NARRAÇÃO EM 3° PESSOA
Há vários momentos da vida em que nos sentimos ansiosos, como quando vamos fazer uma viagem, uma entrevista de emprego; um relacionamento novo e tantas outras ocasiões que causam borboletas na barriga. Mas nada se comparava ao anseio que gritava dentro daquele alfa. Se já passara por nervosismo maior que aquele? Não sabia, mas insistia sua mente dizer que não.
O Park girou a maçaneta lentamente, tentando "preparar" o mais velho para o que descobriria. Mas é claro que mesmo se tivesse passado dias se preparando para aquilo, ainda assim ficaria chocado.
A porta completamente aberta lhe deu a visão que sonhava todas as noites naquela ilha. A sua tanto linda e doce ômega, seu amor. Como ele sentira falta dela. Agora tinha uma noção de como se sentia em relação ao tempo de isolamento que se forçara em fazer.
Percebeu que estava estático quando notou que ainda estava fora do cômodo. O efeito de estar ali, tão perto, o havia deixado desorientado. Obrigou sua mente a realizar a atividade mais básica e simples de qualquer ser. Um pé após o outro, pensou, fazendo a perna direita se mover para dentro do quarto.
Aquilo foi mais do que o suficiente para a ômega, que se empertigou, sentada na cama. Tentou imaginar a direção certa para mirar os olhos atentos e desfocados para onde quer que ele estivesse. Obviamente, não o enxergava, fizera o ato de volver os olhos para algum lugar por força de hábito, mas o sentia. Além de que sua audição estava muito mais apurada. O cheiro dele, agora, mais vívido, o frio de dissipar lentamente do quarto, a respiração forte. Tudo isso ela sentia com muita vontade.
— Yoongi? — a voz calma demonstrava todos os bons sentimentos, mas principalmente gratidão por ele estar ali.
— Mina... — disse, ternamente. Como era bom vê-la novamente, se sentir em casa.
Não era a estrutura física ao qual se referia. Era ela. Poderiam estar na mansão mais luxuosa do mundo, coberta por um teto de ouro ou podiam estar com nada mais, nada menos que o chão sob seus pés e o céu sobre suas cabeças. Ainda assim estaria bem e feliz se fosse ao lado dela. Sentia que seu lar era ali, no coração da ômega.
Aproximou-se a passos lentos, ainda inebriado pelo reencontro. Sentou-se a frente dela, na cama. Seu estado de "fantasia" ainda não o tinha permitido perceber o óbvio.
Mas, ele não era burro ou idiota, logo notou algo errado. Mina não focava o olhar para si. Seus atos eram concentrados e atentos, mas os olhos estavam perdidos, distantes. Perceber tal coisa fez o mais velho sentir uma pontado no peito. Temia ter uma resposta para aquilo, mesmo que já a tivesse em sua frente.
Olhou lentamente para o Park, que assentiu com tristeza e saiu para dar aos dois um tempo sozinhos.
Como lhe doeu aquela confirmação silenciosa do menor. Recusava-se a falar qualquer coisa antes de acalmar o maldito coração que insistia em bater sôfrego.
— Oh, Mina... — lamentou, comprimindo os lábios, cerrando os olhos com força, em um ato desesperado de conter a vontade de chorar.
A mais nova sabia como seria difícil para ele digerir aquilo e entender os próprios sentimentos, mas ela estava ali e o ajudaria a superar, como ela mesma tinha feito.
Com cuidado, procurou perdidamente a mão do mais velho, encontrando seu braço. Tocou-o com carinho, sentindo o frio que por um bom tempo lhe envolvia, se esvair aos poucos.
— É tão bom ter você perto de mim de novo. — alegou, deslizando a mão pelo braço do outro.
O mesmo a olhava com incredulidade. Como ela podia agir assim depois de tudo, como se nada tivesse acontecido? Como podia um coração perdoar tão facilmente tantas mancadas?
— Mina, não faça isso, por favor. — pediu, sentido o entalo na garganta.
— Fazer o quê? — perguntou, ainda admirada com o conforto que aquele toque lhe causava.
— Sorrir como se estivesse tudo bem. — disse, vendo a expressão da mais nova ficar ainda mais calma e doce.
— Posso tocar seu rosto? — perguntou ela, com as mãos retidas perto do corpo, sem saber se podia avançar ou não.
Não foram necessárias palavras para ter uma resposta. O alfa, gentilmente, tomou uma de suas mãozinhas delicadas e finas, colocando-a sobre sua bochecha.
