Existia uma série de coisas que poderiam estar na minha mente agora, o jantar com os Flandres seria uma dessas, mas tudo o que eu conseguia pensar era em Syltherin, mas especificamente em um momento.
“Salazar segurou meu braço, me impedindo de sair dali no mesmo instante que os outros, chegou bem perto de mim, aproximou sua boca de meu ouvido, me causando arrepios e sussurrou.
- Você está horrorosa nesse vestido! – ele me soltou e saiu, como sempre, sem esperar uma resposta, me deixando sozinha
Aquela era a pior coisa que eu poderia ouvir, estava me sentindo bonita nesse vestido verde e rosa, mas as palavras dele sempre conseguiam me machucar mesmo quando eu achava que não. Tive de me esforçar para me despedir dos demais e seguir para o meu quarto.”
Era madrugada e eu estava sentada chão do quarto olhando para o meu vestido, aquele que eu pensei que era lindo e impressionaria nossas visitas, eu sabia que Salazar costumava ser duro com as pessoas, até mesmo comigo quando estávamos com outras pessoas, mas Godric era sempre gentil, e nem mesmo ele me disse que eu estava bonito, ele disse que eu estava “vibrante”. Merlim! Eu estava horrorosa! Os Flandres devem ter pensado que eu sou totalmente desequilibrada. Como é possível que meu guarda-roupa tenha tantas peças feias?
Aquele era o terrível momento em que eu percebia que apesar de tudo meus esforços não valeram de nada, continuava sendo a mesma pessoa sem graça e nenhum senso de moda ou beleza. Como alguém como eu faz parte de uma escola como essa? Que tipo de bruxa é essa que não sabe nem mesmo se vestir? Será que eu era uma boa professora? Eu sabia essa resposta! Afoguei um aluno, não percebi o problema de outro, era fácil saber que eu não era boa o suficiente para Hogwarts. Chorona! Ainda era uma chorona que não conseguia chegar a constatações simplórias como essas sem chorar.
Quando acordei estava dolorida por ter dormido no chão, com o rosto inchado de chorar, mas decidida. Alguma coisa eu faria de forma correta hoje! Se era pra eu errar e andar como uma palhaça o melhor era não tentar, então, peguei um dos meus vestidos clássicos. Era um vestido todo listrado na vertical em verde musgo e beje, fechado até o pescoço, com mangas longas e um pouco abertas nas pontas, tinha botões na frente acompanhando o corpete e pequenas franjas nas laterais do corpete e das mangas. Não era nem de longe um vestido bonito, mas era simples e eu saia que com aquele eu não erraria, e poderia trabalhar tranquilamente. Fui direto para o salão comunal dos meus alunos, precisava comunicar a eles as mudanças que teríamos, mesmo não afetando tanto a nós.
- Bom dia, queridos! - cumprimentei meus alunos que estavam todos reunidos me esperando – Devem ter percebido que temos visitantes no castelo, eles serão nossos novos professores por um tempo, porque será de escolha deles permanecer conosco ou não. Eles são amigos da professora Ravenclaw, então, ficaram mais tempo com os alunos dela, até porque o que nos é ensinado é o suficiente para nossas atividades. Os Flandres são habilidosos em astronomia e adivinhação, diferente da professora Ravenclaw que é especialista em história da magia, então, eles apresentaram para vocês um pouco sobre essas duas artes. Peço que se comportem e não questionem demais, lembrem-se que essas não são as habilidades de vocês, isso é além do que devem saber, então, não sejam curiosos demais, mas sejam bons, como eu sei que vocês são. Alguma pergunta?
Nenhuma mão se ergueu, acho que inibi demais a curiosidade deles, mas era o melhor a se fazer, se mais professores fossem surgindo eles precisariam saber que seriam ignorados, precisavam se acostumar mais do que qualquer outro grupo de que não mereciam as respostas. A visão era cruel, mas era a realidade, fazer parte da plebe trazia esse fardo a eles, por isso sou ainda mais grata aos meus amigos sem eles não conseguiria fazer com que essas crianças que estavam na minha frente aprendessem a controlar sua magia.
