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História Vital Drarry - Estatuir - História escrita por FadaDoCafe - Spirit Fanfics e Histórias
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História Vital Drarry - Estatuir


Escrita por: FadaDoCafe

Capítulo 12 - Estatuir


Estatuir

verbo

1.

transitivo direto

estabelecer por meio de estatuto, decreto, lei etc.; decretar.

 

2.

transitivo direto

pôr em vigor; instituir; estabelecer, determinar.


 

Harry chegou cedo, como sempre.

 

Haviam se passado dois dias do ocorrido em Hogwarts, e qualquer fluxo confortável de trabalho parecia ter sumido. Malfoy e Potter se comunicavam o estrito necessário, o que estava culminando em um desconforto para ambas as partes, eram fisicamente dolorosas as horas de trabalho, e a caixa estava longe de ser o motivo. Havia uma tensão palpável no ar.

 

Harry já era alguém normalmente inquieto, culpa da sua hiperatividade, mas a situação conseguiu piorar tudo, ele se sentia prestes a explodir, e bem, Draco não ajudava em nada ficando ainda mais introvertido que nos últimos dias, como se fosse piorando dia após dia.

 

Potter era uma bomba de energia, palavras e dúvidas.

 

Malfoy era apenas um reflexo apático e lento das coisas ao seu redor.

 

Mesmo contra toda a sua mente, que praticamente gritava para que ele fizesse algo, Potter apenas iniciou seu trabalho junto de Malfoy. O silêncio letárgico como um lençol os cobrindo, apenas o som do lápis contra o papel e de itens sendo movidos sobre a mesa.

 

Draco estudava e anotava tudo que via sobre a caixa, medidas, detalhes de cada coisa, seu cenho franziu muitas vezes em irritação e Harry quase podia ver sua mente trabalhando enquanto fazia suas próprias anotações dos níveis mágicos e oscilações dele. Se o silêncio perdurasse ouviriam as engrenagens girando.

 

No fim dos trinta minutos, o loiro possuía uma enorme dor de cabeça e sua magia estava normal, mesmo que houvesse uma pressão contra seus ombros e uma sensação opressora dentro de si. 

 

Potter se levantou calmo, usando magia içou a caixa levando-a até a parte separada da casa, guardou o objeto, pondo em uma redoma, assim que deu as costas para aquilo escutou seu nome sendo chamado, sussurrado, mas nada falou sobre, não quis nem se virar para vê-la. Seus pelos se eriçaram apenas pela voz, pareceu como a de Gina por um segundo e mudou para a de Molly. Engoliu em seco, era o cansaço, estava apenas exausto e estressado, voltou ao escritório com o objetivo de não falar sobre o ocorrido, se viesse a ser pertinente contaria a Malfoy, mas por ora, era apenas a reconfirmação de algo que sabiam.

 

— Algo sobre minha magia? — Draco falou depois de poucos minutos em silêncio. Ele podia ver que havia algo de errado com sua dupla.

 

— Nada, sente algo? — O moreno varreu os olhos por ele, em análise.

 

— Dor de cabeça e dor nos ombros, entretanto, não creio que seja da caixa.

 

— Entendo. — Harry o olhou, Draco ainda trabalhava sem parar e fingia que não existia ninguém além dele mesmo, aquilo o incomodou de forma indescritível, só queria conversar um pouco, talvez ouvir as conclusões que ele tirava de seus estudos, qualquer coisa.  Merlin, iria surtar se não fizesse algo. — Quer uma poção?

 

— Não.

 

— Okay. — Harry engoliu em seco, se mexendo desconfortável e sem conseguir trabalhar. — Podemos falar?

 

— Já não está fazendo isso, Potter? — Draco respondeu mal erguendo os olhos para ele.

 

— Digo, podemos conversar? Sem implicâncias e meias frases, só uma conversa? — Sua voz era baixa e cautelosa, isso chamou a atenção do loiro que finalmente olhou nos olhos verdes que se fixaram nele, ainda segurando seu material.

 

— Sobre?

 

— A discussão em Hogwarts, ou sobre o que houve anos atrás, ou sobre James e Scorpius, eu só… — Potter suspirou esfregando as mãos no rosto cansado. — Eu só preciso falar, preciso ter essa conversa com você.

 

— Contanto que não me beije para desestressar, sim, podemos — Draco brincou um tanto amargo, finalmente soltando a pena e encostando as costas na cadeira, dando total atenção.

 

— Eu posso pôr esse tópico por último? — Harry tentou sorrir amarelo, mas pareceu mais com uma careta. Draco pressionou um lábio no outro segurando uma risada, o outro tinha sorte de seu humor estar relativamente bom.

 

— À vontade. — Gesticulou com a mão um incentivo para que falasse.

 

— Nem sei por que quero desabafar com você… Eu só sinto que você é a pessoa que além de entender a situação, talvez veja sob outro olhar? — Harry franziu as sobrancelhas um tanto resignado.— Não sei por que estou tão hipersensível e querendo discutir isso contigo, na verdade.

 

— Será porque você se tornou amargo e sem amigos? — Draco provocou no automático, era simplesmente fácil atacar Potter.

 

— Eu tenho amigos, Malfoy. — O moreno cruzou os braços sobre o peito musculoso, em uma postura defensiva.

 

— Se você diz. — Deu de ombros, mas viu o semblante do moreno mudar para raiva, e mesmo que fosse incrível deixá-lo assim, Draco estava muito curioso para saber o que ele tinha a dizer a si, por isso limpou a garganta antes de prosseguir. — Ou, invés de amargo e sem amigos, você apenas quer alguém que esteja mais ou menos no mesmo lugar que você, pai de um menino, mesmas idades, tanto deles quanto nossas, mesma situação. Verossimilhança.

