não faz sentido. – Jungkook continuou a estranhar.
- Eu não sei, okay? Só fiquei sabendo porque passei na porta do banheiro feminino e o Namjoon estava com uma cara suspeita, ai ele me disse que tinha resto de vidro no chão e umas gotas aleatórias de sangue preto na parede. – Mordeu o sanduiche de novo – Por isso que acho que não foi sangue puro, nosso sangue é escuro, mas não chega a ser preto.
- Quem iria ter sangue preto? – Jimin escorou no banco e começou a pensar – Nunca ouvi falar.
Enquanto eles pensavam sobre de quem era a dona do sangue os outros foram chegando, primeiro Eunwoo, depois veio o Jin e para surpresa de todos, Yoongi, CL e Namjoon também compareceram, Rosé foi com eles, mas a moça é sempre muito calada. Um silêncio ficou quando o “grupo inimigo” apareceu, Yoongi nem olhava pra cara do Jungkook dando a certeza de que aquilo não foi ideia dele.
- Nossa gente, que silêncio, nem parece que já fomos próximos. – Namjoon comentou.
- Deixamos de ser próximos quando sua amiguinha começou a implicar com a gente. – Jimin murmurou.
- Não fala assim dela! – Yoongi levantou um pouco o tom de voz, mas quando viu que era o Jimin, mudou a postura – A culpa não foi só dela.
- Eu não tenho nada contra ela, mas vamos concordar que foi ela que começou as discussões. – Taehyung rebateu.
- Sim, mas ate onde eu sei ela e o Jungkook sempre tiveram uma relação conflituosa. – Rosé soltou e todos olharam para ela – Eu disse algo errado?
- Onde ouviu falar disso? – Foi a vez do Jeon falar.
- Nos corredores, as pessoas estão sempre falando de vocês. – Deu de ombro.
Isso era verdade, talvez o grupo de sobrenaturais não fosse tão quieto assim.
- Isso não importa agora. – CL começou a falar – O que importa é que nós só estamos aqui porque sabemos que temos que ficar juntos. Alguém recebeu alguma coisa semelhante ao o que a S/n recebeu?
Todos olharam entre si e negaram com o rosto, alguns até mesmo checaram os celulares.
- Continuo pensando que ela é o alvo e que não temos nada haver com isso. – Eunwoo roubou o outro pedaço do sanduiche do Taehyung que fez uma cara feia – Sou seu tio, eu posso.
- Mas volta o questionamento de porque ela e não os de alta classe. Não faz sentido atacar um sangue puro se estamos tão expostos quanto ela. – Jimin observou.
- Talvez estejam com um plano de pegar os mais baixos e depois ir subindo. – Jin deu de ombro.
- Não, eles teriam ameaçado Namjoon e Rosé se fosse assim. – Yoongi pensou – E se eles não estiverem interessados nos semi deuses?
- Isso faz mais sentido, mas se fosse assim, eu também teria recebido uma ameaça. – Tae voltou a comer.
- Gente, só um segundo. Por que estamos discutindo sobre isso se nem sabemos que ameaça ela recebeu? As vezes de fato é o foco é ela e nós estamos perdendo tempo. – Eunwoo falou e ganhou atenção, naquele momento era o que mais fazia sentido.
- Porque... – Jungkook tentou pensar mas nada veio em sua mente – Onde ela está, afinal?
- Com Hoseok. – Yoongi nem olhava para o rapaz mas podia sentir o ciúmes tomar conta.
- Eles estão tendo algum tipo de relacionamento?
- Porque quer saber? Está com ciúmes? – Uma voz veio atrás dele e todos olharam para Hoseok.
- Para com esse papo de ciúmes. – Jungkook estalou a língua e viu de relance que Jimin e Taehyung trocaram um olhar suspeito, isso rendeu uma cotovelada de leve na costela do Jimin que estava mais perto.
- Enfim, temos mesmo que ficar com... eles? – Hoseok olhou com certo desgosto para os outros.
- Estamos resolvendo um assunto particular, pode ir embora agora. – Jeon olhou para ele e deu um sorriso forçado.
- Eu já ouvi a conversa, sua anta. – Falou e foi indo para o lado do Yoongi. Todos arregalaram os olhos e ficaram meio paralisados – Estão falando das ameaças que a S/n recebeu.
