A apresentação havia ocorrido perfeitamente bem, após ter reencontrado o coelho deu para que nós ensaiássemos mais dois dias, o que foi tempo o suficiente para terminar de decorar as falas e fazer a roupa para o coelhinho vestir, sim, nosso coelhinho se vestiria de príncipe. O dia da apresentação chegou, nossa dupla era a quinta, e eu me sentia ansioso, por mais que não tivesse mais o nervosismo e a vergonha de estar sobre um palco com muitos olhos e expectativas sobre mim, era claro que todos ficamos agitados antes de entrar em peça.
Nosso coelhinho fez tudo que devia e até lambeu a boca do Taehyung na hora do beijo (o que me fez quase morrer de rir a o ver que Tae fazia um esforço sobrehumano para não limpar a boca e sair do personagem. Foram 15 minutos engraçados em uma mini história envolvente, que nos deu uma nota 9.8 de 10. Assistimos as peças dos nossos colegas, que estavam igualmente boas, e fomos para a sala ao lado tirar todas aquela maquiagem e roupa exagerada.
— Eu estou falando, Jimin, ela é tão encantadora... — O moreno suspirou fundo com um sorriso bobo nos lábios. Eu somente balançava a cabeça, rindo do outro enquanto tirava o glitter azulado das bochechas. Tae estava saindo com a garota, que tinha ficado na festa, uma ômega, que se chama Kim Jennie, que cursava pedagogia. Eles trocaram os números e saíram outras duas vezes, a mulher tinha deixado meu amigo encantado.
— Ela sabe que você beija coelhos nas horas livres? — Arqueei as sobrancelhas com um sorriso irritante nos lábios, recebendo uma almofadada na cara em troca, o que me fez aumentar mais ainda a altura das risadas.
— Pelo menos eu não sou encalhado, talvez beijar coelhos traga sorte. — Cerrou os olhos com um sorriso de canto, que me fez fechar a cara. Okay, eu já tinha admitido para mim mesmo que eu era, de fato, uma pessoa difícil de encontrar, alguém que me fizesse querer namorar. Eu até poderia começar a nutrir uma paixão, mas no final eu sempre perdia o interesse, nunca era forte o bastante para me fazer querer ficar. Minha omma sempre me cutucava sobre esse assunto, dizia que ela estava ficando velha e queria muito cuidar de uns netinhos antes de ficar gagá, e eu só ria, fugindo do assunto o mais rápido que conseguia antes que ela tentasse me arrastar para algum filho de alguma amiga.
O silêncio foi interrompido por um Hoseok, que abriu a porta com tudo, me fazendo pular na cadeira. O beta com os cabelos recém pintados de um laranja avermelhado, estava com os olhos cheios de lágrimas, que já caiam em quantidades absurdas. Tae foi o primeiro a levantar, indo até o outro e o envolvendo em seus braços. Os soluços começaram a preencher a sala, Hobi apertava as mãos no peito nu de V, o abraçando como se estivesse desesperado, extremamente magoado. Eu me aproximei, ainda um pouco perdido, colocando a mão no ombro de Jung.
— Hobi... O que aconteceu? — Forçava minha voz a sair o mais suave possível, por mais que estivesse transbordando preocupação, Hope era um homem muito sensível, mas dificilmente deixava que as lágrimas o sucumbissem.
— A-aquele... a-aquele maldito do Y-yoongi.... Me traiu! Quer d-dizer, eu sei, não t-tínhamos firmado n-nada sério... mas eu não a-achei que o v-veria com outra no meio de todos! — A voz saía fraca, tremida e embargada pelo choro e pelos soluços. Um olhar foi trocado entre mim e Tae, transmitindo decepção e raiva. Decepção porque nós tínhamos a certeza de que o Min nunca magoaria nosso amigo, nós confiamos nele, o trouxemos para o nosso círculo de amigos e o tratamos da melhor maneira possível. Raiva, raiva porque Hoseok, mesmo sendo o mais velho, era nosso xodózinho. Min Yoongi não tinha o direito de deixar ele naquele estado.
Eu sabia muito bem que Hoseok iria passar a fugir de Min, não iria tirar aquilo a limpo, e era perigoso até perdoá-lo com um pedido de desculpas açucarado. Mas eu não deixaria aquilo barato, eu ia tirar aquela história a limpo, e seria agora.
— Desculpa, Hobi, eu realmente queria ficar e te ajudar, mas tenho uma entrevista de emprego daqui 5 minutos... — Uma desculpa ridícula e babaca? Sim, mas eu precisava sair dali, e também estava o deixando em boas mãos. Beijei seu ombro e me aproximei de Tae, beijando sua bochecha para me despedir.
— Mesmo forte você ainda é um ômega, Jimin. Tome cuidado... — Tae me conhecia como ninguém mais e ele sabia o que eu realmente iria fazer e que não iria conseguir me impedir de ir.
