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História University of Seireitei - Down in a Hole - História escrita por Istbells - Spirit Fanfics e Histórias
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História University of Seireitei - Down in a Hole


Escrita por: Istbells

Notas do Autor


Oi gente, tudo bem com vocês? Espero que sim.

Aqui estou eu, após semanas de atraso — com a maior cara lavada — para lhes trazer o capítulo 26 de U.S.

Vou deixar as justificativas para as notas finais, então sem mais delongas, vamos ao capítulo!

Capítulo 26 - Down in a Hole


Fanfic / Fanfiction University of Seireitei - Down in a Hole

Quarta-feira, 25 de março de 2020.

Um dos sentimentos mais comuns e, ao mesmo tempo, mais avassaladores que podem tomar o coração de alguém é a insegurança. Não se sentir seguro para dizer ou fazer alguma coisa e, ao mesmo tempo, conviver com o arrependimento diário por não ter “colhões” e tomar uma atitude é um ciclo vicioso e muito nocivo.

Algumas coisas haviam acontecido nas últimas semanas e Kensei tinha dificuldade em compreender em que pé estava sua relação com Mashiro. Ele sabia que, cedo ou tarde, precisaria conversar com ela e esclarecer a questão, mas o momento certo parecia nunca surgir, e pior do que isso, às vezes ele sentia que era melhor não dizer nada.

Na segunda-feira iniciou-se a fase interna do campeonato de artes marciais, e todos os membros da 9ª divisão lutaram entre si, a fim de “atualizar” a hierarquia interna. Felizmente, apesar de se sentir extremamente inseguro em relação a Mashiro, Kensei se sentia muito bem para lutar, e manteve seu posto de líder sem maiores dificuldades.

Mashiro e Hisagi novamente empataram — com ela vencendo no jiu-jitsu e ele vencendo no kendo — dividindo o posto de vice-orientadores, e pouquíssimas posições abaixo deles sofreram alguma mudança, tendo a liderança permanecido a mesma do ano anterior.

Kensei gostava de lutar com Mashiro e admirava muito seu estilo, pois ela era forte, determinada, e não hesitava em dar tudo de si num combate — diferente de Hisagi, que era a hesitação em forma humana — e elevava o nível da divisão nas fases externas.

As fases internas os combates ocorriam dentro da divisão apenas entre seus membros e em sua especialidade. No caso da 9ª divisão, havia combates de Jiu-jitsu e Kendo, ou seja, os membros que dominassem outras artes marciais não poderiam utilizar-se de tais técnicas, guardando-os para a fase externa, quando lutassem contra membros de outras divisões.

Kensei era o melhor da divisão nas duas modalidades. Não à toa, já se mantinha como líder há seis anos, mas quando chegavam às fases externas, Mashiro obtinha resultados superiores aos dele em combate corporal, pois além de seu excelente desempenho no Jiu-jitsu, ela também lutava Taekwondo, e diferente das fases internas, nas externas era permitido usar outras habilidades, além das de sua própria divisão. Já nos combates com espadas, Kensei e Hisagi eram superiores a Mashiro, o que equilibrava a liderança e fazia com que a 9ª divisão sempre tivesse bons posicionamentos no ranking geral.

O dia de Kensei havia sido produtivo, foi à terapia às 7 h, teve aulas das 10 h ao meio-dia, deu duas aulas de matemática na escola fundamental à tarde, e agora preparava-se para iniciar o treino na 9ª divisão, pontualmente, às 17 h.

— Muguruma-Senpai! — Hisagi o cumprimentou, aproximando-se. — Kuna-San ainda não chegou, devemos começar sem ela?

— Vamos dar início ao aquecimento — respondeu simplesmente.

Hisagi pareceu estranhar a resposta sucinta de Kensei, mas não fez comentários a respeito. Se fosse em outros tempos, o platinado reclamaria da irresponsabilidade de Mashiro, daria uns berros, mas ultimamente ele não reagia mais dessa forma — ainda que o ímpeto estivesse lá — procurava manter em mente as palavras de seu terapeuta “ela é adulta e não cabe a você repreendê-la, se houver qualquer problema, resolva de forma civilizada”.

Mashiro chegou vinte minutos atrasada para o treino, quando a turma já terminava de se aquecer. Fez seu próprio aquecimento num canto, estranhamente silenciosa. Kensei dividiu a turma em duplas e os colocou para lutar, inclusive Hisagi.

