Já era tarde da noite e a loira estava exausta depois de passar o dia na biblioteca, quando Lucy ouviu passos no corredor dos quartos e acordou se perguntando quem estaria caminhando tão tarde, pois a lua brilhava fortemente no céu do lado de fora e não havia nenhum sinal de claridade além do que iluminava seu caminho. Não passava nem das quatro horas da manhã e ninguém deveria estar acordado tão cedo, nem mesmo os empregados do castelo que levantavam mais cedo para deixar tudo preparado. Mesmo assim, ela se levantou para investigar.
O corredor já estava quase vazio e ainda assim ela conseguia sentir uma presença que parecia a observar, mas não encontrava ninguém em nenhuma direção que ameaçava seguir. Entretanto, Lucy viu uma rápida sombra seguir um caminho estranho e que a deixou completamente desnorteada e confusa, ao mesmo tempo em que sua memória revirava por todas aquelas cenas horríveis de seu último aniversário. Vendo sua mãe a deixando partir para que ficasse a salvo, imaginando o terror que sua casa se tornou em uma única noite.
Apesar de lamentar e ainda ter pesadelos com isso, não era o momento para deixar que isso acontecesse de novo. Ela continuou seguindo aquela sombra invasora em silêncio e respirava lentamente para disfarçar ainda mais sua presença, deduzindo que eles não eram capazes de ouvir tão bem quanto enxergar – por isso os olhos vermelhos e destacados.
Lucy seguiu a sombra por toda a mansão, parecia perdida por qual caminho seguir e em dúvida de qual porta atravessar até que desceu todas as escadas e rastejou para o lado de fora da mansão. A loira ficou observando e assistindo para saber se havia alguém que ela conhecia por trás daquilo, mas tudo que viu foi um outro olho vermelho se apagar no meio das florestas do outro lado da estrada. Ela abriu a porta e deu um passo para seguir aquele rastro até que aquele olho vermelho se virou para ela e tudo ficou escuro.
Se não fosse pelo cenário inusitado e que não tinha nada a ver com seu quarto, Lucy diria que tudo que viu noite passada havia sido um sonho ou pesadelo porque não fazia ideia de como tinha voltado a dormir e só acordou quando a campainha tocou. Os empregados já andavam pela mansão e preparavam o café da manhã, mas foi Natsu quem desceu as escadas e foi atender a porta. Ele nem notou que ela dormia no sofá mais próximo.
— Jellal Fernandes? – ele perguntou ao pegar a carta.
— Sim. Especialmente enviado para você e Erza Scarlet, Senhor – especificou o mensageiro — Tenha um bom dia.
— Obrigado – Natsu nem olhou para se despedir, apenas bateu a porta e sentou no degrau da escada para abrir o bilhete — Gildarts…
— O que está escrito?! – Erza falava alto no topo da escada, ainda vestia camisola e estava com seu cabelo ruivo escovado e livre.
— É um pedido de ajuda. Gildarts ainda não voltou para casa e parece que você já tinha isso em mente, não é? Salvar Gildarts… É uma carta direta do príncipe Jellal Fernandes.
— Sim, conversamos sobre isso – ela respirou fundo, entristecida — Coma alguma coisa e se arruma logo. Irei acordar a Lucy.
— Você vai o que?! – ele se levantou, quase deixando a carta cair ao chão.
— Ela vai conosco e você não vai me impedir de tentar.
— Você se lembra onde ele está, não se lembra? Tenho certeza que ela nem faz ideia de que aquele lugar realmente existe, Erza. Você não vai levar uma Heartfilia sozinha para um lugar amaldiçoado, um mito de onde ninguém volta…
— Eu já conversei com Igneel e Anna Heartfilia, Natsu. Ela vai conosco porque não quero que ela se sinta sozinha mais uma vez…
— Tudo bem – ele franziu a testa e saiu andando — Ela vai ser sua responsabilidade.
Naquele momento Lucy pensou em se levantar e mostrar o quão incomodada ficou quando Natsu a tratou como uma criança que precisava de supervisão e ele não queria ser uma babá. Em vez disso, ela apenas esperou enquanto ele e Erza voltavam para seus quartos e pensava em uma roupa adequada para partir em uma aventura para ajudar Gildarts. Não deixaria que Natsu a colocasse para baixo desse jeito.
