Sábado, 29 de fevereiro de 2020
Acordar num sábado de manhã sentindo o delicioso aroma de café quentinho é de longe uma das melhores formas de despertar. A menos que você não goste de café.
Kensei Muguruma era um completo viciado em cafeína, e para que sua manhã ficasse completa, necessariamente precisava tomar uma enorme xícara de café preto bem forte e sem açúcar.
Despertou com cheirinho de café o qual adorava, mas demorou um pouco para assimilar onde estava. Se naquele momento alguém lhe fizesse uma pergunta ridiculamente simples como qual era o seu nome ou quantos anos tinha, muito provavelmente não seria capaz de responder, pois estava sofrendo de uma ressaca terrível.
Ao levantar seu tronco e olhar em volta, percebeu que dormia no tapete da sala — ah sim, o churrasco — e notou que quase todos os seus amigos também haviam dormido ali.
Shinji dormia em seu colchão de ar em frete a estante de livros, Love dormia no sofá em frente à janela, Hiyori e Lisa dormiam pé com pé no outro sofá, e a periquita maldita dormia atrás de si, no terceiro e último sofá.
Apenas Rose e Hachi não estavam ali, provavelmente tinham sido espertos o bastante para irem pro quarto antes de adormecerem.
O cheiro de café se tornou mais forte, e após alguns segundos "morgando" notou que Hachi lhe estendia uma generosa xícara repleta daquele líquido preto que tanto adorava.
— Obrigado — agradeceu ao mais velho, dando um gole em seguida. Estava do jeitinho que ele gostava: AMARGO.
— Vocês beberam um pouco além da conta ontem, achei melhor passar um café para todos — disse Hachi, com sua expressão gentil.
— Você é o melhor. — Deu mais um gole no café. — Onde você dormiu?
— No quarto do Love — respondeu, olhando para o mencionado, que tinha acabado de despertar no outro sofá. — Espero que não se importe.
— Tá de boas — disse Love, em meio a um bocejo. — Rose foi pro quarto dele?
— Foi sim, logo depois de ajudar o Shinji com o colchão de ar — respondeu Hachi, enquanto arrumava a mesa da sala com um bule de café, chá, leite, xícaras e alguns pãezinhos.
Todos tinham ficado conversando até mais tarde, e por estarem alcoolizados, foram pegando no sono, e só os mais sóbrios tiveram a decência de ir dormir no lugar onde lhes era devido, enquanto os outros simplesmente capotaram onde estavam.
Shinji levantou logo em seguida, dobrou suas roupas de cama e se juntou a eles para tomar café. Pegou uma xícara, colocou ¾ de leite ¼ de café e três cubos de açúcar.
— Desde quando você toma café assim? — perguntou Kensei, fazendo uma careta.
— Não é para mim — respondeu calmamente, entregando a xícara para Hiyori, que tinha levantado naquele exato instante.
— Bom dia — ela disse a todos, tomando seu café com leite logo em seguida. — Que horas são?
— Nove e quarenta — respondeu Love, que estava com o celular em mãos, verificando suas mensagens.
— Até que não é tarde — ponderou a pequena loira.
— Hoje é sábado, não faz mal acordar tarde, e o dia está muito bonito — disse Hachi.
— Eu quero ir à praia — declarou Hiyori.
— Podemos ir e almoçar lá — respondeu Love. — Fazer um segundo round do churrasco.
A esta altura Kensei já estava raciocinando melhor em razão do café e sugeriu:
— É uma boa, sobrou bastante coisa, eu passo no combine e compro o gelo para a caixa térmica.
— Humm, nós vamos à praia? — perguntou Mashiro ao despertar.
— Vamos! — respondeu Hiyori, entusiasmada.
— Que legal, mas eu tenho que passar no AP para pegar o protetor e o meu biquíni.
Era incrível como a voz de Mashiro soava extremamente irritante aos ouvidos de Kensei. Ele estava bem e feliz tomando seu café, até ouvir a voz daquela maldita periquita.
— Vai assim mesmo, ninguém precisa te ver usando aquelas porcarias indecentes — bradou.
— Kensei idiota, o que eu visto não é da sua conta — ela rebateu irritada.
— Já vão começar com essa merda logo cedo? — questionou Lisa, que havia acabado de acordar.
