Don't you just wanna wake up, dark as a lake
Smellin' like a bonfire, lost in a haze?
(...)
But who wants to live forever, babe?
You treat your mouth as if it's heaven's gate
(...)
I wish I could go along
(Too Sweet - Hozier)
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Haviam se passado alguns meses desde a destruição do Conselho, e do início à perseguição massiva à Jinx.
Poucos tinham sido os sobreviventes do ataque. Medarda foi a única a sair dos escombros sem um único arranhão, e a Sra. Kiramman teria que passar mais algum tempo em uma cadeira de rodas por recomendações médicas.
Jayce precisou lutar pela vida por vários dias sob atendimento dos médicos mais capacitados da cidade alta, além de, após tudo isso, ter que lidar com o sentimento de incapacidade ao não encontrarem nem sequer o corpo de Viktor entre os escombros. Apesar da desistência da equipe de busca, Jayce ainda tinha o sentimento no peito de que seu companheiro estava vivo em algum lugar.
Caitlyn Kiramman estava sob uma sobrecarga de estresse nos últimos meses. Assistir ao ataque sob a perspectiva da “terrorista” havia sido quase um trauma. Por vezes acordava à noite suada após um pesadelo, na maioria das vezes, não somente com Jinx, mas também com sua irmã, Violet.
- Não é culpa de nenhuma de nós - constantemente ela dizia para Caitlyn durante suas conversas - Eu pensei que ficar em Zaun e tentar trazer Powder de volta poderia resolver as coisas, mas acontece o que aconteceu. Você não podia impedir, nem se voltasse no tempo mil vezes, foi o que foi.
As duas ainda mantinham um contato próximo após todo o ocorrido. Por vezes, era como se uma fosse uma espécie de alicerce para a outra, por entenderem o que a outra estava passando. Já era até mesmo recorrente a presença da zaunita no escritório da polícia de Piltover, fosse para levar mais informações da cidade baixa à nova Xerife, seja para simplesmente tirar um pouco aquela carga tão pesada de seus ombros. Subir à cidade alta era como poder respirar ar puro depois de horas em meio à poluição, porém a lutadora sabia que essa sensação nada tinha haver com o fato do ar de Piltover ser mais limpo do que o da cidade baixa. A presença de Caitlyn, esse sim, era como se fosse o único lugar familiar que Vi conseguia recorrer em seus dias difíceis.
- A minha irmã, ela se foi.
Por vezes, Caitlyn precisou ouvir a sentença declarada por Violet. Lhe partia o coração mais do que tudo ver a garota por quem ela desenvolveu tanto afeto em um estado tão melancólico. Todos esses eventos também haviam sido traumáticos para ela, mas Caitlyn ainda tinha seus pais para a apoiarem, sua casa, seu status social em Piltover. Mas o que havia sobrado para a outra? Perder por duas vezes duas figuras paternas, seus irmãos. Ter passado sua infância em um presídio, exposta à violência, para assim que conseguisse sair por causa de Caitlyn, saber que também havia perdido sua irmã para os monstros do seu passado. A garota de Piltover às vezes desejava profundamente poder tirar um pouco daquele peso dos ombros da lutadora e colocar sobre si própria.
[ … ]
Era mais um dia agitado na delegacia de Piltover. Jinx parecia brincar com os esforços da polícia, deixando mais pistas de seu paradeiro à cada dia, mas era como se não chegassem a lugar nenhum, andando em círculos, como se a delinquente estivesse os confundindo de propósito. O escritório de Caitlyn se encontrava movimentado com a chegada de oficiais.
- Os relatórios da semana passada não coincidem com os de ontem, senhora - O oficial de polícia atualizava os registros a nova Xerife, que os lia em sua mão direita, os dedos da mão esquerda apoiando o rosto contorcido em uma expressão séria - Apesar dos rastros de tinta fluorescente no carregamento roubado de cintila, aquela arruaceira tem até assinado as cenas de crime. Veja.
O oficial retira fotos de dentro do envelope recém aberto, também às entregando para Caitlyn comprovar seu relato.
- Até acrescenta esses desenhos esdrúxulos à assinatura, ela se comporta tal qual um macaco, Xerife Kiremman!
- Se ela age como um macaco, então porque as moças não conseguiram armar a merda dessa emboscada até agora?
A atenção de todos volta à presença da mulher de cabelos rosados sentada no canto da sala. A postura folgada mostrava como a zaunita não dava à mínima em demonstrar respeito à posição social das pessoas naquela sala - pelo menos não todas - o que era motivo da odiosa insatisfação de todos aqueles oficiais da cidade alta. Uma zaunita, sangue do sangue daquela que comprometeu o futuro da cidade do progresso. E isso irritou profundamente aquele oficial, que foi desrespeitado na frente de sua supeior por aquela escória.
- Você não tem mesmo medo de morrer não é? Zaunita - A ofensa veio como a característica mais inerte de dentro da mulher.
Vi se levantou efurecida, pronta para comecar uma briga com o homem à sua frente. Briga essa que teria acontecido, se não fosse pela própria xerife em pessoa enterrompedo:
- Chega - Kiremman disse batendo com seu punho na mesa. Ela tremeue por alguns segundos - Eu não preciso de mais subordinados meus incapacitados. A enfermaria está lotada, e eu não vou perder meu tempo mandando mais gente pra lá.
O oficial olhou para baixo e se curvou, em respeito perante a reclamação da xerife. Caitlyn se virou para a outra mulher no cômodo, a expressão ainda imbatível.
- E você, Vi. Vamos conversar no final do meu expediente. Temos muito à botar em ordem.
A zaunita estremeceu perante o carão. Ela olhou de canto para o oficial e notou que ele também olhava pra ela, com o mesmo olhar. Era algo que tinham em comum: Caitlyn Kiremman era a única que conseguia os intimidar.
Mas receber uma bronca de sua supeior não tirava a satisfação do homem em finalmente alguém pondo a zaunita na linha. Nada o incomodava mais do que a liberdade que Kiremman dava àquela ralé de agir e fazer o que bem entendesse nas investigações, ajudando, como se eles fossem iguais.
Também não eram de hoje os rumores a respeito da relação entre a zaunita e a nova Xerife de Piltover. Ambas eram visivelmente próximas, e tal fato arrancava as mais diversas reações das pessoas, sejam os olhares de desagrado ou os curiosos.
Vi tinha total liberdade para entrar quando bem entendessem a delegacia, como também na sala de Caitlyn. Ela não era repreendida uma única vez, o que fazia as pessoas especularem o teor daquela relação. Inicialmente muitos chegaram a questionar a lealdade da Xerife ao caso Jinx, pois era supostamente inadequada a proximidade que ela ainda mantinha com a irmã da criminosa. Ou aqueles que de forma alguma achavam confiáveis as contribuições de Vi à investigação. Há quem ainda cogitava secretamente que a relação das duas mulheres ia para além da profissional. Mas claro, Caitlyn tinha muito mais o que se preocupar do que fofocas ediondas dos funcionários
Pelo menos era o que tentava dizer para si mesma.
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