Ela esperou Erza sair do quarto para sua refeição e entrou lá como se ninguém estivesse olhando. Era um quarto bem arrumado e cheiroso, Erza mantinha tudo bem organizado e limpo, Lucy estava impressionada com o tempo da ruiva. Foi até seu guarda-roupa e procurou a primeira calça que conseguiu encontrar e voltou correndo para seu quarto.
Ficou um pouco larga na cintura, mas ela usou o pouco de costura que sua mãe lhe ensinou para conseguir ajustar. Para a camiseta, Lucy apenas arrancou um espartilho com mangas de um dos vestidos e vestiu. Não estava devidamente adequada para alguma batalha séria, mas já era algo melhor do que os vestidos pesados ou os vestidos leves demais que a deixam desconfortável.
Tão concentrada em customizar sua roupa para a viagem, ela acabou não percebendo que alguém havia chegado e já estava se servindo na mesa de jantar da Mansão Dragneel. Quando Lucy entrou no cômodo, todos os olhares se tornaram para ela exatamente como sua mãe sempre dizia que aconteceria. Exatamente como foi em seu aniversário.
Ela ainda não sabia dizer se gostava ou se odiava esse tipo de atenção. Era um privilégio ser tão bela, isso ela não podia negar.
— Lucy?! – Anna quase cuspiu seu pão.
Os outros ficavam encarando, incrédulos.
— Lucy Heartfilia – Gray levantou e fez uma breve reverência para a loira.
— Que bom te ver, Gray – ela sorriu gentilmente e curvou a cabeça para ele.
Natsu ainda estava hipnotizado pelas curvas que nunca reparou na loira e pela beleza natural que ela raramente exibia, pois estava sempre preocupada usando maquiagem para esconder as imperfeições que ele poderia jurar que não existiam. Ele observou Lucy se sentar ao lado de Gray e arqueou a sobrancelha para a intimidade que ele não esperava entre os dois.
— Imagino que esteja aqui para partir na missão de ajudar Gildarts, não está? – ela começou a se servir, conversando com Gray como se o resto não estivesse presente. Anna e Igneel seguiram uma conversa casual dos dois e ficaram apenas observando os outros.
— Sim, fui convocado também. Você virá conosco?
— Com certeza – ela sorriu propositalmente — Parece que Erza acha minha companhia necessária. Ajudarei no que puder, se quer saber.
— Qualquer ajuda é bem-vinda. Gildarts é forte como um touro, mas orgulhoso como um leão. Se ele estiver ferido, só voltará quando estiver curado – disse Igneel.
— Lucy é boa com curativos. Ensinei o básico do que sei para ela e não os acompanharei porque Igneel também precisa ter uma vigia – Anna sorriu gentilmente, mas Lucy reparou que havia uma faixa escapando pela manga da camiseta de Igneel. Talvez Anna realmente tenha feito curativos nele, mas não era para estarem evidentes assim. Ela nada perguntou.
— E eu tenho feito o meu melhor para ajudar Lucy nos combates. Ela sabe se defender e se curar, é um ótimo começo – Erza acrescentou.
— Sua inexperiência vai nos causar menos problemas do que o Natsu, pode apostar – Gray brincou.
O rosado nada respondeu, apenas rolou os olhos. Ele se calou de repente e a loira também não pôde deixar de notar. A incomodava pensar que ele se sentia tão enojado pela presença dela a ponto de mudar completamente o seu humor. Quando estão juntos tudo parece tão natural e divertido, pelo menos para ela. Era irritante pensar que ele não se sentia da mesma forma e parecia fingir felicidade com ela.
Mas ela não se deixaria tomar por estes sentimentos negativos e ruins, estava indo para ajudar e encontrar Gildarts. O novo pai de Juvia e também o pai de suas novas amigas Levy e Cana e ela faria de tudo para que continuem essa família bagunçada e divertida.
— Partiremos no fim da tarde para conseguirmos um caminho silencioso entre o Bosque das Estrelas – Erza começou a explicar para todos — Assim teremos uma noite tranquila de sono e pelo amanhecer iremos até o Monte dos Pesadelos para atravessar a estrada até o rio e encontrar o Jardim dos Dragões.
