"Estamos condenados a viver entre o fogo cruzado dos homens."
Autor desconhecido
O som estridente dos despertadores fez com que ambos pulassem da cama em seus respectivos quartos. Ben teve uma noite relativamente boa em comparação às anteriores.
“Sem insônia, sem lamentações”, pensou ao se dirigir ao banheiro e começar sua higiene matinal.
Olhou-se no espelho sobre a pia enquanto escovava os dentes. Recordava-se dos beijos com Rey no teatro, e sorriu após cuspir, já sentido saudades dos seus lábios macios e doces. Barbeou-se e vestiu-se em seguida, preparando-se para encontrá-la tão logo deixasse o quarto.
Rey, porém, em seu quarto, não poderia dizer o mesmo. Ela não conseguia tirar da cabeça o olhar que Phasma lançou em sua direção no teatro. Por mais que Ben tivesse tentado tranquiliza-la com relação a discrição da amiga, algo lhe dizia que o flagrante ainda seria um problema futuro.
Ela ligou a torneira e enxaguou o rosto. Ao se mirar no espelho fez uma careta ao notar os círculos escuros abaixo de seus olhos; resultado de várias noites mal dormidas que vinha tendo. Hoje não ia ter jeito, precisaria recorrer à maquiagem.
Ben não conseguia tirar o sorriso bobo dos lábios e a lembrança de que eles estavam juntos novamente o deixou em um completo estado de êxtase. Pegou o celular e digitou: “Bom dia, amor”. A resposta demorou a vir e ele se perguntou se Rey já tinha acordado ou se havia algo errado.
“Não tão bom quanto eu gostaria, mas bom dia Ben.”
Ele bufou irritado com a resposta. Não era possível que ela ainda estivesse chateada com o flagra da Christie e a rejeição do traidor. Ou pior... Será que ela estava mudando de ideia com relação a eles? Só a hipótese o deixou aterrorizado.
Ben pegou sua mochila e correu para a porta dela. Pensou por um segundo se deveria bater, mas sua impulsividade falou mais alto e ele bateu levemente na porta duas vezes.
— Rey? — sussurrou. Ela demorou alguns instantes até que destrancou o trinco e abriu.
— Entre — falou enquanto se dirigia para a cama. Ele entrou, meio receoso.
— Maquiagem? — perguntou, seu olhar caindo para os cosméticos em cima da cama. Ela finalmente o encarou.
— Preciso disfarçar essa cara — justificou.
Ele olhou assustado, sua aparência realmente não era a das melhores. Rey aparentava cansaço, fadiga, preocupação e desânimo.
— Você está...
— Uma merda! — ela o cortou. Ele sorriu meio sem graça.
— Não é para tanto, meu amor. — Ele sentou ao seu lado e a abraçou beijando o alto da sua cabeça.
— Não! - ela se afastou. - Eu estou uma merda! Dormi apenas duas horas!
Ben virou-se e fez com que ela o encarasse.
— Me escute! — ele segurava seu rosto com as duas mãos. — Estamos juntos agora! Nada nem ninguém vai interferir em nosso caminho!
— Ben, eu... — Ela tentou cortá-lo, mas ele continuou.
— Shhhh! Nem nós mesmos, entendeu? Eu sei que tudo isso é difícil, mas vamos enfrentar juntos, certo?
Ela esboçou um sorriso e concordou. Ele segurou delicadamente o seu rosto e trouxe até ele em um beijo terno e calmo apenas para lembrá-la que ele estava ali ao seu lado. Em seguida a abraçou apertado, transmitindo confiança e cuidado. Rey sentiu-se tão protegida dentro daquele abraço que tinha medo do seu mundo desmoronar se tentasse se afastar novamente. Medo de que tudo aquilo fosse apenas um sonho, que eles voltassem a ser inimigos numa guerra idiota. No entanto, a lembrança de que seus pais estavam em casa trouxe um sabor amargo na boca. Porém, Rey imaginou que talvez eles tivessem tempo para ficarem juntos um pouco mais, ainda era cedo.
— Será que eles já acordaram? — ela sorriu. Seu tom de voz e o olhar que lançou para Ben deixou o rapaz mais ou menos a par de seus pensamentos. Ben se afastou surpreso. Estaria ela pensando em fazerem amor ali mesmo, com seus pais em casa?
