Prólogo
— Se não fizermos algo rapidamente, tudo estará perdido senhor...
Choi Seunghyun, um homem de meia idade, responsável pelo comando de uma agência governamental de segurança, observava a vista de sua grande janela do último andar da sala ampla e clara, muito bem decorada. Do lado de fora, o que ele via também eram construções em tons claros, com design arrojado, uma cidade limpa e organizada, praticamente perfeita para quem via assim de longe. Contudo, ele sabia muito bem que o custo daquela perfeição era muito alto, e que aquilo que seu subordinado estava dizendo era óbvio, se nada fosse feito, todos estariam perdidos.
— Temos que selecionar a pessoa certa para o serviço, já que há muitos riscos envolvidos – ele respondeu para o jovem.
— Já encontramos, senhor. Ele é um rapaz de 20 anos, muito forte e saudável. Se saiu perfeitamente bem em todos os testes.
— Então comunique aos setores necessários para que preparem tudo em três dias. E avisem o garoto que ele será encarregado da missão.
— Certo senhor. Peço licença para me retirar.
⏰
Aos 25 anos de idade, Park Jimin poderia se considerar um jovem de sucesso. Morava em um belo apartamento no centro de Busan, comprado com o suor de seu trabalho. Tinha um corpo bem definido, por que sempre gostara de se exercitar e se alimentar bem, e um rosto adorável, que causava suspiros e chamava atenção de mulheres e homens por onde quer que passasse.
Jimin era chef e dono de um restaurante renomado, e se dedicava quase que exclusivamente ao seu trabalho. Suas outras ocupações eram ajudar uma ONG de proteção aos animais, e seu hobby, que era dançar.
Por mais que fosse uma pessoa muito amável, Jimin nunca tivera um relacionamento sério com ninguém, nem sequer se apaixonara alguma vez em sua vida. Sua única paixão era a culinária, para a qual ele sempre se dedicou, tendo estudado e trabalhado muito para conseguir abrir e manter seu estabelecimento.
O fato era que Jimin não se importava com relações amorosas. Era um rapaz cheio de amor, e distribuía isso entre seus familiares e poucos amigos próximos, e isso era mais que suficiente para si. Sempre com um sorriso no rosto, sentia-se satisfeito com a vida que levava.
Naquele dia, como de costume, o Park acordou às 10 horas da manhã. Seu trabalho no restaurante o mantinha ocupado até tarde da noite, por isso, acabava não conseguindo levantar cedo. Após tomar seu café da manhã, foi treinar. Havia combinado com seu melhor amigo, Kim Taehyung, de se encontrarem na academia.
— Bom dia Tae – Jimin cumprimentou o garoto, que já estava atrasado.
Taehyung era um rapaz divertido e inteligente. Jimin o conhecia desde a escola, e sempre foram muito amigos. A beleza do Kim era estonteante, seus cabelos acinzentados e macios em harmonia com o rosto perfeito o tornavam um homem muito sexy, mas que também era muito fofo quando sorria ou falava coisas bobas.
— O dia tá aqui, mas o bom eu não sei não. Por que eu aceitei isso mesmo Jimin? – aquela história de academia sempre foi algo que Jimin amava, mas não fazia nem um pouco o tipo de Taehyung.
— Para de ser preguiçoso, você vai ver como é gostoso se exercitar!
— Gostoso seria estar em casa jogando no computador e comendo salgadinho – o Kim revirou os olhos.
— Você aceitou porque eu te pedi com todo o carinho pra me fazer companhia, e por que isso vai te fazer bem – Jimin deu um tapinha na nuca do amigo, o repreendendo por ser tão sedentário.
— Tá certo, só porque você é muito legal comigo tá! – Tae decidiu parar de reclamar, começando logo sua série de levantamento de peso.
— Meu anjo, eu tenho certeza que o Hoseok vai adorar os resultados – Jimin deu uma piscadinha safada.
— Pelo menos isso né! Mas Jimin – o rapaz mal havia começado e já estava ofegante – E você, tá pegando alguém?
— Ah Tae, que nada.
— Garoto, se eu fosse solteiro, e tivesse sua bunda, passaria o rodo nessa cidade inteira!
— Você sabe que eu não me importo com isso. – Jimin sempre vivia escutando os outros jogarem em sua cara que estava encalhado, mas de fato não sentia falta de ter um relacionamento. – Não preciso de outra pessoa pra me completar, eu sou feliz, e se um dia achar alguém que venha à somar ainda mais alegria pra mim, eu me entregarei. Mas por enquanto, essa pessoa não apareceu, e eu não vou namorar com qualquer um só por carência.
— Não precisa namorar, mas pelo menos se divertir um pouquinho né?
— Tae, me deixa, você sabe que eu não gosto. Devo ser demi, eu sei lá.
