Povs Shisui
Me levantei e olhei no relógio vi que eram nove horas da noite. Meus músculos continuavam doloridos e as vezes estralavam em um protesto silencioso contra os meus movimentos.
O ar parecia mais pesado naquele quarto do que nos outros cantos da enorme casa. Com o intuito de sair daquele lugar sufocante, ignorei todos os avisos do meu corpo e caminhei até a cozinha em busca de ar.
A sensação de sufocamento só piorou. Eu sei que isso é só coisa da minha cabeça, mas a sensação é tão real que fica impossível ignorar. Seria muito bom se fosse real de alguma forma, mas eu sei que não é.
Isso é típico da minha mente, ficar pragando peças em mim mesmo. As vezes não é tão ruim, pelo menos a falta de ar me prova que ainda estou vivo. É a única prova.
Meu coração não bate desde o momento que despertei. Quem me dera os mortais estivessem certos e eu pudesse me matar cravando uma estaca no coração.
Segui até o lado de fora e ao alcançar meu destino me senti livre. A sensação ruim se foi, mas o meu vazio e desânimo infinitos continuaram firme e forte como sempre.
É estranho não se lembrar do sentimento de vida. Tenho pena e inveja daqueles que se sentem vivos. Inveja porque é tudo que eu queria e pena, porque sei que um dia elas serão que nem eu.
Peguei um cigarro no meu bolso e acendi. Não é bom ser viciado nessa droga, mais pior ainda é não ser viciado em nada. O cigarro traz um pequeno alívio, por alguns minutos minha mente fica fazia e os meus pensamentos caem no nimpo.
Como eu mesmo sei isso não é duradouro, assim como tudo a minha vida. Sinto gotas molhadas caírem sobre minha pele. Começou a chuviscar, não era o suficiente para me molhar, mas ainda sim, dava para sentir o cheiro de terra molhada.
Continuei tragando o pedaço de papel até sentir algo puxando meu sobretudo. Direcionei meu olhar para baixo e pude ver a pequena criança me puxando com sua pequena mãozinha, era Itachi.
O garotinho me olhava com um olhar curioso, como se quisesse dizer algo mais não soubesse se devia. Suspirei cansado daquilo e resolvi facilitar a escolha dele.
— O que foi?
E pela primeira vez em muito tempo eu pude ouvir o tom grave e rouco da minha voz. A pergunta saiu muito mais gentil do que eu queria, aquele pedacinho de gente despertava uma coisa estranha em mim. De qualquer forma, voltei a tragar meu cigarro ignorando a coisa estranha que era como borboletas no estomago.
— você não devia fumar.
A voz dele era doce e a expressão fofinha. O moreno era baixinho, sua altura era na minha cintura.
—a é? E porque não?
Já que eu não tinha nada pra fazer, porque não entrar no jogo com o pequeno.
— porque faz mal sisui-ni
Nunca tive um apelido, e nem queria. Mais o som saiu tão agradável na voz do outro que eu deixei pra la.
— Você é muito novo pra entender.
— Quantos anos você tem?
— 100.
— eu tenho 5, então quando eu nasci você tinha 95 anos não é?
Eu arregalei os olhos em surpresa. Todos diziam que o pequeno Uchiha era muito inteligente, mas eu não imaginei que ele pudesse ser tão genial. Afinal ele só tinha cinco anos.
— É isso mesmo gênio.
Quando ia dar mais uma tragada no pedaço de cigarro já desgastado, o moreninho foi mais rápido e pegou o papel da minha mão. Jogou no chão e pisou em cima me olhando com um olhar desafiador. Eu dei de ombros.
— Eu tenho mais.
Mostrei a caixa de cigarros pra ele que fez um bico e cruzou os braços. Nessa hora me deu vontade de rir daquele projeto de gente. Dei um sorriso de canto convencido, o que só fez o bico dele aumentar. Logo o garoto desfez a careta e me chamou. Que menininho mais bipolar.
— sisui-ni!
—Hum?
— por que você não gosta de mim?
Aquela pergunta me pegou de surpresa, eu não imaginei que ele perceberia isso. Mais não era completamente inesperado, já que eu não fiz questão de esconder.
Minha vontade era de dizer “porque você é irritante e eu não gosto de crianças”. Pela primeira vez na vida minha consciência pesou, e por mais que tentasse dizer algo som algum saia da minha garganta, sufocante. Depois de uns segundos ficou sufocante.
Mudar de assunto foi minha melhor e única saída naquele momento, e assim eu fiz.
— Vamos para dentro, a janta já deve estar pronta e se ficar aqui por muito tempo pode pegar um resfriado.
Ele assentiu e nós fomos adentrando a casa em busca da sala de jantar principal. Pensando bem, ele não é irritante, e sim intrigante. Se eu descobrir mais sobre ele, posso conseguir entender esse vazio em mim ou o que faz ele ser tão genial e radiante.
Diante desse pensamento, decidi observar o mini Uchiha por um tempo. No caminho ele não pode deixar de fazer uma observação que me desarmou completamente.
— Eu achei que não gostava de mim, mas agora eu entendo que você age com indiferença na frente das pessoas pra se proteger. Então no fundo você realmente se preocupa comigo, isso me deixa feliz.
Como é possível alguém derrubar todas as minhas infinitas barreiras com somente duas frases. Essa é só uma das dúvidas sobre esse menino que me assombram.
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