Camila’s POV
Eu me sentia suja.
Por um momento eu desejei que meu corpo estivesse coberto de lama ou algo igualmente nojento. Eu queria que o resto do mundo pudesse ver o quão impura eu me sentia. Estranho, na verdade. Enquanto eu atravessava os corredores da sede, surpreendentemente movimentados naquela noite, eu deveria estar querendo me esconder. Devia estar rezando para que ninguém nunca descobrisse o que eu havia deixado acontecer – e também todo o resto que poderia ter acontecido. Mas, ao contrário, eu queria me expor. Queria usar a desaprovação dos outros como castigo para minha fraqueza. Mas não acho que jamais seria capaz de verbalizar o que acontecera, então apenas me contentava em me desprezar sozinha enquanto seguia para meu quarto. Não, ninguém repararia em minha sordidez. A imundice que eu sentia pelo fato de desejar, de sentir prazer graças a um monstro não era física. Não, a sujeira era algo que poluía apenas minha alma.
Eu realmente não sei como havia aguentado a última hora. A incomum agitação pelos corredores do prédio era minha culpa, na verdade. Depois de rodar sem rumo pela cidade por algumas horas, eu havia voltado para a Sede, determinada a cumprir meu dever. Eu precisava contar tudo que havíamos descoberto para Reid. Nem preciso dizer que, quando a noticia de que a Organização era o principal alvo do mais novo e mais organizado grupo de vampiros que já havíamos encontrado vazou, o caos se instaurou. Não, ninguém chorou em desespero ou saiu correndo, mas... Pessoas subiam e desciam os corredores, entrando na sala de colegas para dividir as novidades ou simplesmente compartilhar o nervosismo. Eu mesma estivera bem ocupada na última hora, contando tudo com detalhes para Reid e tentando fugir das perguntas de Simon e de minhas amigas. Eu simplesmente não estava com cabeça para a condenação iminente da Organização no momento. O toque das mãos de Lauren sobre meu corpo estava gravado na minha mente, de forma excitante e repulsiva ao mesmo tempo. Fisicamente excitante. Mentalmente repulsiva.
Quando fingir que nada estava errado passou a ser coisa demais para suportar, eu pedi a Reid que parasse o interrogatório para que eu pudesse voltar para o meu quarto, tomar um extremamente necessário banho e colocar roupas limpas. Ele me deixou ir, com a condição de que eu voltasse depois. Aparentemente, ainda havia um assunto importante sobre o qual ele precisava discutir comigo.
Só quando eu finalmente pude entrar no meu chuveiro que as lágrimas caíram.
O estranho nisso tudo é que, desde o momento em que eu deixei Lauren do lado de fora daquela casa abandonada, eu sabia que acabaria chorando. Pelo que, exatamente, eu não sei, mas durante toda a noite eu tive essa certeza de que, quando estivesse finalmente isolada do mundo, iria chorar. Chorar de medo, talvez. Medo pela atração doentia que eu sentia por Lauren. Medo perante a ameaça a Organização, o resumo de tudo que era importante na minha vida. Medo de continuar para sempre me sentindo como sentia desde que Ariana fora embora... Não, desde antes disso. Desde que me entendo por gente. Medo de para sempre sentir aquele vazio, aquela escuridão dentro de mim. Medo de não conseguir ser forte o suficiente para lutar contra meus inimigos e contra o maior deles: eu mesma.
Medo de sentir medo.
Sentindo os jatos fortes de água sobre meu corpo, eu ri sem humor. Qual era essa ligação entre a água e o poder de me fazer chorar? A tempestade havia acabado com meu longo jejum de lágrimas. Agora aqui estava eu, chorando embaixo do chuveiro sem um motivo concreto. Talvez eu só precisasse colocar tudo aquilo para fora de vez em quando. Eram tantos problemas... Tantas preocupações e nem um pouco de alegria. Se havia algo que eu aprendera em anos como caçadora é que eu tinha apenas duas alternativas: viver deprimida ou viver com raiva do mundo. Para fugir da depressão, eu aprendera a ser fria, cruel, violenta e irritadiça. Se eu convertesse tudo de ruim na minha vida em ódio, doeria menos. O lado bom do ódio é que ele ocupa tanto sua mente que não deixa espaço para dor. E assim, o que começou como um esforço consciente para me defender se tornou a realidade. Eu me acostumara com aquilo e me tornara essa criatura tão amável que era hoje em dia. Ruim, amarga e por vezes distante. Eu realmente não conseguia entender como ainda assim eu conservara meus poucos amigos. Como ainda assim Lauren podia dizer que me amava.
Em um surto de raiva com esse pensamento, eu fechei a torneira do chuveiro, saí do boxe e apenas me encarei no espelho do lado de fora, encharcada e com raiva estampada nos olhos avermelhados pelas lágrimas. O que ela vira em mim? O que ela vira em mim que eu era incapaz de enxergar?
