" Depois de formulários enviados e analisados, e depois de passaram pelos 50 semifinalistas, os vinte e cinco competidores finalmente foram escolhidos!
Você, Jeon Jungkook, deverá comparecer no castelo em dois dias para participar da seleção para ser o futuro pretendente de Kim Taehyung e Rei de Seogwipo.
Desde já agradecemos e parabenizamos por estar participando da competição. Esperamos que aproveite bem e que consiga ganhar.
Boa sorte e nos veremos em breve!
Rei Kim Jaebum "
Jungkook leu aquelas palavras por, no mínimo, três vezes.
Não conseguia acreditar naquelas palavras. Era muito surreal. Sua mente estava entrando em um pane que ou surtava com a carta, ou entrava em um grande déjà vu. Não sabia, mas naquele momento ele nunca iria esquecer.
Lembrou-se quando era menor e falava que iria para o castelo. Quando andava pela vila com a mão cheia de areia para pôr na boca. Ou quando era visto correndo de sua madrinha para ela não lhe dar umas palmadas merecidas por conta de suas travessuras. Era muita coisa passando por sua mente que lhe fez ficar imóvel e perdido por alguns segundos, não se dando conta dos seus olhos e cabelos mudando de coloração.
Naquele mundo, olhos e cabelos eram peças chaves para você ser reconhecido. Por exemplo, bruxos eram reconhecidos pelos olhos roxos ou violetas e cabelos claros ou com coloração fora do comum por conta das porções e magias. Os Lobisomens eram amarelos - híbridos extremamente raros entre a espécie humana e lupina. A maioria dos humanos tinham os olhos castanhos ou azuis. Os vampiros eram conhecidos pela cor vermelha e assim por diante.
O cabelo não dizia muita coisa como os olhos já que com o passar do tempo as pessoas foram mudando sua coloração natural, e sem falar que muitos têm acesso a algumas porções - básicas - e seus fios sofrem com a consequência. O que levava a concluir que existiam vários tipos de cores de cabelos e olhos pelo mundo, entretanto, cada cor tinha seu significado e muitos levavam a sério o que elas poderiam dizer.
Mas também devemos levar em conta que nem todos faziam parte das características citadas. Mas a maioria apresentava, então era difícil não saber o que eles significavam.
A cor laranja significa alegria, vitalidade, prosperidade e sucesso. É uma cor quente resultado da mistura das cores vermelho e amarelo. Está associada à criatividade, pois o seu uso desperta a mente e auxilia no processo de assimilação de novas ideias.
E Jungkook estava todo laranja. Seus olhos ficaram da cor alaranjada e seu cabelo também mudou de cor. O que significava que ele estava muito, mais muito feliz.
Sem contar com a cor que lhe tomou, o seu sorriso sincero e bonito junto com as lágrimas demonstravam o quanto estava feliz.
Quando se deu conta, Hye, Mavi e Mushu estavam comemorando com pulinhos e gritos por finalmente terem a resposta que queriam.
Jungkook deixou-se ser abraçado por sua madrinha. Ela assim como ele estava chorando de tanta emoção. Também podia observar ainda no abraço quando a outra dupla se abraçou. Mushu também chorava, porém tentava não mostrar. O que era algo totalmente irrelevante pois todos estavam chorando enquanto davam risadas. Seus corações estavam aliviados, seus peitos com uma sensação leve e mente satisfeita pela missão comprida.
Hoje estava tomada por orgulho de Jungkook. O amava como um filho e vê-lo realizando um sonho era como realizar um desejo seu também. Sabia o quanto seu afilhado queria conhecer o castelo e tentava manter sempre pensamentos positivos e encorajar Jungkook a nunca desistir. Conhecia sua relutância com o resto do mundo, porém achava que alguém como Jungkook não deveria se esconder.
Jeon era alguém muito especial e se pudesse daria o mundo todo pra ele. O mundo não, o universo. Aquele planeta era muito pequeno para o seu menino. Ele não o merecia, entretanto ele era o que acreditava ser. Não sabia demonstrar com palavras, pois nem ela sabia o que Jungkook era, porém aquele pequeno fato não era um empecilho para que Jungkook fosse especial e que o amasse acima de tudo.
Seus pais não mereceram a morte que tiveram, mas esperava que seu afilhado pudesse honrá-los. Deu o máximo de si para criá-lo e torná-lo uma pessoa boa e inteligente. E vendo o que anos atrás era apenas um bebê, agora com vinte e um anos anos, um homem já crescido e realizando seu sonho era muito gratificante pra ela.
- Você conseguiu, meu amor!- disse em meio ao choro, com o rosto do mais novo em suas mãos. - Agora que você conseguiu, não precisa temer mais nada. Não importa o que eles pensarem. Você é Jeon Jungkook e eles devem lhe conhecer e lhe respeitar, tudo bem? Se eles fizerem mal a você, não se martirize ou se sinta mal, saia daquele lugar e venha pra casa, ouviu?
- Não se preocupe, madrinha, eu sei me cuidar. Eles não vão fazer nada comigo.
- Você é muito especial Jungkook. Tenho medo que eles façam alguma coisa com você.
- Eu vou ficar bem.
- Vou sentir muita sua falta. - Falou com um sorriso mínimo nos lábios ainda com os olhos cheios de lágrimas.
- Porque está falando como se eu já não estivesse aqui?
- Porque você é meu filho. O homem que eu criei e a quem eu tenho muito orgulho. - confessou. Jungkook arregalou um pouco seus olhos pela fala inesperada da mais velha. - Vá naquele castelo e não me decepcione querido.
Jungkook sentiu um certo peso lhe tomar as costas. Não era um peso negativo ou que lhe impusesse era como se estivesse assumindo uma responsabilidade e uma meta que iria cumprir. Não sabia distinguir bem o que sentia. Mas o desafio de honrar aqueles que ama virou uma nova prioridade sua.
- Vou honrar a senhora e meus pais
- disse convicto. - Vou dar o meu melhor, eu prometo.
- Eu sei que vai. - Disse hoje antes de acolher Jungkook novamente em seus braços e chorar mais um pouco.