Eles esperaram que ele falasse mais do que ouviu, mas o silêncio prevaleceu, era só aquilo. Suspiros aliviados foram soltou e eles voltaram como se nada tivesse acontecido.
- Falando nela, onde está? – Hoseok virou para Yoongi.
- Não está com você? - Estranhou.
- Não, pensei que estivesse com você. – Fez a mesma cara.
Yoongi sentiu alguém cutucar o ombro dele e virou dando de cara com a Wendy, ela não estava com uma cara muito boa e o encarou de cima a baixo com certo deboche.
- Eu não queria fazer isso, mas vou levar em consideração a amizade que nós tínhamos. O material da sua sombra está na sala, ela passou mal e foi embora. A burra nem para recolher suas coisas. – Revirou os olhos – Não me peça para recolher, sou capaz de botar fogo naquilo.
Yoongi olhou para Hoseok sem entender e sentiu Jungkook arrumar a postura.
- O que ela teve? – Yoongi ficou preocupado, sempre que ela não estava se sentindo bem ligava para ele.
- Sei lá, não sou babá dela igual você. Só sei que ela começou a querer vomitar e saiu correndo, depois disso não voltou. – Deu uma risada soprada – Que isso, ela está grávida?
O mais velho a viu ter a ousadia de pegar o celular e começar a digitar, 99% de chance de ela estar espalhando mais algum boato sem fundamento. Yoongi segurou o punho dela com força e fez o aparelho cair.
- Você é bem inferior ne? – Falou com descaso – Compartilha o que você não sabe, mas lembra de que ainda tenho print de você implorando pela minha atenção que nem um cachorro abandonado.
- Está me ameaçando? – Riu.
- Se sente ameaçada? – Arqueou as sobrancelhas.
Wendy só olhou para os outros e se livrou das mãos dele, pegou o celular e foi embora digitando, ele já sabia que a garota iria espalhar o boato mesmo assim. Um silêncio ficou e foi assim que Yoongi e Jeon finalmente trocaram olhares não muito bons.
- Hoseok, você chegou a ver ela? – Os olhos dele estavam arregalados.
- Não, que cara é essa? – O garoto arrumou a postura.
Mais uma vez Min e Jungkook se olharam e os dois ficaram em alerta.
- EU vou recolher o material na sala. – O caçula se prontificou.
- Por que faria isso? – Jimin riu.
- Porque sim. – Nem respondeu direito e saiu.
Yoongi não falou nada, só saiu a procura da garota junto com Yoongi. Assim que saíram de vista, Yoon puxou o braço do outro.
- Você a procura. – Determinou.
- O que? Você sabe melhor do que eu onde ela se esconde. – Falou em um sussurro baixo.
- Você é mais rápido com o teletransporte. Vou recolher o material e te ajudo a achar. – Foi andando mas o outro o chamou antes de entrar na faculdade.
- Taehyung contou sobre um sangue e cacos de vidro encontrados no banheiro feminino. Ele fica no mesmo prédio da S/n e do Namjoon... e se... e se... – As mãos dele começaram a tremer.
Yoongi respirou fundo, ele que a encontrou morta na última vida, foi uma situação muito difícil e talvez por isso que ele tenha pedido para Jungkook a encontrar, não queria correr o risco de ver aquela cena de novo.
- Se a encontrar, me liga. – Foi tudo que disse.
Jungkook ficou um tempo parado olhando para o nada sem muita energia para fazer seu trabalho. Finalmente tomou coragem e foi ao banheiro, começou a se teletransportar para lugares que tivesse onde esconder, ela não estava em lugar nenhum, foram 10 longos minutos a procura e a cada minuto o coração batia mais forte. Jeon foi para o telhado da faculdade e perdeu as esperanças, estava frustrado quando finalmente virou o rosto e viu de longe alguém na sala de artes. Os ombros relaxaram. Jeon se teletransportou para sala e no mesmo segundo tocou nela e se teletransportou de novo para o topo daquela árvore que ficaram da última vez. S/n arregalou os olhos e se prendeu a ele, naquele momento a roupa suja por conta das mãos da moça não o incomodou, só queria ter certeza de que ela estava bem.
- Me tira daqui. – Ela tentou não olhar para baixo – Me tira daqui! Me tira daqui!
- Calma. – Pediu.
- Se não me tirar, eu vou pular! – Ameaçou.