— Vou fazer dupla com quem? — Mashiro questionou.

— Comigo — respondeu Kensei, fazendo menção para que ela se aproximasse.

Mashiro concordou com a cabeça e ficou em posição, mas algo parecia errado, os olhos dela estavam tristes e Kensei sentiu uma pontada no estômago ao vê-la daquele jeito.

— Aconteceu alguma coisa? — perguntou, um tanto hesitante. — Você parece meio… Chateada.

Mashiro mirou-o com seus olhos castanhos enormes, parecendo surpresa com a pergunta. Kensei, por sua vez, não sabia muito bem como agir, levando a mão direita a nuca e desviando o olhar.

— Fui visitar a Kuukaku hoje. — Suspirou, visivelmente abatida. — Foi difícil vê-la daquele jeito.

Kensei engoliu seco, embora não fosse íntimo da dona do Shiba’s, nutria imenso respeito por ela. Todos ficaram sabendo do acidente e suas consequências na madrugada de sábado, mas Kensei só podia imaginar o quão pesado devia ser para Mashiro ver a amiga naquele estado.

— Tem alguma previsão de quando ela vai receber alta?

— Até o final da semana, provavelmente.

Dito isso, Mashiro se colocou em posição novamente, como se quisesse encerrar aquela conversa dando início ao combate, e Kensei achou por bem não insistir no assunto. Dividiram o tempo de treinamento entre lutar, auxiliar os colegas e passar alguns execícios de defesa, já que na segunda-feira a fase externa seria iniciada e precisavam estar preparados.

Encerraram as atividades às 19 h. Kensei notou que Mashiro tomou o rumo da saída para o estacionamento e não para o restaurante universitário. Sem pensar muito no que fazia, acelerou o passo até alcançá-la.

— Ei — ele chamou, fazendo-a se virar para encará-lo. — Não vai jantar com Hachi hoje?

— Hoje não — ela respondeu fazendo um beicinho. — Ele precisou resolver algumas coisas sobre a semana do curso e nossos horários não bateram.

— Quer uma carona? — Kensei ofereceu, olhando para os próprios pés.

— Eu ia preferir um lanchinho. — Colocou as duas mãos na altura do estômago, curvando-se levemente para frente. — Tô morrendo de fome.

Kensei riu da fala dela, pois não importava o quão abalada ou exausta Mashiro estivesse, nada era capaz de tirar-lhe o apetite.

— O que você quer comer? — questionou, aproximando-se dela.

— Eu estava indo pra pizzaria… — Apontou com o polegar na direção do estabelecimento. — Quer me fazer companhia?

— Vamos.

A pizzaria ficava bem próxima ao campus, sendo possível ir caminhando, mas como iriam embora para casa após comer, fazia mais sentido já ir com o Jeep.

Um calafrio percorreu a espinha de Kensei ao entrar no carro, seria essa a oportunidade de esclarecer as coisas? Uma parte dele acreditava que sim, mas ele não pôde deixar de pensar na última vez que ficara sozinho com Mashiro, e novamente, sentiu a insegurança invadir-lhe o peito.

Flashback ON — Sexta-feira, 06 de Março de 2021.

Após encerrar o treinamento, Kensei foi tomar uma ducha no vestiário, como de costume. Mas, diferente dos outros dias, ele não iria para casa, tinha um compromisso e havia trazido uma muda de roupas especialmente para a ocasião.

Ele não sabia bem como haviam combinado aquele arranjo na quarta-feira, num momento estava dirigindo seu Jeep, levando Mashiro para casa — após presenciarem a briga épica de Lisa e Love — e no outro ela dizia algo sobre se conhecerem há seis anos e nunca terem saído juntos, pelo menos não sozinhos. De alguma forma, a conversa terminou com Kensei concordando em levá-la para comer em um tal restaurante de sushi que seria inaugurado em Naha.

Era só um daqueles muitos restaurantes de sushi na esteira, mas Mashiro havia dito que o cardápio era muito especial, com inúmeras variedades de peixes, além da sobremesa ser por conta da casa, e que ela estava louca para conhecer o lugar.