( ... )
As horas foram se passando tão rapidamente que quando se deu conta, Jungkook se encontrava se despedindo de sua madrinha ainda cedo no porto.
O sol ainda estava nascendo, deixando no céu um mesclado de laranja e azul. Estava frio por conta do horário, por isso a maioria que se encontravam ali vestidas com agasalhos.
Jungkook, segurando suas lágrimas, abraçava sua madrinha bem apertada. Não queria chorar novamente. Seus olhos ainda estavam vermelhos e ardidos pelo choro do dia anterior e pelas lágrimas que derramou na madrugada, o que resultou em sua cara e olhos inchados. Não que Park estivesse diferente, estava com o peito apertado por deixar seu bem preciso ir embora, porque querendo ou não Jungkook era seu filho e ela o amava com todo o seu ser.
O mais novo nem tinha partido ainda, mas já estava com saudade. Se não fosse um sonho de Jungkook e se não confiasse ou o conhecesse bem, nunca iria permitir que ele fosse embora. Mas como não era a situação, estava sentido que o mais novo estaria levando um pedaço do seu ser com ele.
Coisas que só quem é mãe entende.
Mushu e Mavi iam com Jeon e estavam dentro de sua capa bem agasalhados, em bolsos feitos na peça justamente para abrigar seus amigos e deixá-los confortáveis.
- Eu vou sentir muita sua falta, meu bem. - Hye disse quando se separou do abraço. Deu uma dois passos pra trás para observar bem o mais novo. Suas vestimentas eram todas pretas. A camisa com manga comprida marcava alguns músculos e seus ombros largos, porém era suficiente para lhe esquentar. Também usava uma calça, coturnos e sua capa. Seus cabelos e olhos estavam na coloração original, o lhe deixava encantador. Se Hye tivesse dado a luz a Jungkook se sentiria muito orgulhosa do seu trabalho, porque convenhamos, seu menino era muito bonito. - Tem certeza que não se esqueceu de nada?
- Não, eu trouxe tudo que achei necessário e já está dentro do navio. - O dito cujo, alto, grande e de cor escura, estava parado entre o cais - uma estrutura, geralmente uma plataforma fixa em estacas, ou região à beira da água, na borda de uma obra ou de um porto - e as escadas, onde os barcos podem atracar e aportar para carregar e descarregar carga e passageiros.
Ah, sim. O porto se encontrava no centro do reino e em uma parte bem movimentada da feira, facilitando o processo de quem estava sendo transportado e quem estava transportando. O porto estava cheio com os candidatos da seleção e seus familiares. Alguns choros também eram ouvidos por conta da emocionante despedida, mas Jeon tentou não ficar muito neles ou ele iria chorar novamente.
Jeon e Hye ouviram quando um homem gritou que precisavam embarcar pois já estava na hora de partirem. Trocaram mais um carinhoso abraço e mais alguns beijinhos para que finalmente Jungkook estivesse subindo as escadas e entrando no navio.
Seus sentimentos ainda estavam misturados. O frio da madrugada dava um clima clichê para o momento em que entrava no navio, acenava para a sua madrinha e sentia cada vez mais a embarcação se movimentando. Sendo assim, resolveu andar pelo navio. Não era sua primeira vez em um, mas amava a sensação de estar no alto mar. O mar, em todos os sentidos, o fazia ter várias lembranças boas. Tanto suas, quanto de histórias contadas para si durante todos aqueles anos.
Pode perceber que pessoas estavam espalhadas por todo o lugar e que elas não paravam de conversar. Se sentiu deslocado por alguns segundos antes de avistar um ponto do barco onde não tinha ninguém. Ele estava um pouco mais alto e foi necessário subir alguns degraus para alcançá-lo. Não tinha um timo, cordas ou barris. Estava totalmente vazio e cogitou que ele poderia sim estar ali e que não teria problemas depois.
Deixou-se levar pelo instinto e encostou seu corpo na madeira escura da pequena sacada. De costas para o resto do mundo, Jungkook estava em um local onde dava pra ver o mar e o sol nascendo sob as águas.
Uma sensação de paz lhe tomou e não pode conter o sorriso em seu rosto.
Estava a caminho.
( ... )
Uma ilha é qualquer pedaço de terra sub-continental cercada por água.
O solo do fundo do mar é cheio de pontos quentes, locais em que o magma do interior da Terra pressiona a superfície do fundo do mar, formando vulcões. Esses vulcões no solo marítimo entram em erupção e, ao longo de milhões de anos, expelem lava, que se acumula e, ao ultrapassar a linha da água, forma uma ilha.
Em rios e lagos, o acúmulo de resíduos como terra e areia vai gerando um monte de terra, que ganha altura e ultrapassa a linha da água, como na Ilha de Seogwipo.
Apesar do reino ser muito extenso, a primeira família real de Seogwipo resolveu construir o castelo em uma ilha por conta da proteção e estratégia. Seria muito vantajoso para ambos os lados. O povo ia tomar todo o território e os reis iriam estar abrigados e seguros na ilha. Se um ataque acontecesse sem um estudo bem elaborado, os inimigos iriam atacar as vilas e iriam procurar o castelo, como na maioria dos reinos. Porém a ideia da ilha foi justamente evitar esse tipo de acontecimento, por isso todo o reino continha tropas de prontidão e prontos para qualquer situação.
Para chegar à ilha era um pouco complicado, porém possível. Com uma viagem de barco direto com saída do porto e com alguns intervalos a cada 30 minutos, toda a viagem duraria mais ou menos uma um dia e meio até que chegassem ao destino.
Jungkook estava no convés do navio observando o mar e alguns cardumes. Os minutos iam passando e ele ainda estava ali, pensando. Mavi e Mushu já estavam acordados e ora conversavam, e ora apenas observavam a paisagem.
O humano ainda temia o futuro. Tinha medo de que não conseguisse. Porém já tinha conversado com sua madrinha e Mavi sobre esse medo e ambas falaram coisas parecidas: que ele não deveria ficar tão preocupado com os outros, deveria aproveitar a oportunidade e quem sabe gostar de participar da seleção. Afinal, era por isso que estava naquele navio, certo?