- Vai em frente então. – A soltou e fez com que ela se equilibrasse sozinha. S/n teve que se prender em qualquer coisa a impedisse de cair, a moça ficou na ponta dos pés e segurando um galho que estava um pouco alto demais, ela teve que ficar levemente inclinada e pelo medo acabou escondendo o rosto.
- Obrigada por estragar mais meu dia. – Murmurou com a voz tremula – O que quer fazer? Me chantagear pelo policial que matei? Eu já sei que você sabe!
Jeon caiu os ombros, ela estava literalmente tremendo de medo, mas se descessem ela não o ouviria.
- Não, S/n! Não vou te chantagear. – Esticou a mão para que ela pudesse confiar nele, mas a mesma apenas desviou o rosto. – Eu não vou te deixar cair.
- Eu não confio em você. – Continuou murmurando.
- Gatinha, eu- - Ia falando, mas foi interrompido.
- Não me chama assim! – Ela finalmente fixou o olhar nele – Só me tira daqui! Eu te pago!
- E eu te pago se ficarmos um pouco aqui! – Determinou – S/n, se continuar nessa posição, vai cair!
Ela viu que realmente estava instável e que se o braço cansasse iria cair, o que era bem provável, levando em consideração que eles já estavam machucados. Ela olhou para o rapaz e depois para baixo, foi dando alguns passinhos até a direção dele que a recebeu de braços abertos.
- Nem pense em me abraçar. – Deu um tapa na mão dele – Sai do meu caminho, vou sentar no meio.
Ela foi de passinho em passinho ao centro da árvore que parecia mais seguro, finalmente sentou no pequeno espaço. Jungkook só pegou o celular e informou ao Yoongi que estava com ela, e depois ignorou as outras várias mensagens perguntando onde estavam.
- Você nos preocupou. – Ele soltou e S/n permaneceu calada – Não foi culpa sua!
- Quanto tempo vamos ficar aqui? – Não queria olha-lo.
- S/n... todos nós já fizemos isso. – Tentou a consolar, mas não recebeu resposta – Precisamos disso para nos defender.
- Está me dizendo que já matou pessoas? – Ficou olhando para o lado.
- Infelizmente foi necessário. – Jungkook nunca falava sobre isso nem para os pais, mas ele queria que a S/n entendesse que em situações em que ela estava, era justificável o assassinato. Aquilo chamou atenção dela – Não gosto de lembrar muito, mas precisei matar alguns soldados quando era criança.
- Matou pessoas quando era criança?! – As sobrancelhas dela arquearam.
- Era isso ou eu seria pego. – Deu de ombro – O mesmo com você! Foi em legítima defesa!
- Eu nem lembro o que fiz. – Respirou frustrada – Meus pais vão acabar comigo quando descobrirem.
- Hey, eles não precisam saber. – Jeon sentou perto dela – Vamos manter isso em segredo.
S/n olhou para ele e revirou os olhos, já havia entendido tudo. Ela tirou a carteira do bolso e pegou a nota mais alta que tinha o entregando.
- Agora me tira daqui, não quero cair. – Ela tentou ficar em pé, mas assustou e sentou de novo.
- Não quero seu dinheiro. – Ele tentou devolver, mas ela ficou impaciente.
- Ótimo, então quando eu pegar minhas coisas te dou meu cigarro. Só me tira daqui! – O olhou impaciente.
Jeon caiu os ombros e olhou para o dinheiro que estava em sua mão.
- Acho que você estava certa, não faria isso de graça ne? – Viu uma oportunidade um tanto quanto única.
- Já disse que vou entregar o cigarro. – Fez cara de tédio.
- Não, pode ficar com ele por hoje. – Escorou mais na árvore – Vou querer outra coisa.
- E o que seria?
- Perguntas, responda minhas perguntas. – Cruzou os braços.
S/n tinha noção de que ele não perguntaria como foi seu dia ou qual sua comida favorita... preferia pagar e entregar o cigarro.
- Só me tira daqui. – Murmurou.
- Só três! – Pensou um pouco – Vamos fazer assim, eu tenho direito a três perguntas, você vai responder as que você quiser, mas sempre que não responder uma vou fazer outra, até totalizar três.
Não parecia tão ruim agora.
- O que você tem com essas perguntas? Por que quer tanto saber sobre mim? – O olhou meio cansada.
