Pov.Draco
Desci as escadas, nas minhas costas havia uma velha mochila de couro gasto com uma troca de roupa para passar o fim de semana na casa do santo Potter, meu pai esperava na cozinha todo animado. Mais cedo ele havia me explicado sobre a situação familiar do Potter desse mundo, parando para pensar a situação familiar de todos nesse mundo era bem diferente, o Potter tem seus pais vivos, os Weasley são ricos, minha família é pobre e meu pai viúvo, enquanto a Granger tem pais que abominam magia. Balancei a cabeça tentando espantar a castanha dos meus pensamentos.
-Faz tanto tempo que eu não vejo o Severus. – Ele sorri enquanto acabava de lavar a louça. – Ele foi no meu casamento, você nem era nascido ainda. Ah a Narcisa estava tão linda naquele dia, na verdade, ela sempre estava tão bonita... – O olhar dele se perdeu em meio ao sabão, eu o olhava sem entender direito aquele sentimento, no meu mundo minha mãe era viva e meu pai nunca pareceu dar muita bola para ela, então era estranho ver aquela expressão no rosto dele. – Mas em fim, é... Vamos! – Ele começou a guardar a louça e secar as mãos. Parando para pensar essa versão do meu pai gostava de falar sobre ela de vez em quando, as vezes ela surgia em meio a uma historinha sobre o passado, ou na forma de uma dica sobre a minha vida amorosa, ou nas várias fotos dela espalhadas pela casa, por um momento senti falta dela.. – Filho? – Eu levantei o olhar, por algum motivo senti que ele sabia sobre oque eu estava pensando. Me abraçou pelos ombros num gesto carinhoso, o deixei fazê-lo. – Vamos? – Consenti com a cabeça, aparatamos.
Reaparecemos em frente a uma casa no vilarejo de Godric’s Hollow, era uma casa normal, nada especialmente impressionante, meu pai pressionou a campainha, esperamos alguns segundos antes de uma mulher ruiva abrir a porta, ela sorriu alegremente para mim, mas antes deu um abraço no meu pai que sorria com a mesma alegria “Lily!” “Lucius! A quanto tempo, por favor entrem.” Ela nos deu espaço par passarmos pela porta, “Eu não te vejo faz tanto tempo Draco, como tem passado?” eu sorrio para ela meio desconfortável, “Tenho passado bem..” estávamos a seguindo até a sala “Que bom, sabe, o Harry e o Severus me contaram bastante sobre como você mudou esse semestre, até participou do jogo de quadribol!” “Pois é...” realmente me sentia estranho em conversar com ela, no meu mundo ela estava morta, a sensação de que eu tinha a chance de falar com ela e o Potter não, que ansiou a vida toda por isso, era meio desconfortante, não que eu tivesse pena dele, só era estranho.
Entramos na sala, tinha uma Tv ultrapassada e uma lareira de tijolos, as taipas eram cobertas por um papel de parede amarelo com várias flores laranjas e, numa delas uma larga estante com livros, molduras com fotos e alguns objetos, cobrindo o assoalho de madeira um grande tapete verde escuro e sobre ele um sofá e duas poltronas de couro envelhecido. Sentado numa das poltronas estava o prof. Snape, de um jeito que nunca o havia imaginado, usava uma calça social e uma camisa pretas, lia tranquilamente um livro com uma expressão tranquila estampado no rosto, jamais sonharia em ver essa cena no meu mundo. Ele levantou o olhar e abriu um sorriso, “Lucius!” rapidamente ele se levantou da poltrona e foi cumprimentar o meu pai, “Vou chamar o Harry” disse Lily, logo em seguida subiu as escadas. Eu realmente estava me sentindo mal ali, passei três anos e meio da minha vida caçoando o Potter por não ter pais, por ser órfão, por morar debaixo da escada e ser mal amado, ver aquele ambiente familiar tão feliz e as prateleiras lotadas de fotos do Harry crescendo ao lado dos mãe e do padrasto, doeu um pouco no meu peito.