Não, não era.
Não poderia enganar a si mesmo e ele sabia muito bem disso. Desde do começo nunca foi por conta do príncipe ou da seleção. Estava indo por ele e por seus sonhos. Estava indo honrar a memória dos seus pais e orgulhar sua madrinha realizando o seu desejo desde pequeno. O Príncipe e sua família não tinham nada a ver com ele.
O Jeon respirou fundo e em um ato automático, segurou entre dois dedos o colar de pérola que usava, escondido dentro de sua blusa. Depois que o ganhou, não tirava de jeito nenhum. Para ele aquele simples colar tinha um grande significado. Sempre que podia, estava o segurando e conversando baixinho com a jóia, como se de fato estivesse conversando com os seus pais. Era reconfortante saber que tinha um pouco dos seus pais ali consigo.
Por um lado, Mavi e Hye tinham razão – como sempre. Deveria aproveitar aquela oportunidade e fazer tudo o que sempre quis. Quem sabe no meio desta aventura realmente se interessa pelo príncipe Kim? Ou então ele por si? Não era uma má idéia. Deveria deixar suas inseguranças de lado e aproveitar!
Ora, Jungkook sabia a beleza que carregava e sabia como era bonito. Entretanto nunca se importou ou se interessou em se relacionar romanticamente com uma pessoa, assim como nunca se apaixonou antes. Mas esperava que se interessasse por alguém futuramente e que pudesse amar e ser amado. Claro, não achava que precisava de uma pessoa para ser feliz, mas não era como se não sonhasse acordado com o um amor.
Suas incertezas não eram com sua aparência, mas sim o que havia em seu interior. Se sentia uma caixa vazia e isso o deixava perdido. Há anos vem tentando se conhecer e se descobrir, porém até hoje, não sabia muita coisa. Achava que a seleção poderia, de alguma forma, lhe ajudar em algumas questões internas.
Tinha bons sentimentos com essa seleção. Mesmo que no final não conseguisse se apaixonar pelo príncipe ao ponto de lutar por seu coração, estaria satisfeito com o caminho que sua vida estava rumando. Não precisava temer.
- Será que vamos demorar muito? Estou com sono e com fome. – Mushu quebrou o silêncio que estava entre os três, não era desconfortável, porém estava realmente com o estômago vazio e sonolento.
Jungkook olhou para os dois lados como se estivesse procurando algo, foi aí que percebeu que o navio estava em um completo silêncio.
- Eu também estou. Será que vamos demorar muito? – Mavi disse e pôs a mão na barriga. Ela estava vestida com um vestido azul, combinando com seu cabelo platinado e uma pequena tiara. Ela amava usar acessórios e ficava muito bonita quando as usava.
- Eu não sei. – respondeu Jungkook com sinceridade. – Vamos procurar algum lugar com comida e perguntar a alguém onde podemos descansar até chegarmos. – Sugeriu. Mavi e Mushu comemoraram com os braços erguidos e gritos animados.
Jeon colocou os dois em cada ombro e se afastou da madeira. Procurou alguém ou comida pelo navio, mas não achou. Um marinheiro que passava viu jungkook perdido e perguntou-lhe se precisava de algo. Percebeu a fada e o dragão nos ombros do garoto quando este se aproximou mais e não pôde evitar que seus olhos dobrassem de tamanho.
Muitos humanos tinham medo ou repudiam outros tipos de espécies, então para evitar desavenças, Jungkook, assim como os seus dois amigos, achavam melhor se esconderem. Não era por vergonha, era por precaução. É muito desgastante ter que lidar com o preconceito das pessoas em determinadas situações. Certa vez, chegou ao ponto de tentarem matar Mavi e Mushu pelo simples fato deles existirem. Aquele dia ficou marcado em suas memórias e para que mais cenas como aquela não se repetisse, acharam melhor adotarem outros métodos para saírem sem que sofressem algum tipo de ataque no processo.
Por alguns instantes, Jungkook temeu que depois de tanto tempo, teriam de lidar com o preconceito de uma pessoa.
- Eles são meus amigos, não vão machucar ninguém, eu garanto. – Disse Jeon convicto ao perceber o olhar do marinheiro. Tentou passar confiança para ele ainda que ainda se encontrava assustado. Já esperava por essa reação, não era todo dia que as pessoas viam um humano, um dragão e uma fada em uma amizade. – Poderia me dizer onde fica a cozinha e onde podemos descansar? – Perguntou envergonhado por o homem ainda estar lhe encarando.
Ele piscou lentamente algumas vezes antes de indicar uma porta com o dedo atrás dele.
- Ali fica a cozinha e se descer aquelas escadas – mostrou os degraus entre a madeira, indo pro interior do navio. – achará os quartos. Alguns estão ocupados, mas eu tenho certeza que deve haver um pra vocês.
- Tudo bem, obrigado. – Agradeceu antes de seguir para a porta da cozinha e entrar, não ficando mais nenhum segundo na presença do outro homem.
- Aquele cara é estranho.
- O que esperava, Mavi? Somos um dragão, uma fada e um homem com olhos de Bambi.
- Bambi?
- Não conhece Bambi? Do que adianta viver com a cara enfiada nos livros se não conhece Bambi?! – Mushu disse com indignação na voz.
Que absurdo.
- Quem é Bambi, afinal? – Perguntou Mavi quando finalmente entraram no cômodo. Era mediano e tinha algumas mesas com comida, barris com vinho e água. Algumas ervas também estavam penduradas e nem todas possuíam um cheiro muito bom, fazendo os três contorcer o nariz. Odiavam cheiros de ervas.
Mushu e Mavi foram deixados em cima dos barris enquanto Jungkook pegava um prato e pegava comida pros três.