Eu não sofria de falta de confiança, de jeito nenhum. Eu me sentia bonita, agia de jeito sexy propositalmente e não tinha vergonha disso. A verdade era que eu sempre precisara disso. Primeiro para ter alguma satisfação na vida. Ser admirada fazia bem para o humor de qualquer mulher. Mas depois de Ariana, passou a ser também necessário para minha auto-estima. Eu estava satisfeita com meu físico, mas me tornara ainda mais insegura quanto ao resto. Eu tentava negar, mas nunca consegui parar de me perguntar se talvez... Se talvez o fato de Ariana ter ido embora pudesse ser culpa minha. Devia ter algo de errado comigo. Eu não conseguira mantê-la por perto, então talvez eu simplesmente não fosse o suficiente. As palavras que Lauren usara assim que voltara para a cidade voltaram à minha mente, me acertando bem na ferida pela segunda vez. “Soube que sua preciosa Ariana também largou você. Nunca passou pela sua cabecinha metida que talvez a temporada que ela passou conosco tenha servido pra mostrar a ela a perda de tempo que era ficar com uma garotinha como você enquanto existem mulheres como Coraline no mundo?” Eu já havia considerado aquela hipótese tantas vezes que ouvi-la em alto e bom som havia doído. Doído bastante.
Aquilo levou meus pensamentos de volta para Lauren. Lauren, que por algum motivo convencera a si mesmo de que sentia por mim um sentimento que monstros como ela provavelmente eram incapazes de ao menos compreender. E sem motivo. Novamente me perguntei o que eu tinha para atraí-la tanto. O fato de que eu a maltratava? Era ela doente a esse ponto? Talvez fosse porque eu era tudo que ela não podia ter. Ou talvez ela apenas estivesse confundindo aquela atração monstruosa entre nós com amor. É, devia ser isso.
Me olhando por um último momento no espelho, eu tive o impulso de me esconder. Se era atração que estava provocando tudo aquilo, eu precisava me esconder. Me secando rapidamente, eu abri meu armário, pegando meu blusão gigante favorito do Ramones e as calças jeans mais largas que eu tinha. A maior parte das minhas calças eram jeans justos e bem elásticos para lutar, mas eu mantinha aquela por ser uma das mais confortáveis.
Após me vestir, passei um pente rapidamente nos cabelos e me olhei novamente no espelho, me sentindo ridícula. Aquilo não adiantaria. Se Lauren aparecesse na minha frente vestida de dinossauro Barney, ainda assim eu me sentiria atraída por ela. O fato de eu estar vestida como um moleque também não mudaria o que ela sentia por mim. Apenas explicitava o quão idiota eu era.
Respirei fundo antes de sair daquele quarto. Meu rosto desinchava com uma rapidez impressionante, de forma que ninguém seria capaz de dizer que eu havia chorado. Devagar, eu segui para o escritório de Reid, me preparando mentalmente para mais uma seção de tortura emocional. Contar tudo que acontecera naquela noite, ocultando apenas os detalhes que obviamente eu nunca teria coragem de verbalizar, era terrível. Já não bastava eu me sentir péssima em ter deixado Lauren por as mãos em mim, eu ainda precisava reviver todos os acontecimentos que me levaram àquele armário.
Abri a porta do escritório sem me anunciar, batendo-a com força atrás de mim e simplesmente seguindo para uma das cadeiras em frente à mesa de Reid.
– Camila Cabello, onde está sua educação? – perguntou meu chefe, visivelmente chocado com meu comportamento. Não que eu fosse um exemplo de bons modos, mas geralmente era mais respeitosa quando na sala dele.
Eu já me preparava para argumentar que já que ele me conhecia desde bebê, dava para esquecer as formalidades de vez em quando, mas uma voz atrás de mim me impediu.
– Acho que ela jogou pela janela quando me conheceu. – disse Lauren. Eu rapidamente virei à cabeça para trás, chocada, percebendo pela primeira vez a presença da vampira no aposento. Eu estava distraída a esse ponto – Na verdade, eu não acho que esse seja o comportamento adequado para uma caçadora. Garota malcriada. Alguém deveria dar umas palmadas nela.
O brilho provocante nos olhos verdes me fez entender que ela adoraria ser esse alguém. Eu apenas a observei lentamente se desencostar do canto no qual estava e seguir para a cadeira ao lado da minha. Eu estava em choque.
Primeiro devido a simples presença dele. Eu não estava preparada para encará-la tão cedo. Há poucas horas atrás ela havia me levado a um orgasmo dentro de um armário mofado e agora estava aqui, me provocando como se nada tivesse acontecido. Não que eu esperasse que ela estivesse tão mortificada com tudo aquilo quanto eu. Também não esperava que ela fosse legal comigo, que mudasse seu jeito, mas... Aquilo era diferente. Havia um toque de crueldade na voz de Lauren, como se ela estivesse se esforçando para me atingir. Ela devia ter mais de mil motivos para querer fazer uma coisa dessas, mas eu não entendia o porquê logo agora. Depois do que acontecera e, principalmente, depois que eu a beijara. Não era isso que ela queria?