Talvez fosse por querer se redimir com ela, ou mesmo por agora perceber o quão apaixonado estava, mas o fato era que Kensei estava animado com o plano, mesmo que não visse nada de mais no restaurante novo. Ao mesmo tempo, sentia-se apreensivo, afinal de contas, aquilo era um encontro?

Vestiu uma calça jeans, uma camiseta cinzenta, um par de tênis e foi esperar por Mashiro no estacionamento, não queria que os outros membros do Gotei os visse saindo juntos, pois eram uma cambada de fofoqueiros. Não demorou muito, ela se juntou a ele dentro do Jeep, usando um vestido preto curto, seu desgastadíssimo par de vans branco — já bem encardido — e uma fita de cetim preta enfeitando seus cabelos verdes.

Eram 19h20 quando deixaram o estacionamento da universidade rumo à balsa, que sairia pontualmente às 19h40, chegando em Naha por volta das 20h15.

Enquanto dirigia, Kensei não conseguia evitar dar uma ou duas olhadas em Mashiro, que observava distraída a página do restaurante no Instagram.

— São tantas opções — ela comentou, enquanto deslisava o dedo indicador na tela de seu smartphone, vendo as fotos dos pratos. — Ainda bem que só fecham à meia-noite, assim dá tempo de comer bastante.

— É tempo suficiente para levá-los a falência.

Para surpresa de Kensei, Mashiro riu de sua tentativa de piada e continuou falando animadamente sobre as coisas que desejava comer. Tudo aquilo era novo e até meio surreal. Ter Mashiro sentada ao seu lado conversando normalmente era basicamente o oposto do que fizeram nos últimos seis anos, já que via de regra, estavam sempre se ignorando ou berrando um com o outro.

Após Kensei estacionar o Jeep devidamente na balsa, Mashiro tirou o cinto e desceu.

— Nossa, vem ver isso — ela gritou do lado de fora, com os cotovelos apoiados no capô. — Tá cheio de estrelas!

Kensei olhou para o céu e contemplou sua beleza por um instante, abaixou os olhos, observando a expressão alegre de Mashiro olhando para cima enquanto o vento bagunçava seus cabelos. Um pequeno sorriso brotou nos lábios do platinado, pois nada superava aquela visão.

Ao chegarem no restaurante Kensei sentiu o estômago gelar e inúmeros questionamentos tomaram sua mente: como deveria se comportar? Sobre o que deviam conversar? No entanto, bastaram cinco minutos para que ele percebesse que a preocupação era sem fundamento. Mashiro avançava nos pratos que passavam pela esteira ao lado da mesa e comia um atrás do outro, fazendo pequenas pausas apenas para dizer um “delicioso” ou qualquer outro elogio sucinto sobre a refeição.

Agora mais calmo, Kensei observou os diferentes pratos que iam desfilando pela esteira, e escolheu um que continha seis belas fatias de sashimi de atum.

— Nossa, olha a cor desse atum — Mashiro comentou, encarando o prato de Kensei com os olhos arregalados. — Chega a brilhar!

Dito isso, ela usou seus hashis para roubar uma fatia de sashimi do prato de Kensei, mesmo tendo quatro pratinhos abarrotados de outras iguarias à sua frente.

— Precisa mesmo roubar minha comida, mulher? — bradou Kensei, olhando-a com indignação.

— Kensei pão-duro! Eu tô só experimentando — ela retrucou, fazendo um grande bico.

Kensei estava prestes a protestar — afinal de contas era ele quem pagaria pelo jantar — quando foram interrompidos por um funcionário do restaurante.

— Boa noite, jovem casal — cumprimentou-os o homem simpático de meia idade. — Em agradecimento por terem comparecido a nossa humilde inauguração, gostaríamos de oferecer essa garrafa de saquê a vocês.

— Nossa, que gentil — disse Mashiro, toda sorridente. — Muito obrigada!

— Vocês gostariam de tomá-lo aqui ou desejam beber algo diferente?

— Por mim pode servir o saquê aqui mesmo — respondeu a esverdeada, já tendo voltado a degustar sua refeição, antes mesmo de terminar a conversa com o homem.

Kensei ainda digeria o fato do funcionário ter achado que eles eram um casal, ficou se perguntando se ele e Mashiro passavam essa impressão às pessoas estranhas, além de que nem ele e nem ela se deram ao trabalho de corrigir o equívoco. Talvez aquela fosse a prova de que aquilo era, de fato, um encontro.

