Olhei em seus olhos e o mundo sumiu. Todas as minhas preocupações se foram, nada mais importava, ela estava bem.
Hinata
Foi uma situação, no mínimo, irônica. Durante anos cresci ouvindo como os vampiros eram traiçoeiros e sanguinários. E, no final das contas, cá estava eu, me unindo a eles. Não era um clima amigável, mas a tensão estava mais leve; se comparado a antes. Mas eu já tinha isso em mente; engolir meu orgulho e me unir a eles por uma causa maior. Meu orgulho nunca foi dos maiores e todos parecia cooperar. Porem apesar de tudo, Usui ainda me irritava às vezes.
Um dos mapas que o jovem puro sangue roubou estava aberto sobre a enorme mesa de madeira. Na sala, sangue puros, alguns vampiros influentes, poucos ex-humanos... e eu.
–Aqui é aonde, provavelmente, esta Suzuna. - apontei para as celas desenhadas rudemente no mapa.
Todos os prisioneiros que tinham certa serventia ficavam ali; como eu fiquei durante anos.
–Eu vou até lá então – decidiu de imediato Misaki; como esperado dela. Usui a olhou com um sorriso
–Não – disse meio hesitante, não gostava de contrariar a Misaki, porem tinha um plano – Eu sei que quer salvar sua irmã, mas esse é um lugar perigoso – a postura de Misaki não mudou, eu sabia que precisava mais do que aquilo para convencê-la – É um lugar de difícil acesso e o ideal é chegar sem ser percebido, usando as passagens mais escondidas. Eu conheço esse lugar muito bem, deixe-me fazer isso, Misaki – soei determinado.
A princípio, a jovem não pareceu gostar muito da ideia – como esperado – apesar disso, eu sabia que no fim das contas ela concordaria. Misaki confiava em mim e jamais falharia com ela, tão pouco com Suzuna.
–Além das celas – apontei para um ponto distinto no mapa – temos a salão principal, o laboratório subterrâneo e o alojamento principal. Esses lugares devem ser atacados.
–Eu vou para o laboratório – o jovem puro sangue determinou antes mesmo de qualquer discussão. Suas roupas era exageradamente femininas e, se eu não tivesse sido avido antes, facilmente o confundiria com uma jovem Lolita.
–Tem certeza? - indaguei inseguro – O laboratório age como uma colmeia e, além do mais, - fitei o mapa – eu não sei o que pode ter lá
–Acha que eu não tenho capacidade? - foi ríspido e direto. E eu não soube o que dizer
–Tudo bem Aoi-chan – Nós confiamos em você – uma loira interveio, me salvando de certa forma – E além disso, eu e Sayuki-sam podemos ajudar – o abraçou, apertando contra seus seios.
Mas o olhar que o pequeno me enviava era mortífero.
–Aonde o Naraku vai estar? - Misaki tinha os olhos fixos ao mapa
Eu sabia o quanto ela era determinada e uma parte de mim temia o que ela poderia fazer. Passei o dedo pelo mapa, hesitante – Aqui – parei o dedo sobre o salão principal. Era onde Naraku ficava a maior parte do tempo. Embora não pudesse prever o que ele faria quando soubesse de um ataque eminente.
–Então é pra lá que eu vou – Usui disse simplório. O fitei surpreso
–Aonde EU vou! – retrucou Misaki
–Ora Ayuzawa, que coincidência – sorriu, não me surpreenderia se Misaki o esbofeteasse ali mesmo. Mas apesar disso, de toda provocação, ela apenas ficou quieta. Talvez pudesse ser a calmaria que antecede a tempestade, então me apressei em prosseguir o assunto:
–O plano é o seguinte-
–Plano de quem? - perguntou Usui
–Meu plano
–E quem vai segui-lo?
–Todos nós
–Eu não vou.
–Você nem se quer ouviu – ele estava começando a me estressar
–Se é um plano seu, é obvio que não é bom – deu de ombros
–Então você tem algum plano? -perguntei entre dentes
–Não
Antes que eu pudesse retrucar, Misaki puxou a orelha do loiro:
–Você, calado – me lançou um olhar em chamas – Você, desembucha
Aquele olhar em chamas me fez lembrar da nossa infância e de como Misaki era assustadora quando queria.
O plano era simples. Entrar no local sendo sutil e imperceptível e, quando nossa presença fosse revelada, o reforço serviria de distração principal – além de nos ajudar. Todos pareceram concordar, apesar de Usui agir como uma criança. Durante um debate sobre como o reforço viria, reparei em Usui e Misaki. Ele parecia provocá-la o tempo todo, mas apesar disso, Misaki parecia gostar. Jamais admitiria isso em alto e bom som, porem era obvio; ele cuidava dela. A principio eu achava que aquele vampiro era um mero aproveitador. Uma parte de mim estava feliz por estar errado, mas a outra... Ainda tinha sentimentos por era, embora há muito guardados. Mas era bom – de certo modo – saber que alguém cuidava dela. Mesmo que esse alguém fosse um vampiro.