E segundo... Bom, segundo era que parte do choque estava sendo causada pela minha própria excitação com a imagem mental de Lauren me dando palmadas. Aquela ideia estava me deixando vergonhosamente quente, e eu novamente me perguntei se havia no mundo criatura mais pervertida do que eu.
– Cala a boca, Lauren. – eu disse, desviando olhar e em um tom que não era nem de perto o irritado e ameaçador de sempre. Não, eu tinha consciência de estar soando trêmula, talvez quase frágil. A risadinha satisfeita que ela emitiu ao sentar do meu lado me fez entender que ela havia percebido isso. Reid, aparentemente, não.
– Oh, eu deveria saber que era uma péssima ideia. – disse ele, desviando minha atenção da vampira ao meu lado – Mas realmente, eu não vejo outro jeito. – Reid parecia estar falando apenas consigo mesmo.
– O que é uma péssima ideia? – eu perguntei, franzindo a testa.
LA olhou de mim para Lauren devagar, fechou os olhos, respirou fundo e voltou a nos encarar, agora parecendo decidido.
– Ok. Em primeiro lugar, acho que devo parabenizar as duas. Fizemos mais progressos hoje do que em todos os outros dias juntos. – eu assenti com a cabeça, aceitando os parabéns, e Lauren apenas permaneceu parada, de braços cruzados, encarando Reid com uma expressão de imenso tédio. Idiota – Eu chamei vocês aqui hoje por um motivo importante. Os acontecimentos dessa noite explicitaram um fato que eu já vinha observando há um tempo. Uma semana separadas e nenhum progresso. Em apenas uma noite, vocês se encontram e damos esse passo gigante!
– Aonde você quer chegar, Reid? – eu perguntei, sentindo meu estômago embrulhar. Não. Por favor, não.
– Camila, Lauren... As desavenças entre vocês são óbvias, mas acho que não dá mais para negar que, por mais estranho que seja, de alguma forma vocês são melhores juntas. Só as chamei aqui para avisar que estou as unindo novamente.
Eu gelei. Por um momento bizarro, eu xinguei mentalmente meu próprio cérebro por ter pensado na possibilidade de isso acontecer segundos antes de Reid assinar minha sentença de morte. Como se de alguma forma fosse culpa minha aquilo estar acontecendo.
O que eu faria agora? Ver Lauren todos os dias não daria certo. Não agora. Não com tudo o que acontecera... Não quando eu sabia o que sabia.
E sentia o que sentia.
Ela era a manifestação física do conceito de tentação. Tudo naquela imbecil me atraia – a aparência, a voz, o jeito de se mover... Até mesmo o fato de eu odiá-la como pessoa de certa forma me excitava, por ser proibido, perigoso. Me dava aquela sensação deliciosa de estar desejando algo totalmente errado. E com o que acontecera horas antes... Não. A lembrança do toque dela ainda estava vívida demais em minha mente, e me concentrar naquele assunto ainda me fazia tremer inteira.
Aquilo não podia estar acontecendo.
– Não! – eu exclamei, levantando com um salto – Não, não, não!
– Camila, não seja infantil... – disse Reid, massageando as têmporas.
– INFANTIL? – eu gritei, me controlando pra não quebrar alguma coisa. Lauren permanecia sentada, olhando para o próprio colo e parecendo ter um silencioso ataque de riso, por mais estranho que isso soe – Reid, isso NUNCA vai dar certo! Eu não suporto essa criatura! Se você nos colocar juntas de novo, nós vamos acabar... – eu respirei fundo antes de continuar. Nos agarrando? Caindo na cama e fazendo uma besteira sem tamanho? Não dava pra continuar aquela frase assim – Nos matando. – eu acrescentei, finalmente, com a voz fraca. Lauren levantou a cabeça e me encarou, sorrindo com uma das sobrancelhas levantadas de forma sarcástica.
– Bem, vocês vão ter que engolir as diferenças! – disse Reid, irritado – Isso não é brincadeira, Camila. A ameaça lá fora é real, e já está mais do que óbvio que vocês duas são muito mais úteis juntas! São as duas caçadoras mais fortes que eu tenho, e se queremos ter uma chance de acabar com o Mestre, esse é o único jeito.
Eu encarei meus próprios pés enquanto tentava me acalmar. Reid estava obviamente preocupado, já que ameaçar a Organização era ameaçar a própria vida dele. E eu não podia negar que meu chefe estava certo. Por algum motivo, as coisas pareciam funcionar melhor quando Lauren estava por perto.