 

— Faz sentido — Harry murmurou, relaxando novamente. Draco apenas deu um sorriso pequeno de lado, o  que foi o melhor dos incentivos para ele começar a falar. — Me sinto verdadeiramente horrível com tudo isso, e não é apenas o episódio em Hogwarts, ambos os episódios.

 

Malfoy se arrumou na poltrona, entendendo que talvez aquilo demorasse, Harry possuía o péssimo hábito de contextualizar todos seus pensamentos ao expô-los, como viu durante a investigação, então entendeu que provavelmente receberia tudo, até detalhes do que passava em sua mente, e Draco nunca foi o melhor dos ouvintes, porém sempre foi o mais sensível e paterno dos amigos.

 

— Acho que as coisas sempre foram assim para mim. Tudo que faço vem com esse gostinho de insuficiência, era assim quando estava morando com meus tios, quando entrei em Hogwarts e continuou durante a batalha e meu casamento, acho que muito mais nos dois últimos. — Potter umedeceu os lábios, desviando suas orbes das pratas. — E agora, esse gostinho virou um enorme tranco na garganta me sufocando, me vejo em uma enorme encruzilhada sem ter a mínima ideia do caminho certo a seguir, e pior que isso, nem sei qual seria o caminho certo de qualquer jeito, pois não faço ideia de para onde estou indo!

 

Draco cerrou os olhos analisando as palavras, não entendia, ou melhor, não queria pensar nas razões que o levaram a sentir seu peito apertar com as palavras ditas. Harry tinha o olhar vago como se apenas soltasse o que passava em sua mente sem ao menos filtrar.

 

— É como voltar a ser adolescente, quando tudo é uma enorme incógnita, e todas as opções parecem viáveis e incríveis, mas assustadoras. Entretanto, não sou mais tão jovem, sou um adulto amargo, como ama frisar, cheio de problemas com controle de raiva e minha família. — O moreno franziu a expressão ao concluir a frase, tudo que falava não era novidade, o problema ali era admitir isso em voz alta para o outro.

 

— Só precisa falar o que se sentir confortável, e não amo frisar sua amargura, só uso isso contra você quando resolve ser falso moralista para o meu lado.

 

— Não é falso moralismo, várias das suas atitudes me incomodam profundamente.

 

— Eu sei, Potter, você sempre deixou bem claro o que te irrita.

 

— Isso também é um problema, correto? — Harry riu sem graça. — Não sou muito bom com elogios, costumo só ressaltar as partes ruins.

 

— Eu ter casos não é uma parte ruim minha, minha vida amorosa não é um dos meus defeitos, Potter.

 

— Perdão, me expressei mal. — Ele sacudiu as mãos, nervoso. — O que quis dizer é que, sua forma de viver, estando certa ou errada, no aspecto romântico, não condiz com minha moral nem no que vejo você representar, por isso me incomoda, mas erro ao expressar minha insatisfação sem nexo.

 

— Se consegue ser uma pessoa culta, mesmo de forma inconveniente, por que insiste em ser um grosso bárbaro?

 

— Não é proposital, vai parecer uma desculpa estúpida, mas não me conheço com raiva e muito menos noto quando sou apenas um poço de raiva, é complicado.

 

— E já pensou em procurar ajuda?

 

— Fiz terapia por muitos anos, mas a psicóloga vendeu minhas histórias para o jornal e se não fosse por Hermione, provavelmente haveria matérias até hoje sobre meu passado envolvendo abuso infantil.

 

Malfoy franziu a expressão de forma estranha, assustado com a frase.

 

— Não que eu abusei de crianças, eu fui abusado! — Harry falou alto e esganiçado, notando como sua frase havia saído estranha.

 

— Se quiser, eu posso te indicar a minha psicóloga, se ela não vendeu o histórico criminal dos Malfoy ainda, talvez sirva para o herói bruxo.

 

— Talvez eu aceite.

 

— Não vou forçar, volte para seu casamento falido.

 

— Não foi um casamento falido, ela me deu meus filhos e fui feliz durante o tempo que passamos juntos… mas desde o divórcio tenho vivido assim, esse oco, até mesmo antes, foi piorando com o tempo. Na época da separação, havia muito ali que as crianças não entendiam, e sou grato de elas não terem essa noção, odiaria que meus filhos entendessem o peso do luto que sinto no dia dois de maio, o que é contraditório, visto que isso findou meu casamento…

 

Draco mordeu a lateral da bochecha para se conter, havia mil e uma perguntas dentro de si sobre a separação do casal de ouro, queria todos os detalhes possíveis, e todo o papo sobre luto o deixou agitado, será que Harry havia caído em uma depressão e o matrimônio não suportou? Ou houve outra morte, algo nas entrelinhas… Estava morto de curioso, porém não iria receber nada sendo incisivo e curioso. Por isso manteve a expressão neutra, apenas murmurando confirmações para Potter saber que ainda o ouvia.

 

— Tudo se tornou uma grande falha, falhei como pai, falhei como marido, amigo, auror, e agora venho falhando como medimago. — Ele ri soprado com certa incredulidade. — Eu não fazia a mínima ideia de nada, o estado de saúde de Astoria, nem ao menos cogitei quando Scorpius passou uma semana lá em casa, foi por isso, não? Faz sentido agora, fiquei sabendo apenas do seu divórcio quando os jornais anunciaram, e as fotos dela hospitalizada. Nessa semana James, que vivia fora de casa no verão, aproveitando os primos e amigos trouxas, ficou em casa, e mesmo estranhando, não fiz questão alguma de perguntar sobre. Não soube do relacionamento, dos problemas… Não sabia de absolutamente nada. Sou ridículo.

 

— Adolescentes não são os maiores confidentes com os pais. — Draco praticamente pensou alto, relembrando de Scorpius omitindo a gravidade das coisas em Hogwarts para si.

 

— Colocaria minha mão no fogo que Gina sabia — Potter contrapõe.

