(Zacky's p.o.v)
Eu estou morto de cansaço. A rotina que eu levo está quase me matando. Saio de casa às seis da manhã e só chego às nove da noite. É exaustivo. Fico contando nos dedos os dias que faltavam para o fim de semana. Estudo de manhã e trabalho à tarde numa rede de fast food da cidade, curso o último ano do colegial. Minha família pouco liga para mim. Me viro sozinho para conseguir minhas coisas e, como eu já tinha dezoito anos, eles dizem que não são mais responsáveis por mim. Não foi fácil aceitar a situação, mas não tocamos mais no assunto, e eu já havia desistido do hábito de bater a porta do quarto pela raiva havia um bom tempo. Com toda minha ocupação, eu realmente preciso de férias, de um tempo só para mim. No trabalho, eu passo a maior parte do tempo de pé. Quando o fim do dia chega, eu mal consigo sentir minhas pernas e minha coluna grita por descanso.
Eu volto pra casa a pé, não leva muito tempo. O sossego me domina assim que atravesso o pequeno jardim na frente de minha casa, finalmente alcançando a porta de entrada. Pego as chaves no bolso da calça, deixando a mochila pesada no chão ao meu lado. Procuro pela pequena chave que abre a porta e, em seguida, a encaixo na fechadura. Finalmente estou em casa. Estranho o fato de que a casa está silenciosa e mergulhada na mais profunda escuridão. Tateio a parede, procurando pelo interruptor e, quando o encontro, acendo a luz. A sala se revela praticamente vazia, com apenas um sofá velho de couro esquecido no canto, perto da janela. Eu não faço a menor ideia do que está acontecendo. Puxo a alça da mochila, a trazendo para dentro de casa e fecho a porta atrás de mim.
Começo a andar pela casa, entro na cozinha acendo a luz para olhar qual a situação do local. A louça e os aparelhos eletrônicos não estão mais ali. As poucas coisas que permanecem no local são os armários, o fogão, o microondas e a geladeira. Na porta da geladeira há um papel dobrado com meu nome escrito. Não tenho certeza se quero saber o que está escrito lá. Estou confuso e não consigo pensar claramente.
Pego o bilhete, ainda meio receoso, e o abro, vendo a letra de minha mãe, um pouco desleixada, como se tivesse escrito às pressas. Mas não é apenas um bilhete, como se ela dissesse que o meu jantar está no forno, ou um bilhete me lembrando de apagar a luz da cozinha quando eu voltar para o quarto. Mas sim, uma pequena carta de despedida. Meus olhos correm por todo o cômodo, ainda sem saber o que está acontecendo. E, percebendo o quanto silencioso está a casa, suspiro pesadamente, concentrando minha atenção, agora, ao que está escrito na carta.
Meus olhos percorreram rapidamente por aquelas letras, sem conseguir acreditar em uma palavra sequer. Eu não sei o que fazer. Minha família foi embora e me deixaram para trás. Eu já sabia que eles não gostavam de mim, mas não imaginava que seriam capazes de me abandonar, sem nenhum tipo de explicação clara, se aproveitando do tempo em que eu trabalhava e estudava para irem embora, sem dizer adeus. Na carta, minha mãe diz que eles partiram porque seria melhor para mim. Que a distância entre nós seria melhor, pois assim eu não correria risco pelas situações que estavam por vir e, quanto menos eu soubesse, melhor seria para mim. E não havia razão nenhuma para tudo aquilo.
Deixo minhas coisas ali no chão da cozinha mesmo e subo as escadas, indo até o quarto dos meus pais. Não há um resquício de vida por ali. Apenas o velho guarda-roupas vazio, assim como o resto da casa. Suspiro pesado, caindo na real de que não se trata de nenhuma brincadeira. Vou até meu quarto percebo que minhas coisas ainda estão ali. Finalmente entendo que estou totalmente sozinho. O jeito é continuar vivendo do jeito que eu vivo. Sem ninguém.
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