A mesma se sentiu maravilhada com aquilo. Como era bom! Suas mãos pequenas tocaram cada extensão do rosto do alfa. Sentiu pelo toque os pelos da barba que cresciam, espetando levemente suas mãos; o nariz pequeno, a pele macia, o maxilar oval, os olhos que certamente lhe olhavam com atenção; os lábios pequenos e macios. O maior aproveitava a sensação com vontade, mas não tirava os olhos da garota.
Por um momento pôde ouvir em sua mente a avaliação que a mesma fazia sobre si. “Está diferente. Mais maduro, mais forte”. E por alguns segundos esqueceu-se de respirar.
— Como senti sua falta... — confessou a ômega, fazendo o mesmo derrubar tudo que carregava em si, relaxar os ombros, soltar o ar pela boca e deixar as lágrimas rolarem por entre as mãos da garota.
A mesma estendeu os braços, que foram aceitos de bom grado. O alfa aconchegou-se no peito da ômega, ouvindo seu coração bater forte. Tremeu sentido, enfim, onde sempre deveria estar, nos braços da mulher que tanto amava. Não precisava mais se encolher em uma cama, abraçado aos travesseiros enquanto chorava. Não precisava fingir mais, nem lutar mais. Havia reconhecido que onde quer que estivesse a levaria em seu coração, e o melhor, agora, era estar com ela, senti-la e cuidar e deixar ser cuidado.
— Mina, me perdoe. Isso tudo é culpa minha. — lamentou, comprimindo os soluços contra o peito da ômega, que, por sua vez, não conseguia dizer o quão grata e feliz estava. As lágrimas corriam-lhe a face com lentidão. Não estava tristeza, mas imensamente grata por ele ter voltado.
— A culpa é nossa de tudo que aconteceu, Yoongi — disse, tocando seu rosto, fazendo-o olhá-la, mesmo que não pudesse retribuir o olhar — Erramos muito. Não só um com o outro, mas com todo mundo. Já vimos que viver afastados não dá muito certo — brincou, arrancando uma pequena risada do alfa– Vamos fazer a coisa certa, Suga. E dessa vez, vamos fazer juntos.
O mesmo sentiu um orgulho invadir seu peito. Como tinha prazer de dizer que aquela era sua esposa e companheira.
— Vamos fazer isso juntos, meu amor. E por te amar tanto não vou descansar até achar um jeito de trazer sua visão de volta. Isto é uma promessa. — disse, unidos seus lábios aos dela em um beijo doce, porém preciso e forte.
A mesma sorriu, passando a mão pelo cabelo dele assim que se afastaram.
— Seu cabelo está grande. Eu gostei. — reparou, fazendo-o rir. A mesma colou sua testa a dele, mantendo os olhos fechados assim como ele — Eu te amo mais que tudo no mundo.
Depois de um tempo em que aproveitaram o momento juntos, Yoongi deixou que Sulli ajudasse Mina no banho. Ele, portanto, achava que era pouco provável que a amiga pudesse ajudar Mina, a julgar pelo volume alarmante da barriga. Estava quase na época de ganhar o bebê.
— Como ela está? — perguntou o Min, entrando na cozinha, vendo Nam lhe lançar um olhar óbvio — De verdade.
— Aparentemente, ela aceita a condição, mas sabemos que está sendo bem complicado para ela. Mas com você aqui... Mina não vai admitir o quanto estar cega a deixa mal — explicou, vendo que a situação da mais nova refletia a tristeza de todos os outros ali.
— Queria achar uma solução para isso. Faria qualquer coisa. — confessou, bufando pela prostração de não ter algo em potencial para ajudar sua amada.
— Tem um jeito. — disse Guillermo, encostado na porta de braços cruzados.
Os olhares desconfiados e confusos dos garotos se voltaram para o rapaz, que já esperava pela reação.
— Como assim? — perguntou Jimin, se empertigando na cadeira.
— Posso devolver a visão da Mina. — suas palavras saiam com convicção, como se aquilo fosse algo certo e sem chances de erro.
Yoongi soltou o ar com humor. Caminhando lentamente pelo cômodo, descrente.
— Você tem? Por acaso vai fazer mágica? Guillermo, sem querer ofender, mas nem a medicina pode ajudar. O que você poderia fazer? — indagou, balançando a cabeça.