 

— E eu nem preciso tentar me auto provar, Astoria com certeza sabe mais do que eu, são as mães — Malfoy disse óbvio. — Há coisas que apenas essa figura pode te ajudar. Mesmo amando meu filho com minha vida, e sabendo que ele sente o mesmo, Tori é bem mais leve e aberta a tudo, Scorpius troca confidências com ela que não trocaria comigo, e às vezes a recíproca é verdadeira, há coisas que contamos a alguns amigos, e outras que falamos a outros amigos, faz parte.

 

— Talvez. — Harry fechou os olhos por alguns segundos lembrando de Molly, e como ela foi a única para quem abriu toda a verdade sobre o fim do seu casório, mesmo a outra parte sendo sua própria filha. — Não, você tem razão. Mas isso não muda o fato que estou sendo deplorável como pai, e você parece estar se saindo bem.

 

— Olha, eu não sei se sou a pessoa ideal para isso. Digo, para essa conversa, para o rumo que ela está indo, definitivamente não me enxergo como o suprassumo da paternidade. — Draco se mexeu desconfortável na cadeira.

 

— Acho que é. — Harry soou perdido ao recostar no sofá, Malfoy suspirou fazendo o mesmo na sua poltrona, percebendo que teriam sim aquela conversa, naquele rumo. — Eu sempre achei um absurdo sua relação com Astoria.

 

— Tocante — resmungou o loiro.

 

— Não, calma, digo... —  O moreno deu uma pausa como quem respira fundo e organiza os pensamentos. — Quero dizer, veja o que eu sabia: um divórcio durante o período que ela estava hospitalizada, separação total de bens e guarda total do filho, não soa muito justo ao ouvinte — Potter falou fitando as íris acinzentadas, viu quando ele pareceu pressionar a língua contra a bochecha para se conter.

 

— Você, mais do que ninguém, deveria ter aprendido a não confiar em tabloides.

 

— De fato. — O moreno concordou sem pestanejar, era uma verdade. — Mas eu tinha minhas birras, eu tenho algumas ainda, sempre será mais fácil ver seu lado ruim do que procurar o bom.

 

— Agradeço sua honestidade, Potter. — Draco revirou os olhos e bufou quase indignado. — É bom saber que vive com os pensamentos de uma década atrás sobre mim, edificante.

 

— Não são tão longínquos, houveram outras coisas que corroboraram para minhas “aversões”.

 

— Reconfortante. Prossiga sua retrospectiva de razões pelo qual não mereço confiança, talvez quando terminar voltemos ao assunto — Draco respondeu com birra, e Harry o olhou como quem diz “é sobre isso o argumento”, o que apenas gerou um revirar de olhos.

 

— Nunca achei correto como deixava e ainda comprava saias para Scorpius, e devo admitir que foi um tremendo susto quando ele apareceu com as unhas pintadas e de maquiagem, de primeiro imaginei que não fazia ideia de como ele andava, talvez o garoto houvesse roubado do guarda-roupa da mãe, entretanto, como ele não pode simplesmente aparatar e Astoria nunca o deixa em minha casa, sabia que era você ali — Potter dizia, não parecendo verdadeiramente preocupado com o olhar cortante de Malfoy para si. — Toda a postura e jeito dele, você sempre permitindo tudo, pois ele te convencia, não posso contar as vezes que te censurei em minha mente, parecia tão errado…

 

— Não vamos ter a porra dessa conversa se continuar ofendendo a forma que criei meu filho, Potter! — Draco segurou os braços da poltrona e estreitou o olhar.

 

— Não, espera, o que quero dizer é que, veja como estamos agora, Malfoy, seu filho confia em você, te conta as coisas e conta contigo. Talvez você saiba mais sobre meus filhos que eu,  deve saber coisas que nem pude imaginar, como o relacionamento entre eles — Harry falou rápido, quase embolado, com medo de que Malfoy fosse apenas o expulsar dali, mas o loiro tirou o aperto do estofado, apenas continuou com a expressão irritada. — De qualquer forma, você possui laços estreitos com eles, e eu mal consigo ficar no mesmo ambiente que minha ex-esposa sem parecer sofrer de disenteria, como já jogou na minha cara.

  

— Que comparação nojenta — Malfoy murmurou sem realmente querer interromper a fala, mas achando realmente quase repulsivo a associação. — Não falei exatamente isso.

 

— Não foi uma boa forma de dizer mesmo… — Potter comentou não se importando propriamente. — De qualquer forma, me imaginava na sua posição quando pensei em ser pai, tirando o divórcio, nunca imaginei que me separaria. Tentei tanto ser um bom pai, um bom marido…

 

— O problema pode estar aí. — Draco cruzou os braços e disse calmo.

 

— Tentar? — Harry chutou com a sobrancelha arqueada em dúvida.

 

— Tentar e não ser — o loiro concluiu por ele.

 

— Mas sem tentar ninguém é — argumentou em seguida o ex-grifinório.

 

— Potter, até mesmo Lucius tentou ser um bom pai, e cá entre nós, acredita que ele foi? — Havia um ar de deboche na forma que ele falava dele, e Draco mal fez questão de esconder a petulância ao ditar o questionamento.

 

— Quer mesmo uma resposta para isso? — o moreno soou desconfortável, se arrumando na cadeira.

 

— Perguntei sabendo sua opinião. — Malfoy deu de ombros antes de retornar o pensamento. — A questão aqui é simples, ser bom pai, boa mãe, bom padrinho, coisas desse tipo, é totalmente subjetivo a quem vê, óbvio que existem elementos comumente vistos como “bons”, exemplos clássicos como sair com o filho, ser carinhoso, e manter uma boa criação no quesito educação, e até mesmo aí posso citar controvérsias, pois nem todos demonstram amor de maneiras muito táteis, então aquele pai e mãe que é assim não ama menos o filho. Não acha?