— Senhor? — o homem chamou a atenção de Kensei, tirando-o de seus pensamentos. — Gostaria de algo diferente para beber?

— Ah sim — Kensei respondeu, um tanto sem jeito. — Chá verde, por favor.

— Entendido — concordou o homem, fazendo uma sutil reverência. — Fiquem à vontade.

Quando o homem se retirou, Mashiro encarou Kensei, fazendo um gesto para que se aproximasse.

— Por que pediu chá? — ela sussurrou. — As bebidas aqui são um roubo, e o saquê é de graça.

— To dirigindo fora da ilha, melhor não arriscar — ele respondeu, voltando a atenção para seu próprio prato.

A desculpa era mais que esfarrapada, já que a bebida dificilmente o impedia de dirigir, mas, para o alívio de Kensei, Mashiro não insistiu no assunto. A verdade — a qual, infelizmente, ele não se sentia preparado para dividir com ela — era que estava tomando antidepressivos, e segundo seu psiquiatra, não era recomendável ingerir bebidas alcoólicas durante o tratamento.

Toda aquela coisa de acompanhamento médico, terapia, falar sobre seus sentimentos e se manter alerta aos gatilhos era nova e bastante inconveniente, especialmente a parte da medicação, que apesar de deixá-lo mais estável e servir para inibir a avalanche de sentimentos nocivos que o invadiam com certa frequência — como uma espécie de troca equivalente — também havia o lado negativo: os efeitos colaterais.

Determinado a controlar seus pensamentos, Kensei se concentrou em aproveitar o jantar, tomar seu chá-verde e apreciar a bela visão que era Mashiro se empanturrando de comida. Ao final da noite haviam seis pratinhos vazios empilhados a mesa no lado de Kensei, e doze no lado de Mashiro, apesar disso — contrariando toda a lógica humana — ela ainda fez questão de exigir sobremesa.

Ao saírem do restaurante, faltando apenas cinco minutos para a meia-noite, Kensei notou o quão cambaleante Mashiro estava, oferecendo-lhe o braço para ela se apoiar. Como se não bastasse ter comido mais do que um leão em fase de crescimento, ela ainda conseguiu esvaziar a garrafa de saquê.

Por terem perdido a última balsa da noite, teriam que esperar pela primeira do dia seguinte, que só saía de Naha às 3h30, chegando à pequena ilha por volta de 4h00. Enquanto esperavam, Mashiro pegou no sono sentada no banco do carona, com a cabeça apoiada na janela. A madrugada estava fria e Kensei usou sua jaqueta que estava no banco de trás para cobri-la.

No fim, Kensei concluiu que aquilo não parecia um encontro, mas apenas dois amigos de longa data que foram comer em um restaurante novo. Mas, a expressão serena de Mashiro dormindo era simplesmente encantadora, e apesar de toda a insegurança que lhe invadia, sentia o peito aquecido e um enorme contentamento por estar ao lado dela.

Eram quase 4h30 quando Kensei estacionou o jeep em frente ao prédio em que Mashiro morava com Lisa. Ele tocou o braço dela suavemente, dizendo que haviam chegado, ela abriu os olhos e se espreguiçou vagarosamente. Antes de sair do carro, Mashiro o encarou com uma expressão sonolenta, aproximando seus rostos.

— Obrigada por hoje, eu… — Bocejou no meio da fala. — Amei o nosso encontro.

Antes que Kensei pudesse processar o que ela havia dito, Mashiro lhe beijou na face — num ponto perigosamente próximo aos lábios — descendo do jeep no momento seguinte e entrando no prédio.

Compreender as atitudes de Mashiro sempre fora uma tarefa difícil para Kensei e tentar imaginar o que se passava na cabeça dela era praticamente uma missão impossível. Além disso, parte de si acreditava que não a merecia e não era digno de ficar ao lado dela.

— Ela só está bêbada e com sono — Pensou. — Não falou a sério…

Flashback OFF.

Exatos dezenove dias haviam se passado desde a noite em que foram jantar fora, e de lá pra cá, as coisas não se tornaram mais fáceis para Kensei. Embora Shinji insistisse em dizer que as coisas estavam mais do que claras — ele era o único com quem o platinado se sentia a vontade para dividir tais assuntos — outras questões corroboravam com o aumento de sua insegurança.