– Você já a trata como uma de nós. – eu disse – Até você ela conseguiu conquistar? Reid, você se lembra de como Lauren chegou aqui?
– Minha memória continua perfeita, Cabello. – disse Reid, com a voz fria. Eu conhecia aquele tom. Quando eu era criança, ele me fazia querer correr e me esconder atrás de Simon. Hoje em dia, apenas me dava raiva – Eu não estou dizendo que confio em Lauren. Mas sei que, nesse caso, não há motivos para desconfiar, também. E precisamos dela. Só a força e habilidade dela se equiparam a sua. Isso é maior que todos nós, Camila. É maior que qualquer inimizade que possa haver entre os membros desse lugar. Se queremos vencer, é preciso que você entenda isso. É preciso que as duas entendam isso. – ele se voltou para Lauren – Fui claro?
– Como água. – respondeu Lauren, surpreendentemente séria – Você está certo, LA. Eu aceito voltar a trabalhar com a Cabello.
Lógico. Era exatamente isso que ela queria.
– Camila? – Reid voltou a me encarar.
Eu me sentia a ponto de explodir, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Lauren realmente era nossa melhor chance. Claro, eu ainda podia revelar tudo. Revelar o que ela confessara para mim há pouco mais de uma semana atrás, mas a verdade é que eu blefara. Eu não tinha coragem de repetir aquilo em voz alta, e a ideia de mais alguém sabendo me apavorava. Eu sabia que só havia uma resposta possível para aquela pergunta.
– Ok. – eu disse, de olhos fechados e cabeça baixa. Eu não podia acreditar. Aquilo não podia estar acontecendo.
– Perfeito então! – disse Reid, sorrindo.
Eu tentei forçar um sorriso para ele, mas tenho consciência de que deve ter saído mais como uma careta do que como qualquer outra coisa. Sem dizer mais nada, eu apenas dei as costas e segui para fora daquela sala antes que Reid pudesse me parar.
Xx
– Quer dizer que a Miss. Presas está de volta? – perguntou Dinah. Estávamos todas, com a exceção de Clarke, reunidas em nossa sala, que ainda tinha livros espalhados por todo o canto. A pesquisa não havia acabado, mas no momento nós apenas conversávamos.
– Exatamente. – eu respondi. Ao sair do escritório de Reid, eu viera direto para cá. Surpreendentemente, eu não havia tido vontade de ficar sozinha, e desabafar ao menos aquela parte específica da noite havia me proporcionado certo alívio. Eu sabia que minhas amigas compartilhariam comigo a indignação com o que nosso chefe estava fazendo.
– Bom, não posso dizer que senti falta dela. – disse Dinah.
– Pelo visto a gente vai ter que engolir essa. – declarou Normani, sacudindo a cabeça – Sabia que era bom demais pra ser verdade quando você nos avisou que ela havia mudado de equipe.
– O que eu posso dizer? Tudo que é bom dura pouco. – eu disse, suspirando.
– O Reid perdeu a cabeça. – continuou Dinah – Ele simplesmente não estava lá. Não estava lá há nove meses atrás, quando Lauren e Coraline chegaram aqui. É fácil ficar atrás de uma mesa e ditar ordens.
– Você fala como se você fosse às ruas se arriscar todos os dias. – disse Simon, mas seu tom e sua postura eram apenas divertidos, não ofensivos.
– Eu geralmente fico aqui com as minhas armas, sim. Mas afiar estacas e desenvolver armamentos não é só o que eu faço. As coisas depois que Ariana passou brevemente para o lado negro da força acabaram nos envolvendo. Ou vocês não lembram? Não lembram das vezes que aquelas três tentaram nos atingir para machucar Camz? Não podíamos nem ao menos deixar o prédio. Eu me lembro de Lauren da primeira vez que ela esteve aqui. Todos parecem ter esquecido porque não estavam diretamente envolvidos, mas nós? Foram poucas as vezes que nos encontramos, mas eu lembro bem do que ela é capaz. Por isso eu não acredito nessa besteira de redenção. Eu não sei o que Lauren está fazendo aqui dentro, mas não é algo bom. Não importa o que aconteça, quantos vampiros ela mate ou quantas pessoas ela salve... Lauren é uma vampira. É uma assassina. Nada vai mudar minha opinião quanto a isso.
Eu me senti momentaneamente culpada. Eu sabia muito bem o que Lauren estava fazendo aqui. Eu era o motivo para a presença dela entre nós.
