Sebastian estava furioso com a gótica, era tanto que vez ou outra deixava, sem a intenção, a agulha escapar de suas mãos e espetar a garota onde não deveria.
-Desculpa. –pediu irritadiço pela ultima vez amarrando o ultimo ponto da garota que soltara um suspiro dolorido. –Mas a culpa é sua por não ter tomado o devido cuidado. –juntou todos os materiais que usara.
-Ou eu me esforçava ou a Candy morria. –a loira terminou de enfaixar o ferimento e a gótica pode colocar a blusa corretamente. Ninguém conseguia entender de onde ela tirava tanta coragem para ficar apenas de sutiã na frente de todos enquanto Sebastian fazia os devidos cuidados de seu ferimento.
-Mas você podia ter tido mais cuidado. –Candy a olhou como uma mãe severa e preocupada.
-“Cuidado” é uma palavra que não se encontra em meu vocabulário. Não quando se refere à mim. –cruzou os braços olhando a loira.
-Então acho que já está mais do que na hora de introduzi-la nele, não acha? –a loira se curvou um pouco para ficar do mesmo tamanho que ela por estar sentada.
-Você pode tentar se quiser, -a gótica se levantou forçando a loira a voltar a ficar ereta –mas já lhe aviso que não será nada fácil. –sorriu diabólica.
-Aceito seu desafio. –sorriu com sarcasmo e encarou os olhos verdes agora sem tanta maquiagem para os destacar.
-Mel, Candy, essa não é uma boa hora pra discussões. –Micke arrastava um saco com cacos de vidro quebrados e balas usadas.
-Que tal pararem com essa DR e vir nos ajudar? –Teddy as provocou varrendo o resto dos cacos e fazendo montinhos.
-Não estamos tendo uma DR! –as duas gritaram juntas.
Josh, que recolhia os montinhos de Teddy, escutava as conversas e ria sozinho fingindo não estar ali. A maneira como eles estavam agindo nem parecia que haviam sido atacados e quase tiveram uma vitima. Foi então que Josh notou o silencio de uma certa morena que varia alguns cacos de um lado para o outro sem sair do lugar.
-Brit, tá tudo bem? –ele se aproximou da garota, mas ela pareceu não ter o notado. –Ei Brit! –chamou um pouco mais alto –O que você tem? –perguntou quando teve a atenção da garota.
-Nada não, fofinho. –sorriu.
-Se não fosse nada, você não estaria assim. –o sorriso da garota sumiu. –Pode falar pra mim, eu quero ajudar.
-Estou assustada... –suspirou profundamente. Ela pensou em contar para ele o pesadelo que tivera mais cedo, mas não achou necessário.
-Todos estamos. –disse sorrindo, contradizendo o que falava –Pode não parecer, mas estamos, afinal não é sempre que se é atacado quando se está três dias de férias. Principalmente por uma raposa de pelúcia.
-Falando nisso nosso tempo está acabando. –disse olhando o cronometro no pulso contando em 44 e alguns minutos quebrados.
-Você parece muito preocupada com o tempo em que estamos aqui. –disse preocupado, mas então sorriu. –É como diz o ditado “O tempo voa quando a gente se diverte”. –tentou parecer o mais calmo possível vendo que os outros também se aproximaram e qualquer coisa que dissesse pudesse trazer a fúria dos mais velhos para ele.
-Não acho que foi só o tempo que voou aqui... –Mel disse mais para si própria.
-O que quer dizer com isso Mel? –a loira ao seu lado pareceu interessada.
-Hãn? Ah! Não é nada. –desviou do assunto.
-Se não fosse nada você não estaria assim. –Micke interferiu. –Você está assim já faz bastante tempo. Não tem agido como a mesma que entrou aqui, de inicio parecia indefesa e assustada, depois pareceu estar em um lugar normal para você como se estivesse se divertindo, mas desde a morte de Ed está mais fragilizada. –seu tom era um pouco mais alto e desconfiado.
-Micke! Para com isso! –advertiu Brit, mas foi ignorada.
-Por que ainda está se passando por indefesa?! –gritou por fim.
-Micke, se acalma cara... –Teddy tentou tocar em seu ombro, mas sua mão fora estapeada.
-Quem é você?! E o que sabe sobre esse lugar? –gritou ainda mais alto assustando todos menos a gótica.