- Tinha floresta onde os animais ficam agitados com a notícia do nascimento de um filhote de cervo, Bambi, que foi chamado de "Príncipe da Floresta" pois seu pai é o cervo mais respeitado da região por ser o mais velho.- Mushu começou a explicar- Quando nasceu, Bambi conhece Tambor, um coelhinho que se torna seu grande amigo. – Jungkook se aproximou dos dois e se sentou em um banco, começando a se servir. O dragão pôs três uvas de vez boca antes de continuar a história. - Bambi cresce, faz amizade com outros animais da floresta, aprende como sobreviver e se apaixona por Feline. - mas três uvas. - Um dia chegam caçadores à floresta e matam sua mãe, que o estava ajudando a não ser pego. Assim, Bambi aprende a viver sozinho, com a ajuda do pai. - terminou a história e lambeu os dedos.
- Porque ele parece comigo, Mushu? Essa história é triste e não tem nada a ver comigo.
- Os olhos. – Justificou com a boca cheia. Jungkook lhe olhou feio e ele bufou. -Vocês têm um olhar parecido.
Mavi e Jungkook se entreolharam ainda tentando entender o que o dragão queria dizer. Porém deram de ombros e continuaram a comer.
Dragão quando vai ficando velho fala cada coisa.
Quando terminaram, guardaram e limparam o que usaram e saíram em direção às escadas que o marinheiro tinha lhes indicado para os quartos.
Com a barriga cheia e os olhos começando a pesar, Jungkook tomou cuidado para não tropeçar nos degraus pelo sono. Desceu degrau por degrau até o último deste, chegando em um corredor com portas dos dois lados. Imaginou que ali seriam os quartos e logo tratou de procurar um desocupado.
Ele estava mais afastado dos outros por preferência dos três. Queriam privacidade e acordar quando apenas estivessem chegando.
O quartinho tinha uma cama, uma porta levando ao pequeno banheiro e uma mesa com uma cadeira. Uma janela acima da cama iluminava o cômodo e deixava ele aconchegante.
Jungkook tirou sua capa e seus coturnos, os deixando num canto. Se direcionou até a cama e se deitou. Cobriu seu corpo e de seus amigos, deixando-os mais confortáveis possível antes de caírem em um sono gostoso.
(...)
Taehyung encarava seu reflexo no espelho enquanto tentava normalizar sua respiração. Estava nervoso e já podia sentir o suor escorrendo por sua testa. Mas logo tratou de enxugá-la e acalmar seu coração ou seu pai iria matá-lo se não tivesse pronto.
Seus cabelos estavam perfeitamente penteados e partidos ao meio. Vestia uma camisa branca com manga longa e de botões, tendo uma calça branca apertada e confortável em suas coxas e um sapato social branco em seus pés. Para quebrar e desviar de tanto branco, o Kim usava um colete amarelo clarinho com botões escuros. Anéis, colar e brincos também faziam parte do pacote. Não esquecendo é claro de sua capa como príncipe combinado com seu figurino. Uma maquiagem estava realçando seus olhos castanhos e a boca fina, disfarçando algumas manchas em sua pele e as olheiras pelas noites mal dormidas pela ansiedade.
A cada dia que passava, a seleção ficava cada vez mais próxima e não podia evitar que o medo e ansiedade lhe tomasse. Entendia que era necessário. Estava chegando sua vez de treinar Seogwipo no lugar do seu pai e não poderia estar menos nervoso.
Seus irmãos não quiseram a coroa, dizendo que já estavam satisfeitos com suas obrigações com o reino. Lisa como uma boa general e Jimin chefe dos arqueiros – apesar de amar uma boa luta com espada e da sensação da lâmina cortando o vento. Era gratificante.
Apesar de tudo, seus irmãos não eram a sua preocupação em si. Para que não se casasse com uma desconhecida, a seleção seria a melhor opção, e ele poderia realmente se apaixonar por um dos candidatos e passar a amá-lo (a).
Recebeu notícias que seu pai tinha escrito uma carta para um selecionado alguns dias atrás.O que lhe deixou ainda mais ansioso porque para Jaebum escrever uma carta – que era a função do conselho com as 50 respostas- a pessoa tinha que realmente ser muito boa. O mais velho disse que quando conhecesse o destinatário iria entender o porque tinha escrito para ele diretamente.
Mas ao contrário do que esperava, a resposta do seu pai apenas aumentou a ansiedade de Taehyung. O que aquele selecionado tinha de especial para cativar o rei daquela maneira? O ele ou ela tinha de tão especial?
Não sabia. Mas queria descobrir e conhecer todos logo.
(...)
Quando despertou, sentiu seu corpo inteiro doer e algumas partes específicas arderem. Abriu os olhos de uma maneira lenta e preguiçosa, eles também ardiam e não duvidavam que estivessem vermelhos.
Olhou para o local que estava, preocupando. Não se lembrava de como foi parar ali ou onde estava. Mas o local era parecido com um jardim. Flores e grama verde lhe cercavam, algumas borboletas e pássaros voavam pelo céu. Nada estaria fora do normal se não fosse o céu, normalmente azul, agora estava em um tom rosa. As nuvens continuavam ali, porém elas não tinham nenhuma anormalidade. Ainda.
Levantou-se do chão e novamente olhou ao redor. Seu desespero aumentou enquanto o ar faltou. O rosa que tinha visto antes não era o céu, e sim uma barreira de neblina. Ela se desfazia no chão com uma cor mais clara e a medida que ia crescendo, sua cor ia escurecendo.
Como conseguiu entrar ali?
Aquelas neblinas eram impossíveis de atravessar ou chegar perto sem ter o corpo queimado e morto. Locais com neblina eram proibidos de se aproximar, pois além do fato fatal, ninguém sabia onde ela iria aparecer ou o motivo dela estar em tantos lugares pelo mundo.
O rapaz voltou analisar melhor e viu uma grande estátua de um guerreiro com uma espada na mão mais a frente. Por seu ombro esquerdo, uma cachoeira se formava e descia por onde não conseguia ver.
Era bonito. Deveria pertencer a algum deus. Eles adoram estátuas.