 

— Sim, tem razão, Gina é assim, nunca foi uma mulher de muitos abraços, beijos, sempre prática, entretanto não deixa faltar nada, sempre cuidado de quem ama.

 

— Imagino que sim, porém nem tudo é tão preto no branco, certas coisas “boas” não são vistas assim, você mesmo falou que achava inaceitável eu “deixar” Scorpius usar saias, mas isso o fazia feliz, e ser um bom pai também não é fazê-lo feliz?

 

— Vendo dessa forma… — A sala caiu em um silêncio por um tempo, Harry vira e mexe abrindo a boca para concluir a frase, sempre fechando-a em seguida. — De certo modo, retorno sua fala “nem tudo é tão preto no branco”.

 

— Pode até ser, mas depende apenas de como nós vamos enxergar. Quer saber como fiz para ser um “bom pai”? — Draco cruzou os braços, olhando firme para ele.

 

— Seria estranho, mas sim. — A voz do eleito veio como um fio.

 

— Em primeiro lugar, nunca me considerei um bom pai. Acho que isso ajudou a nunca me acomodar com a relação que tínhamos, pré adolescentes e adolescentes são evasivos e distantes, é fácil perdê-los, muita vezes sinto Scorpius tão longe, é um processo quase doloroso lembrar que na idade dele eu nunca falaria metade do que conversamos, e principalmente que haviam coisas inimagináveis de se contar aos pais em minha cabeça de adolescente. Isso é no mínimo difícil, um processo não gritar e surtar quando recebo uma resposta atravessada, dentre outras coisas, mas é um esforço válido.

 

— As coisas eram bem mais fáceis quando eles eram apenas crianças curiosas e inquietas.

 

— Sinto falta da fase dos "porquês" como nunca achei possível sentir. — Com isso eles riram nostálgicos lembrando dos filhos ainda pequenos questionando tudo à sua frente. — E Potter, em segundo lugar, fiz o que me fez bem durante minha criação, repeti tudo onde meus pais acertaram, na minha opinião, e mantive longe o que gerou os temas da minha terapia.

 

Harry queria questioná-lo sobre a terapia, saber a quanto tempo fazia, se ainda a fazia, se o ajudou muito… Mas o loiro continuou sua fala.

 

— Tudo isso se resume a dar a Scorpius tudo pelo qual sempre almejei, tudo pelo qual lutei para ter e não pude.

 

— Saias? — Harry falou e arregalou os olhos, havia simplesmente soltado, não iria realmente dizer aquilo, apenas pensou alto.

 

— Você pensa baixo, em bens materiais. — O loiro olhou além dele, com um quase riso nos lábios. — Estou dando ao meu filho algo que não pude ter, Potter, nem em meus melhores sonhos, e não foram maquiagens e saias.

 

— Que seria?

 

— Liberdade de escolha e realização. — Agora o cinza se conectava com o verde. — Scorpius nasceu, e desde que ele conseguiu balbuciar as primeiras palavras, eu despejei todo meu amor por ele em cada ato, cuidando dele, o mantendo aquecido e sendo tudo que ele queria e precisava, repeti para ele o quanto era amado e que me orgulhava de cada pequena conquista dele. 

 

Havia algo feroz no olhar cinza, como se as palavras ditas fosse sua razão de viver, sua missão, aquilo tirou o fôlego de Harry.

 

— Quando eu e Astoria não fomos mais suficientes, quando ele precisou de outras pessoas, orientamos como queríamos que tivéssemos sidos orientados, quando ele começou a pedir bens materiais e ter seus raciocínios próprios, nós fomos o que não tivemos para ele, somos seus pais, seus ouvintes, seus amigos, seus companheiros e principalmente fomos seu apoio. Dei a Scorpius meus melhores anos, e daria minha vida, doei amor, tempo e o eduquei, construí nossa relação sendo franco com ele, em todos os momentos, sendo eles meu divórcio a as razões pelas quais mal piso em Londres.

 

Draco parou por um momento, engolindo em seco. Harry o fitava ávido, observando o peito subir e descer de forma curta, recuperando o fôlego. 

 

— Talvez tenha sido nisso que falhou, talvez tenha sido em ouvir demais seus demônios e seu passado, e bem menos seus filhos, que lhe fez chegar aqui. Ou talvez em ouvir apenas seus demônios ao invés de agir contra eles. Passei anos me imaginando sendo insuficiente, sendo o motivo da vida dele estar arruinada, mas fiz tudo ao meu alcance para provar o contrário, ser o contrário disso.

 

— Isso é tão difícil… — Harry murmurou em pura agonia.

 

— Ter filhos não é e nunca será fácil, eles fazem questão de dificultar — Malfoy retrucou simples, havia entendido isso muito rápido quando Scorp gorfou em si pela primeira vez.

 

— Ao menos, você tem onde se espelhar! — Harry olhava para cima, as bochechas vermelhas por vergonha de si mesmo, pelas suas atitudes e os resultados dela, até mesmo um pouco de raiva se iniciando em seu âmago. Era complicado para si, remoer o passado e ressaltar seus defeitos.

 

— E você mais ainda! — O homem riu com desdém. Draco quis gargalhar, a essa altura Potter não poderia mesmo querer usar a cartada de órfão para cima de si. 

 

— Achou engraçado? — O moreno torceu a boca.

 

— Potter, ouvi-lo falar sobre se espelhar é hilário. — Malfoy o olhou divertido, não conseguindo mesmo levar a sério aquilo. — Sabe quem ouvia-me falar sobre meu dia? Meus sonhos? Poderia chutar o nome da pessoa que soube do meu primeiro namorado? Sim, no masculino.

 

Questionou cruzando os braços, Harry arrumou a postura mantendo o olhar firme, mas sem responder.

