História Vanilla - Capítulo 9

Assistir Ilhoon fazendo compras cansa Hyunsik mesmo que ele permaneça parado a maior parte do tempo

Ilhoon pega peças de roupa e as joga para o lado se não forem do tamanho certo ou da cor certa ou do caimento certo. Ele nem passa o olho pelos preços e até Hyunsik olha as etiquetas só para ter uma ideia com a faixa de preço com que estão trabalhando. Para ele parece que a faixa é 'astronômica', mas Ilhoon não pediu por uma festa ou para jantar fora, então Hyunsik não vê problema nisso desde que ele não gaste mais do que lhe foi dado.

Ao invés de ficar se preocupando com preços ele espera do lado de fora do provador e segura seja lá o que Ilhoon lhe entrega e usa respostas prudentes quando Ilhoon lhe pergunta se a roupa está boa.

Pois, a coisa é, tudo fica bom no Ilhoon, mas isso não significa que tudo fica bom junto. Cores berrantes e estampas gritantes se chocam mesmo que caiam bem na silhueta de Ilhoon. As calças com estampa de tweed faz com que seu traseiro ficar maravilhoso e Hyunsik murmura isso pra ele, mas ele completa que são, talvez, um pouco, "demais?"

"Demais?" Ilhoon se vira e empina o quadril, olhando no espelho e passando a mão no traseiro. "Mm, não acho. Eu gosto delas. Acho que vou leva-las no lugar do sweater laranja."

Hyunsik agradece à deus silenciosamente pois aquele sweater era pior do que as calças.

No final da noite Ilhoon havia gasto mais de mil dólares e ainda lamentava-se pelas lojas que não tinham conseguido ir. E por mais que Hyunsik pensasse que havia achado a única pessoa que conseguiria facilmente drenar sua conta bancária ele percebe que se sente bem sobre isso tudo.

E esse sentimento perdura pelo resto da semana.

Acontece quando ele está levando Ilhoon para o LAX, na sua última noite juntos.

Hyunsik compra sorvete para os dois enquanto esperam no portão e ele entrega para Ilhoon sua casquinha mista de chocolate e baunilha junto com uma duplicata da chave de seu apartamento. Ilhoon lambe seu sorvete enquanto encara a chave em sua mão antes de olhar para cima e franzir as sobrancelhas, perguntando, como se já não soubesse, "O que é isso?"

"Uma chave para o meu apartamento. Vou te mandar por e-mail o endereço e tudo o que precisa para chegar lá, não é muito longe do seu apartamento." Hyunsik tenta soar casual mas suas mãos estão tremendo, como sempre. "Eu só—quero dizer, meu prédio tem segurança então tenho certeza de que está tudo bem, mas eu gostaria se você checasse mesmo assim."

"A segurança vai me deixar subir?" Ilhoon diz, devagar.

"Se eu ligar antes e dizer à eles para te esperarem, sim," Hyunsik responde, se sentando junto à ele.

Ilhoon permanece quieto por um minuto antes de deixar caio o chaveiro até a base de seu dedo, fechando sua mão nela. Muitas pessoas passam por eles, casais gritando uns aos outros e famílias correndo para não perder o voo. Como em todo lugar que eles vão, ninguém realmente olha pra eles.

"Sabe o que me disseram?" Ilhoon pergunta, se inclinando em sua cadeira de plástico para pressionar sua coxa na de Hyusik. "Me disseram que não há nada como voltar de uma viajem para alguém esperando por você."

"Oh? É mesmo?"

"Sim." Ilhoon morde a casquinha e Hyunsik perceber que o lado da baunilha permanece intocado. "Então eu acho que veremos se é verdade quando você chegar em casa amanhã."

Hyunsik sorri e Ilhoon o beija, braço de metal da cadeira entre eles e a língua de Ilhoon em sua boca com sabor de chocolate e lambendo seus dentes, mordendo seu lábio inferior. Ilhoon é doce e frio, e Hyunsik está derretendo na palma da sua mão.

✧

Ele chega em seu apartamento na noite seguinte e encontra um Ilhoon adormecido em seu sofá coberto em lençóis de lã e parecendo em casa contra o couro marrom. A cozinha é uma bagunça de celofane e latas vazias de cerveja. Todas as luzes estão acesas e um documentário sobre leopardos da neve retumba da televisão.

Assim que ele a desliga Ilhoon se vira de lado e resmunga, "Eu estava assistindo isso," sem abrir os olhos.

"Ué, sem boas-vindas?" Hyunsik pergunta, fingindo estar magoado. Honestamente, ele não está. Tem algo queimando dentro dele apesar da bagunça e do comprimento nada entusiasta.

Ilhoon se senta, cabelos em desalinho e olhos turvos quando ele se inclina para frente, pairando a poucos centímetros da face de Hyunsik por um momento antes de deixar a testa cair no ombro dele. "Oi, estou cansado. Podemos ir pra cama?"

Rindo suavemente Hyunsik se levanta, "Claro, me deixe só—"

"Não." Ilhoon puxa seu braço e o arrasta para deitar no sofá. "Senti sua falta. Por favor?"