— Eu não comecei nada! Esse tonto que já está implicando comigo — disse Mashiro fazendo um biquinho.
Kensei deu de ombros e continuou tomando seu café, não gostava de ser repreendido, e quando isso acontecia ele apenas ficava em silêncio.
— Também preciso buscar meu biquíni e algumas outras coisas no AP — afirmou Lisa.
— Eu não trouxe traje de banho, vou ter que comprar um — Hiyori comentou.
— Eu também preciso comprar para mim — disse Shinji.
— Perfeito, então você e a Hiyori vão fazer suas compras com o seu carro, eu e Mashiro vamos para o AP no carro da Hiyori, os rapazes vão com o jipe do Kensei e nos encontramos todos na praia! — coordenou Lisa, que por detestar perda de tempo, já dava ordens a todos.
Houve silêncio na sala por um momento, como se estivessem assimilando as palavras de Lisa.
— Se arranhar meu carro eu arranco a sua cabeça fora — Hiyori ameaçou, olhando para Lisa, que não se intimidou nem um pouco com a fala da pequena.
— Quando estiver pronta é só falar — disse Shinji, que agora tomava seu café preto e sem açúcar, dirigindo-se a Hiyori.
A loira se limitou a concordar com a cabeça e continuou tomando seu café da manhã.
Kensei não fazia o tipo observador, e nem era muito chegado a saber sobre a vida sentimental de seus amigos, mas percebia que Shinji e Hiyori estavam diferentes um com o outro.
Shinji parecia estar pisando em ovos, enquanto Hiyori parecia estranhamente contida — exceto pela briga épica que havia ocorrido na cozinha — e por mais que Kensei não fosse de reparar em detalhes, ele tinha percebido que a pequena não encarava Shinji e estava conversando o mínimo possível com ele.
— Não quero nem imaginar o que aconteceu entre eles. — Pensou.
Rose havia acordado também e se juntou a eles para tomar café. Depois de estarem todos devidamente alimentados, Lisa e Mashiro foram para o AP delas, Shinji e Hiyori saíram para comprar seus trajes de banho, enquanto os rapazes deixaram a casa em ordem e foram se arrumar para ir à praia.
Kensei tomou um banho gelado para afastar a ressaca, vestiu uma bermuda de tactel verde escura, uma regata preta e chinelos da mesma cor.
Encarou sua imagem no espelho por um momento, ajeitando seus cabelos platinados. Pensou em como o pai reagiria se o visse com o cabelo descolorido e aqueles pircings na sobrancelha e nas orelhas — provavelmente iria odiar — e Kensei se divertia com tais pensamentos.
Após colocarem a churrasqueira elétrica, a caixa térmica e as outras coisas que iriam precisar no jipe de Kensei, saíram rumo ao combine. Kensei dirigia, Hachi ia sentado na frente com ele, enquanto Rose e Love estavam no banco de trás.
— Foi só eu ou vocês também acharam que a Hiyori e o Shinji estão meio estranhos? — Rose perguntou.
— Eu também notei — disse Hachi. — Espero que não tenha sido nada grave.
— Acho que não deve ter sido nada de mais, eles até foram fazer compras juntos — ponderou Love.
— Seja o que for não é da nossa conta —Kensei encerrou a discussão, ligando o som do carro logo em seguida.
Das caixas de som do Jeep Wrangler de Kensei ecoava a música Bitter Taste, pois ele gostava muito de Three Days Grace, bem como bandas relativamente similares como System of a Down, Pantera e Rage Against the Machine.
Kensei jamais se consideraria um homem sentimental, gostava de pensar em si como alguém objetivo e tão exato quanto às equações as quais estava tão acostumado a lidar.
Mas, o fato é que pessoas não são como números, e mesmo que ele desejasse ardentemente ser apenas um simplório matemático, seus sentimentos eram extremamente complexos, e por esta razão, procurava suprimi-los ao máximo. Ele jamais admitiria em voz alta, mas ele sempre se pegava pensando em alguém quando ouvia determinadas músicas.
So long, so long
I have erased you
So long, so long
I've wanted to waste you
So long, so long
I have erased you
I have escaped
The bitter taste of you
Pensava em uma mulher bonita, otimista, engraçada, meio boba e que contagiava a todos com seu sorriso alegre e despretensioso.
