Se havia uma palavra para definir esse meu momento era imprudente, depois dos acontecimentos com Lewis eu deveria estar totalmente atenta as aulas, mas estava ansiosa com a chegada dos amigos de Rowena, que estava prevista para hoje, e pior não conseguia tirar uma parte específica da minha conversa com Salazar da cabeça. Quando a mão de Amalia se ergueu tive de reunir toda a minha força de espírito para me concentrar em respondê-la da melhor maneira possível, nesses momentos sou grata pelas inúmeras aulas de etiqueta que tive durante a minha infância e adolescência para poder me comportar na alta sociedade, essas regras eram um ponto crucial em situações como essa, embora sempre que esteja com Salazar ou Godric elas pareçam desaparecer do meu cérebro.
- Não entendo porque alguém iria desejar aumentar o efeito de uma poção. Qual seria o objetivo de alguém ao fazer isso?
- Excelente pergunta, Amalia! A abútua na verdade não é usada principalmente para esse fim, como disse antes ela têm outras funções, mas respondendo diretamente a sua pergunta há motivos diferentes para se aumentar o efeito de uma poção, no caso de uma polissuco é usado para o efeito durar mais tempo, no de uma poção de envenenamento para acelerar o processo de curar, em uma veritaserum para torná-la mais imediata e conseguir fazer efeito até nos mais resistentes a ela. Respondido?
- Sim, obrigada professora! – Amalia me sorriu
- Também tenho uma pergunta, professora. – era Lewis, aquela era uma pergunta que eu já sabia qual era e me envergonhava por ser a causadora dela.
- Diga-a, por favor!
- Por que não foi usada na minha recuperação? Não teria me recuperado mais rápido com ela? – aquela era uma curiosidade que achei que pertencia apenas a Lewis, mas vendo os demais alunos, percebi que era algo conjunto, todos estavam com uma grande expectativa aquela resposta.
- Como o abútua tem propriedades curativas para envenenamento de grau um não pode ser misturada com qualquer poção, porque pode anular o efeito da outra e não intensificá-lo, além disso, nem toda recuperação pode ser acelerada, uma coisa é apressar o cessar de um corte da mão, outra bem diferente é curar um pulmão.
- Entendi! – Lewis me respondeu refletindo sobre o que havia acabado de dizer e os acontecimentos de sua vida, e mais uma vez vi essa mesma expressão compartilhada no rosto dos outros alunos
- Por hoje é isso, estão liberados. – eu sabia que ainda poderia ficar com eles por um pouco mais de tempo, mas não havia porquê para tal, eles precisavam digerir a informação que receberam e eu precisava reorganizar meus pensamentos.
Os alunos foram deixando a estufa devagar, quase como se quisessem continuar ali, mas era apenas uma negação a informação que receberam, era cruel da minha parte não continuar com eles, eu deveria estar ajudando cada um a entender melhor tudo isso, mas estou longe de ser a pessoa mais adequada a explicar o funcionamento de poções, Salazar era bem melhor nisso que eu. Ah! Salazar... E lá foi minha mente me traindo de novo e jogando na minha cara o quão ridícula e estúpida eu fui.
“- Você é gay?
- Exatamente como chegamos a esse momento? Acredito que me perdi em alguma parte.
- Pensei no que disse, que não queria falar sobre seu amigo, logo isso seria porque esse é o cheiro da sua amortentia.
- Na verdade disse aquilo porque achei que mentiu sobre a sua e que pensei que esse era o cheiro real da sua, já o cheiro da minha não lhe diz respeito. Mas, acho curioso o fato de uma hora me apontar como pai da Helena e na outra questionar minha sexualidade. Você realmente precisa de um filtro Hufflepuff. Espero que não tenha esse tipo de comportamento quando os amigos de Rowena chegarem.”
O que tinha acontecido comigo afinal? Por que não conseguia conter a minha mente? Por que perguntava tantas coisas estúpidas a Salazar? E por que escolhi esse bendito tema para a aula de hoje?
Quando o segundo grupo de alunos chegou, eles já haviam comido, por isso achei que estariam um pouco mais cansados, mas acabaram chegando a mesma conclusão do primeiro grupo, e é claro, como eram os meus alunos, não tiveram receio algum em perguntar a mesma coisa que Lewis, a diferença desse grupo é que os alunos de Salazar com certeza iriam interrogá-lo sobre a presença da abútua nas poções, porque desejavam saber para a aplicação prática e não para remoer sobre algo que passou, por isso acredito que eles vão conseguir a resposta que desejam, diferente dos demais.