O perigo de serem pegos mais uma vez os deixa excitados. Ben devolve o sorriso e o olhar.
— Não escutei barulho vindo lá embaixo. — Seus olhos brilhavam ao falar isso.
Rey sabia o quanto ele estava afim de um momento a sós com ela, e sua pergunta só despertou o vulcão adormecido pelo flagrante no teatro. Ela queria tanto cair em seus braços sentir seu corpo sobre o dela, mas era arriscado. Seu lado racional insistindo em falar mais alto e ser ouvido.
— Melhor descermos. — Ela encontrou um olhar frustrado ao dizer isso.
— Porra, Rey! Vou acabar explodindo desse jeito! — ele retrucou.
Antes que ela pudesse protestar, Ben a beijou com paixão. Sua língua invadiu a boca de Rey e ela não titubeou em fazer o mesmo rapidamente, ignorando quaisquer vozes de racionalidade em sua cabeça. Ele a empurrou levemente até estar deitado sobre ela e pressionou seu corpo contra o dela; sua ereção furiosa contra sua intimidade coberta pela calça jeans. Quando se afastaram ofegantes, ela se sentou rapidamente levantando os braços, o incentivando a retirar sua camiseta, o que ele prontamente fez. Em seguida afastou seu sutiã e deu uma longa lambida em seu bico enrijecido.
— Foda-se! Continue! — ela suspirou e ele sorriu e salpicou beijos em seus seios, mordiscou e lambeu. Ele chupou vigorosamente o seio esquerdo enquanto massageava o direito. Rey gemeu baixinho.
— Tire essa maldita calça! — Ele se afastou dos seios dela deixando um rastro de saliva. Rosnou enquanto tentava desabotoar a calça. Ela estava o admirando pronta para se entregar.
Subitamente, ouviram um ruído vindo o andar de baixo, seguido por passos na escada. Ben parou o que estava fazendo e Rey aguçou os ouvidos. Os olhos arregalaram-se assustados.
— Merda, você ouviu isso? — ele perguntou, escutando os passos cada vez mais altos.
— Rápido Ben, vai para o banheiro agora! — Rey levantou-se em um pulo e rapidamente se recompôs. Ajeitou o sutiã no corpo e vestiu a blusa novamente. Ben correu para o banheiro e ela organizou o melhor o que pôde a cama e os cosméticos sobre ela.
Pegou a embalagem de um pó facial e um pincel, cruzando as pernas sobre a cama e fingiu estar se maquiando quando finalmente bateram à porta. Ouviu a voz de Han, que perguntava se ela estava vestida para que entrasse. Rey respondeu consentindo.
— Bom dia, minha filha — Han saudou, entrando e deixando a porta aberta.
— Bom dia papai. — Sorriu nervosa e sabia que Han perceberia, e xingou-se mentalmente. Tinha sido muito súbito, ela mal teve tempo se pensar direito. Os batimentos cardíacos que estiveram acelerados pela excitação junto a Ben, agora batiam ainda mais rápido, mas devido ao fato de quase ter sido pega com Ben por Han Solo.
— Está tudo bem? — ele perguntou. — Parece assustada.
— Não pai, digo, está tudo bem sim. — Sorriu agora tentando passar confiança.
— Rey, você tem que organizar melhor seu banheiro. — Ben veio dizendo lá de dentro tentando aparentar tranquilidade.
— Não sabia que o Ben usava seu banheiro. — Han estranhou.
— Ah não, Han, foi só agora. Meu cabelo acordou meio rebelde — passou a mão pelos cabelos — e estava procurando algo que me ajudasse a domá-lo nas coisas da Rey, enquanto acordava essa preguiçosa. — Apontou para Rey.
— Ah claro...
— Eu já disse para você parar de passar as minhas coisas na droga do seu cabelo! — ela falou para o irmão, fingindo uma discussão banal.
— Você queria que eu andasse por aí desarrumado? — Devolveu, pegando a deixa dela. — Não posso sair assim, o que as garotas irão pensar?