Sua visão foi tomada quando uma criatura enorme e horrenda corria em meio ao gramado. A espessura de suas patas eram semelhantes a de cobra, porém suas garras eram tão afiadas quanto a de um gavião. Uma parte de seu corpo era branco com listras escuras e havia muito pelo. Possuía uma juba tão cheia e impotente quanto a de um leão. Suas presas grandes e pontiagudas estavam manchadas em vermelho, parecia sangue. E para o seu desespero, ela correu em sua direção.
Aquela criatura era muito alta e não parecia muito amigável. Então se pôs a correr. Correu e correu. Correu tanto que sentia suas pernas pedirem por descanso e seu sangue arder em suas veias de forma ligeira. Seu corpo inteiro doía e mesmo correndo, percebeu alguns ferimentos profundos em seus braços e pernas descobertas pela roupa que vestia. Que inclusive, parecia um pijama que não se lembrava de colocá-lo.
Olhou para trás e se surpreendeu quando a criatura parecia mais perto a cada passo que dava. Ele era enorme e não duvidava que nem chegasse a metade da pata daquele bicho.
Mas tudo tem um fim. E o dele chegou quando entrou em um caminho de pedras e foi impedido de continuar sua corrida por rochas grandes cheias de musgo.
Droga.
Virou pra trás e apenas teve tempo de ver a criatura dando um salto em sua direção com a boca aberta e garras ainda mais amostra. Encolheu o corpo e colocou a mão em frente ao rosto, nunca tentando praticamente inútil de se proteger.
Esperou a dor da morte lhe atingir, mas ela não veio.
O que veio foi uma pessoa pulando pelas pedras em um salto malditamente perfeito e caiu em pé na sua frente, ficando de costas para si.
Era uma mulher. Uma mulher com uma armadura constituída por uma camisa grossa vinho abaixo da armadura, uma saia, adagas e uma espada na cintura e outra na mão. Braceletes de prata nos punhos com detalhes em ouro, e uma gladiadora escura nos pés. Não era muito alta, entretanto conseguiu afastar a criatura por alguns metros. Ela parecia saber o que estava fazendo e ele apenas recuava. Como se estivesse com medo dela, ou até mesmo com se já estivessem familiarizados.
Não conseguiu ver o seu rosto por estar de costas, porém era impossível não sentir uma presença superior vindo dela, ou ver seus cabelos brilharem em mechas douradas e como ela domava a criatura, intimidando ela ao ponto de recuar.
- fýge apó edó prin se skotos. – Ela disse. Não sabia o que ela falou, mas foi o suficiente para a criatura lhes dar as costas e sair correndo pra longe. Quando o perderam de vista, a mulher finalmente virou para si.
- Finalmente você me encontrou. – Disse em sua língua de forma doce e calma. Caminhou em sua direção e lhe ajudou a levantar do chão que nem percebeu estar. – Eu te esperei por muitos anos Jungkook.
(...)
Acordou em pulo da cama soltando um grito alto e rouco. Sua respiração estava pesada e sua testa estava suada. Colocou a mão no peito e tentou normalizar sua respiração depois de certificar que estava no quarto do navio.
Estava a salvo.
- O que houve Jungkook? – Mavi perguntou preocupada voando em frente ao seu rosto. Estava desesperada tentando chamar Jungkook, porém apenas recebia resmungos e gelo. Mavi pôs a palma da mão esquerda em sua bochecha enquanto a outra arrumava uma mecha do seu cabelo suado. – Você estava murmurando palavras esquisitas e do nada começou a se debater. Eu e Mushu tentamos acordar, mas nada funcionava.
- Eu só tive um pesadelo, não se preocupe. – Respondeu e soltou um suspiro dessa vez mais calmo. Mavi se afastou menos aflita.
- Mas está tudo bem mesmo, cara? Tu deixou a gente muito preocupado, até congelou o quarto. – Mushu disse ainda não convencido e foi aí que Jung percebeu que o quarto estava tomado por gelo.
A sensação ruim no peito lhe tomou por completo pela segunda vez, principalmente pela preocupação. Se tivesse sorte, não teria congelado todo o navio com as pessoas ali dentro.
Jungkook entrou em desespero. Há quanto tempo tinha congelado o quarto? Há quanto tempo não congelava as coisas quando tinha um pesadelo? Porque depois de tantos anos essa “mania” tinha voltado?
Ergueu as mãos no ar com o medo de ter feito um estrago maior do que via, e começou a descongelar todo o gelo que estava ali, fazendo isso também com qualquer outra parte que tinha congelado acidentalmente. Quando acabou juntou tudo antes de colidir com o ar, fazendo-o sumir.
Se sentiu culpado e temeroso consigo mesmo e deixou isso transparente em seu olhar. Mushu e Mavi, sabendo e percebendo a situação do humano, juntaram-se em um abraço, deixando que Jungkook derramava algumas lágrimas.
Elas eram derramadas nas bochechas do outro em uma temperatura menor do que o normal, fazendo com que seu rosto ficasse vermelho com rapidez. Jungkook estava chorando gelo.
- Não fique assim Kook-ah. – Mushu disse manso com o objetivo de tentar acalmar o mais novo. – Você não fez porque quis, fique calmo.
- Eu sinto muito. Eu sinto muito. – Lamentou chorando com mais intensidade. Consequentemente, seus olhos e cabelos ficaram mais claros e sua pele mais fria. Algumas partes do seu corpo já se encontravam congeladas, porém ele não o suficiente para lhe matar ou machucar. - Eu não queria ter congelado tudo. Me desculpa. – Se culpou novamente. A verdade era que quando tinha pesadelos, Jungkook criava um mecanismo de defesa, como uma febre, e acaba por criar o gelo. Ele se espalhava por onde estava e apenas ele poderia tirar. Esse último fato era algo natural, apenas o causador e dono do ato poderia tirar/desfazer o que fez.
Porém isso infelizmente não acontecia com profecias. E nem toda profecia era boa.
A profecia eram relatos no qual se afirmava prever acontecimentos futuros. Quando tem origem religiosa, tais relatos afirmam que a origem da previsão pode ser visões, sonhos ou até mesmo encontros com um ser sobrenatural, sendo considerados como mensagens divinas.
