A grande árvore presente no quintal atraía alguns bichos que se enfiavam entre as folhas sem planos de sair, mas naquele dia em especial Wonwoo cuidava do jardim aproveitando a segunda-feira em que todos estavam estudando e ele poderia ter paz naquela hora da manhã, o garoto tirava pacientemente as ervas daninhas e brincava com os pequenos animais que encontrava ali antes de coloca-los nos jarros de vidro para colocar eles direto na floresta. O vento da manhã não chegava a bagunçar seus cabelos mas era o bastante para que o sol que esquentava sua pele não o deixasse suado.
O jardim estava florescendo bem naquele mês, as flores lembravam sua mãe, principalmente as orquídeas vermelhas que insistiam em escalar as paredes da casa e ele associava aos cabelos vermelhos da mãe que ele viu em fotos. Juntou as ferramentas e os potes de vidro, colocou o saco de folhas velhas pendurado no braço e caminhou até a minúscula varanda que acoplava a porta de entrada. Abriu a porta de tela (que tinha buracos pela velhice) e em seguida a porta de madeira que pedia uma boa pintura e assim que fechou as duas colocou cuidadosamente as ferramentas de jardinagem no móvel perto da entrada e seguiu até a cozinha para sair pelos fundos.
Abandonou a sacola de folhas perto da lareira e levou os potes abraçado ao peito até os fundos da casa onde os abriu e caminhou até mais perto do que podia chamar de floresta e deixou os potes ali, buscou os outros com insetos antigos e voltou para a casa.
O cheiro de carne temperada estava impregnado na casa enquanto o garoto aprimorava seus dotes culinários, o rádio estava ligado em uma estação onde o locutor tinha a voz jovem e colocava músicas da época. De vez em quando o garoto errava a medida da comida e fazia para mais de uma pessoa, nunca entendia quando isso acontecia porquê era sozinho desde sempre, ele apenas dava de ombros e guardava para o dia seguinte, bom, aquele dia era um deles. Percebeu que exagerou na porção quando colocou no prato duas conchas e ainda via o talher sumir na panela, apenas trocou para o pote e colocou dentro da geladeira.
Acendeu uma vela para sua deusa e agradeceu pela comida, em seguida se sentou na mesa de madeira e se deliciou com o prato feito por si.
∞
Minghao tinha sido acordado com o barulho do cassetete do policial Choi chocando contra a sua cela, abriu os olhos com dificuldade, sua cabeça explodia de dor enquanto o sol que entrava pela pequena abertura gradeada ia direto para os seus olhos. Choi estava avisando a ele que já tinha amanhecido e o garoto tinha direito ao café e ao banho, coisa que Minghao já havia decorado.
Se espreguiçou esticando as costas e sentindo os ossos estalando, esticou as pernas andando até a cela, o homem abriu a mesma liberando espaço, nem mesmo precisava acompanha-lo pois a rotina era sempre a mesma, e ambos já estavam cansados daquela rotina infeliz. Mas naquela manhã tinha alguém diferente ali, um adolescente estava com as pernas esticadas na mesa do delegado e jogava um gameboy, estava bem arrumado e usava fones de ouvido.
Xu apenas revirou os olhos e caminhou até o banheiro, a água era fria e o ambiente tinha uma carga pesada. Pegou a toalha e o sabonete com o policial entrando no banheiro, tomou o banho rápido (se aproveitando mais da água para pensar) e saiu dali com os cabelos pingando de água. Pegou a roupa que tinha na mochila e iria vesti-la quando o garoto do game boy invadiu o banheiro. Xu tapou suas partes enquanto voltava para trás do azulejo enquanto xingava em chinês. — Desculpa.
O garoto pediu no idioma de Minghao que levantou o olhar surpreso, o garoto deu um sorriso e foi até o mictório. — Nossa, sua roupa tá toda suja e molhada, eu tenho uma muda de roupa pra’ você, mas vai ter que me devolver.
Minghao arqueou uma das sobrancelhas olhando para o menino que guardava o membro dentro das calças. — Não, valeu.
— Você ainda vai para a escola não é? — Questionou enquanto Xu apenas assentiu. — E vai todo sujo?