Liberei esse grupo um pouco antes do horário também, os alunos de Syletherin saíram obstinados a obter as respostas que desejavam, os meus saíram para o ar livre a fim de aproveitar o tempo extra que ficou para eles. Mas, nem todos foram, Heitor continuou ali, enrolando, algo realmente sério estava acontecendo e eu estava deixando passar. Isso não deveria acontecer nunca, meus problemas pessoais nunca deveriam ser maiores do que o bem estar dos alunos ainda mais depois do desastre desse ano.
- Algo em que possa ajudar, professora? – aquela era pergunta que eu deveria fazer a ele e não o contrário, mas ele foi mais rápido que eu. Será porque ainda não comi nada? Não! Já estou acostumada a ficar sem comer, não tem nada a ver, é só o meu raciocínio que está lento.
- Não, Heitor, obrigada! – era nítido o olhar de decepção que se formou nele, era como se ansiasse ficar comigo mais um pouco - Mas, tenho algo que preciso perguntar a você, algo que está me incomodando há alguns dias. – tudo bem, isso não era totalmente verdade, mas ele não precisava saber que eu estava me tornando displicente - O que está havendo com você? Há algo que eu possa ajudar?
- É complicado! – ele suspirou – Eu meio que... Não! Deixa, professora! A senhora já tem coisas demais com o que se preocupar.
Alerta! Meu cérebro gritava para mim, aquela era uma reação que eu não conseguiria ignorar nem que eu quisesse, e tendo em conta tudo o que eu estava fazendo de errado, não iria mesmo ignorar a tristeza e o medo de Heitor. Me aproximei dele e sentei em um banco a sua frente, indiquei o outro e esperei que ele se acomodasse para que começasse a instigá-lo a falar, precisava resolver o que quer que estivesse afligindo a ele.
- Sabe, sou sua professora, a responsável pela casa que você está, mas também sou uma amiga, tudo bem que bem mais velha do que os seus outros amigos, ainda assim sou sua amiga. Deve ter percebido que considero todos vocês como minha família, nenhum de nós, os professores, temos uma família, então nós adotamos vocês e esperamos o mesmo de você, é claro que se vocês não reagirem a nós da mesma forma não vamos julgá-los. Independente do que aconteça ou do que tenha feito estou aqui para você. – e foi nessa hora que ele desatou a chorar
O puxei para um abraço e deixei que despejasse em mim todas a sua frustração, as vezes tudo o que eu precisava era de um ombro amigo, um simples abraço, então, dei a ele tudo o que podia naquele momento, a minha amizade. Acho que pela primeira em um muito tempo não fui impulsionada a chorar junto a ele, me trouxe a sensação de insensibilidade da minha parte, sempre tive uma facilidade de absorver as emoções dos outros, por isso os outros me colocaram no pedestal de pura e altruísta, mas se me vissem agora, teriam a certeza de que eu nunca deveria ter recebido esse título.
Era estranho ver um rapaz como Heitor chorando assim como uma criancinha, apesar de estar em seus 13 anos já tinha um porte atlético, era alto e forte, não parecia em nada com o garoto que estava se debulhando em lágrimas nos meus braços. Sua família era bruxa, e se esforçava para pagar a escola, embora eu tenha tornado o meu valor mais acessível que os demais, ainda não era algo tão fácil para plebeus pagarem, se fosse algo referente a isso eu não teria dúvidas em custear os estudos dele ali. Heitor tem grandes aptidões em herbologia e com certeza conseguirá ajudar sua família com as habilidades que está aprendendo comigo e os demais professores.
- Sinto muito, professora! Acabei molhando suas roupas.
- Não se preocupe, querido! Estou aqui para você, é para isso que servem os amigos. Diga-me em que posso ajudá-lo, além de enxugar suas lágrimas. – sorri para ele, para tentar confortá-lo, mas seu olhar para mim foi de puro desespero
- Meus pais conseguiram me alistar na cavalaria da corte britânica. – Oh! Está aí um grande problema! – Durante aquele período de reformas no castelo, fui com meus pais fazer testes para entrar e consegui, mas eu não sei se é isso que eu quero!