 

— Certo, consegue imaginar Lucius sentado comigo em um sofá divagando sobre a vida, minhas angústias, ideais? Creio que não, pois quem fazia isso era Snape. Consegue construir a imagem de Narcisa sendo uma mãe calorosa, saudosa, energética e que sabia tudo sobre mim? De certo que não, porque essa pessoa sempre foi Pansy. Quem me consolou no passado, faz até hoje, a pessoa que escuta cada melancolia que posso imaginar dizer, nunca foram meus pais, nem o pobre do meu padrinho que possui a inteligência emocional de um caldeirão, sempre foi Blaise. E se formos falar de suporte, alguém que acreditou em mim e literalmente investiu tempo e dinheiro para que eu pudesse me reerguer, estamos falando de Theo, inclusive foi ele que me pegou aos beijos com um garoto em nosso quarto em Hogwarts.

 

A sala caiu em um silêncio pesado, Harry ainda olhava para o homem à sua frente, mas ele não sustentava o olhar, pelo contrário, parecia disperso fitando a parede, preso em sua própria mente.

 

— A questão aqui, Potter, é que não tive os melhores exemplos dentro de casa, e posso até concordar que pelo menos tive algum, afinal amo minha mãe, porém nunca foram eles por mim, mais de uma vez, clamei, chorei, supliquei, a qualquer divindade para não ter nascido, ou ao menos que tivesse vindo de outros pais, algum casal um pouquinho mais amoroso ou pelo menos do lado certo da guerra. Acredito que mais de uma vez sonhei em orgulhar meu pai, deve se lembrar dos longos anos em Hogwarts que fui sua perfeita miniatura, eu o admirava, repetia tudo que ouvia, chegava a ensaiar no espelho quando criança as expressões dele, para ser igual ao meu pai, sabemos onde isso me levou, e mesmo assim Lucius Abraxas Malfoy só foi capaz de dizer que me amava uma vez antes de morrer e nunca falou, nem uma única vez que se orgulhava ou se orgulhou de mim.

 

— Malfoy…

 

— Você me questionou sobre ser um bom pai, e foi baseada nessas coisas que criei Scorpius. — Os olhos cinzas voltaram para o moreno, que sentiu um arrepio. — Soube, desde o momento que Asty me contou da gravidez que aquela criança iria sofrer por me ter como pai, e conforme os meses passaram, resolvi que tornaria aquele fardo o mais leve possível.

 

— Isso, eu… — Harry se sentia desnorteado, tudo que saía da boca rosada era tão cru, simples, sem rodeios, o loiro sempre o tratou assim, mas naquele tema sua honestidade parecia brutal.

 

— Isso me tornou um bom pai, Potter — Draco falou, engolindo em seco. — Você se tornou tudo que desprezava, eu sofri para ser tudo que precisei. 

 

— Não é verdade, também me esforcei para ser melhor, você não sabe o que diz! — Imagens de Vernon e Petúnia passando pela sua mente, nunca faria nada daquilo com seus filhos. 

 

— Tem certeza? — Draco replicou em sua postura paterna, como quem repreende uma criança, levantando da poltrona. — O que você mais odiava nos adultos ao seu redor? Diga em uma frase.

 

— Negligência e Omissão — Potter respondeu rápido, aquilo era algo que o machucava até hoje. Ele não tinha, nem deveria ter passado pelo que passou com sua tia, e se Dumbledore tivesse sido mais honesto consigo talvez a guerra no castelo nunca tivesse ocorrido, as Horcrux poderiam ter sido destruída anos antes, se fosse franco, o velho bruxo poderia ainda estar vivo, eram muitas suposições. — Eles tinham o péssimo hábito de me pôr de escanteio e esconder coisas de mim, “por ser jovem demais", mesmo depositando todas as expectativas irreais em mim.

 

— Suas ações com James são exatamente essas. — Malfoy contornou a mesa, se encostando na madeira. — Contextos diferentes, claro, mas mesmas ações.

 

— Óbvio que não! — Harry replicou grosso, se sentido ofendido.

 

— Olhe, não estou aqui para brigar, muito menos ser seu psicanalista, só estou falando algo baseado no que já vi você fazendo e nossos filhos comentando. — O loiro ergueu as mão para o alto como se estivesse se rendendo. — Sua escolha é ouvir ou não.

 

— Fale. — Harry possuía uma carranca de desgosto na face ao dizer aquilo.

 

— Fica estritamente proibido ficar furioso comigo e ter seus acessos de raiva para cima de mim — Draco pontuou cerrando os olhos na direção dele.

 

— Diga de uma vez.

 

— Acompanhe comigo, não seja turrão, ninguém precisa, muito menos consegue acertar sempre, o importante é admitirmos nossos erros…

 

— Invés de psicoanalista será coach? — contrapõe em sátira, o olhando.

 

— Ha ha ha, hilário. — Malfoy torceu o lábio. — De qualquer forma, o que tenho a dizer é simples, você tem um sério problema de escuta e um pior ainda de associação, esquece constantemente que já teve a idade deles, que já fez até pior, por causa disso os julga, não leva suas escolhas em consideração, principalmente quando se trata de James, reforço. Muitas vezes quer cobrar deles uma postura que cobra de si, mas nossos filhos não têm os anos de vida que possuímos nem o curso de maturidade express que foi a guerra nos ombros, e sei, nem precisa dizer, o quando somos gratos por isso. Você precisa parar de cobrar de um adolescente atitudes de um adulto.

 

Potter escutou tudo calado, com uma feição irritada e amarga. O loiro o analisa, esperando uma resposta firme, alguns gritos talvez, mas nada acontece, o rosto anguloso e másculo só passeia em diversas expressões enquanto reflete sobre os ditos.

 

— Pare de fazer essa cara feia para mim, fui bem dócil em minhas acusações.