— Não interessa. — Respondeu grosso querendo encerrar o assunto, enrolou a toalha em volta da cintura e saiu de trás do muro baixo indo até as roupas, vestiu-as com rapidez e sentiu o estômago contrair, não tinha comido nada desde do dia anterior quando o bruxo da cidade tinha lhe dado um sanduíche.
O garoto o seguiu para fora do banheiro, - lavando antes as mãos -, e foram até o refeitório. Não tinha tanta gente, a maioria dos presos eram sempre transferidos para fora da cidade. Minghao pegou sua bandeja se sentando na mesa de sempre, já era bem conhecido pelos presos e pelos policiais, comeu em silêncio sendo vigiado apenas pelo outro garoto que se sentou de frente para o chinês.
— Meu nome é Junhui, meus amigos me chamam de Jun. — Ofereceu um sorriso simpático que não foi retribuído pelo outro.
— Minghao. E eu não tenho amigos pra’ me darem apelidos. — Deu uma mordida generosa no sanduíche terminando o café em dois tempos. Dali jogou o mochila nas costas saindo do refeitório e sendo perseguido pelo, agora denominado, Jun. — Você vai me seguir garoto?
— Não tem muitos chineses aqui.
— E isso automaticamente te deu uma liberdade para me seguir? — Cruzou os braços arqueando levemente a sobrancelha querendo saber onde aquele garoto iria chegar, já estava ficando irritado com a insistência do outro chinês.
— Apenas achei que podíamos ser amigos.
— Achou errado, vaza.
∞
Vernon assim como qualquer adolescente normal odiava as segundas feiras. Naquela noite Sofia, sua irmã, tinha pulado para sua cama depois de um pesadelo e tinha impedido o garoto de ter uma noite completa de sono em consequência disso seu humor estava mais azedo que o normal.
Sofia estava elétrica como sempre, já tinha vestido o uniforme e travava uma batalha com o seu cabelo para despenteá-lo e arrumar do jeito que queria. Hansol ainda com sono se levantou dando bom dia a irmã e fazendo o caminho até o banheiro. Ainda sem abrir os olhos Hansol fez suas necessidades e entrou direto para o banho notando só no meio dele que tinha deixado a toalha no quarto.
— Manhê! Pega minha toalha por favor? — Gritou em plenos pulmões, a casa dos Chwe era conhecida por ser a maior casa da rua com dois andares e quatro quartos, todos com suítes e janelas largas. Sofia tinha seu próprio quarto mas passava a maior parte do tempo no quarto de Hansol, o mais velho nunca reclamou disso, privacidade não era algo que ele se incomodasse em ter.
— Sofia, leva a toalha para o seu irmão! — A voz de sua mãe era estridente e dava para ouvir na casa toda, em pouco tempo a porta do banheiro abriu a Sofia avisou que tinha deixado a toalha em cima do vaso e antes que o garoto pudesse agradecer ela deixou o banheiro.
Encostou a testa no vidro do box enquanto sentia a água quente escorrer e embaçar todo o resto do cômodo. O sabonete tinha cheiro doce, Hansol gostava dos sabonetes e dos perfumes com cheiros mais delicados, eram mais gostosos de sentir na própria pele e não agrediam tanto seu nariz altamente alérgico cheiros.
Esfregou o cabelo com o shampoo infantil (o cheiro também era mais fraco) enquanto bocejava ainda com sono, não estava ainda cem por cento acordado. Assim que se sentiu verdadeiramente satisfeito abriu o box esticando o braço e tomando a toalha felpuda em mãos, esfregou no rosto primeiro e depois no resto do corpo.
Foi até a pia e escovou os dentes desembaçando o espelho com o antebraço, viu o próprio reflexo e notou as olheiras profundas que carregava no rosto, o sono era tanto que o garoto chegava a piscar lento, bocejou mais uma vez sentindo o bráquete do aparelho raspar contra o lábio ressecado fazendo um pequeno corte.