- Porque você não é só a garota misteriosa de coração frio da faculdade, é também a que ninguém sabe nada entre os sobrenaturais. Seu mistério me instiga. – Sorriu – Topa?
- E se eu não quiser? – Continuou com o tom cansado.
- Aí vai ter que descer sozinha. – Deu de ombro olhando para baixo.
- Bem abusivo você hein?! não é de se esperar menos. – Estalou a língua.
Jungkook se sentiu culpado por estar sendo abusivo com ela, mas aquele era o único momento claro de interação entre eles.
- Se você não quiser vai ter que sair para jantar comigo. – Propôs.
S/n fez a careta mais estranha da vida, por um segundo ela pensou ter batido a cabeça e ouvido errado.
- Eu só posso estar louca. – Passo a mão no rosto.
- Vamos, perguntas ou jantar? – Continuou sorrindo.
- O menos pior vai ser as perguntas, então faça. Já vou avisando que não lembro de muita coisa. – Ficou olhando para frente.
- Vamos começar com isso, por que não se lembra de nada? – Sua atenção focou toda nela.
- Porque... – Pensou, não tinha uma resposta exata – eu não sei, sou assim desde a minha segunda vida. Acho que... acho que é proposital, meu corpo deve fazer isso para evitar problemas.
- O que aconteceu na sua primeira vida pra seu corpo ficar assim? – Segunda pergunta.
- Esquece, faz outra. – Revirou os olhos.
- Okay, já consigo perceber que pelo menos da primeira vida você lembra e pela cara não foi nada boa. – Riu e mexeu nas mãos pensando e mais – Sobre o que eram as ameaças?
- Sobre coisas ruins que fiz no passado, a pessoa disse que sabe quem eu sou e me chamou de... – Não seria bom dizer aquilo para ele – um nome não muito usual.
Jungkook sabia que ela não falaria o tal nome, então não arriscaria sua última pergunta com isso. Ele tinha milhões de perguntas, mas seu cérebro só pensava na pior de todas, não queria falar aquilo.
- E você... – Ficou tentando pensar em algo melhor mesmo sabendo que nada viria – Você e Hoseok estão namorando?
S/n olhou imediatamente para ele e aquilo foi mais que o suficiente para ele se arrepender.
- Me fala qual sua aparência original? Seu animal favorito? Quantos anos você de fato tem? Desde quando tem medo de altura? Conhece Yoongi a quantos anos? – Tentou fazer várias perguntas para ver se ela esquecia o que havia perguntado anteriormente – Só responde uma dessas, por favor!
S/n permaneceu parada o olhando estranho, dessa vez ela que queria fazer uma pergunta.
- Fale a que você quiser, também quero te fazer uma pergunta agora. – Ficou de cara fechada.
Ele pensou, seria uma chance de se redimir e apagar um pouco da vergonha.
- No corredor, quando você me atacou, teve uma hora que ficou calma e fez um barulho estranho, parecia estar vindo do seu abdômen. O que era aquilo? – De qualquer modo ele queria muito saber o que era aquele som.
- Quando eu te ataquei no corredor? – Ela não se lembrava.
- Naquele dia que eu te... esquece, você não vai lembrar. – Estalou a língua – Só diz que som é esse que você faz.
- Mas eu não faço som nenhum, não sei do que está falando. – S/n parecia mesmo dizer a verdade, mas Jeon tem o nariz bom o suficiente para captar mentiras.
- Certo. – Fingiu que acreditou – Então... qual sua música favorita?
S/n precisou pensar um pouco, gosta de muitas músicas, poderia falar músicas antigas que eram sua paixão, mas ele com certeza encheria o saco.
- Não é recente, mas gosto muito de Talk Me Down do Troye Sivan... esse cara já morreu a anos, mas eu escutava quando era mais nova. – Sorriu rápido e desviou o olhar.
- Talk Me Down... vou procurar saber. – Sorriu – O que quer saber?
- Por que fica tão incomodado com o Hoseok? – Olhou diretamente para ele.
- Vamos descer. – Tentou desviar, mas S/n o segurou e sentou de novo.
- Deixei fazer perguntas idiotas, agora é minha vez. – Continuou o segurando.
O rapaz bufou e voltou a posição anterior, pensou um pouco e passou a língua na bochecha.
