Na noite seguinte parte dele espera bater na porta de Ilhoon e não receber uma resposta, mas Ilhoon o recebe do mesmo jeito de sempre, o puxando para dentro da sala enquanto fala sobre um novo bar que ouviu de um amigo, usando seus olhos grandes e suplicantes enquanto pergunta se ele podem ir.
"É segundo," Hyunsik diz e Ilhoon pisca de um jeito que diz que isso não significa nada pra ele.
"Eu só quero tomar alguns drinks e ficarei pronto bem rápido," ele promete, juntando as mão, palma com palma como se fosse algum tipo de santo. "Por favor, daddy?"*
"Ai, deus." Hyunsik quase tropeça em si mesmo e ele estava parado. "Tudo bem, só não—nunca me chame assim de novo, especialmente não em público."
Ilhoon o provoca com isso o tempo todo enquanto se veste e durante todo o percurso até lá, ainda rido consigo mesmo enquanto arruma seu cabelo no retrovisor lateral assim que Hyunsik estaciona uma meia milha longe do bar mesmo.
"Se você tivesse me falado sobre isso noite passada eu poderia ter tentado sair do trabalho mais cedo," Hyunsik diz, segurando a pesada porta de madeira do bar para ele.
"Foi meio que algo de última hora," é a resposta que ele consegue de Ilhoon enquanto esse passa por ele, tirando sua jaqueta para revelar uma regata preta que cai em sua silhueta perfeitamente. Ele parece lindo sem fazer esforço nenhum como sempre e Hyunsik se sente estúpido e velho demais para estar perto dele.
"Estou vestido demais," ele murmura e se vira pra puxar o nó de sua gravata.
"Tire isso e seu paletó," ele aconselha, desfazendo a gravata. "Abra alguns botões da camisa e você vai se encaixar direitinho. Mas por favor não tire o relógio. Se tirar ninguém saberá que tem dinheiro."
"Eu não me importo—"
"Eu me importo," Ilhoon o interrompe, soando mais sério do que Hyunsik se recorda já o ter visto. Ele tem seus momentis de exigências e comandos, mas isso é algo completamente diferente. "Só dessa vez, okay? Normalmente eu daria a mínima, mas essa noite é diferente."
Isso atinge Hyunsik e ele se sente estúpido por não ter percebido até o momento. "Quem vamos encontrar?"
Ilhoon tira a gravata do pescoço de Hyunsik e a dobra antes de enfia-la no bolso do paletó. Ele umedece os lábios. É a primeira vez que Hyunsik o vê parecer, mesmo que vagamente, nervoso.
"Uns amigos," ele murmura.
Hyunsik estremece. "Por que não me disse? Eu poderia ter me preparado pra isso."
"Eu não queria que você dissesse não." Ilhoon não olha pra ele, saindo do caminho quando outro casal passa pela porta, pois eles ainda estão na entrada, bloqueando o caminho. "Eu ia falar sobre isso contigo noite passada, mas você estava tão—eu achei que não ia querer."
"É, você ta certo, eu não iria querer," Hyunsik diz, severamente, e Ilhoon o olha de baixo, quase alarmado. Hyunsik nunca esteve tão ciente de quão jovem ele é antes, de quão estúpido ele é. Ele parece um cervo que não consegue se desvencilhar dos faróis do carro. Seus olhos grandes geralmente são cintilantes e manipulativos, mas nesse momento ele parece a beira de lágrimas frustradas.
"Hyung," ele sussurra, e geralmente essa palavra é dita com um tom brincalhão no final, como se ele não achasse que Hyunsik era fosse digno de seu respeito, mas dessa vez tem um apelo nela, ainda mais do que em seu por favor de mais cedo. "Eu deveria ter te falado, eu sei disso. Mas isso significaria tudo pra mim. Você pode ir pra casa logo depois, mas se você pudesse fazer isso por mim eu apreciaria tanto."
"Eu deveria recusar," Hyunsik diz, a voz baixa. "Mas se isso significa tanto pra você—"
"E significa," Ilhoon o assegura, avidamente.
"Apenas alguns drinks," Hyunsik o diz.
"Apenas alguns drinks," Ilhoon repete, concordando.
~~~~~~~~Lemonade~~~~~~~~
Ele vê vários estudantes de ensino médio por ali, mesmo de noite. As vezes quando passam por ele o olham duas vezes, como se percebessem sua idade e pensassem que talvez o conheceriam. Mas ele está tão longe de casa que nunca nenhum deles é alguém que ele conhece.
Mas é claro que tem um grupo de meninos que, mesmo não o conhecendo, cria um hábito de dizer coisas à ele.
Eles o chamam por apelidos que ele não gosta, mas ele sempre acha a melhor maneira de responder que é não responder. Ele não sabe qual a idade deles, mas eles não podem ser muito mais velhos que ele próprio. É patético, na verdade. As vezes o fazem proposta de brincadeira e tudo o que ele pensa é que eles seriam muito sortudos apenas se ele respirasse perto de suas partes.
Ele finalmente diz isso após ter os escutado por semanas, depois de ter trabalhado nas ruas por dois meses ele apenas diz, "você bem que queria," e todos eles ficam quietos, todos os cinco exceto o mais alto deles, que bufa.
"É, vocês são engraçados pra caralho," Ilhoon solta, "voltem pra casa. Vamos, saiam daqui, eu não quero que seus pais fiquem preocupados com vocês."