Uma mulher que seria capaz de abalar seu mundo todo com apenas um olhar, um gesto ou uma palavra. A mulher que ele odiava de maneira tão sincera e obstinada que ninguém — absolutamente ninguém — poderia odiá-la mais do que ele, uma mulher que representava tudo de mais belo e mais triste em sua vida.
E essa mulher era ninguém menos que: sua mãe. Ela havia ido embora quando ele tinha sete anos de idade e nunca mais mandou notícias.
Ele se lembrava de caminhar até o ponto de ônibus que ficava perto de sua casa, no horário que ela deveria voltar do trabalho, e esperar por ela todos os dias durante um ano. Infelizmente, ela jamais voltou, e ele ficou sozinho com um pai alcoólatra.
O pai era um investigador de polícia que sempre o incentivou a seguir carreira militar. Sonhava em ter um filho forte que pertencesse ao exército, à marinha ou até mesmo a aeronáutica. Sempre dizia que ser policial era bom, mas que pertencer às forças armadas teria sido ainda melhor. Em razão disso, Kensei frequentou colégios militares, e sempre cuidou muito bem de seu corpo, buscando se tornar cada vez mais forte.
Já na escola ele se interessava muito mais por matemática do que por outras matérias, mas também dava seu melhor em outras áreas, especialmente nos esportes, tendo se destacado muito cedo no Jiu-jitsu.
Kensei e o pai não eram de jogar conversa fora, mas quando o segundo ficava bêbado repetia sempre as mesmas coisas ao filho: "Foque em sua carreira, sirva ao seu país, e fique longe dessas mulheres de sorriso fácil como a sua mãe, são todas malditas traidoras que conquistam o coração de um homem apenas para apunhalá-lo depois".
No começo ele ficava triste com as palavras do pai, mas, conforme os anos foram passando e as esperanças da mãe voltar iam diminuindo até sumirem de vez, ele passou a concordar com aquelas palavras, e todo amor e ternura que nutria por sua genitora se transformavam em ódio. Com o tempo, passou a odiá-la tão intensamente que acreditava que nem mesmo seu pai era capaz de odiar tanto aquela mulher quanto ele.
Afinal de contas, seu pai era um homem bêbado que havia sido largado pela mulher que amava — e casamentos acabam com certa frequência — mas, Kensei era um filho abandonado pela mãe, e isso tornava tudo pior.
Ele tinha inúmeras questões que abalavam sua mente: por que ela simplesmente não se divorciou de seu pai? Por que não podia levá-lo junto com ela? Como ela pôde simplesmente abandoná-lo? Eram tantas questões que não conseguia responder, e mesmo que tentasse arrumar as melhores desculpas para justificar o abandono, não conseguia chegar a nenhuma conclusão satisfatória.
No fim, o bêbado provavelmente tinha razão. Talvez sua mãe fosse apenas uma vadia cabeça de vento que os abandonou e não sentia nenhum remorso. Ele chegou a essa conclusão aos doze anos de idade, e a partir daquele momento, passou a dar o melhor de si para realizar os sonhos de seu pai.
Porém, é como diz aquele meme: "O mundo não dá voltas, ele capota". Quando Kensei completou dezesseis anos de idade, o pai foi afastado de seu cargo por má conduta e suspeita de corrupção.
Por ter alguns amigos importantes, ele conseguiu direito a uma aposentadoria, mas foi completamente desligado de suas funções, sem lhe restar um único pingo de honra. Aquele foi o dia em que todo o destino de Kensei mudou drasticamente.
Ao encontrar o pai bêbado como um gambá na sala, e ser informado do que havia acontecido, sentiu-se completamente sem chão, o mundo havia enfim capotado de vez, e seu pai não mais sustentava seu próprio peso sob seus pés, tampouco os seus sonhos.
Em um raro momento de sobriedade o pai lhe disse: "Esqueça essa merda de servir ao país, filho. Esses malditos irão lhe usar até você não ter mais utilidade para eles, e depois chutá-lo. Mulheres e Instituições, sinceramente eu não sei o que é pior, aproveite que é jovem e escolha algo diferente para fazer, viva sua vida diferente de mim".
Quando chegou o momento de prestar vestibular, ele optou pela matemática, pois esta era a única certeza que ele tinha — números eram previsíveis e confiáveis, ele gostava de números — e quando recebeu a notícia de que havia sido aceito na Seireitei em 2013, sentiu que sua vida finalmente iria começar, e assim foi.
