Pouco se passava do meio-dia e o sol invadia a sala pelas janelas, trazendo junto de si o som dos dragões que se esticavam ronronando em seu calor. Com um pouco mais de atenção, era possível escutar o resmungo de outras criaturas zanzando nos arredores, agitados por motivos desconhecidos.
Yugyeom fechou os olhos, momentos de tranquilidade como esse eram raros no castelo, e ele gostava de aproveitá-los o máximo possível mesmo que só durasse alguns segundos.
Bang!
As portas se abriram em um estrondo alto revelando a forma de uma figura esguia que adentrava a sala. Pela violência do ato, Yugyeom saltou no lugar assustado, mas logo se recompôs quando percebeu quem era.
— Tão cedo, vossa majestade? Que desprazer — comentou com desdém, fingindo ajustar as finas luvas de renda que cobriam suas mãos.
— É assim que recebe seu marido depois dele passar dias longe de casa? — Mark devolveu por cima do ombro, enquanto retirava o casaco e abria os três primeiros botões da camisa de algodão. — Pensei que estivesse com saudades.
— De você? Só nos seus melhores sonhos, querido. — Yugyeom se esticou sobre a mesinha ao seu lado para alcançar seu leque, porque, por algum motivo estranho, ele começou a sentir uma repentina onda de calor. — Preferia que tivesse ficado fora por mais tempo.
— Ah, é mesmo?
— Exato, vossa majestade.
Yugyeom manteve os olhos treinados no chão, recusando-se a olhar para o outro homem que agora estava diante de si, apoiando-se no encosto da poltrona e se curvando sobre o seu corpo.
ㅡ É isso o que você pensa? ㅡ Mark sussurrou, envolvendo os dedos no queixo do belo, forçando a erguer o rosto e olhar em seus olhos. ㅡ Tem certeza de que me quer tão longe assim?
Um suspiro foi a única resposta por parte de Yugyeom, ele desviou os olhos se recusando a dar outra reação ao rei. Mas suas bochechas ficaram coradas e Mark percebeu.
Sorrindo como um bastardo, o rei deu um pequeno empurrão no queixo de Yugyeom para que ele voltasse sua atenção para si e então desceu, envolvendo seus lábios em um beijo calmo e delicado. Coisa rápida.
Quando se afastou, seu sorriso subiu até as orelhas ao perceber que Yugyeom se esticou atrás de si tentando encontrar seus lábios de novo.
— Tão bonito, mas tão teimoso — ele resmungou, se curvando novamente e depositando beijos pela bochecha, descendo para o pescoço.
Yugyeom grunhiu, quase rosnando, mas não se afastou. Ele nunca se afastava.
ㅡ Prepare-se, nós temos que ver o povo ㅡ Mark disse, depositando um último beijo sobre a pele sensível e então o observou com atenção.
Bochechas vermelhas, olhos raivosos. Yugyeom sempre foi uma coisa linda de olhar, quanto mais selvagem ele se mostrava mais atraído Mark se sentia.
Houve um momento de silêncio enquanto Yugyeom abria e fechava a boca sem saber o que dizer antes de se remexer desconfortável no lugar.
— Tem que ser agora?
— Sim — Mark respondeu e observou o belo olhar para a renda que cobria suas mãos, sua fúria se escondendo sob uma manta de insegurança. — Qual o problema?
— A lua vermelha caiu sobre mim — ele murmurou quase em um sussurro.
Mark coçou a testa e suspirou envolvendo as mãos de Yugyeom entre as suas, ajudando-o a se erguer. — Você já tomou as poções?
— Hoje de manhã.
— O sangramento está muito forte? — ele questionou, lentamente puxando-o para o lavabo. Yugyeom o seguiu calmo e quieto, dócil demais para uma pessoa como ele.
— Um pouco… Eu posso fazer isso sozinho — Yugyeom resmungou quando viu Mark se ajoelhar diante de si.
— É meu dever como marido cuidar de você — Mark retrucou, olhando para cima.
O rosto de Yugyeom estava tão vermelho que suas bochechas pareciam cintilar, no entanto, os olhos raivosos ainda estavam lá, brilhando em um desafio silencioso para que Mark tentasse alguma gracinha. Ele nunca faria. Mark jamais tentaria algo com Yugyeom estando em um estado tão vulnerável.
Mark desatou a pequena tira de tecido que envolvia os quadris de Yugyeom e então puxou suas calças para baixo. O homem se mexeu desconfortável quando sua intimidade foi exposta e Mark teve a delicadeza de não olhar de volta, focando apenas na toalha encharcada de sangue na sua frente.
— Desceu muito, é o primeiro dia? ㅡ ele perguntou, engolindo a saliva da boca e agarrando o pano vermelho e se erguendo para atirá-lo em uma bacia com roupas sujas depositada em um canto.
ㅡ É o segundo dia.