— Tá bem, terminem com isso e desçam que o café já está pronto — Han disse impaciente. Seus os dois filhos nunca amadureceriam? Sempre as mesmas discussões idiotas!
— Já vamos descer pai — disse Rey.
— Certo. — Han saiu deixando a porta entreaberta. Esperaram alguns segundos até que puderam suspirar em alívio.
— Ufa! Essa foi por pouco! — ela disse. — Ben, não dá para nos arriscarmos assim.
— É, você tem razão. — Ben suspirou novamente, reflexivo. — Agora preciso pensar em uma saída para... — Ele apontou para o seu pau. — Nosso problema.
— Seu idiota! — Ela riu. — E que história é essa de “o que as garotas vão pensar”?
— Era só o teatro e foi você que começou!— ele respondeu.
— Eu não gostei nada disso, Ben Solo. Explique-se direito! — Rey cruzou os braços.
— Era só teatro! — repetiu. — Meu amor, eu pensei que se falasse de outras mulheres deixaria a coisa toda mais crível.
— Ah, é? Você pensou, não é? — perguntou irônica, levantando-se.
— Você está com ciúme? — sorriu o moreno.
Rey já estava a ponto de não precisar mais de bluch. Estava corada o suficiente.
— Não! — rebateu, mas era inútil.
— Vem cá, meu bem. — Ele deu passos para contornar a cama e abraçá-la, porém, Rey foi mais rápida e lançou um travesseiro nele.
Durante o café os sorrisos discretos e as brincadeiras por mensagens foram constantes. Leia estava ocupada demais para prestar atenção dessa vez. Estava se preparando para um caso dificílimo que provavelmente iria ocupar a semana toda. Han fingia interesse na conversa da esposa enquanto folheava o jornal matinal.
— Pai, pode usar a Falcon hoje. Eu vou de moto com o Ben — anunciou Rey. Despertando a atenção não só do pai e da mãe, mas de Ben também.
— Ótimo, vou na casa do Lando agora mesmo — disse Han muito feliz. Estava mesmo à procura de uma desculpa para sair, pois Leia tagarelava sem parar sobre o seu caso, usando-o como válvula de escape para seus problemas.
— Eu não terminei de falar, salafrário! — Leia reclamou. — Parece que nada que eu digo lhe interessa, não é?
— Princesa, por favor!
—Só tenho uma coisa para lhe dizer Han Solo: divórcio! — Leia se levantou puxando a bolsa e o casaco.
— Ah não! Leia, espera, eu te dou uma carona. — Levantou-se também,correndo atrás dela. — Espera, não precisa exagerar!
Os dois observavam ainda sentados a confusão dos pais, já acostumados com a situação, sem nem se preocupar com a declaração de Leia.
— E vocês dois? — Han parou antes de cruzar a porta. — Já não estavam indo também?
— Ah claro que sim pai, vamos Ben? — disse Rey.
Han saiu rápido atrás de Leia. Ben e Rey novamente a sós, miraram-se sorrindo e balançando as cabeças.
— Esses dois... — Rey disse. — Não mudam nunca!
— É... Às vezes eu os invejo — Ben falou, de repente deixando de sorrir e assumindo um tom mais sério.
Rey fitou-o também séria, filtrando aquelas palavras e o significado por trás delas. Ela sabia o que Ben estava pensando, ninguém melhor do que ela podia compreendê-lo. Seus pais, mesmo com seus defeitos, manias e peculiaridades, eram feitos um para o outro. Amavam-se de verdade, e podiam ficar juntos e ser felizes da maneira como ela e Ben nunca seriam, pelo menos não nessa vida.
— Ei. — Esticou o braço e pegou a mão dela, entrelaçando os dedos. — Não deveria ter dito isso, desculpe-me.
— Não, você tem razão. — Esquivou-se da mão dele, deprimida. No fundo, ambos sabiam que mais cedo ou mais tarde precisariam falar sobre aquilo e/ou que a realidade bateria na cara deles. — Por que nunca paramos para pensar... Ben, e o nosso futuro? — Fitou-o.
— Rey... — Levantou-se e contornou a mesa, envolveu-a com seus braços e beijou sua cabeça. —Temos uma coisa boa acontecendo aqui: estamos juntos, não é? Além disso, temos tempo para pensar em como resolver isso.