Mel estava com a cabeça abaixada e a franja cobrindo seu rosto lhe dando um aspecto sombrio. Josh deu um passo para trás lembrando desta mesma feição que ela fizera na cabana antes da morte de Edward.
-Responda! –Micke então explodiu e a segurou pela blusa.
-Micke! –todos se assustaram com a atitude repentina dele, mas estavam com medo para fazer algo.
-Quer mesmo saber? –disse Mel por fim sem levantar sua cabeça. Micke hesitou por um momento com o tom de voz que ela disse, mas então apertou ainda mais sua blusa.
-Não é sua voz assustadora que vai me deixar em pânico.
-Sei disso. –levantou sua cabeça e sorriu. Micke travou com essa atitude –Tem coisas maiores para que te façam entrar em pânico. Não é uma gótica indefesa que irá fazer isso. –seu sorriso logo sumiu e ela o olhou friamente. –mas quem sabe uma volta ao seu passado não o deixe?
-Como você...? –assustado ele a pôs no chão.
-Não é só você que tem um passado sombrio aqui. – levantou a blusa e um pouco o sutiã mostrando uma cicatriz embaixo do seio direito. –Isso foi o que ganhei tentando proteger minha família quando tinha onze anos. –seu rosto estava sombrio novamente. -Você não sabe o que bater de porta em porta coberta de sangue dos seus familiares implorando para que ajudassem a salvar a vida de quem ama. Você não sabe o que andar por quilômetros e finalmente encontrar alguém que cuide dessa pessoa! Você não sabe o que é sentir isso, e ainda conviver com pesadelos relembrando disso todos os dias de sua vida durante oito anos! –seus olhos estavam cheios de lágrimas, mas ela se recusava a chorar –Você não sabe o que é perder sua irmã tão amada diante de seus olhos para uma dessas criaturas horrendas e deixar seu irmão em mãos desconhecidas! –ela não pode mais segurar as lagrimas –Você não sabe o que é viver todos os dias de sua vida implorando que seu irmão estivesse bem e seguro, com medo de aquela criatura voltar e resolver por um fim á vida dos dois.
-Mel! Já chega! –Britany gritou antes que ela continuasse.
Candy e Josh correram e tiraram ela dali antes que ela tivesse uma crise nervosa e desmaiasse deixando para trás um Micke paralisado, uma Britany furiosa e um Teddy e Sebastian sem saber o que fazer.
-Não acha que já está mais do que na hora de parar de desconfiar de todos e tentar ajudar, em vez de trazer mais sofrimento para nós todos? –Britany tinha vergonha de olhar para o garoto. –Enquanto continuar com esta arrogância só o que terá serão perdas. –seguiu os outros sem olhar para trás.
Micke estava com cara de cachorro que caiu da mudança, não sabia o que fazer. Seu psicológico estava abalado, estava se sentindo mal e horrível pelo que tinha feito, tinha visto varias feições de Mel, mas nenhuma delas se comparava a de agora. A imagem do desespero nos olhos da gótica ficaria em sua mente para sempre, nunca se perdoaria por ter feito uma pessoa que os ajudara mais do que qualquer um chorar. Ele estava entrando em pânico, era como se seus pesadelos estivessem todos em sua frente de uma vez só. Ele podia se ouvir gritar, mesmo que sua voz não saísse, podia sentir o desespero em sua pele, seu coração e respiração descompassados, foi então que alguém colocou a mão em seu ombro o acordando de seu sonho acordado.
-Cara, acho que você pegou muito pesado dessa vez. –Teddy disse um pouco temeroso de acabar sendo usado para descontar a raiva do outro. Mas ele, entre todos os outros, seria o mais forte para aguentar a raiva de Micke. –Desconfiar de todos é uma coisa, agora acusar só uma pessoa por ela estar abalada é grave. –respirou fundo antes de prosseguir. –Micke, todos queremos descobrir quem o outro é, mas jogar tudo de uma vez não ajudará em nada.
-O que você sabe sobre isso? –bateu na mão que o consolava –Até á horas atrás também estava desconfiando dela! Não ache que esqueci o que me disse quando encontramos esse lugar!
-Não estou achando que esqueceu, mas vejo que você considerou errado o que eu disse. Descobrir quem eles são não quer dizer arrancar a verdade à força tocando em pontos profundos desse jeito, se for perguntar não pergunte como se estivesse ameaçando ou acusando de algo. Ela confiava em você.