 

— Não estou fazendo cara feia para você. — Harry franziu o nariz como um gatinho, suspirou e conectou seu olhar com o de Draco. — Só estava pensando, preciso de um momento para me acalmar. Talvez, só talvez, você esteja certo, pelo menos em algumas coisas, sou bem mais rígido com James do que com Albus, não sei, James é tão parecido comigo que morro de medo que cometa as mesma idiotices, já Albus é calmo, racional, longe dessa impulsividade insana minha e de James.

 

— Albus é um sonserino — Malfoy brincou, como se isso explicasse tudo, de certa forma dava sentido a algumas coisas mesmo. — Fora que colocou o nome dele de James Sirius, você estava pedindo, Potter.

 

O moreno riu um pouco incrédulo, tinha realmente achado engraçado uma tirada de Malfoy? As coisas não eram mais as mesmas, definitivamente.

 

— Qual o problema dele ser tão parecido contigo, afinal? — Draco questionou, cruzando os braços. — Se bem me lembro, costumam amar essa sua veia moral, ímpeto, coragem, poder etc. — Draco estalou a língua tirando por menos as características, mesmo que tivesse citados os traços que mais admirava e o fez se apaixonar tantos anos atrás, nunca poderia julgar Scorpius por se envolver com James, se o garoto ao menos fosse metade do que o pai era quando jovem seria um furacão, um acontecimento ambulante.

 

— James não puxou apenas minhas partes boas, Malfoy, ele pegou os defeitos também, ele é teimoso, apegado, superprotetor e, por último, guarda rancor como ninguém, tudo isso já me prejudicou muito. Tento ao máximo que ele note cedo isso, vai evitar muita dor, mas ele não nota, acredito inclusive que esse apego com Scorpius seja muito mais culpa e medo de ter ferido ele do que qualquer outra coisa! Não importa o quanto eu diga isso para ele, sobre nossa impulsividade, principalmente, o garoto parece só ignorar!

 

— Será porque ele é teimoso? — O loiro perguntou com ar de riso, recebendo um revirar de olhos. — Potter, não podemos proteger nossos filhos deles mesmos, não é nosso papel, caímos para aprender e eles também vão, me dói horrores saber que meu menino está de coração partido e brigado com o melhor amigo, mas infelizmente, a única coisa que eu posso fazer é estar aqui por ele e convencer o pai babaca do menino a não surtar pela bissexualidade alheia.

 

— Vou prontamente ignorar que me chamou de babaca, surtado e bifóbico na mesma frase. — Harry sorriu com deboche.

 

— A questão principal aqui é que não pode super protegê-lo, e assim o afastar, só esteja com ele, que isso já ajuda muito. — Draco deu de ombros ao finalizar o conselho, ele também precisava ouvir aquilo, a situação com Scorpius o fazia querer invadir a escola e trazer seu filho para casa apenas para mimá-lo.

 

— Merlin, a paternidade é muito difícil!

 

— Nem fale!

 

— Ainda não entendo como consegue ser tão bom nisso. — Potter joga o braço sobre o rosto, tampando os olhos.

 

Draco torce a boca, um pouco incrédulo sobre suas próximas atitudes, não se imaginava confiando novamente em Potter nem em mil vidas, mas eram outros tempos, ele era uma nova pessoa, alguém mais sensível e atencioso do que achou possível se permitir em vida. Por isso, abraçado e confortado pela falta de contato visual, suspirou retomando a palavra para si, preferindo ignorar a parte de sua mente que o repreendia por antecedência.

 

— Perder meu pai foi a primeira coisa que me trouxe para uma nova visão de mundo — Malfoy começou baixo, como se não acreditasse no que dizia, agradeceu que Harry não começou a olhá-lo, não conseguiria continuar se o fizesse. 

 

— Me vi sem o apoio que ele vivo representava. Não sei explicar, não era como se eu contasse com ele de qualquer forma, mas ele estava ali, sabe, se um dia eu quisesse ao menos vê-lo, um alicerce, um exemplo do que eu não poderia fazer ou muito menos me tornar, se tinha dúvida de algo era quase como balancear “Lucius faria isso?”, se a resposta fosse sim, provavelmente eu não faria.

 

Malfoy fez uma leve pausa, seu olhar fixo em nada, porém sua visão periférica capturando o dorso de Potter virado para si.

 

— O evitei por anos, nem pensava na existência dele durante os anos passados em Azkaban, e quando ele conseguiu uma licença para prisão domiciliar nem me dei o trabalho de descobrir o que fez prisão perpétua se tornar aquilo. — Soltou um riso amargo ao fazer uma pausa. — Até minha mãe aparecer em minha porta, ela estava deplorável, fisicamente falando sua aparência era péssima, lembro dela suplicar que eu visitasse meu pai uma última vez. Não fui, pode parecer duro, mas eu não queria olhá-lo, não conseguia cogitar suavizar a imagem rígida dele por uma frágil, pois aquela era minha base para tentar ser um bom pai, um bom ser humano no geral.

 

Houve outro silêncio mortal, Harry não queria interromper, muito menos atrapalhar, já Draco parecia um tanto letárgico, como se apenas tocar no assunto lhe tirasse as forças.

 

— Invadiram a mansão, quase perdi ambos, foi quando finalmente entendi que eu não estava tentando ser um bom pai, não precisava dessa imagem mental para isso, tudo que ele me causou ainda estaria dentro de mim, apenas não queria a culpa, muito menos ter que perdoá-lo, sempre soube que se visse meu pai no leito de morte e ele me pedisse perdão, ele o teria, como sempre teve tudo de mim, e seria honesto, porém eu não queria dar aquilo a ele, mesmo assim fui ao hospital. 

 

O loiro passou as mãos no rosto antes de continuar sua fala, e Harry acompanhou o movimento com os olhos.

