História Welcome to the Jungle - Declaração

"Não cometam injustiça num julga­mento; não favoreçam os pobres nem procurem agradar os grandes, mas julguem o seu próximo com justiça”.
Levítico 19:15

MIN YOONGI

O céu estrelado do sul continuava o mesmo de sempre, e as constelações disputavam espaço na imensidão escura noite adentro. 

Apesar da barraca estar armada, eu aproveitava ao máximo os dias de verão para descansar sob a luz das estrelas. 

Depois da exaustiva caminhada, precisava esvaziar a mente, e ultimamente encontrei um novo jeito de relaxar o corpo.

Meus dedos agarraram os fios ruivos e úmidos, enquanto sua boca descia e subia entre as minhas pernas. 

A língua quente deslizava sem pressa, e podia sentir a cabeça do meu pênis tocando o fundo da sua garganta. 

O manto de palha que espalhamos no chão havia se misturado a terra escura e a lama. Mesmo estando longe dos outros, ele mantinha o tom baixo da voz grave enquanto gemia.

— Isso não é justo — ouvi a voz rouca dizer. — Parece que os dois estão se divertindo mais do que eu. 

Taehyung estava ajoelhado por trás do ômega, e na minha atual posição consegui ver seu braço subindo e descendo enquanto nos observava.

Seus lábios brilhavam lambuzados com o líquido transparente que escorria da entrada de Hoseok. 

Não era a primeira vez que dividimos o mesmo ômega, mas essa situação estava se repetindo mais do que o esperado.   

Diferente do híbrido, Hoseok se adaptou rápido ao resto da matilha e seus instintos afloraram graças ao convívio com os outros ômegas.

Mas devido ao longo caminho percorrido, não parei para pensar na real natureza da nossa relação. 

Endireitei a postura a tempo de ver o membro do mais novo invadir o interior do ômega, e o senti estremecer em minhas mãos.

Taehyung mostrava uma expressão diferente da habitual quando fodia, e seu rosto parecia mais maduro quando penteava o cabelo para trás.

— Está com inveja? — Sorri ladino. — Foi você quem pediu para foder a bunda dele hoje.

— Parem de conversar enquanto me comem — ele cuspiu —, você disse que estava cansado demais para meter no meu rabo, então aproveite o descanso chupando o meu pau, Yoon.

— Imagine o que aquele híbrido santinho pensaria se te ouvisse falando assim, seu pervertido — rosnei puxando seus fios com força.

Não tinha nada de comum no nosso caso a três. Hoseok não nos respeitava como betas, os alfas mais fortes da matilha depois do líder.

Taehyung passou os braços por baixo dos seus ombros e o puxou sem delicadeza alguma, deixando o corpo esbelto exposto.

Apesar de ter vivido todos esses anos sem um treino adequado, ele tinha um porte físico forte e um abdômen definido.

— Tem razão, sou mesmo um pervertido que adora o gostinho da sua porra — ele provocou passando a língua ao redor dos lábios. 

— Se arrependa dos seus pecados, querido — o provoquei, chupando apenas a cabecinha. 

— Não me punam — ele choramingou —, o meu pecado é não conseguir me conter quando fodo com vocês…

Sua língua se perdeu nos lábios de Taehyung, e ele desmanchou antes mesmo de ser chupado por inteiro. 

Entre suas pernas escorria o líquido pastoso do outro alfa em abundância, e sua voz escapou esganiçada ao sentir o nó.

— Seus filhos da puta — lambi o gozo, vendo-o atado ao mais novo —, não permiti que gozassem antes de mim. 

— Perdão, Yoon — disse estremecendo —, preencha-me com o seu sêmen, prometo engolir tudo dessa vez.

— Não diga mentiras — segurei em seu queixo quando me ergui diante do seu rosto vermelho —, você merece engasgar com o meu nó.

O brilho em seu olhar era diferente a cada vez que transamos, como se nossas porras misturadas proporcionassem um batismo das trevas.

Hoseok era um diabo sem cauda, que nos arrastaria para o inferno cedo ou tarde. Parecia surreal imaginar que ele precisou reprimir todo aquele fogo por tanto tempo.

Não podia negar que sentir nossos corpos se tocando era incrível. Será que era isso que Jungkook sentia pelo híbrido? Não, o que eles tinham era puro. 

Nós éramos apenas um grupo de depravados. Eu e Taehyung éramos leais um ao outro, mas ainda assim, éramos dois alfas. 

A chegada desse ômega despertou um lado possessivo que não tínhamos experimentado antes, isso me assustava mais do que entrar em águas desconhecidas.

A cabeça do meu pênis inchou mesmo fodendo apenas a sua boca, e ouvir o som da sua voz abafada era estranhamente prazeroso.

— É melhor nos lavarmos no rio —, disse Taehyung, nos guiando assim que nossos nós se desfizeram. 