— Eu sei, é que... Nunca tinha parado para pensar a respeito. Tenho tanto medo, Ben...
— Rey, olhe para mim. — Ela olhou. — Estamos juntos e nada mais importa. Nada, me entendeu? Eu amo você e essa é única coisa que faz sentido na minha vida. Que se foda o resto, estou aqui para você e juntos somos mais fortes. Confie em mim.
Rey sorriu e o abraçou. Sem que ele pudesse ver o seu rosto, seu sorriso murchou e ela exibiu o semblante de seus sentimentos. Tantas dúvidas permeavam sua cabeça. Mas seu coração acreditava ferrenhamente nele, queria ter fé naquelas palavras, e apesar das dúvidas, ela escolheu confiar nele.
(...)
— Por que a gente nunca faz isso? — Rey pergunta após subir na moto, abraçando a cintura de Ben para se segurar.
— Isso o que? — ele pergunta enquanto dirige.
Ben pilotava rápido e Rey adorou a sensação do vento em seu rosto onde a viseira do capacete estava levantada. As pontas dos seus cabelos balançavam com a velocidade; ela o abraçou um pouco mais apertado.
— A gente usa um carro e uma moto para ir ao mesmo lugar todos os dias... — respondeu.
— Você não gosta de moto — ele relembrou enquanto parava em um semáforo.
Rey sorriu encabulada. — Digamos apenas que eu nunca achei muito “seguro”.
— E agora você acha?
— Agora eu não ligo mais. O que corria o risco de acontecer, já aconteceu.
Ben sorria apenas para si. Seu ego sendo alimentado como a muito tempo não acontecia.
— É, e você vir comigo tem suas vantagens. E não só para o meio ambiente — provocou.
— Ah é?
Ben mudou sua rota, entrou em uma rua diferente.
— A gente podia matar a primeira aula... — propôs.
— Ben, não! — ela exclamou. — Eu não posso perder aula, você sabe disso!
— Só uma! — rebateu ele. — Deixa de ser nerd, Jedi.
Rey deu um tapa em seu ombro, ainda com a moto em movimento.
— Falou o estudante de Direito, filho da promotora mais famosa do estado — redarguiu. — Eu acabei de ganhar uma bolsa! E eu não sou Jedi!
Ben deu a volta com a moto e retomou o caminho rindo.
— Não é mesmo!
Chegando na universidade, Rey demorou a descer da moto. Não queria se afastar, não mesmo. Fez isso relutantemente, pois não havia mentido quando disse a Ben que não podia perder aula. Da parte dele, o sentimento era o mesmo. Sentiu uma liberdade indescritível naqueles poucos momentos em que dirigiu de casa para a universidade com Rey abraçando sua cintura.
Tudo que ele mais queria era estar em qualquer outro lugar a sós com ela.
— Não foi tão ruim, não é? — perguntou ele, descendo após Rey. Tirou o capacete e completou: — Poderia vir comigo mais vezes.
— Vou pensar no seu caso — ela brincou. Ambos riram.
A luz do sol incidia contra o rosto de Ben. Dessa forma ela pôde enxergar os tons esverdeados mesclando-se ao castanho da sua íris. Rey fitou-o, piscando lentamente. Ele sabia que ela teve péssimas noites de sono nos últimos dias e que estava usando maquiagem para cobrir as consequência que isso gerou em sua pele, porém, ela sempre estava linda para ele. Seus olhos, mesmo cansados, eram hipnotizantes.
Ele deu um passo a frente, e depois outro, olhando rapidamente ao redor. Os poucos estudantes que passavam no momento não davam a mínima atenção aos dois. Então ele inclinou-se ao ouvido dela, e sussurrou:
— Já que você não pode matar aula, podemos nos encontrar na hora do almoço e terminarmos aquele assunto... — Afastou-se com um sorriso malicioso nos lábios.
Rey corou levemente, abaixando a cabeça e sorrindo. Solevou o rosto e fitou-o; com ar de petulância fingida, respondeu:
— Não é uma má ideia.
— A gente se encontra na hora do almoço, então? — Ben perguntou em seguida.