— Eu só queria que você saísse comigo e o Hoseok, mas você só fica dizendo que não quer segurar vela – o Kim reclamou. – Se você tivesse alguém, pelo menos poderíamos sair em encontros duplos.
— Eu sei que você só quer o meu bem, então não me pressione. Quando for a hora certa eu saberei – Jimin encerrou o assunto.
Assim que os dois terminaram, tomaram um banho antes de almoçar e ir ao mercado, pois Jimin queria escolher pessoalmente alguns ingredientes para a cozinha do restaurante naquele dia. Após as compras, ele deixou Tae em casa e foi para o trabalho.
Parando em frente ao estabelecimento, Jimin abriu o porta malas de seu carro, retirando as pesadas sacolas que encheram seus braços. Por estar distraído com a quantidade de peso, assim que se virou para ir até a porta do restaurante, ele acabou esbarrando em um jovem que por ali passava. O esbarrão resultou em muitas das sacolas no chão, e ingredientes espalhados na calçada.
— Oh! Me desculpe – Jimin disse ao estranho, sendo gentil como sempre.
— Tudo bem – o rapaz o ajudou a juntar o que caiu. – Eu que estava distraído.
Jimin achou estranha a maneira que o outro falava, não apenas por seu sotaque ser um pouco diferente, mas porque seu jeito soava meio mecânico e inexpressivo. Além disso, não conseguiu deixar de notar o rosto do garoto que, apesar de muito bonito, também parecia vazio.
Sem dizer mais nada, o estranho seguiu seu caminho, e o Park entrou no restaurante para começar os trabalhos do dia.
Estar no comando da cozinha era algo que realizava Jimin por completo. Comandar seus funcionários, auxiliar no preparo dos pratos, sentir todos os aromas dos alimentos, ver o sorriso de satisfação de seus clientes, era tudo que sempre desejou. O restaurante abriu pontualmente às 19 horas e logo as pessoas já começaram a chegar. O Park podia ver o tempo todo o salão do restaurante, porque havia uma grande janela de vidro, através da qual os clientes podiam observar a cozinha e vice versa.
— Teremos uma ótima noite pessoal! – ele disse em voz alta – Então vamos dar o nosso melhor!
⏰
Depois do encontrão com o chef, Jungkook continuou caminhando pela calçada, observando a cidade. Aos seus olhos, ela parecia cheia de vida, totalmente diferente de qualquer coisa que já conhecera. Seus olhos curiosos sempre tentavam percorrer tudo, desde as construções, veículos, objetos, até as pessoas, que hora pareciam estar totalmente alheias ao universo ao seu redor, sempre correndo de um lado pro outro, hora aparentavam estar muito felizes, ou muito tristes. Também percebia que quando estavam em grupo, falavam bastante e, para ele, tudo aquilo era fascinante.
A primeira aproximação com Park Jimin havia saído exatamente como planejara. Apenas queria ser visto por ele para que, mais tarde, pudesse de fato falar com o rapaz de cabelos loiros com o qual ele já estava bastante familiarizado. Jeon decidiu não ir ao restaurante no mesmo dia, para que não ficasse muito óbvio que tinha ido lá apenas para ver Jimin. Portanto, esperou mais dois dias, e então foi jantar no Cabinet. Se vestiu ao modo que lhe pareceu apropriado em suas observações, com uma calça social preta e uma camisa da mesma cor, perfeitamente alinhados em seu corpo. Deixou os cabelos despretensiosamente bagunçados, indo a pé ao restaurante, que era bem próximo ao hotel em que estava hospedado.
Ao chegar lá, uma bela recepcionista o atendeu e encaminhou à uma mesa.
— Boa noite senhor, mesa para quantos?
— Serei somente eu hoje, por favor.
— Ok, pode me acompanhar.
O jovem nem reparou no modo como a moça lhe olhou quando disse que iria jantar sozinho, e jamais poderia imaginar que, na mente dela, se passaram pensamentos totalmente pecaminosos.
Jungkook se sentou de frente para a vidraça, que dava total visão à cozinha, não demorando muito para localizar o Park, totalmente focado em seu trabalho. Quando o garçom lhe atendeu, pediu seu jantar sem muito interesse, já que comida não era algo que fazia diferença em sua vida, apenas consumia o necessário para sua saúde.
Todavia, ao provar a comida de Jimin, ele achou que era a melhor coisa que já tinha saboreado em toda sua existência. Era quase como se aquilo lhe aquecesse o coração. Enquanto comia, não deixou de observar o chef nem por um minuto e, por um breve momento, seus olhares se cruzaram, fazendo Jimin corar e desviar o rosto, totalmente envergonhado ao perceber que estava sendo observado.