Como Dinah, eu também lembrava. Preciso admitir que nos últimos tempos, por mais difíceis que as coisas tivessem se tornado entre mim e Lauren, ainda assim eu aos poucos começava a conhecê-la um pouco melhor. A convivência antes da declaração dela, e os poucos momentos após, haviam me revelado algumas coisas sobre a personalidade da vampira. Agora chegava a parecer estranho lembrar do que ela já havia feito. Odiar Lauren já era algo tão comum para mim que eu já não me concentrava mais nos motivos. Mas, sim, eu lembrava. Lembrava de todas as coisas cruéis que ela me dissera na época que Coraline havia arrastado Ariana para o lado delas. Eu sempre soube que em parte aquela vontade de me atingir era uma forma que ela tinha de colocar a raiva para fora. Só um idiota não perceberia o quão irritada Lauren havia ficado quando sua querida Cora apagara a memória de Ariana para que ela esquecesse a pessoa boa que se tornara. Coraline obviamente gostava mais de Ariana, mesmo sendo Lauren quem se devotara a ela em absoluto durante décadas. Mas não eram só nossas discussões que haviam criado meu ódio pela vampira, nem o fato de ela ser uma das culpadas, embora involuntariamente, por eu ter perdido minha ex namorada. Não, além de tudo isso ela ainda uma assassina, um monstro que nunca se envergonhara de ser o que era. Ela era a coisa que eu era forçada a caçar toda noite.
Minha mente começava a seguir um caminho bem obscuro quando a porta da sala se abriu.
– Ahn... Oi. – disse Aramis, parado à entrada meio sem jeito, sorrindo sem graça.
Aramis era um caçador também. Mas ao contrário de mim, ele nunca esteve sozinho e tivera uma escolha. Vai ver por isso ele sempre parecia tão... Leve. Ali, parado à porta, ele parecia meu total oposto. Tão despreocupado, tão puro, de certa forma. Homem nenhum de vinte e um anos pode ser considerado puro, na minha opinião, mas mesmo assim... Eu me sentia tão suja naquela noite, e Aramis aparecia assim, tão cheio de alegria natural, que eu não consegui controlar a onda de afeição que senti pelo garoto. Eu queria mais do que qualquer outra coisa no mundo poder ser como ele naquele momento. Eu precisava de um pouco daquela luz, e talvez essa fosse à razão de eu ter me levantado da poltrona na qual eu estava sentada e corrido até ele, sorrindo e o abraçando com força. Ok, não exatamente com força, já que eu não queria quebrar o rapaz, mas com firmeza.
– Opa. – disse Aramis, rindo surpreso – Desse jeito eu vou acabar me sentindo amado. – brincou ele.
– Eu não posso mais abraçar um amigo? – eu perguntei, sorrindo. Era contagiante. Estar perto de Aramis fazia tudo parecer menos complicado.
– Você não costuma abraçar seus amigos. Pelo menos não com frequência. – disse Dinah, e eu fingi não perceber o ciúme em sua voz.
Normani fez o mesmo.
– Gente, esse aqui é o Aramis. Acho que eu o mencionei e aos irmãos pra vocês. A equipe com a qual a Lauren estava? – eu disse, tentando desviar do assunto desagradável – Aramis, esses são Simon, Normani, Dinah e Ally.
– Oi. – disse o garoto, lançando o habitual sorriso bonito e ofuscante.
– Oi. A que devemos a honra da visita? – perguntou Dinah, de jeito cuidadosamente simpático.
Cuidadosamente demais para ser sincero.
Ally olhou de Dinah e Aramis para mim com um olhar de simpatia. Normani continuou fingindo indiferença e Simon realmente parecia não estar percebendo nada de estranho.
– Oh, eu só quis vir dar um oi pra Camila depois que nos avisaram que a Lauren vai mudar de equipe novamente.
– Veio me agradecer? – eu disse, soando miserável até para meus próprios ouvidos. Aramis riu.
– Eu até estava começando a gostar dela. Tirando os comentários ofensivos e a mania que ela tem de implicar com todo mundo, até que ela é suportável. A gente estava aprendendo bastante com ela, e quando Lauren tenta ser civilizada até dá pra conversar direito. Não é à toa que tanta gente por aqui passou a gostar dela.
Oh, é, quase havia me esquecido do fato de que meus colegas de trabalho gostam mais de uma vampira do que de mim. Ok, Lauren ao menos tenta falar com os outros, enquanto eu geralmente fico na minha, mas e daí? O insuportável é uma vampira. Pelo menos eu sou meio-humana!
– Você diz isso porque ela nunca ameaçou sua vida no passado. – disse Dinah, com um explícito toque de desprezo na voz – Deve ser fácil pra você.
– Dinah! – eu ralhei. Eu podia entender o motivo do péssimo tratamento ao meu novo amigo, mas mesmo assim não podia admitir. Não era apenas pelos sentimentos de Dinah por mim (fato que, como regra, eu fingia ignorar), mas também porque ela não estava acostumada com aquilo.
Antes de Ariana, Dinah era a única pessoa realmente próxima a mim, com a exceção de Normani e Simon, que naquele sentido realmente não contavam.