Enquanto procurava outra toalha, Mark se manteve de costas e cabeça baixa. Ele sabia que se olhasse para Yugyeom agora, o homem iria ficar tímido e muito, muito raivoso.
A queda da lua vermelha sempre foi um período difícil; no começo de seu casamento, Mark sequer tinha permissão para chegar perto do lobisomem, nem mesmo os criados o faziam, só um bruxo ou fada cura. E nem sempre eles eram bem-vindos.
Com muita insistência, ele enfrentou a teimosia de Yugyeom e conquistou o direito de poder se aproximar e cuidar de seu esposo. Mas ainda era uma coisa delicada, que precisava ser tratada com cuidado.
No entanto, Mark não o julgava por ser assim. A criação de Yugyeom foi diferente da sua, o povo dele era outro e por mais selvagens que fossem, eles costumavam cuidar uns dos outros e confiar. Mas ali a situação era diferente, Yugyeom foi forçado a se atar a Mark. Um casamento entre estranhos arranjado às pressas pelo bem do reino.
Yugyeom não teve tempo de conhecer Mark, ele não teve tempo de aprender a confiar nele.
Dobrando a toalha em um rolinho fofo, Mark se ajoelhou novamente e ajeitou a toalha sobre a calça e nem um segundo depois o sangue pingou. Gotejando em vermelho escuro.
Mark estremeceu em silêncio apenas observando, saliva começando a se acumular na boca. E Yugyeom percebeu sua hesitação, é claro.
Ele ergueu a mão e deslizou pelos cachos castanhos de Mark até chegar nas orelhas, as malditas orelhas pontudas. Toda fada tinha orelhas desse jeito e mesmo assim Yugyeom as achava fascinantes — às vezes, nos raros momentos em que não estavam implicando um com o outro e trocavam pequenas carícias, Yugyeom gostava de massagear as pontas das orelhas. Mark dizia não gostar, mas ele nunca o empurrou para longe.
— Qual o problema, majestade? — ele perguntou, batendo o dedo na pontinha da orelha.
Mark engoliu e olhou para cima pela primeira vez, torcendo para que o rosa em seus olhos parecesse doce o suficiente para acalmar a fúria nos olhos do lobo.
— Eu quero provar.
— Não. — Foi a resposta e Yugyeom enrolou os dedos nos cachos, puxando-os com força para afastar o rei de si. Ele sibilou e se manteve firme no lugar. — Não, Mark.
— Fadas também precisam beber sangue e o seu é puro e saudável, eu posso- — Mark tentou argumentar, apoiando o queixo na coxa nua de Yugyeom, quase implorando.
— Sei que os criados estão mais do que felizes em dar o sangue deles a você.
— Mas eu quero o seu. — Mark abriu a boca, deslizando língua quente e molhada pela pele e então chupando, uma tentativa de deixar uma marca e ao mesmo tempo fazer Yugyeom ceder.
Os olhos de Yugyeom escureceram em um momento de luxúria. Mark estava ajoelhado diante de si com grandes olhos pidões, implorando para enfiar o rosto entre as suas pernas. Ainda sim, ele apertou o puxão no cabelo, um aviso silencioso para que Mark parasse, mas ele continuou chupando marcas avermelhadas em sua coxa.
— Esse sangue não é adequado.
ㅡ Eu decido o que é adequado. ㅡ Mark corrigiu, soando como o bastardo egoísta que sempre foi. ㅡ E você não pode me negar isso, eu sou seu rei. Sou seu marido.
Havia uma ordem explícita alí, no entanto, Mark ainda esperou por Yugyeom.
ㅡ Vá em frente ㅡ disse o belo depois de alguns segundos em silêncio.
Então o miserável sorriu e mergulhou entre os pelos úmidos, a boca aberta e a língua quente e macia abrindo caminho entre as dobras. Caçando qualquer gota de sangue que pudesse encontrar.
Quando o calor o envolveu, Yugyeom chiou estremecendo, suas garras saindo para fora e arranhando entre os cachos. O corpo se curvou para trás quase sem apoio, tentando inutilmente abrir mais as pernas e procurando por mais contato. Ele pode sentir Mark rir disso, o que deu-lhe um misto de raiva e vergonha.
— Não- — Ele nem conseguiu terminar a frase quando sentiu dois dedos entrarem. — Majestade, por favor, você não…
— Não comece a gemer "majestade", não posso ficar excitado com as pessoas me chamando assim — Mark resmungou, esfregando o nariz nos pelos e mexendo os dedos. Então ele olhou para Yugyeom com olhos brilhantes. — Você quer sentar no meu rosto?
— Eu-
— Majestade. — Um dos criados estava na porta do lavabo. — Quaisquer atividades que os senhores estejam fazendo devem ser reservadas para mais tarde, agora é necessário discursar para o povo.
Yugyeom olhou para o teto sentindo seu rosto esquentar. O teto era sua prioridade agora.
— Acho que-
— É necessário! — o criado respondeu.