— Jardim dos Dragões? – Lucy perguntou, deslumbrada.
— É claro que você não conhece – Natsu murmurou.
— Por que isso te incomoda? – ela pareceu perder a paciência.
Ela reparou no canto que Igneel fechava e abria as mãos sem parar. Anna olhava para ele tentando desviar a tensão em seu rosto. Havia algo sobre aquele lugar que os causava incômodo e, por Lucy nem o conhecer, aquilo a deixava ainda mais curiosa.
— Porque você não sabe onde está se metendo!
— Isso não é da sua conta – retrucou ela.
— Acho melhor começarmos a fazer as malas – Gray sugeriu, ganhando aprovação de Anna e Erza de imediato.
Igneel continuou em silêncio, perdido em seus pensamentos tenebrosos sobre memórias que ele daria tudo para esquecer. Anna observava sua angústia e acariciava seu braço para tentar amenizar sua preocupação. Natsu estava tão irritado com o que considerava ser imprudente da parte de Erza e Lucy que nem reparou nos gestos do pai. Erza e Anna saíram acompanhadas de Gray e Igneel, deixando Lucy logo atrás e Natsu ainda mais atrasado.
Ele aproveitou esse momento para puxá-la pelo braço.
— Os dragões existem de verdade, Lucy. No jardim eles dormem, estão dormindo há anos e não gostam de serem incomodados. Nenhuma flor pode ser arrancada daquele lugar, você me entendeu? Você é uma Heartfilia, assim como as antigas guardiãs do jardim. Consegue entender o que sua presença significa? Acha que eles não vão notar que você é a última viva?
As músicas antigas diziam que um dragão adormecido é sinal de sorte e uma Heartfilia por perto é benção. No jardim onde ele dorme, uma Heartfilia o encobre. Regaram suas flores e eles pouparam suas dores. Uma Heartfilia parte, um dragão se perde. Uma Heartfilia nasce, um dragão cresce. Ela se lembra de ouvir sua mãe cantar enquanto costurava ou polia seus anéis.
Os anéis. Talvez Aquarius pudesse ajudar quanto a isso.
— Não estou indo para atrapalhar – ela falou baixinho, como se o pensamento escapasse de sua mente.
— Não estou dizendo isso…
— Eu já entendi. Não vou mexer com seus dragões e você não precisa fingir que gosta da minha companhia. Vou deixar bem claro com quem prefiro passar meu tempo.
Ela se desvencilhou das mãos dele e saiu andando rápido. Natsu quase não entendeu, até perceber que Lucy havia distorcido todas as suas intenções, mas de nada adiantaria tentar explicar agora. Não é como se ele estivesse tão preocupado sobre o assunto, talvez fosse melhor que ela não o visse como uma espécie de amigo próximo.
Aproveitando que os outros estavam arrumando as malas e certificando se teriam uma viagem tranquila, a loira desceu para a praia da Mansão Dragneel e rezava em segredo para que Aquarius não a deixasse na mão. Estava completamente irritada, ela mesma poderia controlar o mar com sua agitação, mas contava com a presença de um Espírito Celestial para acalmar seu coração e guiar sua viagem com sabedoria. Agora que sua dignidade e palavra estavam sendo alvo de dúvidas, ela queria provar o contrário.
— Eu estou com este anel e você vai me obedecer porque eu estou te invocando e sem mim, você não existe – ela murmurava enquanto desviava das pedrinhas e deixava a barra da calça molhar.
Lucy esticou o braço e encarou aquele acessório especial em seu dedo. O som do mar parecia um aviso de que ela deveria tentar se comunicar e assumir o controle, um espírito da água não pode fazer algo contra seu invocador, não é mesmo? Aquarius precisa expressar gratidão por ainda existir alguém capaz de tirá-la das terras do limbo espiritual.
— Você deve aparecer.
E não levou muito tempo até o anel começar a brilhar. Lucy deu um sorrisinho convencido de canto.
— Se me invocar assim mais uma vez, pode ter certeza que vou te afogar.
— Você não pode.
A azulada a encarou dos pés a cabeça e resmungou.
— De onde veio toda essa cara amarrada?!