— Inferno! — Xingou passando a língua sentindo o gosto metálico do sangue no músculo, revirou os olhos ainda revoltado com sua falta de sorte e pegou a escova dentro do armário junto com a pasta de dente. Escovou os dentes de maneira preguiçosa usando o enxaguante bucal por cima, assim que terminou toda a higiene se enrolou no roupão e saiu do banheiro.
Sofia estava com uma trança e terminava de passar a maquiagem fraca no rosto, Hansol sorriu pelo espelho indo até o closet buscar sua roupa. A escola não exigia uniforme, o que era bom então o garoto optou pela velha calça jeans e uma blusa vermelha de super-herói.
Secou os cabelos com a toalha e apenas os jogou para trás não se dando o trabalho de arruma-los, calçou os tênis largados debaixo da cama e pronto, desceu com a irmã para pegarem o dinheiro do lanche e irem para escola finalmente.
A mochila de Sofia era vermelha com bolsos e um chaveiro de macaco que chupa o dedo, enquanto a de Hansol é lotada de broches de bandas e uma bandeira de arco-íris, a escola era a dois quarteirões de distância da casa dos Chwe o que dava para ir andando enquanto os irmãos conversavam animadamente.
∞
Quatro horas da manhã o despertador de Jeonghan tocou, ele desligou antes que seu pai acordasse junto (seria muito pior), levantou da cama e amarrou os cabelos com um elástico presente no pulso, assim que os pés descalços tocaram o chão o garoto caminhou até o calendário na parede e riscou mais um dia com um piloto vermelho, segunda-feira significava que vinha depois do domingo da igreja, das bebedeiras de seu pai e as garrafas que teria que recolher.
Puxou o casaco fino da cadeira vestindo para sair do quarto, destrancou a porta olhando de um lado para o outro se certificando que seu pai estaria dormindo aquela hora, escutava os roncos altos do pai de longe e aquele era um sinal ótimo. Saiu do quarto descalço pisando de leve no assoalho, foi para a sala vendo a mesinha de centro repleta de garrafas vazias ou quase vazias, juntou todas com cuidado numa sacola de papel para colocar no lixo. Assim que todas as garrafas estavam agrupadas ele as deixou na cozinha encostada na bancada. Abriu a geladeira pegando ovos e o leite para o café da manhã, tinha que fazer a lista do supermercado.
Montou seu café deixando algo preparado para o pai na geladeira e pegou o corredor para ir ao banheiro, entrou e trancou a porta com as duas trancas para poder tomar o banho. O banho gelado o ajudava a acordar para a vida (de merda), usava um sabonete com vários juntos, o banho era rápido para dar tempo de sair antes do pai acordar, mesmo que soubesse que ele acordaria tarde.
Escovou os dentes guardando a pasta e a escova de volta no bolso do casaco, abriu as trancas do banheiro voltando para o quarto, trancou a porta deste e foi até o guarda-roupas pegando uma blusa com o rosto do Michael Jackson estampado e uma calça jeans skinny e calçou o tênis que já estava rasgando a sola mas deveria servir mais um pouco.
Empilhou as coisas dentro da mochila abrindo uma das partes do assoalho para pegar o dinheiro escondido, pegou uma quantia para passar o dia e escondeu novamente ali o resto. Jogou o mochila já bastante surrada nas costas e finalmente estava na hora de sair para escola e depois iria direto para o trabalho.
Trancou o quarto por fora enfiando a chave dentro do bolso da calça e finalmente saiu para da casa sentindo o alívio das poucas horas de liberdade que teria.
∞
A escola era um lugar que teoricamente seria para todos saberem conviver mas se parecia muito mais com um campo de guerra. Os alunos eram divididos em ilhas, cada um com os que se identificavam, os ricos e populares sentavam na mesa principal, longe dos banheiros e mais perto das janelas, a maioria usava casacos que custavam mais que a casa de alguns ali, eles ocupavam duas mesas que eram juntas pelos próprios, do lado de fora em volta da grande árvore de carvalho sentavam os religiosos, todos pareciam ter acabado de sair de uma missa de domingo sempre com blusas de botões e roupas pastéis, os cabelos sempre muito bem alinhados e roupas sempre muito limpas.