— Com certeza. A gente podia almoçar no...
— Rey! — Jess chamou, aproximando-se do casal.
A garota respirou fundo tentado agir naturalmente, pegou os óculos escuros e colocou-os antes de encarar a amiga. Ben deu mais um passo para trás.
— Oi Jess! — Rey virou-se e a abraçou.
— Ben! — Jessika Pava exclamou olhando para Solo. — Como vai? — Ben murmurou que estava bem, sem dar muita atenção para a garota. — Rey, devia ter me avisado que vinha com seu irmão, a gente podia ter combinado de tomar café juntos!
— Fica pra outra hora — declinou. — Agora eu estou atrasado. Se me dão licença... — Mal girou o corpo, foi interrompido por Jessika.
— Espera! — Jess se aproximou e entrelaçou seu braço ao dele. — Me conta como foi o teatro. Eu vi fotos suas nas notícias sobre a première no Repertory Theatre. Vocês estavam muito chiques!
— Obrigada. — Rey respondeu sem graça enquanto carregava a mochila e o capacete. — Vamos pra aula?
Jéssica olhou para o relógio.
— Ainda é cedo, dá tempo de tomar um café. Vamos?
— Vão vocês! — Ben soltou seu braço. — Tenho que encontrar uma pessoa.
— Espero que não seja uma namorada.
Ben não respondeu nada, apenas beijou o rosto da irmã e afastou-se.
— Te ligo mais tarde. — Deu as costas para as duas e seguiu para suas aulas do dia.
Rey sorriu.
— Vamos Jess? — Perguntou à outra.
(...)
Sentado de pernas cruzadas à sombra de uma árvore, com um livro no colo e mais dois abertos no chão, Miles revisava por talvez a centésima vez o conteúdo para o teste do professor Snoke. Dias antes o professor comunicou que escolheria entre os alunos apenas um para trabalhar com ele em seu escritório e Miles estava crente de que isso seria feito por meio de algum tipo de avaliação. Precavido como era, preparou-se a semana inteira. Valendo uma vaga no escritório comandado por Snoke, ele precisa dar tudo de si. E não é para menos, aquela pode ser a melhor chance que ele terá na sua carreira. Não pode deixar passar.
Colocou o livro que lia no chão ao lado dos outros dois e pegou o da direita. Uma pequena formiga caminhava pela borda da página; Miles esmagou-a com o polegar e limpou-a da folha. Concentrou-se na leitura, encontrou um trecho que julgou importante e quis anotá-lo no seu caderno. Todavia o ronco do motor tirou toda a sua atenção e o fez se esquecer completamente do trecho que tinha acabado de ler; já estava a caneta à postos. O motor ruidoso da motocicleta de Ben Solo estacionava há alguns metros de distância do rapaz.
Fez uma careta de desgosto, Solo sempre o atrapalhando... Detestava-o! Não passava de um idiota prepotente que se achava alguma coisa por ser filho de uma promotora importante. Todos esperavam dele algo excepcional por ser filho de Leia Organa, mas não entregava nada.
Miles, por sua vez, era esforçado, tirava boas notas sempre, dava o seu melhor em todo o tempo, procurava sempre evidenciar o seu tremendo potencial para a grandeza, mas os professores não o favoreciam... Principalmente Snoke.
Mas isso iria mudar hoje. Ele será o melhor naquela sala e impressionará o homem. O professor não quererá ninguém além dele. E, pela primeira vez, ficaria por cima de Solo.
Ben não estava sozinho, notou de imediato. Sua irmã agora descia da moto e tirava o capacete, balançando os cabelos em seguida. Eles sorriam um para o outro, trocaram algumas frases, uns olhares intensos e esquisitos. O mais estranho foi quando Ben segurou a cintura da irmã e sussurrou algo ao ouvido dela; Rey ficou vermelha e miraram-se embevecidos. Trocaram mais algumas palavras que de onde ele estava era impossível fazer leitura labial, até que foram interrompidos por outra garota. Não conseguia lembrar o nome da moça, mas, se não estiver enganado, seu sobrenome é Pava.