Quando Ariana Grande chegara, e principalmente quando nós começamos a nos aproximar, o descontentamento de Dinah era visível. Foi uma das épocas mais difíceis para nosso bizarro triângulo amoroso – Dinah, Normani e eu. Três amigas que se adoravam, mas que ao mesmo tempo sofriam de sentimentos conflitantes. Dinah gostava de mim como mais do que uma amiga. Normani sempre fora afim de Dinah – que não fazia a menor ideia disso – e sempre tentara negar esse fato para todo mundo, ao mesmo tempo em que fingia não saber o que Dinah sentia por mim. E eu? Eu estava me apaixonando por Ariana naquela época, amava Dinah como uma irmã e não queria que nem ela e nem Normani se machucassem. Com o tempo Dinah se tornara melhor em esconder seus sentimentos, e as coisas voltaram ao normal. Agora, porém, Dinah Jane parecia estar transferindo para Aramis o sentimento que tivera por Ariana frente ao fato incomum de que outra pessoa estava se tornando próxima a mim.
O clima ruim na sala começava a se fazer impossível de ignorar quando o som da porta se abrindo trouxe a salvação.
Salvação na forma de Clarke Griffin.
O sorriso tímido habitual da loirinha murchou assim que ela adentrou o aposento. Com a testa levemente franzida, Clarke olhou de Aramis e Dinah para mim e Normani, como se pudesse ver as nuvenzinhas negras se formando no aposento. Bom, nuvens eu não sei, mas algo ela podia ver. Clarke via auras, ou coisa assim, certo?
Minha pobre aura depois daquela noite devia estar parecendo um buraco negro de tão escura.
Percebendo que todas as atenções haviam se voltado para ela, Clarke balançou a cabeça como se tentando espantar os pensamentos e se voltou para mim.
– Camila? Hm... A Lauren me pediu pra te avisar que ela está te esperando na sala de treinamento. Ela quer conversar.
– Avisar? – eu perguntei, rindo sem humor – Espera, me deixe adivinhar... Essas foram às exatas palavras dela, não é? Avisar. Como seu eu não tivesse nada melhor pra fazer da vida do que ir atrás dela.
– Mila, não me bate, mas... No momento você realmente não tem nada pra fazer. – disse Normani. Oh, isso que é amiga. Mas acho que eu não podia culpá-la se o que ela estava sentindo por mim no momento não era exatamente simpatia. Na verdade, era até melhor eu sair daquela sala e levar Aramis comigo. Mesmo eu não me sentindo mentalmente pronta para encarar Lauren novamente tão cedo. Oh, céus. Ás vezes eu só queria poder fazer tudo simplesmente desaparecer. Virar “puff”.
Ótimo. Agora eu estou usando onomatopéias na minha mente. Deus, me ajude.
– Melhor ir ver o que ela quer. – eu disse, forçando um sorriso. Me voltando para Aramis, eu suspirei – Desculpa. Nós somos tão ocupados, e quando surge uma oportunidadezinha pra conversar, a morta-viva atrapalha.
– Não precisa se desculpar. Eu já ia ter que sair mesmo. Reid está reforçando o número de caçadores nas ruas depois da notícia. – disse Aramis.
– Ele ficou um pouquinho bitolado com essa história. – eu concordei, proferindo o eufemismo do milênio.
Com um “tchau” meio sem jeito para minhas amigas, Aramis saiu da sala e subiu as escadas junto a mim e Clarke, que por algum motivo, que eu desconfiava conhecer, resolvera me acompanhar. Minhas suspeitas se confirmaram quando, ao nos separarmos do caçador no andar superior, Clarke imediatamente se voltou para mim.
– Tente não ser dura com ela. E ignore se ela tentar te atingir de alguma forma. – disse ela.
– Oh, então eu devo ouvir qualquer besteira que ela tenha pra me dizer e não revidar? – eu perguntei, sarcástica. Não havia motivos para perguntar de quem ela estava falando.
– Acredite se quiser, ela não quer te machucar, por mais que esteja convencida do contrário. Lauren está confusa. As vibrações que ela está emanando são quase impossíveis de decifrar.
– Ok, Clarke. – foi só o que eu disse, tentando não soar muito grossa. Eu sabia que, se tentasse falar mais alguma coisa, acabaria sendo rude ou até meio agressiva. Aquele era um assunto que eu não queria discutir com ninguém, muito menos com Clarke, que ao mesmo tempo parecia saber tanto e tão pouco. Eu tinha certeza que Lauren, assim como eu, não havia dividido os acontecimentos dos últimos tempos com ela, mas a garota era simplesmente sensível demais para esse tipo de coisa. Ela desconfiava que existia mais entre mim e Lauren do que nós deixávamos os outros saberem, eu tinha certeza. Mas mesmo assim não queria brigar com Clarke. A cada dia eu gostava mais dela. Uma vez que se vencia o exterior tímido, descobria-se uma garota madura, inteligente e bizarramente perspicaz, além de doce, confiável e compreensiva. Aos poucos Clarke estava perdendo a timidez comigo e se tornando uma amiga de verdade.