Observei suas costas ao entrar nas águas que desciam a montanha. Mesmo sendo mais alto, ele não podia me vencer em um confronto corpo a corpo, pois eu era o mais forte depois do líder.

Taehyung era muito novo quando a matilha do norte se envolveu na guerra, e tudo começou nesse lugar, o sul.

O velho Junghyun era um bom líder e sabia que suas ações poderiam machucar muitos dos nossos, mas era impossível lutar contra um imprinting.

Pois, mesmo o lobo mais forte do bando se rendeu ao ver a híbrida Leona do outro lado da margem.

Embora todos respeitassem as leis dos lobos, meus pais e os pais de Taehyung foram os únicos membros anciãos que apoiaram a união de bom grado. 

Aquele amor proibido deu a luz a Jungkook, e mesmo que fosse impossível nadar no mesmo rio mais de uma vez, a história estava se repetindo.  

— Está parecendo preocupado —, Hoseok comentou com o mesmo tom despreocupado de sempre.

— Não é nada — respondi sem me abalar —, este lugar traz boas lembranças, de quando éramos crianças.

Não era mentira. O clima sulista me agradava, mesmo que minha pele ficasse um pouco avermelhada no fim do dia.

Era inquietante imaginar que se Jungkook não fosse “especial”, eu poderia guiar todo o bando, mesmo que não fosse essa a minha intenção.

Ser forte era um privilégio na guerra, mas quanto maior é o poder, maior é o abismo que nos separa dos outros lobos.

No fundo, os mais fracos temem os betas, pois esta é a posição mais importante depois do Alfa. 

Porém, não importava o quanto eu encarasse os olhos escuros de Hoseok, ele não demonstrava temor algum. 

— Isso é estranho —, deixei meus pensamentos escaparem vendo seu sorriso largo e radiante.

— Ficará tudo bem, eu te emprestarei a minha força —, senti o toque suave dos seus dedos segurar minha mão. 

Sorri o observando sem perceber, mesmo sem entender o motivo. O que um ômega poderia fazer nessa guerra? Mas, pensar sobre isso não faria a menor diferença agora.  

Todos lutariam ao lado de Jungkook, para o bem do nosso povo, da nossa matilha e do nosso futuro… e agora, talvez eu pudesse lutar por mais alguém além de Taehyung.

PARK JIMIN

Não podia ser… agora a pouco vi minha unhas se transformarem em garras, o gosto amargo de sangue quando meus caninos cresceram além do normal. Por alguns instantes, eu havia perdido o controle.

Mas, não foi isso que mais me surpreendeu. O lobo negro, o líder da matilha do norte, era filho de uma híbrida.

Isso não explicava muita coisa sobre suas atitudes, mas sem dúvidas era uma grande revelação sobre seu passado.

Ele não era um lobo como os outros. Suas habilidades iam além do comum, ele tinha a agilidade e velocidade de um felino e a força bruta de um lobo.

— O filho de uma híbrida e um lobo — a espadachim falou com desdém —, que piada, acha que vamos aliviar as coisas? 

— Não seja impulsiva, Catarina — a arqueira guardou as flechas —, nossa luta é contra os humanos.

— Filho da Leona ou não, você continua sendo um lobo — resmungou, dando ordem aos outros dois para se afastarem. — Não importa se tem sangue de híbrido correndo em suas veias, deve ficar longe do nosso povo.

— Deixem nosso território imediatamente — disse a mais alta delas —, seu lugar não é aqui, volte para a sua matilha.

Mesmo encurralado, o alfa não recuou. Seu olhar se voltou na minha direção. Naquele momento, ele não parecia o temido e respeitado líder do norte.

— Não estamos aqui para lutar, o Jimin é o único com quem vocês precisam se preocupar — disse encarando-as —, viajamos semanas para chegar até aqui.

Os híbridos que nos atacaram não tiraram os olhos do alfa, apesar de suas feições semelhantes às minhas, suas posturas eram como guerreiros.

— Isso é um problema, garoto — disse a que segurava a espada —, se quer mesmo lutar nessa guerra, terá que aprender a não depender dos lobos.

Mesmo na escuridão, o tom claro dos seus cabelos refletindo na luz do luar denunciava sua natureza híbrida.

— Este lugar não foi feito para híbridos que não sabem se cuidar sozinhos — disse a mulher que guardou o arco.

— Se quer ser treinado como um híbrido, deve descer a montanha e retornar a este ponto sem o lobo — o olhar da espadachim cruzou com o de Jungkook.

— Não — o alfa disse firme e a híbrida se aproximou sem hesitar —, não o deixarei sozinho com vocês.

— O que pretende fazer, pirralho? — A mulher da espada provocou —, não me venha com aquela conversa fiada de lobo apaixonado, eu conheço bem o final dessa história.

Jungkook rosnou como um animal enfurecido, mas a híbrida não se abalou. A ponta da sua espada encostou no pescoço dele e o cheiro metálico de sangue se espalhou.