Depois de tudo decidido, partimos para o lugar. Saímos ainda com o sol nos céus. Era engraçado ver a falta de disposição dos vampiros naquele horário. Quando chegamos à lua já havia tomado o lugar do sol. Era cheia. O ultimo dia de lua cheia. Estávamos sobre a colina que precedia o local desejado. Enquanto retiravam algumas armas dos veículos, cheguei à ponta da colina. O cheiro da noite, folha. terra e arvoes era revigorante.
–Shintani – Misaki parou ao meu lado. Uma brisa nos acolheu, um leve cheiro de medo podia ser notado nela. - Eu – me olhou tão fixamente que acabei corando a contra gosto - Conto com você
Assenti firmemente. Alguém a chamou e ela foi atender. Fiquei a fitá-la. Não iria decepcioná-la. E além disso, a vida de Suzuna estava em jogo. Eu definitivamente iria conseguir; tinha que conseguir.
–Não faça besteira, cãozinho – provocou Usui
–Eu diria o mesmo -sorri, rebatendo
E dali, era cada um por si. Quando o loiro se virou, me vi dizendo:
–Boa sorte
Ele virou o rosto, me olhava com certa surpresa:
–Idem – foi sincero.
E dali, seguimos por caminhos diferentes. Transformei-me e pulei da colina. A floresta me engoliu, um denso mar verde que parecia não ter fim. Um leigo poderia facilmente se perder ali, mas eu conhecia cada arvore, cada cheiro; sabia exatamente para onde ir. Fui para a direção que sabia que era a localização das celas. Lá havia uma brecha no enorme muro de pedra; foi dali que fugi. Voltei a ser humano e passei um pouco de terra nos meus braços. Não demoraria muito até que eles pudessem sentir meu cheiro, mas aquilo poderia me dar mais algum tempo; e todo segundo era precioso.
Passei pela brecha, ela dava para o corredor traseiro das celas, esse corredor era pouco visitado – tanto pelos prisioneiros quanto pelos guardas. Retirei do meu bolso uma fita azul. Misaki havia me entregado há mesma algumas horas antes de chegarmos. Precisava de algo com o cheiro de Suzuna, assim seria mais fácil. Aspirei o aroma doce e leve da fita; quase pude sentir como se a jovem estivesse comigo. Em seguida, aspirei o ar profundamente. Cheiros de terra, pedra, urina, pelos; nenhum cheiro doce. Comecei vasculhando os corredores que sabia que ficavam a maior parte do tempo vazios. Tentava sentir seu aroma; inútil.
Ao contrário disso, senti o cheiro de suor de alguém que vinha até mim. O surpreendi, dei um mata leão e esperei até que ele desmaiasse; não seria bom derramar sangue. Andei por mais alguns corredores, parecia um labirinto, mas eu conhecia bem. Um rato passou por mim, o acompanhei com o olhar; ele tinha uma barata na boca:
–Parece que você se deu bem – sussurrei para o roedor.
Ainda estava meio avoado quando senti um pequeno odor doce no meio daquela podridão. O segui, só podia ser. Corri pelos corredores; descuidado. Dei de cara com dois guardas e, entre eles, Suzuna. Suas roupas estavam sujas tal como seu rosto, mas seu cheiro ainda era doce. Não hesitei em atacar; tinha que salvá-la. Um dos guardas se transformou junto comigo e lutamos como dois cães em um corredor de pedra estreito de mais para dois lobisomens. O outro guarda puxava Suzuna:
–Hinata!- Suzuna me chamou enquanto ele a puxava para outro corredor.
Não me seguirei e, quando percebi, tinha sangue e entranhas entre meus dentes. Chega de ser cauteloso. Corri até o guarda, que se escondeu covardemente atrás da baixinha.
–Se você se aproximar, eu a mato! - gritou
Apesar de assustada, a pequena tentava ao máximo manter a calma. Ao contrario de mim, que tinha o coração na boca.
–Volte ao normal – gritou ele.
Mas antes que eu o atendesse, o homem foi surpreendido com uma mordida na mão. Suzuna realmente cravou seus dentes na pele dele. Ele puxaria a arma e atiraria nela, se eu não o tivesse atacado. Uma mordida para lhe arrancar a cabeça foi o suficiente, queria apenas proteger a jovem, porem fora ai que percebi que tinha ido longe de mais. Sobre as patas traseiras era mais que o triplo da altura de Suzuna. Abaixei-me e voltei ao normal. Tinha o rosto sujo de sangue, tal como minhas mãos e minhas roupas haviam rasgado. Uni os trapos que sobraram da minha calça, apenas para tapar meu... Bem, ela não podia ver. Porem Suzuna não parecia se importar com o fato de eu estar quase nu.
–Você me deve uma explicação – disse calma. O esperado dela.
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