Nós andamos o resto do caminho em silêncio. Clarke me deixou na porta, me desejando apenas um “boa sorte” que soou sincero. Deus sabia que era o que eu precisava.
Respirando fundo, eu abri a porta.
– Ok. – eu disse para Lauren, que se levantou dos colchões de ginástica nos quais estava sentada assim que eu entrei – Diz logo o que você quer. Eu realmente não estou a fim de conversar.
– Oh, não? – perguntou ela, fingindo confusão – Quer partir logo pra parte do beijo então?
Eu realmente não sei o que me deu. Ok, sei sim. Foi raiva. Raiva daquele sorriso convencido, daquele jeitinho superior, daquelas palavras com a única intenção de me irritar. A soma de tudo isso foi o suficiente para me fazer vencer os poucos metros de distância que nos separavam e lançar meu punho em direção ao rosto dela. Lauren, porém apenas o segurou, rindo e prendendo também o outro após minha segunda tentativa fracassada de soco.
– Vamos lá, Camz, você sabe que raiva é a maior inimiga da precisão. – ela disse, entre risos – Acho que preciso voltar a te treinar.
– Oh, é mesmo? – eu disse, logo antes de torcer um pouco os punhos, conseguindo ao mesmo tempo soltá-los e prender os de Lauren. Antes que ela pudesse reagir, a puxei para mim pelos braços com força ao mesmo tempo em que a golpeava na barriga com o joelho. Eu a larguei e ela escorregou para o chão com um gemido – E só pra constar... Não ouse encostar um dedo em mim de novo.
– Você não estava reclamando algumas horas atrás. – ela disse, se levantando.
Dessa vez eu me controlei antes de agir por puro impulso.
– Você realmente quer que eu te machuque, não quer? – eu perguntei. Ela havia começado a me cercar, e eu fiz o mesmo, de forma que andávamos como se traçando um círculo no chão, uma de frente para a outra – Sempre soube que você era do tipo que gosta de apanhar.
– Engraçado, não fui eu que fiquei toda animadinha com a ideia de palmadas. – ela rebateu, sorrindo daquele jeito irritante.
Aquilo já era demais.
Tenho vergonha de dizer que me descontrolei e parti para cima dela naquele ponto. Minha calma já estava por um fio, e com ela provocando, não tinha como me controlar. Mas era exatamente isso que ela queria. Com uma agilidade impressionante, Lauren se desviou de mim, em seguida me prendendo por trás enquanto eu passava pelo buraco no ar antes ocupado por ela.
– Você realmente precisa aprender a controlar seu temperamento. – ela disse no meu ouvido, a voz provocante e eufórica pela luta, enquanto suas mãos acariciavam meus pulsos, que ela prendia contra minhas costas – Pelo visto ele é tão indomado quanto seus hormônios.
Oh, ela estava pedindo.
Com toda a força que eu tinha, lancei minha cabeça para trás, acertando a dela. Lauren me soltou imediatamente e eu aproveitei para me virar para ela, imediatamente dando um chute circular. Consegui acertar o peito dela e a vampira caiu, grunhindo de dor.
– Isso é o suficiente ou você quer mais? – eu perguntei, juntando toda força que eu possuía para me manter relativamente calma – Escuta, Lauren, eu realmente não estou no clima para brigar com você. Se dependesse de mim, eu não estaria nem olhando na sua cara no momento. Na verdade, se dependesse de mim você estaria se mudando pra outra galáxia. Mas a Clarke me disse que você queria falar comigo, então fale de uma vez!
– Se é assim que você se sente, pode ficar tranquila, Cabello. – disse ela – Eu só queria te avisar que você não vai precisar conviver com a minha tão odiável pessoa nos próximos dias.
– Lauren, em primeiro lugar, você não é uma pessoa. E em segundo... O quê? – eu perguntei, confusa.
– Se você não tivesse saído tão cedo da sala de Reid, saberia que eu o avisei que ficarei cerca de uma semana sem aparecer por aqui. Quero resolver umas coisas. Não devo passar mais de três dias fora da cidade, mas disse a Reid que seria mais, começando por amanhã. É que além de tudo eu preciso de um tempo sozinha, para organizar minha cabeça.
Algo no que ela disse não me pareceu totalmente certo, como se houvesse algo que ela estivesse escondendo de mim. Um tempo sozinha? Não. Lauren não era o tipo que precisava de tempo para pensar nos problemas. Eu não sabia o que exatamente ela planejava, mas tinha algo ali que ela não estava me contando.
– Pra onde você vai?
– Isso eu não posso te dizer. – ela respondeu, sem me encarar – Mas antes que você pergunte, não tenho nenhum plano maligno ou o que quer que você esteja pensando.