— Diga ao chef que a mesa treze agradece pelo maravilhoso jantar, que essa é a melhor comida que já provei e que com certeza retornarei – Jungkook disse ao garçom enquanto pagava a conta.
Por mais que tivesse pressa, ele sabia que precisava de paciência para não assustar o Park. Na medida do possível, tudo estava indo como planejado.
Nas duas semanas que se seguiram, o rapaz foi sozinho ao restaurante dia sim, dia não. Jimin já estava intrigado com a presença tão frequente daquele estranho, que sempre o observava trabalhar com olhos vidrados. Pelo menos era isso que a visão periférica dele captava. Evitava olhar diretamente para o garoto, porque seus olhares sempre se cruzavam, o que lhe gerava um desconforto e deixava suas bochechas vermelhas.
Lembrava perfeitamente da voz dele e da firmeza de seu corpo quando deram aquele encontrão, e seu rosto inexpressivo continuava igual e muito intrigante. Jimin achava aquele jovem perfeito demais para ser real. Julgava que devia ter em torno de 20 anos, seu cabelo castanho estava sempre impecável, sua pele era lisa e sem nenhum defeito, seus lábios eram chamativos e seu corpo, mesmo por baixo das belas roupas que usava, parecia esculpido por algum artista.
Até já havia se acostumado com o horário que ele chegava, e era o único momento que parava para observá- lo sem ser notado, enquanto Jungkook estava distraído com a recepcionista, que claramente dava em cima dele, sem nenhum sucesso. Tal fato também chamava a atenção do Park, visto que a garota era linda e o Jeon sempre estava desacompanhado, mas mal olhava para ela.
⏰
— Aish... eu estava com tanta preguiça hoje, o Hoseok acabou comigo essa noite! – Taehyung resmungou, enquanto preparava o aparelho para começar o treino.
— Por favor né Taehyung, me poupe, sua vida sexual não me interessa!
— Invejoso! Não venha destransar os transantes só porque você não transa – o Kim riu da cara do amigo.
— Nem me fale nisso. Às vezes é triste ter que se virar sozinho – Jimin fez um gesto obsceno com a mão. – Mas não gosto de sexo casual.
— Você é um romântico enrustido.
— Falando nisso, tem uma coisa estranha acontecendo... – Jimin precisava falar disso para alguém.
— Por favor, me diz que se interessou em alguém! Não aguento mais te ver sozinho.
— Aish, para de querer me desencalhar, que inferno! – Jimin acabou se aborrecendo.
— Fala logo, o que é estranho?
— Tem um menino, parece bem jovem, que tem ido quase todos os dias sozinho no restaurante nas últimas semanas. Ele fica me encarando, tipo um psicopata, e sempre manda o garçom me elogiar sobre a comida, o ambiente, o bom atendimento ou algo do tipo.
— Será que você tem um admirador?
— Ele é estranho, ele me olha, mas parece vazio sabe? E a recepcionista gata vive dando bola pra ele e é totalmente ignorada.
— Ela é muito gata mesmo, portanto, acho que ele é gay e está interessado em você – Taehyung afirmou com convicção.
— Não sei não, como eu te disse, ele é bem estranho.
— Eu sou a favor de você investir. Ele deve só ser tímido e não saber como chegar em você. Mas, pelo que me disse, parece que ele tá afim. – o Kim concluiu. – Ele é bonito?
— Inacreditavelmente bonito – o rosto do garoto, com toda sua perfeição, já era figurinha carimbada nos pensamentos de Jimin. Às vezes, se pegava pensando nele nos momentos mais aleatórios.
— Então viado. Para de ser tão travado! Você tem medo de tentar viver o amor.
Jimin sabia muito bem que o que seu amigo estava dizendo era verdade. Para ele, o amor era algo tão puro e verdadeiro, que acabava por sentir medo de manchar esse lindo sentimento com uma paixão que não desse certo.
Naquela noite, o menino apareceu no horário habitual para jantar. Se sentou na mesma mesa e seguiu seu ritual. Já estava analisando o terreno a tempo demais, e decidiu que era hora de agir. Na hora de pagar conta, Jungkook perguntou ao garçom se poderia chamar o chef, para que pudesse elogiá-lo pessoalmente.
Jimin ficou nervoso e ansioso quando recebeu o recado. Rapidamente, lavou as mãos e se dirigiu à mesa, receoso.
— Boa noite, espero que tenha apreciado a comida – ele disse para o mais novo.
— Sim, estava incrível, como sempre – Jungkook respondeu, e Park novamente achou seu jeito de falar muito incomum. – Eu como aqui quase sempre, e gostaria de conhecer melhor esta pessoa que parece cozinhar com tanto amor. Meu nome é Jeon Jungkook.
— Muito prazer Jeon, sou Park Jimin.
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