— Eu estive estudando. Sei que um espírito não pode machucar quem o invocou, é antiético em seu mundo e seria machucar sua própria existência também – a loira cruzou os braços — Você poderia ser exilada para sempre.
— Pelo menos uma coisa útil você soube fazer.
— Não estou aqui para brigar – ela interrompeu. — Quero que me acompanhe em uma missão.
— O que uma princesa fará em uma missão? Não é temporada de casamentos por aqui? Você deveria estar procurando um pretendente…
— Já ouviu falar sobre o Jardim dos Dragões?! – Aquarius arregalou os olhos quando a loira a interrompeu.
— O que você…
— Você já ouviu.
— Claro que já. Todo mundo já ouviu falar… É o repouso dos dragões antigos. E por infeliz coincidência, uma Heartfilia é o suficiente para despertar-los, sabia disso?
— Eu ouvi falar disso também – Lucy sentiu um leve arrepio. — Estou indo para salvar um quase colega e, considerando os últimos acontecimentos… Queria que você ajudasse a me proteger e proteger meus amigos.
— Terei que recusar.
— Não é um pedido. Você vai nos acompanhar.
— Essa sua versão mandona é uma vergonha depois de conhecer a garotinha chorona e fraca que você é.
— Estou disposta a passar essa vergonha, Aquarius. Você ficará disposta a cuidar dos meus amigos, entendeu? Eu sei que você não pode nos acompanhar pela estrada, mas também sei que pode nos seguir pela água.
Apesar de estar odiando ser controlada por alguém mais uma vez, era a primeira vez em que se sentia destinada a fazer o que lhe era ordenado. Algumas Heartiflia anteriores fizeram de tudo para tirar o gosto de Aquarius em ser um Espírito Celestial, ela queria que seu anel fosse perdido para sempre e que nunca mais a encontrassem, mas quando acompanhou de longe a história de Anna e Layla, queria que uma delas tivessem a invocado.
Por algum motivo, foi Lucy quem a chamou. Ela odiou.
Agora a menina sabe usar o tom de voz e as palavras para controlá-la e não permite ser controlada, assim como Aquarius quando mais nova. De certa forma, isso a deixa orgulhosa.
— O jardim fica próximo de um rio, certifique-se de afundar o anel no rio mais próximo e eu farei o que posso.
— Obrigada – a loira assentiu e se preparou para voltar.
— Você deveria tentar invocar a Virgo mais uma vez. Talvez ela seja mais eficiente do que eu nessa missão – Aquarius cruzou os braços.
— Estou em dúvida se você está tentando se diminuir ou quer tanto não me ajudar que está disposta a ferir seu orgulho para sugerir outro espírito – Lucy se virou para ela mais uma vez.
— Não – ela rolou os olhos — Mas se você realmente quer ajuda…
— Vou invocar as duas de uma vez.
— Isso é quase impossível – Aquarius riu em deboche.
— Eu vou conseguir – Lucy deu as costas para Aquarius e seguiu caminho para retornar à mansão. — Fique atenta para a viagem.
Ela nada respondeu, apenas mergulhou e sumiu no mar. A loira chegou na mansão com um sorriso no rosto e se espantou ao perceber que o Rei e seu filho herdeiro estavam sentados na sala de Igneel, mantendo uma conversa casual. Eles usavam roupas cheirosas e de tecidos caros, foram até lá com algum intuito oficial e nada intimista.
Vários arrepios percorreram o corpo de Lucy quando ela se lembrou de tudo que Natsu havia dito, das canções, de como Aquarius duvidava de seu potencial para tudo. De alguma forma desconhecida e estranha, olhar para o Rei sempre lhe fazia lembrar dos dias em que quase foi leiloada para qualquer família que se oferecesse antes que ela morasse nas ruas, fazia se sentir como um nada, mesmo sabendo que ele era cheio de boas intenções com ela.
— Majestade – Lucy se curvou.
— Senhorita Heartfilia – O Rei e o príncipe a cumprimentaram. — Eu soube que você irá acompanhar a família Dragneel nessa missão, sua primeira missão.
— Sim – ela se demonstrou sem jeito — Minha primeira vez saindo do reino, pelo que me lembro.