- Estou com certa vantagem, posso sair daqui sozinho e você não. Posso responder, mas vai ter que fazer outra coisa por mim. – Cruzou os braços.
- Só pode ser piada. – Revirou os olhos – O que quer agora? Saber onde moro?
- Seria uma boa, mas não. – Ele esticou a mão como se a pedisse algo, a garota só olhou para aquilo sem entender – Me deixa ver.
- Ver o que?
- Sabe do que estou falando. Talvez não esteja sentindo dor agora por conta da adrenalina, mas firmando em seus braços desse jeito, vai doer como a morte mais tarde. – Permaneceu na mesma posição.
- Ainda não sei do que está falando. – Desviou o olhar e parou de se apoiar nos braços.
- S/n, sinto cheiro de mentira e sei que no banheiro tinha sangue escuro e vidro. Não adianta esconder. – Esticou mais a mão.
S/n olhou para mão dele e depois para seus olhos, não sabia decifrar o que estava sentindo mas com certeza era algo relacionado a desconforto.
- Pra que quer ver isso? – Disse mais baixo.
- Quero ver o quão fundo foi, tinha sangue na parede, então você deve ter feito com força. – Seu ar meio que faltou ao pensar que ela cederia e que ele depararia com aquela cena que o machucava de alguma forma.
- Fala sério, você era assassino na vida passada! Como sabe essas coisas? Credo, garoto estranho. Me desce daqui! – Tentou levantar, mas ele começou a falar.
- Ele não é quem parece ser. Sinto cheiro de mentira vindo dele o tempo todo.
- O cheiro pode vir de outra pessoa, não é grande coisa. – Deu de ombro.
- S/n, ele diz que a irmã trabalhava com genética no Laboratório. – Lembrou.
- E o que tem? Existem muitos departamentos naquele lugar. – Continuou indiferente.
- O que tem é que não temos genes! Somos formados por matéria do universo e por isso não temos o sistema como os dos mortais, lembra? – Respondeu firme – Como alguém que estuda genética vai estar sem um gene? Não faz sentido!
S/n pensou um pouco, não estava lembrada disso.
- Ele pode parecer ser essa pessoa incrível super protetora, e ele pode até estar cuidando bem de você. Mas eu não confio em mentirosos. Sem contar que ele me lembra alguém que... eu não sei! Me lembra alguém ruim! – Negou com o rosto – O rosto dele é muito familiar, e isso não é normal para alguém que diz ter chegado agora.
- Só está inventando coisas. – Revirou os olhos – Hoseok é uma pessoa incrível, saberia se não ficasse implicando o tempo todo.
- Eu sei o que estou falando, ele é muito familiar! – Reclamou – Confia em mim, ele não é confiável!
- Para mim ele é! – Estalou a língua – Já chega disso, vamos descer.
- Te respondi, então me deixa ver seu braço. – Tentou pegar, mas ela desviou.
- Eu não concordei com isso, respondeu porque quis. – Permaneceu com a mão recolhida – Pensa bem, você foi o último a me ver, se eu sou capaz de me cortar desse jeito também sou capaz de me jogar daqui. Adivinha quem vai ser incriminado?
- Você não faria isso. – Duvidou.
Pois S/n levantou e foi andando, com medo, até a galha, Jeon ficou a olhou com deboche e a mesma apenas mostrou dedo para ele e se inclinou para frente. Até o garoto assustou e foi rápido o suficiente para segurar seu punho no ar, a manga da camisa desceu e ele pode ver o que queria. S/n estava mais uma vez tendo Jungkook como seu único ponto seguro e no mesmo lugar.
- Louca do caralho. – Murmurou e a puxou de volta.
A moça estava com a respiração ofegante, pensou que cairia mesmo... mas não fazia diferença. O rapaz a pensionou contra o tronco e colocou um braço em cada lado só para garantir que ela não faria de novo.
- Estou começando a achar que seu pai me paga muito pouco para cuidar de você. – Eles estavam hiper perto a ponto de que precisavam ficar com os rostos virados para não se chocarem.
- Quem aceita é você. – S/n tentou abaixar a manga da blusa com certa raiva, mas ele tirou a mão apenas para a impedir – Da para parar?
Jeon olhou de relance e não durou nem um segundo, não conseguia olhar por muito tempo sem pensar que se ela tivesse ido um pouco mais fundo não estaria ali... aquilo estava muito feio, de verdade.