E esse e vários outros motivos da magia negra ser proibida. Algumas bruxas usavam essas magias e profetizavam contra várias pessoas, passando pra elas maldições e mortes dolorosas e contagiosas. Como por exemplo a lepra. Entretanto, uma vez dita, não poderia ser inversa. Não tinha como retirar ou anular, o que fazia com que profecias e magia negra fossem temidas em todo o mundo. Os Volturi também aplicavam penas severas para aqueles que ousarem desobedecê-los.
- Kook- ah, olha pra mim. – Mavi disse erguendo o queixo de Jungkook, o fazendo olhar nos olhos. – Você, melhor do que ninguém, sabe que não tem controle dos seus poderes. Criar gelo enquanto tem pesadelos é a sua defesa, meu amor. Você não tem culpa. – Garantiu a fada pra Jungkook com uma voz doce, calma e baixa para não assustá-lo ainda mais.
Absorvendo o que foi ouvido, Jungkook respirou fundo e foi se acalmando aos poucos. Não foi culpa sua. Era apenas sua forma de defesa. Não tinha congelado tudo porque quis. Não foi sua culpa.
O cabelo e olhos foram voltando ao normal com o passar dos minutos, Jeon também já estava mais calmo e estava escorado na parede, ainda sentado entre os lençóis e com o rosto vermelho. Fazia desenhos imaginários entre as escamas de Mushu, quase como um carinho. Se continuasse, o dragão iria cair no sono novamente.
Três batidas na porta foram ouvidas e logo Jeon permitiu a entrada deste. Era um homem baixinho com um uniforme de marinheiro, o mesmo que o outro vestia.
- Senhor, desculpe incomodar, mas é que houve um acidente com gelo nesse corredor e ele está um pouco escorregadio. - Alertou - Estamos chegando na ilha então tome cuidado quando for andar por aqui. – aconselhou preocupado e Jungkook não pode evitar a culpa lhe tomando.
Se não tivesse o poder...
- Tudo bem, obrigado por avisar. – Disse apenas e o marinheiro se retirou, fechando a porta. Jungkook soltou um suspiro.
- Não foi culpa sua, ok? – Mavi disse assim que a porta foi fechada e quando Jeon se levantou para se aprontar. Aproveitou que ainda voava e deu uma olhada pela janela, vendo que realmente estavam chegando. O tempo tinha passado muito rápido.
Não pode evitar o sorriso. – Vamos, vamos estamos quase chegando. – Disse ela mais animada e batendo com mais rapidez suas asas, tentando fazer o humano esquecer do acontecimento anterior.
- Eu não vejo a hora. – Mushu disse e esfregou suas duas patas. – Ande Jungkook, nós já estamos chegando. – tentou apressar-lo.
Jeon pôs seus coturnos e sua capa novamente. Mavi e Mushu também não enrolaram para entrarem nos bolsos da capa e observarem tudo o que acontecia pela abertura. Viram quando saíram do quarto e subiram as escadas – com cuidado pois o chão realmente estava escorregadio.
Chegaram no convés do navio e foi impossível não segurar o sorriso. O navio aos poucos foi parando próximo ao cais da ilha e Jungkook não perdeu tempo quando saiu em disparada em direção às escadas para finalmente descer.
Sentiu o vento soprar em seu rosto, bagunçando seus cabelos e movimentando levemente a capa. Seu humor já estava melhor e tentava esquecer os últimos acontecimentos.
Observou quando dois homens, um do lado do outro, se aproximaram quando todos já estavam fora do navio. Eles se curvaram e também foram retribuídos. Eles eram totalmente diferentes em questão de altura e Jungkook não podia evitar reparar.
- Bom dia a todos. Sejam muito bem vindos à ilha de suas majestades. – começou o mais alto. Ele era loiro, olhos pequenos, pele levemente bronzeada, e pelo pouco que sorria, deixava suas covinhas a mostra. – Eu sou Kim Namjoon, o duque e ele é Min Yoongi, o marquês. – apresentou ele e o homem ao lado. Os dois pareciam ser boas pessoas e pelos seus títulos na realeza, deveriam ser muito inteligentes.
Mas Jungkook franziu o cenho. Como eles pertenciam à nobreza sendo que nos documentos atualizados, estavam outras pessoas? Não soube explicar e preferiu acreditar que era uma questão de atualização.
O duque era o mais importante general da Coroa. Era o responsável pela administração de cidades e províncias.
Já o marquês De hierarquia inferior apenas ao duque, era o governador de fronteira – ou “governador de marca”. As marcas eram distritos territoriais que tinham a função especial de zona de proteção em regiões fronteiriças ou mal pacificadas. Nesses locais, o marquês tinha amplos poderes, respondendo tanto pela administração civil quanto pela defesa militar. Estavam acima dos generais, sargentos e tenentes do exército real.
- Nós vamos acompanhar vocês até o castelo, porém precisamos deixar claro algumas regras a vocês que foram deixadas para serem ditas pessoalmente. – O Min explicou. – Nessa seleção o uso de magia nas atividades são totalmente proibidas. Vocês devem se mostrar dignos de estarem aqui e trapaças não serão toleradas.
- Exatamente! Por isso tomem cuidado com o que vocês vão fazer daqui em diante, principalmente na floresta. – Kim Namjoon apontou para as árvores verdes e altas atrás de si antes de continuar. – Ela parece inofensiva, porém o castelo não está no meio dela atoa. As armadilhas estão espalhadas e escondidas por cada canto dessa ilha. Somente os soldados e a realeza sabem onde elas estão então, por favor, se forem sair do castelo peçam para alguém que conheça a ilha para lhe acompanhar.
- Além de armadilhas, barreiras de neblinas estão por todo o lugar e como já devem saber é proibido a aproximação delas pelo bem da vida de vocês.
- E por último e não menos importante...
- É proibido ir na zona norte. – disseram juntos conforme o combinado.
- Porque é proibido? – Uma menina no meio da multidão perguntou.
- Infelizmente esse assunto é dos reis e não temos permissão para falar sobre. – Namjoon respondeu a garota educadamente. Jungkook logo foi tomado por uma curiosidade e anotou mentalmente que assim que pudesse iria estudar o novo território. Claro, de uma forma segura e sensata. E de preferência para evitar de ir a esse tal norte e arrumar problemas.