Os ditos nerds se sentavam perto dos banheiros numa mesa afastada dos demais, a maioria usava roupas desleixadas e nem sempre tinham problema de visão, sempre estavam escondidos atrás de um ou mais livros e, na maioria das vezes tinham a língua afiada. E os fracassados sentavam afastado de todos, no chão, não tinham mesa para si e quase ninguém ousava mexer com eles.
Assim que Vernon pisou na escola foi direto para a mesa dos populares, jogou a mochila sobre a mesa e abaixou a mesma, dormiria até que o sinal da primeira aula tocasse. A maioria ali falava sobre fazer festas ou transar com garotas gostosas enquanto o atual protagonista só pensava em dormir.
Jeonghan chegou junto com Joshua, o garoto da mesa dos religiosos. Os dois não se cumprimentaram, não se olharam e nem ao menos pediram licença para passarem no portão, Joshua apenas fez um sinal com a cabeça para que o outro passasse. Minghao estava jogado no chão deitado sobre a mochila com os braços cruzados sobre o peito enquanto dormia tranquilamente, Jun estava na mesa dos populares enquanto não desviava o olhar do chinês dormindo.
Xu revidava enquanto ao mesmo tempo apanhava de um dos garotos do time, o chinês estava cansado e dolorido e em causa disso errava alguns golpes e era acertado. O sangue já manchava seus dentes mas ele ainda não tinha desistido e nem o garoto que lhe batia. A cabeça do chinês bateu com força nos armários fazendo com que ficasse desnorteado e em consequência daquilo tomou mais dois socos.
— Ei! Filho da puta! — O grito vinha do final do corredor, os dois brigões viraram a cabeça juntos para o dono da voz, Minghao mal podia enxerga-lo com o olho roxo e inchado. — Larga ele.
— Vai defender esse cara agora? — O garoto que parecia ser uns bons anos mais velho que os dois segurou pela parte de trás da blusa de Minghao apontando para o garoto como se ele fosse algum tipo de bicho ou alguém que não merecia respeito algum. — Ele é um fracassado Wen, tem que apanhar muito para ter onde dormir hoje.
Jun não entendia porque o cara falava aquilo, mas não ia deixar barato apenas puxou o pulso magrelo do denominado fracassado e o colocou nas suas costas, Xu mal tinha forças nas pernas e apenas encostou a testas nas costas do outro chinês. — E você tá’ ajudando ele, é isso que está dizendo Sangwoo?
— Você é enteado do delegado, deveria saber que esse vive mais na cadeia do que andando por aí.
— E o que isso tem a ver com você cara, vaza daqui. — O coração de Jun começou a bater mais rápido quando sentiu algo molhar sua camisa e torceu que fosse apenas lágrimas ou saliva do garoto mas assim que ouviu o impacto do corpo do outro chinês ao chão soube que era sangue. — Puta que pariu!
Virou para trás segurando a cabeça do Xu que sorria, ele não tinha desmaiado só estava sem forças. O nariz do outro sangrava e acabava por misturar com o sangue da boca. — Me deixa aqui e sai cara, de boa.
— Não mesmo, você vai desmaiar.
— Não vai ser a primeira vez. — E riu como se tivessem lhe contado a maior piada de todos os tempos, Jun notou que o garoto era bem magro tanto que sua clavícula ficava bem amostra, com cuidado o outro enfiou o braço por trás de Minghao e outro debaixo das pernas o levantando estilo noiva.
Ele era leve, muito leve para um garoto de dezessete anos, The8 estava sem poder reclamar. Aquela sensação era muito estranha, nunca tinha sentido nada do tipo. Jun o levou até a enfermaria onde o dito enfermeiro cochilava na maca que deveria ser para os alunos. — Ei, cara!
O homem abriu os olhos e os esfregou antes de olhar melhor. — De novo Minghao.
— O que eu posso dizer? É meu charme. — E tossiu mais um pouco espirrando sangue na própria mão.
— Uma hora vai acabar se matando.
— Deixo você fazer uma festa quando isso acontecer.
As garotas estavam em volta de Jeonghan enquanto ele terminava de desenhar no caderno, a regra era clara se tratando do Yoon, ou você o amava ou você o odiava, não existia meio termo. O garoto terminava um desenho que era um anjo vestindo uma saia pregueada xadrez e um cropped. As asas eram longas e o garoto as fez parecer bem brilhantes, estava colorindo com os lápis emprestados das garotas.