Mas, o ciclo da vida é algo misterioso, e ao mesmo tempo em que coisas começam, outras terminam. Em meados do mesmo ano, o pai de Kensei faleceu de cirrose hepática, deixando-lhe e casa e, felizmente, nenhuma dívida.
Kensei vendeu a casa na tentativa de enterrar junto com o pai todas as lembranças que tinha de sua vida familiar. Usou metade do dinheiro para adquirir seu caríssimo Jeep, e guardou o restante na poupança, vivendo de bicos e bolsas de estudo: primeiramente de iniciação científica, depois de mestrado, e agora começaria a receber uma bolsa de doutorado, bem como um salário, pois tinha começado a lecionar matemática em uma escola fundamental que ficava na ilha.
Desde a morte do pai, Kensei nunca mais saiu daquela pequena ilha e sua vida passou a girar exclusivamente em torno de sua carreira acadêmica, os campeonatos de artes marciais e seus amigos Vizards. Era tudo o que ele precisava, aquela era a sua vida e iria se agarrar nela com todas as forças.
Ele ficava com algumas garotas em festas, ou eventos da universidade, mas jamais teve um relacionamento sério. As únicas pessoas a quem ele se dedicava eram seus amigos, pois gostava de acreditar que laços de amizade eram mais importantes do que os românticos ou familiares.
Adorava todos os seus amigos — quer dizer, quase todos — menos a periquita maldita, por motivos óbvios.
Quando chegaram ao combine, Kensei desceu do carro e comprou dois pacotes de gelo seco, o dia estava quente e não podia arriscar ficar desidratado, então aproveitou para comprar quatro garrafas de água mineral, uma para si e as demais para seus amigos que ficaram esperando no carro.
Após acomodar o gelo e entregar as garrafinhas de água aos rapazes, tomou um gole do líquido refrescante, e ao sentir o toque do plástico em seus lábios, lembrou-se de um momento muito específico que ocorrera na noite anterior. Mashiro o havia beijado, e ele se lembrou disso naquele exato momento, engasgando terrivelmente com a água.
— Você está bem? — perguntou Hachi, que batia nas costas dele, preocupado com o inesperado engasgo do amigo.
— E-Estou — respondeu após tossir um pouco.
Ele não sabia se era em razão da ressaca ou talvez pelo fato de que tudo havia sido tão corrido de manhã, que ele simplesmente havia se esquecido daquele acontecimento, mas agora, naquele instante, ele se lembrou, e o pior de tudo é que ele tinha certeza absoluta de que havia gostado da experiência.
Mashiro era a combinação perfeita de tudo que ele havia jurado odiar, tudo que seu pai lhe aconselhou a evitar, e ele não poderia — de maneira alguma — se apaixonar por uma mulher assim.
Ela estava sempre lhe irritando, o tirando do sério, mas aquele beijo simplesmente superava todas as suas provocações daqueles quase sete anos de convivência.
Ele iria confrontá-la e colocá-la em seu devido lugar. Se ela achava que ele seria idiota a ponto de cair em seus encantos, estava muitíssimo enganada. Ele mostraria àquela periquita maluca que não podia brincar com fogo e nem desrespeitá-lo daquela maneira.
Quando chegaram à praia, encontraram um bom lugar próximo às pedras, alugaram guarda sóis e algumas cadeiras num quiosque ali perto, acomodaram as coisas para o churrasco na sombra e esperaram os outros chegarem.
Rose usava uma bermuda de tactel cinza escura, uma camiseta branca, e se acomodou em uma cadeira na sombra, pois odiava tomar sol, embora adorasse ficar observando as águas do mar.
Hachi usava uma bermuda azul clara e uma camisa em estilo havaiano, óculos de sol e um chapeuzinho de turista. Acomodou-se em uma cadeira perto de Rose, e ficou observando o movimento com os pés na areia.
Love e Kensei tiraram as camisas, exibindo seus bem definidos abdômens, sentando-se cada um em uma esteira diferente, expostos ao sol, enquanto aguardavam a chegada dos demais Vizards.