Os dois ainda ficaram respondendo algumas dúvidas que Jeon achou relevante e prestou atenção. Esperou que os demais encerrarem o que tinham a falar para então serem direcionados a carruagens e irem para o castelo.
Jungkook sentou-se perto da porta com mais três pessoas lhe acompanhando. Deixou com que sua capa estivesse em uma posição em que permitia que Mavi e Mushu apreciassem a vista com ele.
Conforme andavam, as árvores e alguns animais passavam por seus olhos de forma rápida e turva, mas isso não foi o suficiente para não ficar encantado com o lugar.
A estrada de terra levantava uma poeira que incomodava o nariz de Jungkook. Ele se segurava para não espirrar por pura vergonha, resultando em algumas fungadas de sua parte. Aquela viagem duraria algum tempo, então quando virou-se para os outros selecionados, os encontrou dormindo.
Não sabia se conseguiria dormir por conta da movimentação da carruagem, mas ao mesmo tempo, apenas encostou sua cabeça na janela e ficou admirando a paisagem. Um pouco ao longe, conseguiu ver um pouco da barreira de neblina no meio das altas árvores. Passar por ela lhe deu um frio na espinha.
Lembrou-se então quando, poucos minutos atrás, conheceu o duque e o marquês de Seogwipo. Tinha pesquisado e lido sobre a família real de muito tempo, sabia que não havia nenhum Min ou um Kim - além de Taehyung e sua mãe- entre eles. Todos os membros da realeza eram da família Lee e Choi. Porque eles haviam mudado?
Por um momento ele cogitou ser desatualização, mas nos documentos era claro que deixar apenas as duas famílias naquela hierarquia era uma questão além de um costume. Era uma segurança que era posta de geração em geração e que pelo que sabia, pelo menos até o momento, nunca foi quebrada, então porque eles mudaram isso?
A carruagem parou, lhe tirando dos pensamentos. À medida que desciam os selecionados iam se organizando de uma forma que pudessem ver todos eles.
Ao saírem, também puderam avistar no topo das grandes escadas, os reis e os príncipes posicionados um ao lado do outro. Possuem facetas sérias e postura firme. Suas coroas em suas cabeças combinavam perfeitamente com eles e seus trajes, Jungkook não pode evitar ou reparar que os membros da família real eram muito bonitos.
Os selecionados e os monarcas se curvaram assim que todos estavam em frente a eles, que depois de se levantarem, retribuíram o gesto em forma de respeito.
Os reis se apresentaram e logo após os seus filhos. Jungkook sabia exatamente quem era quem por ter ficado boa parte do tempo tentando memorizar seus nomes e suas características para quem não se sentisse cansado ou confuso.
- Vale lembrar que vocês estão aqui pra uma seleção, então tratem de respeitar a todos nesse castelo, independente quem seja. Atitudes desrespeitosas não serão toleradas aqui. – O rei Choi alertou a todos. – Além de tudo, espero que nos demos bem e que possamos ter uma convivência agradável com todos. – Deixou explícito suas expectativas para que todos ouvissem e entendessem. Havia vários tipos de pessoas ali e ele temia que o respeito não fosse usado e deixou claro em suas palavras que as atitudes tomadas dali pra frente poderiam lhes custar a expulsão.
- Meu marido está certo. Também espero que não tenhamos complicações e que possamos prosseguir com a competição da melhor maneira possível. – Rei Jaebum completou a fala do marido. – Vocês serão levados para seus quartos para descansar e amanhã às nossas atividades serão iniciadas, então aproveitem o tempo livre de vocês pra conhecer o castelo. – Continuou, agora, com um sorriso bonito nos lábios. – Se forem sair para a floresta, por favor, não deixem de chamarem algum guarda. Não queremos nenhum acidente por aqui. -
E assim foi feito e nada mais foi dito. Os príncipes nada falam, mas seus olhares para os recém chegados já bastava, até porque acreditavam que seus pais, o marquês e o duque a tinham deixado claro tudo. Os selecionados foram levados ao seus devidos aposentos, os reis se trancaram em uma sala e os príncipes seguiram o seu dia com seus treinamentos diários no exército.
Jungkook, Mavi e Mushu estavam em um quarto grande da cor vinho, branco e dourado. Uma grande cama com um dossel estava no centro do cômodo com dois criados mudos em cada lado. O tapete, assim como todo o quarto, era vinho com flores em dourado, mostrando a delicadeza e riqueza.
Uma poltrona estava no lado esquerdo, em frente a grande porta, dando a passagem para a sacada, onde era possível ver uma boa quantidade de árvores e o mar. Na sacada, uma cadeira de balanço estava ao lado de um jardim suspenso, o que dava um ar leve e agradável.
Voltando ao quarto, um banheiro com direito a banheira e a uma linda paisagem para a natureza era interligado com um closet grande e com roupas chiques e bonitas, separadas e muito bem arrumadas para o uso.
Uma lareira estava posta no canto do quarto, e logo à frente, ainda em cima do tapete, uma mesa e duas cadeiras estavam postas ao lado de mais uma poltrona.
Realmente muito bonito.
- Esse quarto é tudo de bom. – disse Mushu jogado de maneira desleixada no colchão.
Porém não passaram nem dois minutos e o dragão já se encontrava incomodado e inquieto. Se remexia, respirava fundo, olhava o quarto, olhava Jungkook sentado e depois repetia o processo. Mavi já estava começando a ficar estressada com a inquietude do amigo. – Eu não aguento mais ficar nesse lugar. Podemos voltar agora?
- O que?
- Acabamos de chegar.
- Mas ficar aqui é chato. Nós viemos aqui pra nos divertir ou ficamos que nem animais em jaulas? – Perguntou aos amigos.
Jungkook parou pra pensar. Apesar de estar amando a vista do quarto, eles não estavam ali pra isso, estavam ali pra se divertirem e não ficarem presos.