— Em quem você se inspirou? — Ajeitando o óculos a baixinha Yoonjo perguntava tentando espiar do garoto que ria e escondia o desenho. — Está me lembrando alguém.
— Sai da frente nerd. — Jimin tinha empurrado a garota para o lado recebendo um olhar frio de Jeonghan. — Oppa, não me olhe assim!
O garoto revirou os olhos e começou a sombrear o desenho, os olhos eram bem puxados e felinos ao mesmo tempo transmitiam falsa inocência, os cabelos eram ruivos e assim que iria descer para a boca uma das meninas tomou a liberdade e sussurrou no ouvido do desenhista.
Parece com o Jisoo, sobrinho do pastor.
Jeonghan virou o desenho para a pose original e olhou para onde Jisoo, o Joshua, professor de religião nas horas vagas costumava sentar e notou que sim, havia muita -, pra’ caralho – semelhança com o garoto e acabou por rir. Terminou o desenho escrevendo sua assinatura no final da folha e a destacando com cuidado, se levantou da cadeira pedindo licença para as meninas e assim que elas abriram espaço o garoto foi até Joshua.
— Pra’ você anjinho. — Jogou os cabelos para trás no processo, Joshua pegou o desenho na mão sem entender direito mas assim que seus olhos capturaram a forma da qual foi desenhado suas bochechas ficaram vermelho escarlate, o garoto desenhava muito bem mas o desenhado estava em posição tão erótica que deixava até mesmo suas orelhas vermelhas.
Estava sentado sobre as pernas e apoiado nos joelhos, a saia era curta e batia nas suas coxas e o garoto usava uma blusa estilo cropped que deixava a barriga lisa fora, as mãos foram desenhadas em cima das coxas, era incrivelmente erótico. — Você!! — Ele nem tinha palavras para descrever o quão envergonhado estava.
— Um dia se vista assim, por favor.
E o garoto apenas abaixou a cabeça completamente vermelho, não tinha nem forças para manda-lo para o inferno, ou qualquer outro lugar do tipo.
— E-Eu nunc-ca me vest-tiria assim. — Joshua não costumava gaguejar mas a presença daquele garoto fazia seu corpo reagir como se estivesse engolido borboletas ou estivesse sem ar dentro de uma piscina.
Uma mão no ombro de Jeonghan tinha chamado sua atenção, ao virar para trás viu Hansol com cara de poucos amigos, estava com uma expressão dura e negava com a cabeça. — Cara, deixa o Joshua em paz, ele não é uma daquelas garotas ali que você pode falar o que quiser, falou?
— Você é o cão de guarda dele? — Jeonghan arqueou a sobrancelha rindo e Hansol passou a língua nos lábios apertando o aperto no ombro dele como se fosse uma massagem dolorosa.
— Eu não to’ querendo arrumar briga com você então só cai fora, pode ser?
— E se eu disser não?
— Então seu sangue vai sujar essa mesa. — E sorriu irônico, Jeonghan não tirou o sorriso do rosto e levou a mão até em cima a mão de Vernon.
— Isso é ciúmes mestiço? Posso desenhar você também se quiser. — Algumas garotas riram da resposta do coreano, Hansol fechou os olhos respirando fundo e levou a mão até atrás da cabeça de Jeonghan, num piscar de olhos virou o garoto batendo a cabeça dele com força em cima da mesa.
— Acha que eu to’ de sacanagem caralho? — Segurou com firmeza a cabeça do garoto sobre a mesa, Joshua levou as mãos até o braço do amigo tentando puxar para cima.
— Hansol para com isso, solta ele. — O garoto parecia não ouvir enquanto o Hong fazia força para que o outro americano soltasse Jeonghan, o Yoon por outro lado não tinha tirado o sorriso presunçoso do rosto e aproveitando a distração dos dois chutou a canela de Hansol. — Merda.