— Yoongi, seu problema é achar que nós somos como os humanos, seres comuns e simples, sem grandes diferenças. Não somos como eles. Você viu como o sangue de moroys e strigois pode machucar e matar. Por que não acredita que podemos fazer mais com nossas propriedades?– disse, tentando não mostrar a descrença no híbrido.
— O que quer dizer com isso? — questionou Jeon, atentando para saber onde o vampiro queria chegar.
— Tem como curar a Mina por meio de células-tronco. Não as comuns, nem humanas. Células-tronco extraídas do meu corpo. Posso devolver a visão da Mina com isso. — explicou devagar. Sabia que a recusa era o mais provável de acontecer.
— O quê?! Ficou doido?! Você viu como o sangue daqueles dois a machucou. Não vai colocar mais nada dentro do sangue dela!– exclamou Yoongi, nervoso.
— Suga, calma... — advertiu Jin, compreensivo.
— Yoongi, este é o único jeito de curá-la. Pelo menos, a única alternativa que temos agora. — disse Guillermo, na tentativa de fazê-lo entender.
— Mas ela pode morrer com isso, não? — perguntou Jack, atento e calmo.
— Sim — ouviu um "puff" do Min, desacreditado — Mas as chances são mínimas, ainda mais depois do que ela conseguiu passar. Minhas células e meu sangue não são perigosos para ela. Pode ser que haja algum efeito colateral permanente ou temporário. Mas não é venenoso. Pode curá-la. — explicou na sua última tentativa. Queria, de verdade, ajudar e não machucar a Mina.
— Você não vai... — o alfa se interrompeu ao sentir o toque sútil em seu ombro.
— Está tudo bem. — disse Mina, brandamente, fazendo o olhar apreensivo dele se tornar em calmaria.
O mesmo pôs a mão sobre a da ômega, notando que ela já não estava mais tão fria.
— Não vou deixar que nada de ruim te aconteça. — disse, olhando para o rosto delicado que carregava um olhar desfocado, porém doce.
— Guillermo não me fará mal algum. Eu confio nele. Minha vida eu lhe confiaria, Gui. — falou, sorrindo, fazendo o vampiro relaxar os ombros, aliviado.
— Mina, isso pode dar errado. — disse Sulli, preocupada.
— Também pode dar certo. Guillermo, quando estiver pronto para fazer. — disse, convicta, recebendo um sorriso largo do rapaz, mesmo que não pudesse ver.
— Mina, não vou deixar que faça isso. — disse o Min, assustado.
— Suga, vai dar tudo certo. Sei que Guillermo não é o seu preferido, mas ele pode fazer isso. Acredite. Confie em mim. Tudo ficará bem. Além do mais, não é uma decisão sua. — disse, apertando a mão do alfa envolta da sua.
O Min estava incerto sobre aquilo, mas não podia impedir que ela fizesse o que queria. Apesar de ser o esposo dela, não podia mandar na mais nova.
Depois de uns quarenta minutos de viagem eles chegaram à floresta, onde ficava, depois da colina, a casa de Guillermo.
— Entrem, por favor. — disse o rapaz, andando confortavelmente pelo lugar.
Era uma casa muito bonita, observou Jimin, guiando a mais nova.
— Guillermo, o que exatamente estamos fazendo na sua antiga casa? — perguntou Hoseok, ainda sem compreender como estar ali ajudaria Mina.
— Bom, tem uma coisa sobre mim que vocês não sabem. — disse, enquanto tentava se acostumar com a ideia de que haviam híbridos em sua casa, que nunca havia recebido nem um ser humano, nem vampiro, muito menos aquela raça.
— Não vai nos revelar que você é o Batman, não é? — Tae perguntou, quebrando o clima tenso que, inconsequentemente, surgiu ali.
— Não, Taehyung, eu não sou o Batman. — afirmou, rindo soprado.
— Então o quê tem para nos dizer?– perguntou Yoongi, sério. Não achava que era hora para humor. Não quando havia uma garota precisando de ajuda ali.
O olhar firme do alfa fez Guillermo retomar a postura e manter os mirantes sérios sobre Yoongi.