-O que? –disse perplexo.
-Ler o que os olhos das pessoas mostram é uma coisa que você precisa aprender e rápido. Mel confiava em você, acredito que depois disso vai demorar muito para ela voltar a ter. –sentiu Sebastian puxar sua camisa como se pedisse para ele parar –E não é só a dela que você vai ter que reconquistar.
Micke o olhou com desespero. Ele não podia acreditar no que o punk estava dizendo, parecia que tinha uma enorme pedra sobre seus ombros prestes a esmaga-lo sem rancor algum. A cada passo que eles se afastavam, mais Micke sentia seus joelhos fraquejarem. “Eu sou um idiota” era o que gritava em sua cabeça. Descontou sua raiva chutando um dos sacos com vidros e balas que se rasgou e machucaram sua perna, ele não pareceu se importar com a dor, estava furioso de mais consigo mesmo para isso.
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O quarto estava com um aspecto sombrio, nenhum dos presentes se atrevera a dizer nada, estavam todos com medo de fazer algo que ferisse ainda mais os sentimentos de Melanine. A garota ainda soltava algumas lagrimas e fungadas enquanto era consolada por Candy. A gótica estava da mesma forma que Josh horas antes, até a mesma posição e conforto que Candy lhe dava, lembrava a loira. Josh e Britany estavam sentados no chão um de frente para o outro, o garoto abraçando aos joelhos e Britany a brincar com uma bala entre os dedos. Sebastian e Teddy estavam sentados na cama de frente para as meninas analisando-as.
-Vocês estão com fome? –o garoto mais novo finalmente quebrou o silêncio. Ele não estava mais aguentando o clima tenso se formando entre eles, mesmo sem a intenção dos mesmos.
-Pra ser sincera, estou um pouco sim. –respondeu Brit com um sorriso.
-Que tal atacarmos a geladeira ou os armários? –Teddy cutucou Sebastian que lhe deu um tapa em resposta cruzando os braços em seguida.
-Eu acho uma ideia ótima. –Candy soltou um riso nasal com os garotos. –O que acha Mel? –ela parou de acariciar os cabelos da morena em seu colo.
-Pode ser... –disse simplória e se levantou.
Candy olhou preocupada para os outros, todos estavam da mesma maneira que ela. Não dava para saber o que Mel estaria pensando naquele momento, em qualquer outro eles poderiam até ter algum palpite, mesmo que errado, mas aquela hora não se era possível entender nada, seus olhos cobertos pela franja, sua boca com os lábios contraídos, seus braços pendurados ao lado do corpo e suas pernas agiam, aparentemente, sozinhas.
-Ela está realmente abalada... –comentou Josh baixo assim que ela e Candy saíram do quarto.
-Ela vai se sentir melhor em algumas horas, é só esperar. –confortou Teddy despenteando os cabelos do mais novo.
Quando chegaram até a cozinha e encontraram um Micke sentado em uma das cadeiras tombado com a cabeça para trás e um copo vazio entre suas mãos sobre a mesa. Candy travou na mesma hora e puxou Mel que tentou se aproximar dele.
-Só pode estar de brincadeira... –Teddy ficou preocupado e passou na frente deles pegando o copo das mãos do garoto e o cheirando em seguida colocou uma gota na boca –É só água, ainda bem. –suspirou tranquilo.
-E se fosse realmente veneno?! –Sebastian gritou. –Você não pode sair por ai pondo qualquer coisa na boca, seu imbecil!
-Calma Seb, eu estou bem. –se defendeu.
-O quê? –Micke se mexeu um pouco acordando por causa da gritaria. –Ah! Mel, por favor, me desculpa! –se levantou rapidamente da cadeira, a fazendo cair, e tentou se aproximar da morena que olhou para o lado. –Olha... eu sei que fui rude. Não devia ter te forçado a nada. Esse lugar está me deixando maluco! –coçou os cabelos com força –Eu não estou conseguindo raciocinar direito, parece que minha cabeça vai explodir.
-É isso que eles querem. –ela falou ainda olhando para o lado. Quando ela falou com ele, brotou um pequeno sorriso no rosto de Micke. Ao menos ela ainda falava com ele. –Eles querem nos botar um contra os outros para nos enfraquecer. –finalmente olhou para ele –Mas se quer realmente saber, sim. –os olhos do garoto se arregalaram. –Foi eu quem disse aquelas palavras.
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