Mashiro era uma mulher independente, um autêntico espírito livre e uma otimista incorrigível, enquanto Kensei era um homem de aparência forte e determinada, mas completamente frágil por dentro. Além dos traumas, a depressão e toda a merda que vinha no pacote, havia também a culpa por projetar em Mashiro o ódio que sentia pela mãe nos últimos seis anos. Ainda que essa última parte fosse algo inconsciente, ele não era capaz de se perdoar por agir daquela forma.

Ao chegarem à pizzaria, Mashiro observou que o estabelecimento estava muito lotado e sugeriu que fizessem o pedido e fossem comer em outro lugar. Kensei concordou mecanicamente, e após alguns minutos de espera ela voltou carregando duas caixas de pizza e uma garrafa de refrigerante.

— Você não acha que é muita pizza só para nós dois? — ele questionou, arqueando uma sobrancelha.

— Claro que não — ela respondeu encarando-o como se fosse algo óbvio.

— Nem sei por que ainda me espanto… — Deu de ombros, ligando o carro em seguida. — Onde vamos comer?

— Confia em mim? — Mashiro o questionou, sorrindo como uma criança prestes a aprontar uma grande travessura.

— Não — respondeu seriamente, mas ao vê-la curvar os lábios em um círculo de pura indignação, retomou a fala. — Mas vou confiar hoje.

— Eu aponto o caminho! — exclamou animada, batendo palminhas. — Pode pegar a avenida principal.

Kensei se limitou a concordar com a cabeça, seguindo na direção indicada. Mashiro tomou a liberdade de ligar o som do carro, e no instante seguinte, uma das músicas do álbum que Kensei escutara naquela manhã começou a ecoar pelo carro.

Bury me softly in this womb
I give this part of me for you
Sand rains down and here I sit
Holding rare flowers in a tomb
In bloom

Aquela era uma música que ele gostava muito, talvez por não ter hábito de falar sobre seus sentimentos, escutá-los sendo entoados por outrem lhe gerava uma sensação reconfortante, tanto que ouvia aquele álbum com certa frequência.

Down in a hole
And I don't know if I can be saved
See my heart
I decorate it like a grave
You don't understand who they
Thought I was supposed to be
Look at me now
I'm a man who won't let himself be

Por outro lado, Mashiro estava tão animada segurando as pizzas e apontando o caminho, que a canção parecia um tanto inadequada, ou talvez fosse o próprio Kensei e sua fossa existencial que fossem inadequados a ela.

— Pode virar à direita — ela disse com a boca cheia, degustando uma fatia de pizza. — Por Kami, que música triste.

— Pode tirar. — Ele esticou a mão em direção ao aparelho de som, mas Mashiro o impediu.

— Não, deixa tocar, eu gostei — Os dedos dela deslizaram pelo braço dele. — A letra é triste, mas o ritmo é bem legal.

Down in a hole
And they've put all the stones in their place
I've eaten the Sun
So my tongue has been burned of the taste
I have been guilty
Of kicking myself in the teeth
I will speak no more
Of my feelings beneath

Naquela altura Kensei já havia compreendido para onde estavam indo, mas como sempre, não fazia ideia do que Mashiro tinha em mente.

— Pode estacionar — ela disse ao chegarem ao destino.

Ambos desceram do carro e ficaram lado a lado na calçada, observando a construção que havia à sua frente.

— E o que fazemos agora? — Kensei perguntou, enquanto encarva a grande placa de “vende-se” que havia em frente ao imóvel. — Arrombamos a porta?

— Não, bobinho, eu tenho as chaves. — Fez uma pausa, tirando um molho de chaves da bolsa. — Segura as pizzas.

Kensei segurou as caixas e o refrigerante enquanto Mashiro destrancava o enorme portão do barracão que lhes serviu como moradia por quatro longos anos.

— O combinado não era todo mundo devolver suas cópias ao proprietário? — questionou, enquanto adentrava o imóvel atrás dela.

— Era sim, mas eu tirei outras cópias antes de devolver.

Kensei carregava as coisas enquanto Mashiro iluminava o caminho com a lanterna de seu celular. Ele até pensou em questioná-la se sabia que aquilo era invasão de propriedade particular, mas achou melhor não dizer nada. Se tinha uma coisa que ele havia aprendido convivendo com aquela mulher era que quando colocava uma ideia nada cabeça, nada nem ninguém poderiam dissuadi-la.