– O que você vai comer? – eu perguntei, antes que pudesse me controlar.
– O quê? – ela me encarou confusa.
– O acordo não vale fora da cidade, certo? E você não vai ter as doações de sangue para beber... Vai poder atacar pessoas.
– Suponho que sim. – ela disse, sorrindo de leve – Claro que eu poderia simplesmente assaltar hospitais, mas sim, eu posso voltar a caçar pessoas fora de Miami. Eu sinto falta disso... Mas por que a pergunta? Vai pedir que eu não mate humanos?
– Eu não vou te pedir nada! – eu exclamei, irritada. Eu não chegaria aquele ponto. Me recusava a pedir o que quer que fosse para aquela criatura.
– Oh, o orgulho. – disse Lauren, suspirando – Meu segundo pecado favorito.
O sorriso que ela me lançou tornava desnecessário perguntar qual era o primeiro.
– Você devia tirar uns dias de folga também, sabe? – continuou ela – Aposto que você nunca tirou férias. Te faria bem. – disse ela, seu rosto aos poucos adquirindo certa seriedade – Você pode fingir que não, mas eu sei que você está preocupada e que eu não sou a única dos seus problemas. Essa história toda com o Mestre anda te deixando estressada. E o pior, assustada.
– Não é da sua conta. – eu respondi, irritada. Lauren apenas continuou me encarando, como se visse dentro da minha alma – E para de me olhar assim!
– Assim como? – ela perguntou, a voz neutra.
– Como se você me conhecesse! – eu exclamei, exasperada.
– Eu te conheço, Cabello. Te conheço melhor que as suas amigas. Porque elas veem apenas o que você quer que elas vejam. Já eu... Eu já te vi no seu pior, Camila. Já te vi em seu momento mais cruel, mais frio. Eu vi um lado seu que nem você conhece direito.
– Se você acha que o que aconteceu na sua cripta é o pior que eu posso fazer... – eu ri sem um pingo de humor – Você definitivamente não me conhece.
– Pode até ser. Mas alguém antes de mim já esteve disposto a te conhecer? Conhecer não só o que há de bom, mas também o que há de ruim em você? Me diga, Camz, alguém antes de mim já se interessou em conhecer a verdadeira Camila Cabello?
Eu não sabia o que responder.
– Era só isso que você queria? – eu perguntei, sem encará-la, fugindo visivelmente do assunto. Lauren suspirou.
– Era. – disse ela, em tom meio derrotado. Ela começou a passar por mim de forma a sair do aposento, mas parou de súbito – Por que você está com o cheiro de Aramis? – perguntou ela, com a mandíbula travada.
Droga de super olfato vampírico.
– Não que seja da sua conta, mas eu o abracei. – eu respondi, de forma quase defensiva. Era estranho que ela tivesse demorado tanto para perceber o cheiro do outro caçador.
– Oh, claro. – disse Lauren, em um tom que misturava sarcasmo e irritação. Ela me encarou por um longo momento com um brilho raivoso, possessivo no olhar, e eu cheguei a pensar que ela me agarraria. Na verdade, por um momento eu quis que ela me agarrasse.
A de certa forma fria fúria no rosto de Lauren, precariamente controlada, me excitou de um jeito estranho. Ninguém nunca me olhara daquele jeito. Talvez por isso eu nunca tivesse percebido o quanto o ciúme me atraía. Era... Boa à sensação de ver uma mulher irritada daquele jeito com a ideia de existir outra pessoa na sua vida.
Mas pra minha extrema surpresa e decepção, Lauren, depois de um tempo, apenas continuou seu caminho em direção à porta, sem dizer mais nada.
Algo dentro de mim despertou naquele momento. A lembrança de que havia algo que eu ainda precisava fazer e a sensação de que eu não podia deixá-la ir daquele jeito se misturaram dentro de mim e me deram forças para falar o que era necessário.
– Lauren? – eu chamei, quando ela já estava com a mão na maçaneta, surpreendendo até a mim mesma.
Ela se voltou para mim, confusa, e esperou enquanto eu lutava para botar aquelas palavras para fora. Eu nem ao menos sabia o que exatamente me levara a querer dizê-las, apenas... Apenas senti que devia.
– Não mate ninguém quando você sair da cidade. Por favor. – eu pedi, juntando toda a coragem que eu tinha.
Lauren não respondeu. Apenas me olhou por um longo momento com uma expressão indecifrável, depois abaixou levemente a cabeça e saiu da sala.
Eu não tinha motivos de acreditar naquilo. Na verdade, tinha todas as evidências para pensar o contrário. A natureza de Lauren, a raiva que ela devia ter de mim pelo modo como eu a tratava... Mas naquele momento eu acreditei.
Naquele momento eu tive certeza que Lauren atenderia meu pedido.
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