Quando Pava chegou, os irmãos afastaram-se. Miles tinha irmãos, inclusive uma irmã caçula, e apesar de eles serem muito próximos e íntimos, não era nada semelhante àquilo. Se um leigo visse Ben e Rey Solo e não soubesse da parentesco entre eles, pensaria logo que se tratavam de um casal.
Puxou na memória se já tinha presenciado atitude semelhante entre os dois antes daquele dia. Já tinha presenciado momentos entre os dois que evidenciavam o quanto eram próximos, mas nada que tivesse relevância. Mas hoje... Podia-se facilmente confundi-los com namorados.
“Será que eles...?”, pensou. “Não! Claro que não! Estou tão estressado com os estudos que começo a imaginar coisas.” Ele realmente queria acreditar que era apenas isso. Pois se fosse o que pensou, seria nojento, repulsivo e imoral. Tentou deixar para lá e se concentrar no que realmente importava no momento, mas no seu interior aquela questão estava sendo remoída.
Faltando poucos minutos para a aula de Snoke e convencido de que já tinha estudado o suficiente, juntou as suas coisas e levantou-se. Deu um último olhar para o trio, viu que Ben já se afastava e Rey tomava outro rumo ao lado da amiga, e então foi embora.
(...)
— Tudo bem amiga, não vai faltar oportunidade para eu encontrar seu irmão gato — sorriu. — Aliás, porra! Desculpe-me, sei que ele é seu irmão, mas... Caralho, como ele estava gostoso nas fotos do teatro!
— Jess! — exclamou.
— Ai! — Rey deu um tapinha no braço da amiga. — Vai me dizer que você não concorda!? Aposto que se não fossem irmãos, você o pegava com certeza.
— Você não queria tomar café? — Mudou de assunto. Jess assentiu. — Então vamos enquanto temos tempo.
Rey começou a caminhar rapidamente tentando fugir daquela conversa. Sabia que Jéssika não havia falado por mal, mas não podia negar que não gostou da forma como ela falou de Ben com tanto entusiasmo.
— Olha ali o Finn! — Jess o avistou e acenou para o rapaz, que acenou de volta, e começou a andar mais rápido, atitude completamente oposta à de Rey.
— Vem Rey! — Jess chamou-a com a mão, sentando-se ao lado de Finn que tentava decidir o que seria pior: ignorá-la ali mesmo ou sair e deixá-las falando sozinhas. Não queria vê-la, não ainda.
— Oi Finn! — Rey sorriu o melhor que pôde.
— Oi meninas — ele respondeu já se levantando. — Preciso ir, estou atrasado.
— Eu hein! Tá todo mundo apressado hoje! — Jess reclamou, mas ele já tinha ido.
Rey apenas abaixou o olhar triste. Será que um dia ele voltaria a ser seu amigo? Aquela questão fazia seu peito doer. Sentia falta de Finn. Ele sempre foi sua pessoa favorita no mundo depois de Ben e seus pais, o seu melhor amigo, que esteve com ela em momentos tão difíceis e que ela também esteve quando quem estava com problemas era ele. Aquela amizade tão genuína quanto o amor dela com Ben também venceu os séculos. Se ela fechasse os olhos, poderia enxergar com clareza os dois correndo pelo deserto de Jakku; ela brigando que podia correr sem que ele a puxasse pela mão. Mas quando abria os olhos, não passava de uma lembrança distante de uma vida mais distante ainda.
— Então Rey, me conta, como foi a peça? — Jess interrompeu seus pensamentos.
— Ah, foi legal. Minha mãe ficou muito feliz. Ela contribui para a companhia de teatro.
— É, todo mundo sabe disso Rey. Mas e o Ben?
"De novo isso? "
— O que tem o Ben, Jess? — Rey perguntou tentando não mostrar todo o desconforto que sentia.
— O que ele achou da peça?
— Ele gosta muito dessa história, sabe até algumas partes de cor. — Rey respondeu sentindo um leve calor subindo pela sua nuca.
— Nossa, não imaginava! — exclamou. — Devo confessar que imaginei que ele tivesse dormido durante o espetáculo.
— Não, ele não. Estava muito bem acordado. — Sorriu minimamente; só ela compreendendo a dubiedade presente na frase. — Em contrapartida, meu pai dormiu a peça quase inteira. A todo momento mamãe o cutucava.