O local estava completamente escuro, sendo necessário prestar muita atenção aos degraus na hora de subir as escadas. No corredor, Mashiro parou em frente a um antigo armário de metal, de lá tirando uma colcha azul.

Caminharam rumo aos fundos do segundo andar onde havia uma grande janela de vidro que dava acesso a uma espécie de terraço. Mashiro sempre gostou daquele lugar, era seu espaço favorito, tanto para tomar sol, olhar as estrelas ou simplesmente fazer uma refeição. Kensei se lembrava de inúmeras ocasiões em que perguntavam por ela, e Lisa respondia algo como “a periquita está empoleirada do terraço”.

Não era por acaso que, naqueles tempos, Kensei evitava aquela parte da casa, já que na época eles brigavam mais do que cão e gato. Ao mesmo tempo, era nostálgico estar ali novamente.

Mashiro estendeu a colcha azul no chão, e fez menção para que ele se sentasse com ela. Ao que tudo indicava, ela continuou frequentando o barracão mesmo após o final de 2018, quando o desocuparam.

Kensei não se lembrava daquela vista ser tão bonita. Como o barracão ficava em uma das partes mais altas da ilha, era possível ter uma visão privilegiada do mar quando estivesse de dia, e das estrelas a noite.

Mashiro serviu o refrigerante, e então passaram a comer em silêncio, apreciando o sabor da pizza, a vista, e a companhia um do outro, até o celular de Kensei começar a vibrar.

Nem precisava verificar o nome para saber de quem se tratava, afinal de contas, o plano da pizza foi completamente espontâneo e inesperado, e ele não tinha avisado ninguém que não jantaria em casa.

— Não se preocupe, eu tô vivo — Kensei se adiantou ao atender a ligação.

— Oi, sumido, cadê você? — Shinji questionou, do outro lado da ilha.

— Tô comendo pizza — respondeu sucinto, dando uma breve olhada em Mashiro, que parecia totalmente alheia a conversa deles.

— Você tá sozinho?

Kensei hesitou por um momento, já que não sabia o que Mashiro pensava sobre outras pessoas terem conhecimento de que estavam ali juntos. Por outro lado, não queria mentir para Shinji, mesmo que não gostasse de dar satisfações sobre sua vida, Kensei sabia que o amigo estava preocupado, e não podia tirar a razão dele por isso.

— Não, Mashiro está comigo.

— Sério? — disse Shinji, parecendo um tanto surpreso. — Eu acredito, mas vou precisar conferir em nome da minha paz de espírito.

— Fala oi pro Shinji — Kensei pediu, um tanto impaciente, estendendo o celular na direção de Mashiro.

— Oi, Shinji! — ela o cumprimentou com seu típico tom infantil.

— Satisfeito? — disse Kensei, após pegar o celular de volta. — Posso voltar a comer minha pizza?

— Comer pizza né, sei — Shinji comentou em tom malicioso, e Kensei pôde ouvir sua risada estranha antes de desligar na cara dele.

Apesar da situação inconveniente, Kensei entendia as ações do amigo, afinal de contas, não havia se passado nem um mês desde sua experiência de quase morte, e ele sabia que Shinji e Hiyori tinham tomado para si a tarefa de cuidar dele.

Mashiro havia se deitado na colcha azul, esticando-se toda, enquanto observava o céu. Ela usava uma calça preta de ginástica e uma camiseta branca meia manga, parecendo extremamente confortável naquele chão.

— Às vezes eu também me sinto dentro de um buraco, sabe?

Kensei demorou alguns segundos até entender que ela se referia à música que ouviram no carro.

— Sério? Você é sempre tão… — Fez uma pausa, procurando as palavras certas. — Barulhenta e otimista.

— Ninguém é feliz o tempo todo, Kensei. — Suspirou. — Mas quando eu me sinto no buraco, tento mirar em algo bonito e que me lembre o quão grande e cheio de possibilidades o mundo é.

Kensei estranhou um pouco o tom sério de Mashiro dizendo aquelas coisas, mas quando ela fez menção para que ele se aproximasse, não hesitou em deitar ao lado dela. O céu estava cheio de estrelas e uma brisa suave os acariciava.