— Isso é incrível e perigoso, a Senhorita não acha? – perguntou ele, escondendo um sorriso duvidoso.
Todos na sala olharam para ela, esperando uma resposta para a pergunta que todos se faziam, até mesmo Anna. Ninguém acreditava que ela não faria uma besteira, nem mesmo seus ancestrais.
No jardim onde ele dorme, uma Heartfilia o encobre. Regaram suas flores e eles pouparam suas dores. Uma Heartfilia parte, um dragão se perde. Uma Heartfilia nasce, um dragão cresce.
— Eu estou mais empolgada para ver outros horizontes do que interessada em arrancar alguma flor daquele jardim, Majestade. Como todos sabem, me interessa mais a viagem e conhecer pessoas do que ser alguma heroína ou vilã – ela forçou um sorriso simpático demais, fazendo Erza erguer a sobrancelha para Gray.
No fundo da sala com os braços cruzados e encostando na divisória em forma de arco, Natsu prestava bem atenção nos detalhes que Lucy nem imaginava.
— Me parece justo – O Rei assentiu — Igneel, gostaria de continuar nossa conversa em outro lugar.
— Sim, Majestade.
Os dois saíram ao lado um do outro, escoltado por alguns guardas. Anna e Erza foram para a cozinha juntas, conversando sobre alguns cuidados da estrada e a importância de que Lucy ficasse longe do jardim. Gray e Natsu se juntavam para encarar o Príncipe Rogue e cochichavam sobre ele enquanto Lucy se sentava no outro sofá para tentar ser agradável.
Natsu observava com atenção a forma carinhosa e delicada que Rogue e Lucy se tratavam, como se soubessem de algo que o resto do mundo não.
— Todos têm comentado silenciosamente sobre os poderes de Rogue e o rei – Gray sussurrou de braços cruzados — Tem sido uma pulga atrás da orelha pensar que Rogue passou mal no dia do ataque e precisou passar dias se recuperando.
— Eu não acho que ele faria mal a família dela – Natsu apontou para Lucy com o queixo.
— Eu também não, mas mal o conheço. Tudo que sei é que foi criado em um castelo, ao lado de Sting. Sabemos que são divertidos de conversar e beber, mas não sabemos nada sobre eles. Weisslogia é o homem mais formidável e inexpressivo que esse reino já viu, o quanto ele influenciou os dois criados como gêmeos? – Gray pigarreou — E… ele pode gostar da Lucy, mas nunca o vi conversar com a Juvia tão amigavelmente.
— O que quer dizer? – Natsu desencostou do arco.
— Você me disse que Skiadrum perguntou sobre os anéis e pediu para que você ficasse de olho na Lucy, certo? – ele assentiu — Então o que mais ele sabe? Layla Heartfilia era próxima do rei, de seu pai, de Weisslogia. Anna Heartfilia, a que está hospedada na sua casa, era próxima daquele que não podemos nomear.
— Ainda não estou entendendo o que você quer insinuar, Gray.
— Não estou insinuando… Estou tentando lhe fazer pensar em duvidar das pessoas. Layla e Jude esconderam a filha por algum motivo, não apenas pela beleza. O Rei sabe disso, Anna sabe disso e talvez seu pai saiba. Talvez o meu pai saiba – Gray se demonstrou desconfortável — E eles têm agido de forma bem comum para um reino que presenciou uma grande tragédia, você não acha?
Natsu recapitulou os últimos dias na memória, procurando por alguma demonstração de luto em volta de Lucy, algum vestígio de uma delicadeza que ela ainda necessitava, nem mesmo ele lhe deu isso e uma pequena parte dele se arrepende.
O fogo da lareira ficou mais forte, chamando atenção da dupla que estava no sofá.
— Talvez estejam focados em resolver a merda em que estamos, Gray.
— Eu sei que todos estão com medo, Natsu. Mas Gildarts parte em uma missão suicida e os outros simplesmente deixam? Somos os únicos preocupados porque não sabemos de nada?
A pergunta deixou o rosado pensativo. Estaria seu amigo tentando plantar sementes da discórdia em sua cabeça ou ele estava certo e sendo mais racional do que imaginava? Ele não sabia dizer.