- Entendo agora! Mas, não há com o que se preocupar isso só ocorrerá daqui a alguns anos, até lá pode conversar com seus pais sobre o que deseja ou talvez até passe a gostar da ideia de pertencer a cavalaria. É um cargo de grande estima e muito desejado, mas ainda há um grande caminho a frente a ser percorrido, não precisa se desesperar agora. – essa era a hora que eu esperava que ele se acalmasse, mas não foi o que aconteceu, ainda haviam mais informações
- O problema é esse, professora Hufflepuff! Só poderei entrar para a cavalaria se tiver o treinamento adequado. – Oh! A coisa está piorando ainda mais!
- Precisará de um curso de formação depois que sair daqui, mas você dará conta, tenho certeza!
- A corte vai me trocar de casa! – Aí, está! Esse é o real desespero de Heitor, o que o levou aos prantos de novo e novamente tudo o que pude fazer foi abraçá-lo
- Não se preocupe, querido, os alunos de Hufflepuff continuarão sendo seus amigos e eu continuarei sendo sua amiga e professora.
- Mas, eu não quero trocar de casa, não quero ser aluno de Gryffindor! – eu sabia que não era algo pessoal com Godric, embora possa ter parecido, mas isso seria uma clara negação as aptidões naturais de Heitor
- Nós ainda não recebemos nenhuma carta falando sobre isso, e os custos não serão os mesmo...
- Eu sei, minha família não conseguiria bancar a troca, mas a corte se dispôs a pagar, a carta deve chegar em breve com o pedido de troca.
- Sinto muito, mas realmente não sei como ajudá-lo. – isso ia muito além da minha capacidade enquanto professora
- Achei que poderia interceder por mim, professora. – e ali naqueles olhos havia algo que eu não queria tirar, esperança. Mas, aquelas eram regras que não partiram de nós, então, quebrá-las era algo muito além do que podíamos fazer, ainda assim queria tentar por ele.
- Posso falar com Godric – seu rosto se iluminou ainda mais – Mas, não posso garantir eu conseguirei algo, é muito mais complicado do que imagina. Por hora, sugiro que aproveite o tempo que tem com a casa de Hufflepuff e comece a se enturmar com os alunos da casa de Griffyndor.
- Obrigado, professora! – ele me abraçou e saiu de lá renovado com uma esperança maior do que deveria, eu realmente iria tentar por ele, mas sabia que as chances de eu conseguir algo como isso eram menores que zero.
Ainda tinha tempo antes de a noite chegar trazendo os amigos de Rowena, poderia comer algo, mas ainda não tinha fome, então decidi começar a me arrumar para receber os convidados. Escolher o vestido ainda é uma parte que eu considero difícil, embora minha forma de me vestir tenha mudado um pouco recentemente, as maiores mudanças formam nas minhas roupas de baixo, ainda mantinha a essência das minhas peças, essa me lembrou mais uma parte da conversa estranha que tive com Salazar depois de um orgasmo incrível e sentir aquela maravilhosa parte dele.
“- Por que arruma suas coisas manualmente? – era uma pergunta inapropriada para se fazer logo após uma situação tão íntima quanto a que tivemos, mas levando em conta que ele estava arrumando minhas coisas junto comigo era justa
- Eu cuido de plantas. – respondi, mas ele apenas parou e olhou para mim, me instigando a continuar, pois para ele aquela explicação não tinha sentido – Plantas são seres vivos. Não iria gostar de ser arrumado brutamente como ocorre com um feitiço.
- Então, cuida de plantas e objetos como pessoas. Interessante! Os limites da sua benignidade são bem mais extensos do que eu pressupunha.
- Não sei se devo levar isso como um elogio ou sarcasmo. Mas, vou aceitar como um elogio, porque independente do que seja não mudará meu comportamento.
- Acho impressionante a mudança que você teve desde que nos conhecemos. – poderia agradecer a ele por fazer parte desse progresso, mas Salazar já estava com ego inflado pelo meu pedido indecente de pouco tempo atrás não faria bem continuar a alimentá-lo, ainda que soubesse se comportar melhor do que Godric.”
Ah! Se Salazar soubesse de verdade o que está fazendo comigo!