— Por vários anos trabalhei como médico. Trabalhei com soldados de guerra, doenças contagiosas, quase mortes e várias outras coisas. Mas por dez anos trabalhei em um laboratório médico, onde nós, clínicos, fazíamos testes e experiência com células-tronco, sangue e outros fluídos de seres principalmente para achar a cura de algumas doenças, criar remédios. Enfim, ao longo desses anos em que trabalhei na parte química descobri uma coisa que nunca contei a ninguém. Células-tronco da minha espécie podem restaurar tecidos mortos sem matar o paciente. Mina quase morreu com o sangue que os moroys injetaram nela, porque o sangue deles é extremamente tóxico à sua raça. Mas o meu não é. — explicou, vendo que aquelas palavras estavam enchendo-os de esperança.
— Como sabe que não pode matar a Mina? Você testou como e em que? — indagou Nam, ainda preocupado.
— O teste foi feito em um cachorro que estava cego. Eu o trouxe para cá e fiz o procedimento. Deu certo. — disse, vendo Yoongi ponderar o olhar.
— Você está nos comparando a um cão? Por Deus... — disse o alfa, descrente, soltando uma risada nasalada.
— Yoongi, vocês são descendentes deles. — explicou com calma, mas, é claro, que o Min tinha uma cabeça de pedra e não queria entender.
— Lobos! Não cachorros, Guillermo! — exclamou, irritado.
— Francamente, você sabe a história da sua raça, mesmo? — perguntou o vampiro, impaciente.
— Suga, calma. — disse a mais nova, segurando, gentilmente, o braço do alfa, que suavizou o olhar. Aquele era o único jeito.
— Bem, aqui é o córtex visual em estado perfeito — explicou o dhampir circulando em vermelho uma pequena área do cérebro, que era projetado num pequeno telão em seu escritório — O da Mina está com uma lesão que impede os impulsos nervosos de fornecerem o estímulo necessário para que ela possa enxergar. Vou fazer um pequeno procedimento, onde vou injetar minhas células-tronco diretamente nesta área afetada, causando a reconstrução do tecido. — concluiu, sorrindo satisfeito com a fato de que sua descoberta, finalmente, poderia ajudar alguém.
Sulli e Jimin foram ajudar Mina a se preparar e tomar os remédios passados pelo, então, Dr. Homes.
Guillermo se trocou e pediu que caso Yoongi quisesse ficar na sala de procedimento deveria se trocar também.
Tudo estava planejado. Jimin, Jackson e Yoongi ficariam na sala junto com Guillermo e Mina. Os outros ficariam no andar de baixo. Durante os três próximos dias eles iriam revezar para cuidar da mais nova, caso desse tudo certo.
Guillermo não quisera ressaltar, pois confiava naquilo e, acima de tudo, queria ajudar a garota que um dia salvara sua vida. Mas havia uma pequena chance de que pudesse dar errado. Tinha ciência daquilo, mas disse a si mesmo que daria tudo certo. Precisava dar certo.
Já devidamente preparados, ambos seguiram para uma outra sala que ficava ao lado da que outrora estavam.
O alfa se espantou ao ver tudo que tinha ali. Não era como um quarto de "procedimento". Era uma sala de cirurgia muito bem equipada.
— Sala de procedimento, hum? — perguntou ironicamente, correndo os olhos pelo lugar.
— Meu lugar favorito da casa. — disse, começando a organizar os instrumentos.
Depois de alguns minutos entraram na sala Mina, Jimin e Jack. Estavam todos de acordo com o que Guillermo havia pedido.
—Tragam-na para cá — ditou, sendo obedecido no ato. Os meninos deitaram a mais nova na maca com cuidado, pois a mesma já estava um pouco sonolenta pelos remédios que tinha tomado — Mina, vou aplicar a anestesia geral, okay? Após isso, tente relaxar. Está tudo bem. — disse, vendo-a assentir com a cabeça.
— Yoongi... — ela o chamou, buscando por sua mão perdidamente.
O mesmo se aproximou, com uma das mãos livres da luva e segurou a destra da ômega.
— Vai ficar tudo bem, okay?– disse, sentindo o polegar da mais nova deslizar em sua bochecha. Sem querer tornar aquilo público, se aproximou do ouvido dela — Eu te amo, está bem? — deixou um beijo na testa alheia.
— Eu também amo você. — murmurou ela, sorrindo.
— Estamos prontos. — disse o vampiro, firme. E aquilo foi última coisa que a mais nova ouvira antes de apagar.
Todos estavam tensos, exceto, aparentemente, Guillermo, que parecia familiarizado com tudo ali, como se fosse algo simples de se fazer.
O suor escorria pelo rosto dos três híbridos que observavam tudo com muita atenção, preocupados, com qualquer possível erro. Guillermo por outro lado, estava intacto. Sem suor, sem tremedeira, sem garganta seca, nada. Vantagem de ser um “sanguessuga sem alma”.