Aqueles pensamentos continuavam a me perturbar, quando de repente ouvi uma voz fina dizer “Oi” olhei para baixo, aos meus pés estava uma pequena garotinha, seus cabelos eram ruivos que nem os da Lily e os olhos negros e opacos como os do Snape, sem sombra de dúvida aquela era a filha deles e irmã do testa recheada. “Oi Draco.” Ela continuava a me olhar com olhos gentis, as bochechas sardentas e rosadas guardavam entre elas um doce sorriso desdentado, “Olha, eu perdi um dente da frente” ela abriu a boca ainda mais me mostrando a fresta entre os seus dentes, fiquei mais ainda sem reação “É... Legal...” ela sorriu novamente e abriu a boca para continuar a falar, quando o Potter desceu as escadas rapidamente e a empurrou “Deixa ele em paz, Dália!” ela franziu o cenho e inflou as bochechas “Eu vou falar pra mamãe que você foi grosso comigo!” saiu correndo até as escadas quase tropeçando, Potter revirou os olhos “Sete anos é uma idade chatinha né?” concordei meio sem jeito, ele sorriu pra mim e me deu um soco no braço “Vê se responde as minhas cartas seu mané!” “Desculpe...” respondi a contragosto, odiava esse habito dele de me socar no braço, não sei como o Draco desse mundo aguenta. Lily desceu as escadas, ao seu lado a pequena ruiva a acompanhava “Harry, não seja grosso com a sua irmãzinha” a pequena lhe mostrou a língua e seguiu a mãe. “Oque acha de sentarmos na cozinha?” perguntou Snape, meu pai concordou com a cabeça e a mãe do Potter também, saíram da sala, Potter me deu de repente outro soco no braço “Vamos pro meu quarto?” eu o olhei bravo “Você, Você! Para de socar o meu braço!” ele me olhou confuso enquanto eu ainda esbravejava, começou a rir “Deixa disso, vamos” eu ainda estava bufando, mas ele nem ligou, subiu as escadas, fui atrás dele.
Ao entrar no quarto dele, pude ver porque ele e o Draco desse mundo eram tão amigos, os dois tem gostos muito parecidos, simples e sem graça, mas muito perecidos. Assim como o meu quarto, o do Potter era bem simples, as paredes eram brancas e o chão igual ao da sala, a cama de madeira estava coberta por um edredom vermelho, do lado do antigo armário uma grande gaiola na qual o coruja do testa rachada residia tranquila, espalhado pelas paredes haviam pôsteres de bruxos famosos, times de quadribol e algumas coisas de Hogwarts, sobre a escrivaninha três prateleiras que continham os livros da escola, realmente era um quarto nada excepcional. Potter se sentou na cama, puxei a cadeira que estava próxima a escrivaninha para perto da cama, o testa rachada estava com uma expressão boba no rosto, fiz uma careta.
“Não vai me contar nada?” levantei uma sobrancelha “Contar oque?” ele revirou os olhos enquanto ria, me deu outro soco no braço, a próxima vez que ele fizer isso mato ele “Sobre a Granger ficar na sua casa! Achei que ela viesse aqui hoje junto com você.” Desvio o olhar, realmente esse era um assunto que eu não queria falar, mas pelo jeito é inevitável “Ela não está mais hospedada na minha casa,” ele não pareceu surpreso, mas antes que tivesse a chance de perguntar mais algo “Eu não faço ideia de pra onde ela foi, só sei que ela não quer me ver nem pintado de ouro.” Ele fica me olhando sério, era meio raro ver uma expressão séria do Potter desse mundo, “Você é um idiota sabia?” faço outra careta “Oque ela fez de errado dessa vez e pôs a culpa em você?” “Ela não fez nada.” Pelo jeito falei de uma maneira incisiva pois ele se inclinou um pouco para trás em espanto “É que... Realmente foi meu erro, eu não devia ter mentido.” Meu tom de voz era melancólico, mas não pareceu importar para ele, pois começou a rir pelo canto da boca e esbugalhar os olhos “Ela ficou puta com você porque você mentiu?” soltou uma gargalhada, serrei o pulso “A questão não é mentir, é saber como mentir” “Não é essa a questão!” novamente ele se inclinou para trás “A questão é... Eu quero a confiança dela.” “Ta falando sério?” “Estou!” ele espremeu os olhos enquanto me encarava constantemente, “Sério mesmo?” “Sim.” Continuou a me encarar um pouco mais “Pra que?” esfreguei o rosto com uma mão tentando unir todas as minhas forças para aguentar aquele idiota, eu nunca havia entrado no assunto relacionamentos com o Potter desse mundo, mas pelo jeito, pra quem tem uma namorada ele não é muito bom nesse assunto “Olha Draco, eu sei que você curte a Granger e tal” “Eu não curto ela” “Tá, tá, mas a verdade é que honestidade não funciona sempre em relacionamentos. Por exemplo, eu e a Gina, quando ela pergunta se está parecendo uma tábua eu digo ‘Não meu amor, claro que não!’ ser sincero só vale quando é elogio ou quando você realmente não fez merda.” Fiquei o olhando, realmente esse Potter não servia pra esse tipo de assunto, ele realmente estava sendo um babaca, na verdade se me perguntasse sobre confiança ano passado a minha resposta seria provavelmente a mesma, talvez por isso a Granger nem me considere, e sinceramente acho que ela está certa. O quatro olhos ainda estava falando mais besteiras, agora tinha passado pro assunto fidelidade, e como isso estava bem longe da minha situação preferi fugir daquela situação esquisita “Eu vou lá embaixo beber água” sai rapidamente do quarto, não aguentava mais ouvir a voz dele, como eu irei aguenta-lo até amanhã?