Kensei tinha uma enorme tatuagem em seu abdômen, contendo o número 69 em traços grossos. O "6" representa seu sobrenome — Muguruma — que utiliza o mesmo kanji que o número, e o "9" representa a nona divisão de artes marciais da universidade, que era a divisão de Jiu-jitsu, na qual ele era o atual líder-orientador.
Passados alguns minutos, Lisa e Mashiro chegaram, carregando bolsas bem cheias, e usando minúsculos biquínis. A primeira estava com os cabelos trançados e usava um biquíni rosa escuro, enquanto a segunda vestia um chamativo biquíni laranja, que contrastava ainda mais com seus cabelos verdes.
— Ah até que enfim! — exclamou Rose. — Mashiro, você pode me ajudar com o protetor solar?
— Por que não pediu para um dos rapazes? – Perguntou Lisa em tom de deboche.
— Até parece que eu pediria a esses brutos para tocarem minha pele suave — respondeu com uma expressão séria, o que tornava a cena ainda mais hilária. — Prefiro as mãos delicadas da Kuna.
— Que gracinha, é claro que eu ajudo — disse Mashiro, toda solícita, tirando o protetor solar de sua bolsa. — Eu trouxe esse aqui que é fator 70 e tem ação hidratante, quer experimentar?
— Adoraria! — respondeu Rose.
O loiro tirou a camisa, prendeu seus longos cabelos ondulados, e Mashiro foi passar protetor nele.
Kensei olhava aquela cena com indignação. Como Mashiro podia se sentir tão à vontade alisando um macho daquele jeito na frente de todos? E ainda um amigo tão próximo deles? Tudo nela era vulgar e o irritava, até a forma como ela passava protetor em Rose.
— Prontinho Rose, agora você está protegido! — disse Mashiro, com seu tom infantil e animado.
— Obrigado, querida — agradeu. —Quer que eu passe em você também?
— Ah sim, seria ótimo – ela concordou alegremente, entregando o tubo de protetor a Rose.
— Tá maluca?! — exclamou Kensei. — Pede pra Lisa passar em você, sua indecente.
Todos olharam assustados para o platinado, sem entender aquele inesperado rompante de fúria.
— Mas, a Lisa vai me bolinar... – Fez um beicinho, balançando a cabeça em negativa logo em seguida. — Que merda! Por que estou me justificando pra você?
Ignorando aquela cena pastelão, Rose começou a passar protetor em Mashiro, com delicadeza e sem nenhum pudor, passando as mãos por todo o corpo dela, e deixando Kensei morto de ódio.
Quando estava prestes a explodir, sentiu uma mão lhe tocar o ombro, era Lisa.
— Levanta daí e deixa que eu passo o protetor em você, antes que vire um pimentão — Lisa ordenou.
— Então você tá de acordo com a aquela putaria? — respondeu Kensei, apontando para Rose e Mashiro.
— Que putaria? É o arranjo mais decente de todos os tempos, porque ao contrário de mim, Rose não dá a mínima para mulheres — brincou a morena. — Anda logo e deixa de ser teimoso, ou quer que eu peça pro Love passar o protetor em você?
Ainda um pouco contrariado, Kensei permitiu que Lisa passasse o protetor em si, pois era melhor que permitir que outro macho lhe alisasse.
Quando Lisa terminou sua tarefa, deu um tapa estalado na bunda de Kensei, que deu um pulo após o contato inesperado.
— Larga mão de ser tarada, mulher! — disse o platinado, com seu usual ar carrancudo.
— Nunca! — respondeu Lisa. — Agora seja um bom menino e me ajude também.
Ele passou o protetor em Lisa, e ela se ofereceu para fazer o mesmo por Love e Hachi. Quando estavam todos devidamente protegidos do sol, notaram que os últimos dois Vizards estavam demorando muito em suas compras.
— Onde será que aqueles dois se meteram? — questionou Kensei.
— Devem estar discutindo em algum lugar, ou se mataram durante o percurso — respondeu Love.
— Ai, eu espero que eles consigam se acertar, não suporto ver o Shinji triste daquele jeito — comentou Mashiro.
— Eu notei a mudança no comportamento da Hiyori, e acho que não é só em razão do luto...
— Vocês acham que rola alguma coisa entre eles? — Rose perguntou.
— Não acho, tenho certeza! — afirmou Mashiro.