Jeonghan riu passando a mão pelo nariz e limpando o sangue, empurrou Hansol até a cabeça do mesmo batesse na quina da cadeira, o pé do mais velho parou sobre o peito do americano mais novo e ele se apoiou no próprio joelho. — Não tenta se garantir onde não pode, você pode se foder muito por isso.
Joshua empurrou o cabeludo de cima do amigo enquanto se abaixava para ajuda-lo. — Vocês dois são uns idiotas, que droga! Fica longe da gente. — A voz fina alcançou os ouvidos de Jeonghan que apenas sorriu e levantou os braços.
— Como quiser anjinho.
Kim Mingyu era um cara conhecido, era alto, tinha um sorriso bonito e parecia nunca ter um dia ruim. Mas como a maioria das pessoas naquela cidade ele escondia um segredo, talvez não fosse um segredo pesado que envolvesse a polícia, mas ainda assim era muito difícil admitir em voz alta. Mingyu era um garoto apaixonado por outro garoto, e naquele momento observava de longe enquanto andava com sua bicicletinha azul pelas ruas.
O mais alto tinha desenvolvido uma certa curiosidade pelo bruxo da cidade, primeiro era medo por causa de todas as coisas que diziam do garoto;
Ele foi criado pelo diabo.
Seus pais morreram em sacrifício.
Aquela cicatriz foi quando ele ainda não tinha poderes de fogo.
Essa última então o fazia rir sempre que se lembrava, o garoto da cicatriz não parecia ser nada perigoso quando estava apenas cuidando do jardim ou sentado na porta de casa com o gato de acompanhante, logo depois do medo desenvolveu uma certa curiosidade e com isso começou a aparecer de noite pela rua do garoto, duas vezes o viu cantando em outra língua e andando com uma lata fumacenta pela casa com as janelas bem abertas, e depois percebeu que era paixão.
Paixão quando seu coração doía só de ver as pessoas o julgando ou falando coisas ruins do garoto ou das vezes que o pegou chorando, certa vez viu até mesmo o mais baixo catando os caquinhos de seus óculos e foi a primeira vez que teve coragem de se aproximar.
— Aqui, acho que não tem como colar. — A voz de Mingyu era considerada grossa mas assim que o garoto levantou os olhos e abriu a boca ele percebeu que sua voz era até fina.
— Nunca tem. — Era só o que respondeu tomando o que sobrou dos óculos da mão do garoto mais alto, recolheu os livros contra o peito segurando as astes dos óculos.
Mingyu não o julgou como grosso, Wonwoo parecia cansado das pessoas e talvez tenha pensado que o mais alto seria uma das pessoas que o faria mal mas nunca que o garoto faria mal a alguém, se perdeu em pensamentos e apenas retomou a consciência quando teve que frear pois o gato do Jeon tinha entrado na frente, a bicicleta derrapou e Mingyu rolou no chão ralando o braço.
— Poison! — A voz de Wonwoo atingiu os ouvidos do Kim, o braço ardia e o garoto olhou o próprio braço e em seguida dirigiu os olhos para Wonwoo que segurava o gato com os dois braços e olhava para o garoto alto. — Desculpa, ele fugiu de casa. Você está bem?
— Sim, acho que só ralei o braço. — Respondeu no mesmo tom do outro, levou o braço até a cabeça do gatinho que esfregou a cabeça na palma de Mingyu. — Você me assustou amiguinho.
— Você quer que eu cuide do seu braço? — Perguntou, a resposta negativa era óbvia até porquê todos daquela cidade hipócrita condenavam Wonwoo mas perguntar não custava nada e ser educado também não.
— Eu aceito se não for incomodar. — A resposta surpreendeu ambos, Wonwoo então abriu um sorriso e ajudou o mais alto a levantar pegando junto a bicicleta. — Meu nome é Mingyu, Kim Mingyu, e o seu? — Mesmo que soubesse fez questão de perguntar para não parecer mais ainda um stalker.
— Wonwoo, Jeon Wonwoo. — E novamente sorriu dessa vez mostrando os dentes bem enfileirados, era a primeira pessoa que tratava o bruxo como gente e só aquele pequeno gesto foi o bastante para deixar o garoto com um calor gostoso no peito e um sorriso brilhante no rosto.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.