— Quando olho para isso, sinto que encontrei meu lugar no mundo, mesmo que parte de mim se sinta completamente perdida. — Apontou para as estrelas por um momento. — Se você quiser, eu posso dividir esse lugar com você.

Naquele momento o coração de Kensei acelerou, e ele sentiu o calor da mão dela segurando a sua. Antes que seu cérebro o sabotasse, ergueu o tronco num impulso, aproximando seus rostos, olhando-a nos olhos. Poderia se perder para o resto da vida naquele mar de castanho, mas avançou até seus narizes tocarem um no outro.

Ao vê-la sorrir ele teve certeza, pois jamais faria algo sem o consentimento dela novamente, então tomou-lhe os lábios com suavidade e ternura, e a sentiu corresponder de igual maneira.

Mashiro entrelaçou os dedos nos cabelos platinados de Kensei, aprofundando o beijo de maneira provocante e apaixonada, fazendo com que seus corpos se aquecessem rapidamente. No instante seguinte, Kensei estava sentado sobre a colcha, com Mashiro em seu colo, beijando-o com urgência.

Uma parte atrevida e pessimista de seu cérebro o alertava que podia não ser uma boa ideia dar continuidade ao que estavam fazendo — afinal de contas ele havia lido a bula dos antidepressivos — mas nem mesmo aquela voz irritante em sua cabeça foi capaz de refrear o desejo que sentia.

Naquele momento não havia espaço para hesitações, medo ou insegurança, estavam ali, um para o outro, e isso bastava.


Notas Finais


I- Música:

Escolhi a música "Down in a Hole" da banda "Alice in Chains" pensando nos sentimentos e conflitos do Kensei. Acredito que a letra transmita muito bem os sentimentos de uma pessoa com depressão, além de que a banda bate com aquele "perfil musical" que eu havia traçado para o personagem desde o início da fic.

— Música:
https://www.youtube.com/watch?v=f8hT3oDDf6c

— Letra & Tradução:
https://www.letras.mus.br/alice-in-chains/1136/traducao.html

II- Comentários & Agradecimentos:

Esse capítulo não foi fácil de escrever, na verdade, acho que foi o mais difícil até esse momento, e isso se deu por dois motivos. Primeiro porque, para mim, o exercício da escrita é semelhante a prática de exercícios físicos, ou seja, se você para por vários dias, fica difícil retomar, e como muitos de vocês sabem, eu tive dengue e fiquei uma semana de molho.

O segundo motivo é que eu achei difícil escrever com o casal "se dando bem". Embora eu tenha mencionado em capítulos anteriores que o comportamento deles havia mudado, é diferente escrever um capítulo inteiro focado no casal e sem poder contar com a dinâmica das brigas incessantes. A cena do sashimi de atum foi um pequeno alívio cômico, porque começou a me dar desespero escrever com eles sem nenhuma briguinha kkkk'

Mas, as pessoas precisam amadurecer e Kensei e Mashiro não são uma exceção, né? Eu dei o meu melhor para encontrar um ponto em que eu pudesse retratá-los de forma mais madura, mas sem perder a essência, e espero de coração que tenham curtido o resultado.

Como o Kensei foi retratado como um personagem depressivo, as coisas não podem magicamente ficar bem, é um processo que leva tempo, e eu procurei mostrar isso no capítulo. Inclusive, não sei se vocês sabem mas, além das contraindicações em relação ao álcool, antidepressivos podem gerar alguns efeitos colaterais bem incômodos, inclusive afetar a libido e o desempenho sexual da pessoa — não é regra, mas pode ocorrer — por isso fiz menção à bula ao final do capítulo.

Mas, apesar de todos os pesares, nosso querido platinado está seguindo em frente, e ele não está sozinho nessa :3

Peço desculpas por demorar tanto para atualizar, é que depois da semana que eu passei "dengosa" rolou uma série de compromissos de trabalho, procrastinação, cansaço, e o resultado foi: o maior atraso de todos os tempos. Vou dar o meu melhor para que isso não volte a ocorrer.

Agradeço todo o carinho dos que estão lendo e apoiando a fic, e também daqueles que se preocuparam e me enviaram mensagens. Vocês me deixam com o coração quentinho.

Deixem um comentário para a raposinha, quero saber a opinião de vocês sobre os eventos narrados até aqui *-*

Beijinhos de raposa & até breve.


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