Por fim, escolhi um vestido em rosa e verde fluorescente, gosto dele por parecer comigo, era estampado no rosa com algumas flores espalhadas, era um tecido vistoso que combinava com o tule verde claro, que vinha nas laterais da saia do vestido em camadas até se unir próximo ao quadril com flores rosas, o tule vinha também por baixo das mangas que eram rosas, bufantes e iam até o meu cotovelo,e na parte do busto o tule verde vinha como um laço logo acima do corpete e era fechado até o pescoço no rosa do vestido.
Esse era um vestido, um dos poucos que eu tinha que não vinha com um chapéu, por isso precisava caprichar no meu penteado, a princípio pensei em deixá-lo solto, mas não seria prudente, as regras de etiqueta dizem que em um evento formal o cabelo deve estar o mais arrumado possível de preferência com um chapéu, mas como escolhi um vestido que não tem um é preciso fazer um penteado.
Trancei meu cabelo longo, em seguida enrolei a trança na parte de trás do meu pescoço em forma de coque, a ideia era que se tornasse algo como uma flor, mas ficou só um coque mesmo, olhando as gavetas da minha penteadeira achei uma presilha de flor rosa que parecia com meu vestido, transformei uma fita de cetim em uma de tule verde e amarrei na presilha, depois coloquei no meu cabelo, próximo ao coque. Não era um penteado complexo, mas estava feliz com a minha arte, me senti bonita, e estar bem comigo era a parte mais importante para conseguir lidar bem com as novas pessoas.
Desci para me encontrar com os meus amigos, para finalmente conhecer os amigos de Rowena que já devem ter chegado. Quando os encontrei na parte dos fundos ao salão principal estavam somente os homens da minha vida – “ESPERA! Homens da minha vida? De onde eu tirei isso?” – Salazar e Godric conversavam amistosamente, era bonito de ver como eles poderiam se dar bem quando não estavam acusando um ao outro ou discordando ou brigando. Eles pararam de falar assim que notaram a minha presença e me olharam de cima a baixo, analisando como eu estava, acabei por ficar rubra com tamanha atenção.
- Você está vibrante! – Godric disse com um sorriso e sorri a ele, embora achasse que havia uma pequena dose de ironia em sua voz agradeci
- Obrigada! – e uma pergunta que eu nem mesmo havia me feito saiu da minha boca – Será que eles vão gostar de mim?
- É claro que sim! – Godric respondeu rapidamente – Eles são obrigados a isso! – sorri – Nenhuma pessoa boa seria capaz de não gostar de você! – e nesse momento meus olhos foram involuntariamente para Salazar, que como sempre, não tinha nenhuma expressão – Se eles não gostarem de você eu mesmo expulso os dois daqui a pontapés. – eu ri de gargalhar ao ouvir essa insinuação tão insana, mas ele bem seria capaz de fazer algo assim
- Não dê falsas expectativas para nós, Godric! Esse é um show que você não poderá cumprir. Hufflepuff se cobra demais, - ele falou como se eu não estivesse ali - acho que mesmo que eles ergam uma estátua para ela não acreditará que gostaram dela.
E num momento como esse, quando Slytherin tenta e diminuir, meu cérebro me trai e manda mais um fragmento da nossa última conversa a sós. Só para me lembrar o como Salazar é diferente comigo daquilo que ele mostra pro mundo.
“-Pois é! E lá se vai mais uma madrugada de sono perdida trabalhando.
-Não classificaria tudo o que fizemos como trabalho. – disse com malícia
- Salazar Slytherin! – o repreendi, mas ele apenas riu. Já disse o quão mais bonito ele fica quando ri? Não. Hoje ainda não. Ele maravilhoso quando ri.”
- Salazar! – Godric o repreendeu – Não seja tão cruel com ela!
- Está tudo bem, Godric! Cobras não me assustam mais!
Godric sorriu vitorioso e parecia estar a ponto de soltar uma provocação a Salazar o que provavelmente causaria uma discussão. Mas, fomos salvos por Rowena e seus dois amigos.
- Esses são: Alene – uma mulher tão linda quanto Rowena acenou – e George, – “Que homem é esse! Merlim me ajuda! Três homens maravilhosos em um ambiente só é demais para mim!”- os irmãos Flandres!
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