Ele acaba dormindo em cima de Ilhoon mesmo que todas as luzes do apartamento estejam acesas e que tenha dormido no avião. Tem algo em estar ali com Ilhoon que o faz sentir como se finalmente seja salvo pra ele sonhar.

✧

Depois disso, ambos apartamentos eram como um lar.

Hyunsik ainda fica nervoso que alguém verá Ilhoon indo para seu apartamento se forem lá muito frequentemente e ele gosta mais do apartamento de Ilhoon. Tem algo reconfortante lá além de Michael que sempre o comprimenta na porta quando ele chega, sempre em seus calcanhares implorando por algo para comer.

Mas ele gosta do jeito que Ilhoon se encaixa em seu apartamento também.

É estranho pois Ilhoon não deveria se encaixar entre sua decoração lisa de madeira, mas contra a possibilidade ele consegue fazer parecer com que pertence ali, misturando-se como um predador perseguindo sua tão querida presa.

Independente de onde estejam sua rotina não muda muito. Hyunsik ou chega em casa para encontrar Ilhoon sentado no balcão da cozinha, lendo revistas de moda e bebendo suco de pomelo ou ele chega em casa para um apartamento vazio e rapidamente vai para o de Ilhoon para encontra-lo fazendo a mesma coisa em sua própria cozinha.

Ficar sozinho, neste ponto, é quase impensável.

Ilhoon ainda tem aquelas noites em que manda uma mensagem para Hyunsik antes e diz que tem outros planos. Hyunsik nunca pergunta o que são e Ilhoon não oferece explicações. O coração paranoico no peito de Hyunsik sussurra para ele que ele não é o único que Ilhoon está vivendo às custas, mas a parte mais racional dele sabe que isso provavelmente não é verdade. Ele não teria tempo, ele só precisa de espaço.

Ele deseja que ele não precisasse. Ele não sabe bem o que é. Ele saiu com garotas durante o colégio, saiu com mulheres durante a faculdade, e ele nunca quis ficar com ela desse tanto não importa o quanto gostasse delas como pessoas. E ele quase sempre gostava. Todas as mulheres que saiu eram pessoas de quem gostava, mas ele acha agora que essa é a diferença que atração e preferência fazem.

É aterrador perceber isso e ele sai com Ilhoon todas as noites por uma semana depois de perceber que ele não quer nada mais além disso.

Ilhoon não escolhe mais as coisas mais caras do menu. Ele escolhe o que gosta, carne pesada e sobremesas ainda mais pesadas que ele afirma que vai malhar para compensar no dia seguinte na academia de seu prédio mesmo que ambos saibam que ele só vai dormir o dia inteiro e assistir reality shows e documentários sobre animais até Hyunsik chegar em casa.

Mesmo com as bochechas um pouco mais redondas esses dias Hyunsik acha que ele é a pessoa mais linda que já viu, ele não teve olhos para mais ninguém desde que se conheceram.

Tudo sobre Ilhoon o deixa sem palavras se ele pensar demais, mas especialmente o fato de que ele mal tem 20 anos. Isso fode com a cabeça dele, honestamente, então ele tenta não pensar demais nisso.

Ele quase esquece de botar dinheiro na conta de Ilhoon no início de Novembro. Sim, parece tão real assim.

~~~~~~~~Lemonade~~~~~~~~

 Ele está parado na calçada, tentando descobrir aonde deveria ir agora, quando um carro para perto dele e a janela abaixa lentamente para revelar um homem de meia idade usando óculos e um sorriso que faz a pele de Ilhoon se arrepiar.

"Quanto ta? " o cara diz e Ilhoon o encara.

"O que?"

"Quanto ta pelo hora?" O home  parece nervoso e está coberto de suor mesmo que o som do ar condicionado em seu carro seja quase ensurdecedor.

"E-eu não—"

Com um suspiro frustrado o cara balança a cabeça e então se manda, deixando um Ilhoon sozinho e confuso sob as luzes de neon.

Apenas mais tarde quando ele está tentando não adormecer, sentado na frente de uma lojinha de conveniência 24 horas, que ele percebe o que o homem está procurando. Ele se sente doente na boca do estômago, mas também se pergunta—quanto?

Quanto ele poderia fazer por uma hora, por duas, por mais do que aquilo?

Quanto aquele cara teria pagado à ele?

Ele só tem mais ou menos 20 mil wons (em média R$65,00) sobrando e sabe que pode fazer durar o resto da semana mais ou menos, mas e depois disso?

Apenas considerar isso faz suas mãos tremeram, mas ele não teve nenhuma sorte em mendigar dinheiro e ele tenta fazer isso pelo menos uma vez por dia. Não tinha o atingido que ele está sem-teto ainda, mas a palavra está lá no fundo de sua mente. Se ele tivesse dinheiro, qualquer quantia, ele poderia ficar em um motel à noite, ele teria um chuveiro de verdade com shampoo e poderia dormir em uma cama.

Ele coloca os braços em volta de si e fecha os olhos.

Quanto?