 

— Foi estranha a visita, todos estavam esquivos e hipersensíveis, cheguei em casa preferindo a morte a voltar lá, mas Astoria sabia que eu iria me arrepender, então retornei mais uma vez, e voltei novamente com Scorpius depois, não gostava do gosto amargo que era saber que separei meu filho do avô. Scorpius só viu Lucius uma vez, e de repente ele estava morto. Atacaram o hospital, Lucius deu sua vida pela da minha mãe, e foi como perder os dois, ela virou apenas uma sombra do que era e ele tinha partido.

 

— E-eu sinto muito, de verdade — Harry falou com um bolo na garganta, se sentia prestes a chorar, não sabia por que, não era sobre a morte de Lucius, era mais sobre a forma crua e frígida que Draco lhe contava aquilo, aberta e sensível.

 

— Não precisa sentir… Acho que não, as coisas são o que são. — Malfoy parecia aéreo conforme falava. — Amava meu avô, fui seu neto favorito, o que é um enorme mérito considerando Abraxas e o fato de Lucius estar longe de ser o favorito. Digo, o velho era três vezes pior do que meu pai, com relação a diretrizes e ideais, mas acho que por ter noção das palavras deles, as palavras horrendas deles, conseguia dividir isso do afeto que ele demonstrava para mim. É muito complicado, ele odiava negros, e meu melhor amigo é Zabini, porém ele me fazia rir ao pegar no pé de Lucius, então estava okay nossa vizitas mensais. 

 

Draco parou durante alguns instantes sua fala, mexeu o corpo desconfortável no assento e umedeceu os lábios. Harry ficou receoso que ele não fosse finalizar o discurso, entretanto a pausa findou com o loiro limpando a garganta.

 

— Eu não dei a oportunidade de Scorp tirar suas conclusões sobre seu avô, agora e sempre ele só ouvirá o quanto ele era um escroto supremacista, eu tirei a oportunidade dele de ser avô, por egoísmo. Só notei com ele morto. Será um eterno dilema dentro de mim esse tópico, não sei se gostaria de ter meu menino ouvindo as merdas elitistas de Lucius, mas quanto ele gostaria de ver o avô tirando uma com a minha cara? Será que valeria a pena se fosse uma vez ao mês? Tem vezes que acredito que não, que noto a dependência emocional minha, era simplesmente porque dentro de casa não possuía nada e me contentava com as migalhas de atenção de Abraxas, já outras vezes parece tão difícil não me sentir um ser humano horrível.

 

Houve uma pausa, um silêncio pesado.

 

— Não fazia ideia de tudo isso — Harry falou baixo, Draco apenas deixou seu olhar nele. — Cheguei a ler a matéria da saída de Lucius no Pasquim, mas Luna e seus funcionários nunca tratam muito de polêmicas, apenas deixavam claro que as razões pelas quais foi revisto eram de doença e tudo corria em segredo de justiça.

 

— Não li nada daquela época, mas é bom saber que ainda existe jornalismo sério.

 

— Luna ama o que faz, e trata tudo com seriedade — Potter completou, arrumando a postura. — Sobre os ataques…

 

— Sei que meu pai não era sua pessoa favorita, porém se for fazer alguma piada relacionada ao que ele causou e como morreu, só pare aqui.

 

— Eu nunca faria isso! — Harry juntou as sobrancelhas em choque, quem era o homem brio que faria algo assim? — Só iria dizer que ainda era auror naquela época, e foi um verdadeiro escarcéu, as pessoas que invadiram o hospital eram uns fanáticos pelo Voldemort, o achavam genial por dividir a alma e acreditavam que ele tinha uma horcrux secreta… Foram tempos terríveis no batalhão.

 

— Acho que foram anos e mais anos terríveis depois da guerra — Malfoy respondeu simples.

 

— Desculpe por isso, inclusive. — Harry tentou olhar para o loiro ao dizer aquilo, mas ele desviava o olhar.

 

— Tive depressão logo depois da guerra, deve imaginar as motivações, na verdade até antes, chuto que iniciou no dia que recebi a marca, mas com ajuda de Theo e Blaise fiz tratamento, e consegui viver um dia de cada vez, mas com meu pai morto, tudo voltou. Quem me salvou foi Scorpius, eu sabia que não poderia falhar mais com ele. Sabe a razão de eu ter deixado o cabelo crescer mesmo abominando a aparência do meu pai?

 

— Não tenho ideia. — De repente sua cabeça pareceu ouvir os boatos envolto de Draco ser idêntico a Lucius, xingado por sua costas, foi o tema do esquadrão por boas semanas.

 

— Por Scorpius. — Ele sorriu fraternal, como se lembrasse  da cena. — Meu pai havia morrido há poucos meses e bem, Narcissa estava mal… — Ele pausou como se fosse chorar, mas o rosto era impassível, ele apenas limpou a garganta e continuou. — Ele me perguntou a razão de eu estar chorando, eu só consegui soluçar, foi humilhante, e ele todo pequenininho disse que estava tudo bem chorar se estava com dor. Eu sempre disse isso para ele, pois ouvi o contrário a infância toda, Malfoys não choram, acho que ainda consigo ouvir meu pai dizendo isso. Há frases como essas cravadas em mim e em Astoria, às vezes me pergunto como conseguimos, dois seres humanos e um enorme complexo de insuficiência criando uma criança.

 

Draco fez uma pausa, esfregando as palmas na calça, um suor frio contido ali, ele raramente citava essa época, e era a segunda conversa séria tocando em suas feridas na semana, iria explodir a qualquer momento.

 

— De qualquer forma, ouvir a nova versão da frase na voz de Scorp foi o que eu precisava, falei como deu para uma criança que o avô dele estava no céu, virado uma estrela, tentei ser criativo, ele perguntou se era o velho loiro no álbum de fotos de minha mesa, eu ri e disse que sim. Ele pediu uma foto, e eu mostrei, depois daí ele não cortou mais o cabelo e às vezes perguntava se podíamos visitar o vovô.