Todo o procedimento estava sendo monitorado por um visor perto da maca. O dhampir havia chegado com a agulha até o ponto específico do cérebro da ômega. Cada mísero movimento era preciso, certeiro. Um milímetro a mais ou a menos poderia resultar em uma grave piora no quadro da mais nova, até mesmo poderia chegar a sua morte.
A agulha avançou mais um pouco, se desvencilhando com cuidado. Enquanto isso os outros tentavam não explodir de nervosismo. Concentravam-se no bip cardíaco do aparelho. Na lanterna acima da cabeça da mais nova, nos instrumentos em geral. E Guillermo avançou mais um pouco.
E só se ouvia o bip.
Mais um pouco de avanço.
Outro bip.
Depois de mais um avanço o sorriso brotou no rosto pálido do Homer. O córtex visual.
Yoongi prendeu a respiração inconscientemente. Seu coração disparou.
Com cuidado e precisão Guillermo injetou as células-tronco na área afetada. Estava feito.
Alguns segundos de tensão tomaram o cômodo, até verem que estava tudo bem e soltaram sorrisos aliviados.
— Ah, Deus... — disse o Min, sentado em uma cadeira, tentando regular as batidas fortes de seu coração. Por um momento esqueceu como respirava.
— Deu certo. — disse Jack, sorrindo.
— Meu Deus, quase que eu explodi de nervosismo. — admitiu o Park, enxugando o rosto.
— Ela vai ficar bem. — afirmou Guillermo, feliz por nada de ruim ter acontecido.
— E aí? Como ela está? Deu certo? — perguntou Tae, afoito.
— Calma, Tae. Deu tudo certo, sim. — disse Jimin ao descer para comunicar aos outros.
Era muito mais que visível os sorrisos de alívio. Finalmente algo tinha dado certo, sem implicações. Agora, a única coisa que poderiam fazer era esperar e torcer para que o prometido acontecesse: Mina enxergar novamente.
Dois dias após o procedimento os meninos já estavam se preocupando pelo fato de que ela não acordava.
— Guillermo, o que está acontecendo? Mina já deveria ter despertado. — disse o alfa, andando de um lado para o outro do quarto, onde a mais nova estava em recuperação.
— Yoongi, tenha calma. Não foi um procedimento como arrancar um dente. Pare de andar feito um idiota para lá e para cá! Está me irritando. — disse, bufando. Não iria admitir, mas também estava preocupado.
— Yoongi, para com isso. Vem aqui. — disse Jeon, puxando o Min para se sentar ao seu lado — Está se estressando e nos deixando estressados também.
— Ah, por Deus! — Jungkook tapou sua boca com raiva.
— Fale baixo! — sussurrou, vendo que Jimin estava tentando fazer o pequeno Jae dormir, sentado em uma poltrona no canto do quarto.
Estava tarde e eles estavam cansados. Nervosismo não ajudava àquela hora da noite.
O Min se convenceu que surtar não adiantava e não ajudava em nada. O jeito era esperar, mesmo que não gostasse muito da ideia.
Eles estavam quase apagando, os três híbridos. Já Guillermo estava atento, sentado próximo à cama da mais nova. Foi quando a ouviu se mexer um pouco. Atentou-se a se manter alerta.
Yoongi despertou rapidamente. Óbvio que ele estava alarmado o tempo todo. Só iria descansar quando ela estivesse acordada, enxergando.
Guillermo fez sinal para que ele ficasse calado e se aproximasse. Jeon e Jimin logo acordaram também, se juntando a eles, perto da ômega.
Mal podiam conter o nervosismo que gritava em suas mentes. Tinham medo de que não acontecesse o quê esperavam.
E de repente, os olhos da ômega se abriram, revelando suas íris num azul cristalino. Não conseguia ela acreditar. Aos poucos sua visão se ajustou e pôde enxergar, finalmente, quem estava ali e tudo ao seu redor. Seus olhos se encheram. Estava enxergando novamente. E pode finalmente ver, diante de si, o homem que tanto amava sorrindo em sua direção com as lágrimas pelo rosto.
A felicidade que habitava seu peito era quase como uma bomba que poderia explodir. Não havia palavras que descrevessem o quão era maravilhoso ver de novo.
Cinco anos depois...