- Então, vamos tomar café! - e lá foram, empolgados, meus alunos. Esperei até que Heitor passasse, ele tentou se misturar aos pequenos grupos e ir, mas não funcionou, o segurei e de mãos dadas fomos descendo junto aos outros alunos. - Não precisa fugir de mim, mesmo se estiver em outra casa continuarei sendo sua professora, não mais sua responsável aqui, mas ainda assim alguém com quem possa contar. Falarei hoje com Gryffindor, antes mesmo da sua carta chegar para ver se há algo que possa ser feito.
- Obrigado, professora Hufflepuff!
O dia passou mais rápido que o normal, talvez por estar sem a menor vontade de ter a conversa com Godric, porque eu sabia que aquela era uma batalha perdida, mas ainda sim eu dei minha palavra a Heitor, então eu intercederia por ele. A realidade é que os Flandres ajudaram não só a Rowena a ter mais tempo com a Helena, mas a todos nós, era a primeira vez em muito tempo que eu saia da sala em um tempo normal, porque não precisei de muitas horas para arrumar tudo, isso porque tive intervalos entre uma aula e outra.
Durante o almoço nos reunimos no salão, e como sempre acontecia os alunos ficavam encantados, e tal como ontem, a presença dos irmãos atiçou a curiosidade de cada um ali, e para eles era impossível desviar os olhos da nossa mesa. Mas hoje conseguiram se comportar melhor que ontem a noite, quando a curiosidade deles foi maior do que a costumeira fome, e nem mesmo o bolo da sobremesa fez com que eles tirassem os olhos de nós, a sensação de euforia foi tamanha que todos permaneceram no salão principal até que nós nos levantássemos, algo que só ocorreu bem mais tarde que o normal. Hoje eles conseguiram acabar de comer, prestar atenção na sobremesa e saírem antes.
Aproveitei o almoço para concretizar a lástima que havia descoberto ontem de madrugada, depois de me olhar milhões de vezes e reprisar a fala de Salazar, mas ainda assim, quis uma opinião feminina sobre o caso, e perguntei a Rowena.
- O que você achou do meu vestido de ontem? – a surpresa em seu rosto, foi substituída por um sorriso, já estávamos começando a nos entender como amigas
- Foi uma escolha ousada! Era muito informação e cores em um lugar só para mim, mas era alegre como você!
- Por Merlin! Eu estava horrorosa! – usei as palavras de Salazar, e Rowena riu
- Não se preocupe, você sustentou muito bem o vestido, não seria capaz de usá-lo com tamanha confiança. Esse de hoje é melhor! - eu sabia que esse não era bonito, mas era menos vibrante do que o outro
- Rowena, você só está tentando me convencer disso, mas eu sei a verdade, sou uma negação com vestidos.
- Acredite! Não estou mentindo! Se quiser posso beber uma veritaserum agora pra provar que falo a verdade, mas se quiser não acreditar em mim, tudo bem. - eu ri e encerrei o assunto, minhas conjecturas estavam corretas, então voltei minha atenção aos Flandres
Desde ontem, conversar com os irmãos me fez ver o quão louco o mundo pode ser e o quanto eu o desconheço, ainda assim foi uma experiência maravilhosa ver Godric e Salazar mostrando reconhecimento a alguns lugares dos quais os Flandres falavam, o que só me despertou ainda mais o desejo de saber o quão próximos os dois são, como se conheceram e o que os levou a quase se matar mais de uma vez.
Com a mesma rapidez que as da manhã passaram as aulas da tarde. Dessa vez fomos direto para a nossa sala de reuniões, porque falei que precisava conversar com eles, a princípio faríamos somente entre nós quatro, mas disse que não me importava se nossos visitantes participassem, talvez eles pudessem fazer um milagre para Heitor. Era estranho estar ali nessa posição, raramente aconteciam reuniões por minha causa, na verdade acho que nunca houve uma antes, não por mim.
- Bom..ahm… - estar com tantos bruxos tão superiores a mim me causou constrangimento, parecia que eu não sabia o que deveria falar, estava insegura
- Senhorita Hufflepuff, se preferir podemos nos retirar, minha irmã e eu não ficaremos incomodados com a situação. Inclusive peço desculpas, deveríamos ter identificado um convite por delicadeza. Sinto muito, pelo constrangimento. - ele estava se levantando para sair e chamava sua irmã, quando os interrompi
- Por favor, fiquem! Eu quero a presença de vocês! Lamento que tenham visto meu acanhamento como indisposição de vossas presenças. - George sorriu e se sentou novamente. “Como ele podia ser tão bonito assim? Foco, Helga!”