Com passos apressados eu saí no prédio de artes cênicas e rumei ao de economia, não importando de ainda estar com os cabelos e rosto com glitter, por sorte já estava devidamente vestido, uma calça jeans vermelha com uma regata branca. Perguntei na secretaria se Min Yoongi tinha aulas hoje e que sala estava, porém a loira somente me respondeu que não poderia me dar aquelas informações, e que eu teria que perguntar para outra pessoa ou procurá-lo por conta própria, e merda, como eu teria ter a maldita voz de alfa para ordenar que ela me desse aquelas informações.
Minha mente trabalhava a mil, tentando achar alguma desculpa, que me levasse a ele, algo que pudesse fazer ela abrir aquela matraca, quando uma lâmpada se acendeu. Eu poderia não conseguir uma informação direta de Min Yoongi, mas conseguiria a de alguém muito próximo. Jeon Jungkook.
— Desculpe, eu acho que me confundi. O capitão do time de natação é o Jeon, sim? Eu preciso conversar com ele, o senhor Chim do teatro está louco o procurando, parece que Jeon se inscreveu para uma peça relâmpago. Como sou o representante, ele me mandou vir procurá-lo. — Minha mentira saiu tão bem formulada que até eu poderia passar a acreditar naquilo, meu rosto continuava pacífico e sem nenhum sinal de nervosismo. Não diria que o teatro nos ajudava a mentir, mas sim a saber ocultar sentimentos e sensações, e isso nos ajudava muito a mentir.
— Ah.... Nesse caso, eu acho que posso falar então. – Ela direcionou seus olhos para o computador, parecendo digitar algo lá. A universidade de Seoul tinha um controle bem rígido em relação a presença dos estudantes, por isso eu conseguia saber exatamente se Jeon tinha isso, e em que aula estava. E quanto a peça relâmpago, eram pequenas atuações em que pessoas de outros cursos poderiam se inscrever e apresentar por hobbies, contribuía com ponto preciosos no final do bimestre. — Ele está no terceiro andar, sala 15. Sua aula termina em dois minutos. Como é a última do dia, eu creio que ele poderá te acompanhar.
Com um sorriso e um agradecimento, eu rapidamente fui subindo as escadas até a sala de destino, me sentando no banquinho. Sabia que Min estava no último ano de faculdade enquanto Jeon estava no primeiro, mas tinha esperanças de que o mais novo soubesse o paradeiro do outro.
O sinal do período bateu e logo vários alunos passaram pelas portas, uns me olhavam com curiosidade e outros estavam muito perdidos em seu próprio mundo para me perceber ali ao lado da porta. Não demorou para que o alfa cruzasse a porta, me fazendo puxar o ar com mais força para sentir seu cheiro, um ato involuntário, que fez com que eu me auto condenasse um pouco. Aproximei-me e segurei seu braço, chamando sua atenção. A menina que estava ao seu lado me olhou com certa desconfiança e até antipatia, me fazendo quase revirar os olhos.
— Jeon, posso conversar com você um minuto? — Arqueei as sobrancelhas. O moreno me olhava com certa dúvida, buscando em meu rosto qualquer sinal de provocação ou brincadeira, que claramente não tinha.
— um minuto, tenho treino daqui pouco tempo. — Olhou em seu relógio, e eu quase ajoelhei e agradeci a Deus ele não ter negado. — Lisa, te ligo depois, okay? — A ômega assentiu com um sorriso tão enjoativo quanto seu cheiro de rosas, que me lembravam um grande velório. Lisa... então foi ela quem me impediu de beijar Jeon? Ela era linda... mas eu era mais! — Vai ficar olhando para o nada ou vai me falar o que quer logo? — Seu tom de voz era curto e até mesmo grosseiro, o que me fez respirar fundo e cruzar os braços, não tinha ido lá para brigar, estava ali por Hoseok.
— Onde está Yoongi? Eu preciso acertar um assunto com ele. — Era irritante como eu tinha que olhar para cima por Jeon ser mínimos dez centimetros mais alto que eu.
— O que quer com ele? — Seu cenho estava franzido, confuso.
— Assunto entre mim e ele, não é da sua conta. Será que pode me dizer onde ele está, por favor? — Mordi a parte interna da bochecha, naquela hora eu tinha certeza que Hoseok ainda estava se debulhando em lágrimas no peito de Tae. Eu sabia que não deveria me intrometer tanto assim em assunto particular dos dois, mas também sabia que Hoseok não resolveria aquilo sem ajuda.
— Eu posso saber o que você e ele tem tanto a conversar? — Ele empurrava a língua contra a bochecha com uma irritação começando a se tornar bastante aparente. Minhas sobrancelhas se arquearam e eu mais uma vez respirei fundo.
Dai-me, senhor, paciência para lidar com esse projeto de alfa irritante e gostoso, amém.