Lá estava eu, com os dedos no teclado e os olhos fixos à tela do computador. Estava trabalhando em mais um dos meus livros.
— Mas o que...? — me assustei com o barulho.
— Shiiiiu, estou me escondendo. — disse Yoongi, abrindo um sorriso doce e angelical, correndo para trás da porta.
Sorri, balançando a cabeça. Aquilo não me incomodava mais.
Novamente ouvi a porta ser aberta. Lancei um olhar para quem estava entrando, e meu sorriso se alargou ao ver quem era.
— Mamãe, deixa eu me esconder aqui. O papai está me procurando. — disse Ailee, sussurrando.
Comprimi os lábios assim que ela fechou a porta, pois Yoongi estava atrás dela.
— O papai... — disse, se virando devagar.
— Peguei você! — exclamou Suga, alcançando a pequena que tentou correr.
— Mamãe! A senhora não me avisou! — acusou ela, enquanto Yoongi e eu riamos do bico de emburrada que ela fazia.
Ela correu em minha direção, fazendo-me parar de digitar.
— O que foi, lobinha? — perguntei, vendo o cara amarrada que ela sempre colocava quando não gostava de alguma coisa.
— Hoje é o nosso dia no jardim, mamãe! Vamos! Para o trabalho só um pouquinho. — pediu, manhosa.
Lancei um olhar de águia para o Min, que levantou os braços em rendição.
— Eu não disse nada. Ela que se lembrou disso. Mas Ailee está certa, mamãe. Vamos logo! — disse, atiçando o nosso toquinho de gente que era mais teimosa que tudo no mundo.
— Está bem. Vão na frente. — disse, recebendo um olhar estreito da pequena.
— Mamãe...
— Só mais dez minutos para a mamãe, okay? — pedi, vendo a mesma sorrir e sair correndo porta a fora — Por Deus! Que gênio teimoso esse dela! — disse, caminhando até o Min, que envolveu minha cintura ainda rindo.
— Ela puxou à alguém que eu conheço. — brincou e eu fechei a cara.
— Ela também é sua filha! — retruquei, recebendo uma risada soprada.
— Acho que temos um furacãozinho de quatro anos dentro de casa. — disse, vendo minha cara de obviedade.
— Você acha? Eu tenho certeza. — brinquei, sendo calada com um selar demorado.
Como eu amava aquilo tudo. Estar com ele e receber esses mimos durante o dia quando a pequena não estava vendo; estar com ela quando a mesma vinha toda emburrada para me fazer parar tudo e lhe dar atenção; de estar com eles. Aquilo era tudo para mim.
— Vai atrás dela, Yoon. Da última vez que deixamos Ailee sozinha por mais de cinco minutos ela pintou o pijama dela de tinta verde. — advertiu, fazendo-o rir.
— Okay. — deu-me um outro beijo — Você vem?
— Com certeza. — disse antes de ele sair.
Enquanto descia as escadas da nossa nova casa. Yoongi e eu achamos que seria melhor criar nossa filha em um lugar aberto em que ela pudesse brincar e correr a vontade. Quando descobri a gravidez, nós mudamos muitas coisas.
Ao passar pelo corredor, parei ao ver meu reflexo no espelho. Perguntei-me quando eu iria me acostumar com aqueles olhos azuis. Desde o procedimento que Guillermo havia feito para que eu voltasse a enxergar, eles mudaram para a cor atual.
E, de repente, ao abrir a porta que dava no jardim, vi e senti tudo que passei nos anos anteriores. Quando esbarrei com Yoongi lá na biblioteca, quando nos casamos; quando nos beijamos pela primeira vez; quando brigamos feio nos primeiros dias de casados; quando ele quase morreu e eu também; quando eu o vi pela primeira vez depois de três meses cega; quando ele chorou no momento em que cheguei em casa mostrando o teste de gravidez; quando Ailee nasceu. Tudo passou como um filme perfeito em minha mente.
E, agora, aqui estou eu, vendo meu marido e minha filha brincando no jardim de casa, felizes. Aqui estou eu não mais como uma garota de dezenove anos que brigou para ser dona da própria vida, mas, sim, como uma mulher que lutou para ter quem ama ao lado, para construir a própria história, aprendendo a viver de verdade. Aqui estou eu como mulher, esposa, mãe e dona do próprio destino, fazendo cada momento valer a pena, pois foi algo que aprendi depois de tanto cair e errar. Hoje sei que é aqui, ao lado da minha família, o meu lugar e onde quero estar.
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