— Pare com isso — pedi segurando seu punho —, eu entendo a situação, mas por favor, deixe-o ir.

A híbrida que empunhava a espada se afastou bufando, e desapareceu nas sombras seguida pelos outros dois rapazes.

— Espere! — Jeon chamou sua atenção da arqueira —, ele não teria chegado a este lugar se não fosse forte o suficiente... 

— Sei bem disso — a loira respondeu me observando —, a maioria não consegue acompanhar uma matilha de lobos. Mas não pode haver exceções, deixe-o subir a montanha sozinho da próxima vez. 

A híbrida nos deixou para trás, sozinhos no breu. Ainda que eu fosse capaz de enxergar tudo à minha volta, estava atordoado demais para encará-lo. 

— Jimin — ouvi seus passos se aproximando —, te devo uma explicação...

— Não há nada o que explicar — tentei o evitar em vão —, o que um lobo poderia dever a alguém feito eu?

Tudo que conseguia pensar era como estava sendo tolo, por acreditar que um pouco de poder me tornaria mais forte.

— Me escute — meu braço foi agarrado, mas não senti o aperto ou a intenção de impedir minha fuga.

— Não entendo, se sabia de tudo… o motivo da guerra, o passado dos híbridos, por que continuou me ajudando?

— Não pude evitar, está além da compreensão — ele sempre tinha respostas evasivas. 

— Não importa o quanto eu tente corresponder as expectativas de todos, continuo trazendo desgraças aos meus amigos —, e o incomodo aumentou ao tentar ser benevolente o tempo todo.

— Me desculpe por pedir que seja forte o tempo todo, mas me incomoda pensar que não sou capaz de protegê-lo a todo momento...

— Eu não pedi sua proteção, então pare de me tratar como um bicho de estimação.

— O quê? — Ele devia estar surpreso com a minha atitude rude, porém estava cansado demais para me arrepender.

— Nunca foi minha intenção envolvê-lo na guerra, mas não tem como fugir do inevitável…

— Não, não foi você... eu já estou envolvido desde o meu nascimento, mas sozinho não conseguirei vencer — era estranho ouvi-lo falar assim.

— Sinto muito, mas não posso ajudá-lo, sou apenas um órfão. Deveria ter me deixado na floresta…

— Não poderia, não depois de vê-lo naquela noite — ele segurou em meus ombros e me virou para encará-lo. 

— O que isso significa? — Ainda que eu lesse nos muitos livros que Lisa possuía, eu não entendia a força daquele sentimento.

— Não me importa a sua origem — ele falou —, o meu lobo te escolheu. Não quero que se machuque, não gosto de vê-lo triste, porque você é o híbrido mais especial para mim.

Em toda a minha curta vida precisei me cuidar sozinho, ninguém se importava com a minha saúde e segurança.

Não interessava o quanto tentasse ser perfeito, nenhum humano dava importância, então por que alguém como Jungkook me notaria?

— Me desculpe… não queria deixá-lo preocupado, mas eu não sei o que fazer — fui sincero —, nunca conversei dessa maneira com um homem antes, você foi o primeiro...

— Se não me quer como seu alfa, eu serei qualquer coisa que pedir, seu amigo, seu familiar, seu guardião.

— Isso é… — era angustiante não saber o que responder para ele, pois eu mesmo tentava entender o meu coração queria.

— Não vou deixá-lo — ele segurou meu rosto entre as mãos — não interessa se é um híbrido, isso não muda o fato de que eu preciso de você. 

— Jungkook...

Minha cauda não parava de denunciar meu nervosismo, ela balançava freneticamente e somente se acalmava quando enroscava na perna de Jungkook.

— Não se preocupe em corresponder os meus desejos agora, eu te esperarei o tempo que for preciso.

— O que exatamente você espera? 

— Espero que você queira ficar ao meu lado, tanto quanto eu quero estar ao seu.

Gostaria de escolher palavras tão gentis como as dele, e que seus toques nunca me abandonasse. 

E mesmo não conseguindo expressar tudo, Jungkook continuava a secar minhas lágrimas. Não importava o quão patético eu parecesse na sua frente, ele continuava a me olhar com ternura.

— Eu não penso em você como um amigo, ou familiar — sussurrei, pois sabia bem que ele ouviria —, também não o desejo como um guardião, pois quero ser forte para salvar a mim mesmo e os outros híbridos.

— Eu entendo... — ele se afastou, mas antes que pudesse dar as costas, o detive.

— Contudo, quando não estou com você, meu peito dói e tenho medo de ser esquecido… que você me esqueça. Por isso, sinto que sou muito egoísta, mas quero pedir que me espere um pouco mais.

— Não precisa pedir — ele sorriu ladino —, e quando subir esta montanha amanhã, eu continuarei esperando você voltar para mim.