Quando fui até a cozinha meu pai não estava mais lá, pelo jeito foi embora, Lily também não estava no aposento, à mesa estavam sentados prof. Snape e a pequena Dália, através do vidro de um dos armários vi vários copos, peguei um e comecei a enche-lo na pia “Seu pai pediu desculpas por não se despedir, ele não quis interromper a conversa de vocês” dei um sorriso forçado para eles “Sem problemas” “E sobre oque os meninos estavam conversando” “Eu escutei!” disse a ruivinha “O Draco tava contando sobre a menina que ele gosta” ela soltou uma risadinha, meu rosto ficou rubro, Snape fez uma expressão de quem quer opinar sobre o assunto, a última pessoa com quem eu gostaria de falar desse assunto é o meu professor, mas considerando que ele é casado e feliz, e que o Potter é inútil em dar conselhos, talvez o Snape não seja a pior dentre as minhas opções para conversar, acho que tudo bem ouvir oque ele tem a dizer. Sento-me a mesa com eles “Não precisa me dizer quem é Drac- Desculpe, sempre esqueço se posso chama-lo pelo primeiro nome” era estranho ver o Snape, o carrancudo e mal-humorado Snape agindo de maneira tão considerável e carinhosa “Pode ser Draco mesmo” ele sorriu aliviado, a ruivinha se meteu na conversa “Então, nos conte sobre o amor da sua vida, desabafa” ela era engraçadinha, segurei a risada pois pela expressão dela, ela estava bem séria sobre o assunto, “Tem essa garota, não que eu goste dela, mas eu queria ter uma relação melhor com ela, mas ferrei tudo porque eu menti, e... Agora eu não sei oque fazer, ela não me dá notícias e provavelmente nunca mais vai querer me ver.” A pequena balançou a cabeça negativamente “Não se deve mentir pra uma dama. Meu pai diz que o único jeito de conquistar alguém é dizer a verdade, mas o mais importante é dizer oque sentimos. Não é pai?” a expressão séria sumiu e foi substituída por um largo sorriso de admiração direcionado ao pai, Snape sorriu meio sem jeito.
- Isso mesmo, querida. Draco, sabe como eu conquistei a Lily? - descordei com a cabeça - Bem, ela estava com o James Potter o tempo todo, era difícil me aproximar o suficiente, fomos amigos de longa data e eu sempre fui sincero com ela, mas nunca contei que eu a amava, e quando dei por mim, a relação deles estava séria de mais para eu tentar qualquer coisa. Ele sempre foi meio idiota, mas falava que a amava constantemente. Depois do fim de Hogwarts, nunca a via, então eles resolveram se casar, o James nem quis me convidar para o casamento, ela infelizmente concordou com isso, mas dois anos o casamento deles já tinha acabado, o Potter se revelou um idiota, ele já era idiota na escola. Com exceção do nascimento do Harry, nada de bom saiu daquele casamento. Daí um dia ela veio chorando até mim, me contou tudo, e sem pensar eu disse que a amava. – Ele ficou em silencio, me senti ansioso para saber o fim, Dália parecia igualmente ansiosa. – Foi aí que ela me disse que estava esperando por isso, disse que a muitos anos queria ouvir essas palavras demim, mas achava que eu não sentia o mesmo por ela. Desde esse dia, eu não lembro oque é me sentir solitário ou triste ou triste, porque a partir dai ela entrou na minha vida definitivamente. A verdade foi o caminho para achar a minha felicidade. – Ele olhou com ternura para a filha e a abraçou pelos ombros. Eu sorri.
-Dai eles viveram felizes para sempre e fim! – concluiu a pequena – Mentira! Eles me tiveram antes e aí eles foram felizes para sempre! – Ta bom, agora ela concluiu.
É só ser sincero, parece fácil dizendo, mas o Snape passou anos amando a mãe do Potter em silencio, ela passou anos com o cara errado até perceber isso, quanto tempo demoraria para a Granger me perdoar? Até ela desenvolver algum sentimento por mim que não seja repulsa? E até eu resolver dizer exatamente oque eu sinto por ela? Demoraria uma vida inteira até tudo isso acontecer. Potter entrou na cozinha com uma carranca, estava reclamando sobre o fato de eu estar demorando muito, dei de ombros, quando na janela em frente a pia surge uma coruja, em sua pata havia uma carta amarrada, ele abriu a janela e pegou a carta, após lê-la virou-se animado para mim “Draco! Os Weasley vão dar uma festa na amanhã a noite e a Gina está me convidando, vamos?” ele parecia animado, enquanto eu não dou a mínima “Deixe-me ver... Não” virei-me para continuar a conversar com a pequena Snape e o seu pai, por incrível que pareça estava achando a conversa útil, quando o testa rachada me chamou novamente “Certeza? A Granger vai.” Fiquei petrificado por um momento, virei-me para ele, sua expressão era verdadeira, ele não estava mentindo, pensei por alguns segundos “Vamos”.
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