— E como vocês estão indo com a temporada? - perguntou o Príncipe Rogue, fazendo os dois soltarem os braços ao serem pegos de surpresa — Eu soube que são nomes comentados entre as jovens.
— Eu não acho que estou tão animado com a temporada… Muita coisa acontecendo, você sabe, Alteza – Gray respondeu, andando até a janela e observando o horizonte como se Juvia não tivesse rapidamente passado por sua mente.
— Você sabe que pode me tratar como um igual fora do castelo, Gray Fullbuster.
Lucy arrumou a postura no sofá quando notou que Natsu estava andando pela sala e passava logo atrás dela.
— Claro, Rogue. Como eu disse, não estou interessado na temporada.
— É uma pena, devo admitir. Sei que não estamos no melhor clima para tal coisa, mas as pessoas estão tentando seguir a vida e não se preocupar com o pior todos os dias, os casamentos fazem bem, trazem alegria.
— Ao mesmo tempo fingimos estar felizes com uma alegria temporária enquanto não tem um exército de sombras vindo atrás de nós – ele respondeu para ninguém em específico e depois olhou para Rogue — Me desculpe, eu não consigo.
Percebendo que o príncipe havia ficado um pouco sem jeito e visivelmente tímido demais para retrucar ou dar continuidade ao assunto, Natsu se sentou ao lado de Lucy e começou a puxar assunto.
A loira segurou o ar.
— O Gray nunca foi de pensar em casamentos de qualquer jeito, Rogue – ele apoiou os braços nos joelhos — Mas ele e Erza têm tendências aos cabelos azuis.
Os dois riram juntos, deixando Gray com bochechas rosadas de vergonha e Lucy segurando o riso para não incomodar nenhum deles, mas ela sabia que estavam falando de Jellal e Juvia. Depois de perderem o ar de tanto rir, Rogue se recuperou e percebeu a distância simbólica entre Lucy e Natsu e como eles evitavam se olhar. Movido pela curiosidade escondida atrás de seu cabelo caído sobre o rosto, ele perguntou:
— E qual é a sua tendência, Natsu?
— Não estou procurando por uma.
Por algum motivo a palpitação no coração de Lucy se entristeceu. Estava odiando cada segundo da consequência daquela pergunta. Honestamente ela não queria saber e não estava interessada em nada que a fizesse pensar em Natsu e seus gostos, mas não conseguia se esquecer de como ele a levou até mansão. Os dois na mesma montaria.
— Você mente muito mal – Gray riu.
— Ou está mentindo para si mesmo? – Rogue concordou.
— Vão para o inferno vocês dois.
Eles riram.
— Eu vou ver se Erza e Anna precisam de mim. Com licença, Alteza – Lucy se levantou e fez uma breve reverência.
Os garotos continuaram jogando conversa desinteressante fora e Lucy apenas se sentou na mesa de jantar sem esperar por nenhuma comida. Uma pequena parte dela estava com medo de não conseguir se acostumar com as pessoas, as conversas, aprender tudo sem sua mãe ao lado.
Por outro lado, talvez estar usando energia espiritual para manter Aquarius na água esteja a deixando emotiva ou frustrada demais para achar que é capaz. Mesmo assim, ela saiu de fininho pelas portas dos fundos e foi até o meio da pequena floresta para tentar invocar Virgo também.
Certificou-se de que nenhum guarda de Skiadrum estava por perto ou qualquer invasor, mesmo sentindo uma presença estranha – qual sugeriu que poderia ser de Aquarius a protegendo, ela se ajoelhou na terra e afundou o anel entre a grama.
— Eu sou a filha de Layla Heartfilia, sobrinha de Anna Heartfilia e a última Heartfilia viva. Como um ser digno e resistente, eu a ovaciono e a respeito, Virgo, a protetora da terra.
O tremor começou. Lucy já estava rezando para que fosse apenas ao seu redor e não na cidade toda, seria uma tragédia para explicar. E como mágica inexplicável, Virgo saiu de debaixo da terra limpa e viva. O cabelo curto e rosa brilhando como celestial, o vestido marrom escuro serpenteando em seu corpo como se fosse a própria terra lhe servindo de escuro e os olhos azuis mais chamativos que Lucy já havia visto antes.
— Parece que você tem uma missão para mim, Lucy Heartfilia.
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