Kensei olhou para a esverdeada, que havia dito aquilo com tanta convicção, gerando espanto em todos os presentes.
— Como pode ter tanta certeza disso? —Lisa questionou.
— Não é obvio? Eles viviam juntos, brigando o tempo todo, mas sempre grudados, e depois da festa despedida do ano letivo de 2018, ficaram estranhos do nada, e essa estranheza perdurou durante todo o período em que estiveram fora...
— Se for partir dessa lógica, então você e o Kensei também podem estar apaixonados um pelo outro — disse Lisa, ironicamente.
— Quê?! — responderam juntos.
Kensei havia ficado possesso com a sugestão da amiga, e por mais que odiasse concordar com Mashiro em alguma coisa, compartilhava de sua indignação.
— Tá louca, Lisa? — Mashiro rebateu. — Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra, e eu não ficaria com o idiota do Kensei nem morta!
Ao ouvir aquelas palavras da boca da maldita periquita, Kensei ficou completamente fora de si.
Quem ela pensava que era para desdenhá-lo daquela forma? Se estivesse pensando corretamente, concordaria com ela de forma ácida, mas ele não estava com a cabeça no lugar, em razão do ódio irracional que lhe invadiu naquele instante.
— Ah não? Então por que me beijou ontem?! — ele gritou encarando-a.
Todos ficaram em silêncio, Lisa arregalou os olhos, Love engasgou com a água, Hachi ficou com a boca levemente aberta e Rose deixou seu smartphone cair na areia.
— O q-quê? — Engasgou. — Tá doido? Eu jamais te beijaria!
Mashiro estava vermelha como um pimentão, enquanto os amigos observavam aquela cena com suas melhores caras de espanto.
— Agora vai se fazer de desentendida, sua louca?
— Não me chama de louca, seu idiota! Você que está aí falando besteira — exclamou, exasperada com a atitude dele.
— Chamo de louca sim, pois é exatamente isso que você é — devolveu Kensei, caminhando na direção dela. — Então que tal explicar que merda foi aquela de ontem à noite?
— Eu não sei do que você ta falando! — ela gritou em resposta.
— Então eu vou refrescar sua memória – respondeu, completamente fora de si, agarrando-a pelos pulsos e beijando-a em seguida.
Ninguém conseguia dizer nada ao presenciar aquela cena completamente absurda.
Kensei invadiu a boca de Mashiro com brutalidade, e ela resistiu bravamente. Ele sentiu uma pisada bem forte em seu pé direito, soltando-a em seguida.
Ele esperava que ela lhe xingasse de todos os nomes possíveis, mas não foi o que aconteceu. Ele viu os olhos castanhos dela se enxerem de água, e então ela saiu correndo dali.
Naquele momento ele voltou a raciocinar: tinha feito uma merda terrível.
Lisa correu atrás de Mashiro, enquanto os rapazes encaravam Kensei, buscando uma explicação para aquela atitude horrenda.
Kensei odiava ser repreendido, e mesmo sabendo que merecia ouvir represálias naquele momento, não permaneceu ali. Caminhou rapidamente em direção ao mar, e buscando isolamento, mergulhou nas águas geladas.
Ficou dentro da água por um tempo que simplesmente não era capaz de calcular. Estava com ódio de si mesmo por tamanha idiotice que havia cometido, e não sabia como encarar aquela situação.
Quando finalmente saiu das águas salgadas, encontrou Shinji sentado na areia, com uma expressão serena, claramente esperando por ele. Aproximou-se e, sem dizer nada, se sentou ao lado do amigo.
Após alguns minutos, Shinji quebrou o silêncio.
— Conversei com as garotas, e já estou sabendo do ocorrido. — Fez uma pausa dando um leve suspiro. — Todos concordaram em não falar a respeito, desde que você se desculpe com a Mashiro depois, em particular.
Kensei sentiu um alívio enorme ao ouvir aquelas palavras. Shinji era um cara diplomático que o conhecia muito bem e buscou uma solução que fosse boa para todos. Tendo isso em mente, Kensei se limitou a concordar com a cabeça, pois por mais que se desculpar com Mashiro fosse algo que não o deixasse confortável, sabia que era o certo a se fazer.
— Certo, agora vamos voltar, e você vai me ajudar com o churrasco — disse Shinji, levantando-se e estendendo a mão para o amigo.
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