- Hey, olha aqui. – Ele afastou um pouco só para olhar para ela, mas a mesma se recusou, então ele pegou o rosto dela com uma mão e a obrigou a olhar – Aquele remédio que te dei também ajuda a cicatrizar esse tipo de coisa. – Ela só revirou os olhos – Sei que você não vai passar, então vou pedir isso para o Yoongi.
- Está se ausentando do papel de babá? – A voz dela saiu estranha porque ele apertava suas bochechas.
“Talvez eu não saiba lidar com certas coisas”, pensou.
- Não, seu pai me paga bem para eu só te deixar em paz tão facilmente. – Sorriu para quebrar um pouco o clima.
Ela revirou os olhos e ele ficou a admirando de pertinho, desejando que aquele olhar vazio em algum momento carregasse todas as estrelas do céu como em seu sonho, ou que aqueles lábios retos se curvassem em um belo sorriso... ou tocasse os seus. O último pensamento o fez voltar a realidade e sem dizer nada eles desceram. S/n escorregou e caiu de bunda no chão, ela bufou e limpou a neve quando levantou, sem muita cerimônia a mesma saiu de perto dele arrumando as mangas. Jungkook ficou um tempo parado olhando para o chão pensando na possibilidade de que se ele não tivesse sido tão rápido, um corpo sem vida estaria atirado ali. Negou com o rosto e fechou os olhos tentando esquecer essa possibilidade, mas acabava lembrando dos braços da moça. Parece que a cada dia que tentasse se aproximar da moça, mais difícil seria. As aulas passaram rápido e naquele dia ele quis ir embora de ônibus, colocou seus fones no máximo ao som de Talk Me Down, puxou a blusa um pouco mais para cima para sentir o leve cheiro que S/n deixou em sua camisa... por um segundo ele desejou que ela estivesse ali.
Yoongi encontrou a encontrou assim que entrou no corredor, Hoseok estava com ele e se apresentava surpreso.
- Ouvi dizer que passou mal, está melhor? – Ele tocou nos ombros dela e depois a abraçou.
“Somos formados por matéria do universo e por isso não temos o sistema como os dos mortais, lembra? Como alguém que estuda genética vai estar sem um gene?”
Ela olhou para Yoongi que sorriu e fez um breve carinho em seu cabelo claramente aliviado por ela estar viva, mas ele a conhecia o suficiente para saber que a feição que estava em seu rosto naquele momento era de dúvida. Hoseok continuou tentando conversar com ela, mas a moça só o encarava profundamente em silêncio.
- Eu estou bem, só preciso de um cigarro. – Foi tudo o que falou e saiu deixando o que falava com ela confuso.
Yoongi a viu indo embora dali e respirou fundo.
- Só da um espaço pra ela, não é tão comum que S/n passe mal. – Deu dois tapinhas em seu ombro – Estou cansado e a última aula é ópera, não curto muito, acho que vou embora.
Yoon só acenou e foi para a mesma direção que S/n foi, Hoseok viu tudo calado e notou algo que o incomodou muito... eles estavam armando alguma coisa.
[...]
Jungkook não conseguia parar com a mente quieta aquela madrugada, mas o fato de ter tido uma péssima noite de sono anteriormente o fez dormir mesmo não querendo. Estava dormindo quando escutou um barulho em seu quarto, seu impulso foi fingir que estava dormindo mesmo e tentando identificar o som, parecia que alguém derrubava suas coisas de propósito, não conseguia sentir cheiro de nenhum sentimento, mas sentia um arrepio na nuca. Sua melhor opção foi pegar algo e jogar na direção de quem estava fazendo barulho, mas quando fez isso viu que seu copo havia ultrapassado a pessoa que pareceu não se importar com o ataque, ele coçou os olhos e acendeu o abajur. A mulher com o cabelo bem trançado e pele incrivelmente escura se virou com um sorriso familiar.
- Finalmente acordou, tampinha. – Cruzou os braços olhando para ele.
- Maya? – Coçou os olhos, já fazia anos que não a via.
- Parece que você cresceu mesmo. – O olhou na cama.
- O que faz aqui? – Sentou melhor.
- Queria te ver. – Sentou junto a ele – Então, me diz como vai as coisas... como está a Gatinha?
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