Lançou um sorriso travesso para os amigos deitados na cama. Mushu tinha razão, não eram bichos dentro de jaulas e mesmo que tentassem, eles não conseguiriam lhes segurar.
- Então o que estamos esperando?
A fada e o dragão se entreolharam e soltaram sorrisos tão travessos quanto o de Jungkook. Abriram as suas asas e aguardaram Jeon conferir se estava tudo bem antes do mesmo abrir as suas, tomando cuidado para não fazer barulho ou chamar atenção.
Poderiam ir andando e fazer como os reis orientaram, mas tinha planos melhores.
- Vamos até o mar ou pra outro lugar?
- Temos que ir para o mar!
- Então é pra lá que iremos. – Jungkook disse e olhou mais uma vez para a sacada, dessa vez conferindo os lados. – Mas vamos logo antes que seja tarde.
E assim foi feito. Os três abriram suas asas e começaram a voar pelas árvores e pelo imenso céu azul, ainda tomando cuidado para não os ver sobrevoando.
Sentir a sensação de liberdade nas veias, sentir que não estava preso era a melhor sensação do mundo. O vento batendo no rosto, sentindo o cheiro do mar, das árvores , viam tudo de cima, com suas asas abertas e sorriso no rosto. Passarinhos e borboletas também se juntaram a eles e aquela cena não poderia melhorar.
Mergulharam nas árvores, cortaram o vento, subiam novamente, rodavam, soltaram risadas.
Se sentiam mais livres do que nunca.
Quando chegaram na praia, pousaram ainda no meio das árvores para esperarem que Jungkook voltasse a sua figura natural, sem asas ou cabelos coloridos, porque querendo ou não, eles mudavam de cor com uma facilidade quase irritante.
Como de costume, Mavi e Mushu foram postos nos ombros de Jungkook, que descalçou, começou a caminhar pela areia e de vez em quando se aproximava da água.
Ainda com a sensação de paz em seus corações, uma conversa agradável se iniciou entre os três. Falavam sobre as suas expectativas com a seleção e sobre os outros candidatos.
- Eles parecem ser legais. – Mavi comentou comendo goiaba. Mashu e Jungkook se sujaram com a manga mais do que realmente aproveitavam a fruta. – Espero que sejam tão legais quanto a aparência.
- Tem umas meninas que têm cara de velhas nojentas.
- Mushu!
- É verdade, oras. Eu sei que não é certo eu chamá-las de nojentas, mas se eu conhecer elas eu apenas vou ter certeza da minha teoria.
- Mushu! Isso não se faz. - Jungkook o repreendeu novamente. - Madrinha já lhe disse sobre isso. Além do mais, se realmente não forem legais, a gente vai embora. Estamos aqui para conhecer o castelo e não sermos amigos deles.
- Mas e a seleção?
- O que tem ela?
- E se você se apaixonar pelo príncipe Kim?
- Eu não vou me apaixonar por ninguém, Mavi.
- É o que vamos ver Guk-ah. - disse ela com tom e olhar desafiador.
- O que te faz pensar que não vai se apaixonar pelo príncipe Kim? Ele é muito bonito, e ainda por cima é rico!
- Se eu for me apaixonar por alguém, não vai ser pela beleza dela ou pelo dinheiro que ela tem. Eu quero me apaixonar por alguém que me trate bem, que me respeite e que não me veja como uma aberração.
- Você não é uma aberração! - Mavi interveio rapidamente os pensamentos negativos do mais novo. Conhecia Jungkook muito bem ao ponto de saber sobre esses pensamentos absurdos que tinha. Não sabia como ou quem plantou essa visão ruim de si mesmo, porém fazia o máximo possível para que eles não o tomassem.
- Mas as vezes eu me sinto um. Sabe, eu não sei quem são meus pais, não sei quem eu sou e só tenho vocês e minha madrinha. – Soltou um suspiro sentindo a vontade de chorar pela segunda vez naquele dia. - A verdade é que eu tenho medo de me acharem estranho depois de me apegar a eles. Ou pior, me apaixonar e não conseguir ir até o final. As pessoas são cruéis e não poupam palavras para machucar o próximo. Elas chamam as outras de aberrações só por serem diferentes, e desde de sempre eu me acho um.
- Não pense dessa maneira. Você vai conseguir! Mas nunca vai saber se nunca tentou.
- Eu ao menos sei quem sou, como devo fazer isso? Eu sou-
- Aberração? Não, você não é um. É apenas uma pessoa diferente dos demais, mas isso não te faz uma aberração, Kook. – Mushu disse. – Pensa assim, nós vivemos em um mundo com várias espécies, pessoas, poderes e cores. Só porque você não se encaixa nos grupos da sociedade ou por ter seus poderes, não te faz menos especial ou desmerecedor de respeito. Você é especial por ser quem é e nunca deixe te dizerem o contrário.
- Mushu está certo. Você, como qualquer espécie da Nova Era merece respeito! Ainda não sabemos o que você é, mas eu sinto que nossa estadia nesta ilha vai ser boa para todos nós.
- É assim que fala 'mulé! - Mushu gritou entusiasmado, tentando acabar com o clima pesado que tinha se instalado. O que deu certo já que os dois soltaram sorrisos discretos.- Nós podemos achar um lugar legal pra você treinar seus poderes também. - disse direcionando sua fala a Jungkook.
- Pode ser! Aqui é grande e não vai ter risco de algo dar errado. Claro, ainda temos que tomar cuidado porque estamos em território real e cheio de guardas. - Respondeu apenas por ainda estar pensativo.
- Eu ainda quero meu castelo de gelo.- Mushu lembrou cruzando os braços e empinando o nariz, lembrando o humano da promessa que o mesmo fez em um dos seus treinos e ignorando a fala de Mavi.
Não estava nem aí pra eles.
- E eu meu jardim.
- Porque você quer tanto um jardim? - O dragão perguntou a Mavi. - Estamos praticamente em um mundo cor de rosa! Um mundo perfeitinho pra vocês fadas e ainda quer um jardim?- Negou com a cabeça, estalando a língua no céu da boca, se referindo a bela ilha que estavam. - Decepcionante!
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