- Qual o problema, Helga? - Godric fez questão de frisar o meu primeiro nome, mostrando a eles que mantínhamos o padrão de intimidade acima do apropriado segundo as regras da sociedade
- Acho que poderia dizer que você é parte do problema. - minha resposta fez com que meu amigo e paixão superada, se enrijecesse na cadeira – Meu aluno Heitor, foi convocado para fazer parte da cavalaria – vi a postura de Godric relaxar e o olhar que antes era intrigado agora mostrava compaixão, porque ele entendia o que isso significava – Eles não querem esperar até ele terminar e fazer o curso complementar, pretendem trocá-lo de casa, mas ele não quer…
- Sinto muito, Helga, mas sabe que não temos o que fazer – Rowena me respondeu – a carta chegou hoje de manhã.
- Heitor é um bom menino e está recebendo uma chance que poucos terão na vida. Ele não pode desperdiçar! - Godric argumentou
- Você e seu aluno deveriam se sentir honrados por ganharem algo assim, é um privilégio poder sair da plebe para se juntar a uma classe mais digna. Ninguém que se preze quer ficar como um servo a vida toda, na verdade, nem parte da vida.
Se faltava algo para que eu perdesse toda a minha compostura Slytherin conseguiu suprir essa falta. Como ele podia dizer isso? Seu melhor amigo era um plebeu, Godric lutou muito para conquistar um título de cavalaria, não foi escolhido como Heitor, mas mesmo assim valorizava seu lugar de origem. Mas Salazar é sempre tão arrogante e prepotente, que tudo parece uma afronta direta a qualquer um, e como vinha acontecendo bastante recentemente, perdi meus bons modos e educação britânica, comecei a gritar e apontar o dedo para ele, furiosa.
- Isso é o previsto de você! Não é capaz de amar nada nem ninguém! Todos os problemas dos outros não são importantes para você, não são dignos da sua atenção! Você não é capaz de reconhecer o valor das pessoas! Age como se fosse superior a todos aqui! Mas se esquece que eu também sou parte dessa aristocracia da qual você tanto se orgulha. Só que Godric, o seu melhor amigo, acho que o único também, veio dessa gente, veio dos servos que você tanto odeia. Fala pra ele Godric, como você tem orgulho de suas raízes!
Silêncio!
Olhei para ele que estava de cabeça baixa, olhando para o chão. Godric não se orgulhava de suas origens, não tinha amor pelo seu passado como eu pensava, mas foi justamente por ser um servo que nos conhecemos, seus pais foram trabalhar para a minha família. Ele não gostava de como nos conhecemos. Sempre achei que ele queria se tornar um cavaleiro para poder casar comigo, mesmo agora que sabia que essa não era a verdade, acreditava que era para ser reconhecido como um bruxo, alguém que pudesse ter os feitos honrados por todos os britânicos, mas a verdade é que ele só sentia vergonha.
- Talvez seja por isso que sejam amigos! - despejei minha raiva em Griffyndor – Não vale nada como ele! - apontei Slytherin – Vocês se merecem! Tenho pena das crianças que estão com vocês. O que eles aprendem? A serem uns bostinhas com seus servos? - queria falar um palavrão, mas não consegui, então, usei as palavas de mais baixo calão que conseguia – Vocês são uns bundões! Não acredito que trabalho com pessoas tão vazias como vocês! Não esqueça, Griffyndor de servir a todos aqui com muita honra e devoção! - falei para o ferir, e consegui, pois seu olhar para mim era de tristeza
- Sabe o que é, Hufflepuff? Você se identifica com a plebe, é por isso que ela faz parte da escola, mas não somos obrigados a fingir que nos importamos. Porque se quer a verdade, eu não me importo! Não quero saber de verdade o que está acontecendo com eles. Se me acha cruel por isso, sinto muito, mas é quem eu sou. Seu show não vai mudar nada! Se acha que resolve alguma coisa, não resolve, mas se acalma você, por favor, continue!