É a primeira vez que eles vão embora sem falar nada, mas o mais alto com o pescoço comprido sorri pra ele e até acena, o que deixa Ilhoon meio perplexo pelo resto da noite.
✧
Uma semana depois ele o mantém longe de sua mente o melhor que pode, mas ainda lembra quando está sentado em umMcDonald’s, reclamando pra si dos preços no menu de jantares, e aquele mesmo grupo de meninos entra pela porta, sendo barulhentos e gritando seus pedidos. Ele afunda em sua cadeira e tenta parecer imperceptível, tentando focar em suas batatas fritas e no seu copo de água grátis.
(Água é a única coisa que ele bebe agora.)
Mas, é claro, nem um minuto depois um dos caras, o que é realmente feio com o corte de cabelo ruim, diz pra mulher na registradora que ele precisam colocar o lixo pra fora e aponta pra Ilhoon com seus dedos nojentos e suados. A mulher fica confusa e Ilhoon se levanta para se defender, e é então quando o mais alto fala, dizendo, "Ignore ele, ele está sendo idiota, quanto você disse que ia custar tudo mesmo?"
Ilhoon se senta de novo e assiste a cena por um bom momento antes de se virar. Ele não tem certeza se o garoto alto, e bonitinho, estava mesmo tentando ajudar e mesmo que estivesse ele não tem certeza de que queira a ajuda dele. Ele enfia uma batata no potinho de ketchup e pensa que ele pode se defender sozinho, muito obrigado.
"Oi, hm." E lá está o garoto alto, sentando a frente de Ilhoon sem nem pedir antes.
"Olha se não é meu cavaleiro da armadura brilhante," Ilhoon diz, picando seus olhos e empurrando a bandeija pro lado, se inclinando sobre a mesa. "O que você quer em recompensa por ter me salvado? Não é geralmente um beijo na mão? Ou você quer algo a mais que isso? Eu não sou barato, sabe."
"O que?" Ele arregala os olhos e parece escandalizado. "Não, nada disso. Eu só queria ter certeza de que você estava legal—mas você parece bem. Hm. E eu queria—bem, eu sou Sungjae."
"Bem, Sungjae-hyung," Ilhoon diz sarcasticamente, colocando uma mão sobre o coração, "estou emocionado por saber o nome de um dos babacas que me entram no meu caminho várias vezes por semana só para fazerem piadas à minhas custas. E você, naturalmente, está perdoado por tudo isso por ter sido legal comigo dessa única vez."
"Wow." A boca de Sungjae está bem aberta e ele pisca algumas vezes. "Hm, bem, okay. Posso pegar um batata?"
Ilhoon pega o saco de batatinhas e come o resto delas. "Não," ele responde de boca cheia.
Sungjae ri alto e abertamente e Ilhoon o encara, sem saber o que fazer. Ele estava preparado pra Sungjae se zangar com ele o chama-lo por um nome terrível ou outro, mas isso parece mais improvável a cada minuto.
"Os caras com quem ando são idiotas," Sungjae aponta para a janela atrás de Ilhoon e ele se vira pra ver o grupo de Sungjae na calçada lá fora, não parecendo estar fazendo nada em particular. "Eu sinto muito, de verdade. Você não tem motivos para acreditar em mim, mas eu juro que nunca disse nada de ruim sobre você."
"Certo, mas você deixa eles falaram." Ilhoon revira os olhos.
"Eu deixei e é por isso que estou me desculpando agora."
Sungjae é sincero e, se Ilhoon for honesto consigo mesmo, meio fofo. Ele deve ser um ano mais velho, se julgar pela sua altura, e subitamente ocorre a Ilhoon, espontaneamente, beija-lo. Ele se contoce em seu acento um pouco e desvia o olhar.
"Eu acho, hm, eu só queria que você soubesse, sabe—eu te acho muito legal," Sungjae diz, do nada, como se estivesse se segurando para dize-lo o tempo todo.
"Você me acha legal?" Ilhoon repete monotonamente, tentando soar o mais entediado possível. "E por que acha isso? É a parte onde eu dou a bunda por dinheiro?"
"N-não, quero dizer, sem querer desrespeitar essa, hm, essa profissão, mas eu só, ah," gaguejando as palavras, Sungjae puxa o colarinho de sua camisa e sente suas bochechas esquentarem. "Eu só, eu acho o que jeito que você tem de lidar com as coisas bem legal. Eu acho você corajoso por fazer o que faz. Hm, quero dizer, você vive por conta própria, certo?"
"É?" Ilhoon diz a palavra como se fosse um pergunta pois, honestamente, ele não tem certeza do que Sungjae quer dizer. "Não é como se eu vivesse num apartamento bacana e desse festas e ficasse chapado toda noite, sabe disso, certo?"
"Eu sei, hm." Sungjae não consegue parar de mexer em seu cabelo, nem de ficar inconstantemente sem movendo pra frente e pra trás em sua cadeira. "Isso não seria—eu não acho que seja assim—bem, legal...talvez seja a palavra errada pra isso? Eu...eu te admiro. Eu e aqueles caras, a gente só vai pra escola juntos e eles acham que são durões por andar por ai até tarde nos fins de semana."
"E você é diferente?" Ilhoon pergunta, indo pra frente pra que seus joelhos se choquem sob a mesa.
Sungjae se afasta inconscientemente e encolhe os ombros, encarando o tampo da mesa. "Eu acho que não, mas eu quero ser. Não é isso que importa?"
Ilhoon não tem uma resposta pra isso.
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