 

— Eu não esperava isso…

 

— Nem eu, ele já usava cabelo longo há alguns anos quando voltou de viagem da França com a mãe, e agora também usava blusas que mostravam a barriga e tinha dois vestidos novos, pensei que ia morrer, não sou nenhum puritano, mas não me considerava tão progressista. Juro que tentei conter minha expressão de choque com horror ao vê-lo assim, exercendo todos os livros de paternidade que já li na vida e não acho que fui bem sucedido, mas invés de se sentir ofendido ele ria da minha cara, aquele petulante. — O sorriso fraternal cresceu como se lembrasse do filho tirando com a sua cara. — Mas se eu pensei que fosse morrer com as vestes "femininas" foi porque não previ todo o preconceito e xingamento que tive que ouvir direcionado ao meu filho.

 

Ele tinha raiva descendo pelos olhos, a boca retorcia em dor, ele parecia despedaçado ao lembrar daquilo e Harry se sentiu culpado, pois apesar de nunca ter falado nada diferentemente, nem por via de fofoca, foi uma das pessoas que pensou besteiras sobre o novo estilo do herdeiro Malfoy.

 

— Deixei meu cabelo crescer, foi algo “como me xinguem, mas não façam com meu filho”, ele abandonou as saias, e eu definitivamente não sei se isso é bom, ele gostava delas, não sei se foram uma fase ou se ele parou por tudo que aconteceu, ele diz que enjoou, mas eu o conheço, não é só isso… — Houve um silêncio, Malfoy olhava a parede em sua frente. — Potter, você citou Astoria e nosso divórcio com ela doente. — Draco riu amargo. — Ela quis isso, é uma longa história, talvez um dia eu lhe conte, mas por hoje, já houve muito sobre mim. Só tente conversar e se abrir com seus filhos, não espere a morte bater naqueles que ama para lembrar do que fez para magoá-los, eu vi minha esposa quase morrer e enterrei meu pai sozinho com minha mãe e minha pequena família, pois ninguém se deu ao trabalho de jogar uma rosa para Lucius. Algumas coisas mudam a gente mais do que imaginamos.


Notas Finais


Olá, minhas fadinhas!



Como prometido estou aqui com mais um capítulo dessa história que tanto amo.



Acho importante deixar algumas coisas bem claras desde já sobre o desenrolar de alguns personagens (principalmente os protagonistas), durante o diálogo Harry cita suas motivações para sair da terapia e deixa praticamente escancarado seu transtorno dissociativo de raiva, e sim ele tem essa doença e não, não será a pauta da história, não irei me aprofundar nisso pois não gosto de estar no papel de uma especialista na área, por uma questão de medo mesmo, afinal é uma grande responsabilidade, mas irá sim ter consequências e tratamento para o transtorno durante o decorrer da fanfic; O que me leva ao Draco.



Gente, ambos os personagens, melhor, TODOS os meus personagens são os mais humanos que pude escrever, eles vão errar e não vai ter enormes motivações por trás, como pessoas normais fazemos merdas às vezes só por raiva, tristeza etc, e eles também, não coloque ninguém em um pódio pois irá ser bem difícil de vocês digerirem tudo da trama dessa forma, sempre endeusando alguém.



Os seres humanos são egoístas, e tudo que fazemos é por interesse.



Não é uma visão pessimista nem nada, é só um fato, às vezes nosso interesse é bom, às vezes não, tudo tem um interesse por trás. Simples assim.



Sobre Vital, no geral, era isso.



Agora vem o aviso para quem é meu leitor (ou pretende continuar acompanhando essa fanfic).



Bem, para quem não sabe eu tenho dois livros publicados, 01° é um ebook, se chama Eu Nunca, vire e mexe deixo ele de graça (aviso sempre lá no twitter e no tiktok) e o 02° é um conto em uma coletânea (tem até físico).



Estou com um projeto de reformulação do último dito, para ser publicado fora da coletânea, e me tomou BEM mais tempo do que imaginei, além de ter voltado a tomar remédio para ansiedade (que faz mais mal do que bem nas primeiras semanas) e por exatamente não imaginar isso acabei me ferrando muito com relação a prazo, dinheiro e vários outros fatores e agora preciso correr atrás de resolver logo isso. Obviamente isso afeta Vital, porque o tempo que eu dedicaria a ela vai para esse projeto.



Não acredito que irá afetar MUITO afinal eu tenho ainda um capítulo de frente e outro pela metade, mas não gosto de ficar sem frente e não quero, nem posso, me forçar e ter um bloqueio por causa de dois outros projetos meus: O dezdrarry chegando e o livro físico que estou escrevendo.



Sim, eu sei muita informação, quero deixar tudo a panos limpos para não acharem que abandonei ela, não vou abandonar, falo sério, não tem nem chance, eu mesma preciso ler o final dessa fanfic, fiquem tranquilos quanto a isso. Só tem uma questão, Vital me dá muito trabalho mesmo, e não me dá o mesmo retorno que minhas outras histórias, então estou pedindo, não, implorando mesmo, se gosta minimamente dessa fanfic manda para uma pessoa, vota em todos os capítulos, deixa nem que seja um comentario, é muito desestimulante mover sua vida todinha para conseguir cumprir com uma promessa(trazer capítulo de 15-15 dias) e no fim ter cinco votos e nenhum comentário, tipo, eu sei como acaba essa história gente, mesmo ansiando para escrever ela, público para que leiam, e tem visualização mas não há engajamento de vocês…



É um desabafo real, estou fazendo algo de errado?



Enfim foi isso, talvez eu diminua a frequência, vem livro novo aí, e troquei a capa de Bifurcation (nada haver né, só quis soltar aqui mesmo ksksk)



Beijos Da Fada, perdão por esse bloco de texto.


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