- Por que faz isso comigo o tempo todo? Finge que se importa comigo e repudia tudo o que eu faço, se desfaz das pessoas que protejo. Gostaria que parasse agir como se fosse meu amigo e passasse a usar da sua formalidade. Você não tem coração! Não sabe amar! Ninguém te ama também, nem vai amar! No mundo inteiro não existe ninguém que seja capaz de suportar quem você realmente é! Sinceramente não sei como ainda está vivo. Imagino que deva ter que usar seu crédito de aristocrata para se salvar. Pede para eles te chamarem de lorde? Porque eu posso fazer isso, se for pra me libertar da sua falsa preocupação. Já que não reconhece minha nobreza, talvez eu deva me comportar como uma serviçal para você. Lorde Slytherin, o que posso fazer pra te servir hoje? Foi superior o bastante pra o senhor meu lorde?
- Na verdade não! - ele me olhou me desafiando – Sou um duque! - “O quê?” - Surpresa? Sou um nobre, então, sim, sou superior a vocês de acordo com as titulações da coroa britânica. Por que acha que eu tenho um castelo? Nem sua família que é uma das mais reconhecidas do reino não são superiores a minha. Se quer tanto saber a opinião de Godric a respeito disso tudo, eu respondo, ele não se importa. Não queriam dar um título para ele, precisei interceder junto aos monarcas para que ele pudesse se tornar um cavaleiro. Como sempre o seu temperamento explosivo e emoções voláteis a deixaram de fora dessas informações.
- Todos… sabiam? - silêncio – Rowena? - olhei para minha amiga
- Sinto muito!
- Surpresa de novo! - Salazar disse com deboche
- Isso não muda uma palavra do que eu disse! - não era mais uma explosão de raiva, era só amargura e decepção – Ser um duque não quer dizer que tem direitos de sobrepujar a vida de alguém. Nobreza não é amor!
- Fala o tempo todo de amor pra mim, mas pense Hufflepuff se suas palavras estão corretas. Já pensou que eu cedi o meu castelo pra criarmos a escola? As pessoas dizem que fazem loucuras por amor, mas eu tento manter a minha sanidade.
- E é por isso que não consegue amar com sua plenitude. Tenho certeza de que dirá que a maior loucura que pode fazer por amor é matar por alguém, mas pra muitos isso não quer dizer nada. Até porque todos sabemos que você é capaz de matar até mesmo por prazer. Mas o que é capaz de fazer por puro altruísmo?
- Você não faz ideia!
- Realmente não faço! Então me conte! - falei bem mais baixo que o normal, como se fosse um segredo, ignorando todos os outros, parecia que Salazar queria me contar algo – Me diga, o que ganhou o seu amor. O que já fez por amor? Foi por isso que matou?
- Matar realmente não me importa, então, não. Mas, se quiser uma prova – ele abriu os braços – posso morrer. Quer me matar?
- Não! - gritei exasperada
- Então, o que eu posso fazer para provar que eu tenho um coração?
- Eu não sei. - disse envergonhada
- Já abri mão de quem eu realmente sou por amor. Não tenho nada mais o que fazer. E se quer saber não fui e não sou amado, está certa. Parece que não sou digno do que você tanto valoriza, o amor não é pra mim.
- Eu…
- Não tem o que falar? Eu sei! Não esperava que eu fosse humano. Sinto muito decepcioná-la. E se algum dia eu receber de volta o superestimado amor será a primeira a saber.
- Slytherin! - Griffyndor disse como que o repreendendo, o que não fazia o menor sentido
- Acha que eu esqueci, Griffyndor? - ele falou para seu amigo e se voltou para mim – Vamos encerrar essa reunião agora! - abri a boca para contestar, mas sem nem saber o que dizer, aquela reunião passou por vários pontos diferentes e onde menos ficou foi em Heitor – O menino trocará de casa e amanhã a tarde passará a acompanhar seus novos colegas nas aulas, pela manhã será relocado na casa de Griffyndor, não há o que fazer quanto a troca. Falo como um duque, o dono do castelo. A reunião acabou!
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