Mark suspirou e puxou seus dedos para fora.
— Certo, Jackson, eu já estou indo.
Levando os dedos ensanguentados até a boca, Mark murmurou para Yugyeom:
— Terminamos isso depois.
…
Não é que Yugyeom não goste do reino, mas as vezes tudo parece colorido demais; agitado demais. Ou quem sabe fosse culpa da Lua vermelha que o deixava com o humor pior do que o habitual. De qualquer forma, ele só queria voltar para o aconchego do castelo e talvez, apenas talvez, arrastar Mark de volta para o meio de suas pernas. Parecia uma ideia muito tentadora.
Com um suspiro, Yugyeom olhou para cima.
O rei estava voando, suas enormes e brilhantes asas de inseto deslizando pelo ar em um movimento suave e delicado. Ele estava discursando, algo sobre o seu retorno e em quão vitoriosa foi a negociação com o outro reino. Yugyeom não estava particularmente interessado, mas precisava se manter dentro dos padrões, por isso ele sorria para o povo e vez ou outra balançava a cabeça concordando com as palavras do rei.
Bem acima de todos, havia um curioso grupo de dragões sobrevoando. Da segurança de suas costas emergiram pequenos pontos cinzentos espiando a comoção do reino. Yugyeom desconfiava que fossem Gnomos selvagens, porém ele não tinha certeza. Era mais comum ver Duendes se relacionando com dragões, mas eles não eram tão cinzentos e nem tão pequenos.
O som de pequenas gargalhadas trouxe seus pensamentos de volta para a terra.
Um pequeno grupo de filhotes — um lobo, duas fadas e uma bruxa — estavam grudando bolotas espinhosas nos pelos de um velho lobisomem em meio a risadinhas nada discretas. O grande lobo, ainda que carregasse um olhar frio, não parecia se importar com o que os filhotes estavam fazendo — mesmo que suas costas já estivessem completamente cobertas por bolotas.
Um dos pequenos se virou para o palanque e sorriu com dentinhos tortos e olhinhos brilhantes, Yugyeom sorriu de volta. Que coisinha adorável.
Às vezes Yugyeom se imaginava tendo seus próprios filhotes, mas seu casamento ainda era recente e ele também não sabia se Mark iria querer ter herdeiros tão cedo. Ele nunca falou sobre isso com o rei.
— Você quer um?
Yugyeom saltou do lugar ao ouvir a voz tão próxima. Mark estava parado ao seu lado com as asas de inseto cintilantes encolhidas em suas costas.
— Quê? — perguntou confuso.
O rei riu como se já esperasse tal resposta. Ele continuou acenando para o povo que vibrava após o fim de seu discurso.
— Perguntei se você quer ter um. — Ele apontou com o queixo para os filhotes que agora haviam dado a volta no lobo e estavam grudando bolotas do outro lado. Pobre senhor, a essa altura até mesmo suas orelhas já tinham bolinhas penduradas.
— Eu só estava olhando porque achei engraçado o que os pequenos estão fazendo. — Yugyeom deu de ombros, desviando os olhos.
— Ah, é mesmo? — O rei ergueu uma sobrancelha e então sorriu para a multidão. Quando voltou o olhar para o belo, ele ainda estava olhando para os pequenos.
Esticando suas asas, Mark suspirou. Não era segredo que Yugyeom queria filhotes, mas ele não parecia disposto a admitir isso.
— Pare de tomar as ervas, vamos ter um filhote.
Yugyeom se virou tão rápido para o rei que seu pescoço estalou.
— Como? — questionou, em descrença. — Majestade…
— Eu sou seu esposo e seu rei — Mark afirmou. — Você não pode me negar nada.
Chocado, Yugyeom abriu e fechou a boca. Não era de todo ruim, mas o rei era sempre tão… Ele não tinha palavras para descrever.
— Não se preocupe, tenho certeza que você vai ficar adorável inchado de filhotes. — Ele franziu o cenho, pensativo. — Lobisomens têm ninhadas, né? Cinco ou seis?
— Dois ou três — Yugyeom resmungou. — Me preocupa eles terem a sua personalidade, não sei se vou aguentar mini versões suas se agarrando as minhas calças.
Mark sorriu como um bastardo e ergueu a mão para fazer um carinho na bochecha de Yugyeom, a resposta foi um grunhido raivoso.
— É hora de voltar para o castelo — ele disse. — Você precisa se limpar.
— Preciso? — Yugyeom lançou um olhar frio para o rei.
— Sim, entre as pernas. — Ele passou a língua entre os lábios. — Quero voltar ao meu trabalho.
Com as bochechas levemente rosadas, Yugyeom desviou os olhos enquanto Mark começava a se despedir do povo.
— Bastardo — sussurrou ao descer pelos degraus do palanque.
O rei sorriu e o puxou para mais perto, envolvendo o braço em sua cintura. Yugyeom rosnou, mas não se afastou. Ele nunca se afastava.
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