Puxei seu pulso e com uma atitude rápida eu o coloquei contra a parede, o encurralando.
— Se é tanto do seu interesse saber disso, eu quero achar seu querido melhor amigo para dar um soco bem dado naquele palmito estragado. Onde ele está? — Minhas mãos apertaram o tecido da sua blusa, meu queixo erguido para poder encarar seus olhos com clareza, me deparando com os mesmos bem arregalados. Não queria ter sido tão agressivo, mas Jeon ao invés de tirar minhas roupas, tirava toda a paciência existente no meu ser.
— Foi levar a prima dele que chegou da França embora... Espera, por que você quer socar ele? — A dúvida em seu rosto chegava a ser cômica. Mas o que ele disse antes prendeu minha atenção. Prima?
— Prima? Que prima? — Arregalei os olhos, assimilando as informações, e se eu estivesse raciocinando certo, era em Hoseok que eu daria um belo tapa.
— Eu perguntei antes!
— Fica quieto e me responde, Jungkook! — Será que ele não conseguia só me obedecer?
— Eunbin, ela veio visitar ele de surpresa no intervalo. Eles são quase irmãos. — Minha cara foi lá no chão assim como meus olhos, que caíram ali. Hoseok tinha aparecido aos prantos lá no horário que ele costumava a passar junto com Yoongi, já que era o intervalo de aulas dos dois. Logo, a mulher que Hoseok viu com Yoongi, era a tal Eunbin. — Agora você pode me explicar que porcaria aconteceu? — Senti seu aperto em meu pulso já que minhas mãos ainda estavam apoiadas em seu peito, e olhando para ele, que mantinha uma expressão séria, eu vi que não sairia dali se não o desse explicações.
— Hoseok apareceu chorando no teatro, dizendo que Yoongi tinha traído ele, que ele estava abraçado com outra garota. — Analisando melhor o contexto, Hoseok só tinha falado que eles estavam abraçados, Yoongi não tinha traído ele. Hoseok era muito exagerado.
— E você — apontou para mim com a mão livre — iria bater nele? — Indícios de uma risada apareceram em seu rosto, e não deu outra, ele estava mesmo rindo da minha cara.
— Por que está rindo? Acha que por ser um ômega, eu não consigo bater em alguém? Cerrei os olhos, não achando nenhum pingo de graça naquilo. Sua risada cessou e ele me encarou, porém em sua expressão eu não conseguia enxergar nenhum deboche, ou sarcasmo, ele ainda permanecia risonho.
— Não é por isso, Jimin. Quando você está bravo parece um filhotinho de gato raivoso, seria mais provável Yoonie apertar suas bochechas do que te acertar um soco. — Inflei minhas bochechas com um bico enorme nos lábios. Aquilo não era verdade!
— Eu sei colocar muito medo sim! É porque você nunca me viu irritado de verdade... — resmunguei audivelmente, mas ele já tinha me visto irritado sim, eu só não queria aceitar que não conseguiria colocar medo em alguém graças à essas malditas bochechas enormes.
— Você promete muitas coisas, Jimin... — Sua mão se arrastou pelo meu pulso até chegar em minha mão, segurando a mesma suavemente. Eu encarei as duas juntas, sentindo seu calor aconchegar a minha. Voltei a encarar seu rosto e percebi ele mais perto do que o normal. Minha respiração falhou e eu havia me perdido na conversa. Seu cheiro de eucalipto parecia ainda mais forte, me inebriando, sua boca parecia estar tão perto, tão vermelha e chamativa. Umedeci meus próprios lábios e me aproximei dele, quase fechando os olhos.
Quando o barulho alto do telefone do outro nos tirou daquele transe, mas diferente do outro dia no ginásio onde nós praticamente fugimos um do outro, nós só nos distanciamos para que ele pegasse seu celular. Eu sentia minhas bochechas extremamente quentes e o coração quase pulando para fora, assim como a raiva de mais uma vez, ser interrompido.
— É o Namjoon, meu treino já começou.... Fala para o Hoseok esfriar a cabeça, Yoongi-hyung nunca faria isso com ele. — Fingindo que o nosso segundo quase beijo nunca aconteceu, Jeon sorriu de canto e eu fiz o mesmo, assentindo com a cabeça, ainda não confiando em falar nada por medo da minha voz sair falhada. Ele me deu as costas, então saindo, e eu fiquei lá naquele corredor vazio, lotado de glitter, com o coração a milhão.
Eu não sabia qual era a de Jeon Jungkook. Quando ele estava com seus amigos era um babaca cheio de comentário babacas e homofóbicos, mas quando estávamos em um lugar vazio, ele mudava. Ainda gostava de me irritar e provocar, e céus, não era ilusão minha o fato de que existia uma tensão entre nós, uma maldita atração.
Não queria entendê-lo, não por agora. Só queria beijá-lo... Como eu queria.
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