Riram as duas. Jessika conseguiu imaginar a cena perfeitamente. Viu poucas vezes Han Solo, mas era conhecedora de suas peculiaridades.
Fez mais perguntas sobre o teatro, mas acabou ela própria a tangenciar o assunto. Rey ao perceber, deu corda, dando assim por encerrado a questão do Repertory Theatre. Depois de alguns minutos, as duas jovens encaminharam-se para sua primeira aula da manhã. Tudo dava a entender que seria um dia normal, no entanto, Rey não conseguia evitar que seu estômago embrulhasse e o coração se apertasse por pensar cada vez mais que Jessika Pava esteja interessada por Ben. O seu Ben.
(...)
Snoke lançou um rápido olhar para a turma quase cheia enquanto colocava sua maleta sobre a mesa. Os alunos organizavam-se em seus lugares silenciosamente, aguardando pelo momento em que ele desse início à aula.
Entre eles Miles Sanders.
Miles olhou ao redor e viu que Solo ainda não tinha chegado, mesmo que ele tenha saído na sua frente depois que o viu mais cedo perto do estacionamento. Não sabia se ele tinha passado em outro lugar pelo caminho ou se lhe apetecia chegar atrasado para ter as atenções voltadas para si. E se a segunda opção coincidisse com a realidade, ele realmente não se importava. Hoje é o seu dia.
— Senhoras e senhores — Snoke começou —, sejam bem-vindos. Como todos já devem estar esperando, antes de iniciarmos nossas atividades, eu terei a honra de anunciar quem será o estudante que fará parte da minha equipe de trabalho. — Miles endireitou a coluna. — Eu sei que todos estão ansiosos e eu realmente notei o esforço de cada um de vocês para se destacar na turma. — A sombra de um sorriso perpassou na face de Miles. Sentia-se tremendamente seguro de si. — Eu pensei muito até tomar minha decisão. Não fácil, mas...
Então foi interrompido por três leves batidas contra a porta da sala.
— Com licença? — disse Ben Solo, dando um passo para dentro.
— Ora, mas vejam só quem nos honra com a sua presença. — Deu uma curta risada anasalada. — Senhor Solo! — Snoke animou-se subitamente.
— Interrompo?
— Claro que não, chegou bem na hora. Sente-se. Ou melhor, aproxime-se.
Ben, à contragosto, deu alguns passos para o interior da sala. Segurou mais firme a alça da mochila jogada sobre apenas um dos ombros. Estava com visível mal humor e profundamente incomodado por estar ali.
Era tanto um sacrifício quanto uma tortura.
Tudo que queria era dar um comunicado a Snoke sem ter a atenção de toda a sala sobre si e sair de lá o mais breve possível.
— Onde eu estava? Claro. — Então, como eu estava dizendo, finalmente escolhi quem irá trabalhar comigo. — Ergueu a mão na direção de Ben, dizendo: — Eu lhes apresento meu novo estagiário: Ben Solo.
— O que?! — Ben exclamou.
Miles arregalou os olhos e abriu a boca em choque, à priori, completamente decepcionado, mas em seguida, com o semblante tomado de raiva.
— Estagiário? — perguntou. — Mas como?
— Sr. Sanders...
Miles não deixou Snoke continuar.
— Ele mal frequentou as suas aulas, Sr. Snoke! — Pôs-se de pé. — Não, isso é um absurdo!
— Sr. Sanders! — Lorean Snoke elevou o tom. — A minha decisão já foi tomada.
— Não! — rebateu irado. — Ninguém aqui, que se esforçou, que deu tudo de si na esperança dessa oportunidade, vai aceitar — apontou o dedo para Ben — que esse idiota...
— Um momento, Miles! — Solo atalhou-o. — Não gaste sua energia com isso. Eu só não recuso a oferta do Snoke como também vim aqui para informá-lo de que estou trancando a matéria — disse olhando nos olhos frios do professor.
— Você não pode fazer isso, Solo! — redarguiu o outro.
— Não só posso como já fiz! — Era essa a razão por ter chegado um pouco mais tarde. — Adeus, Snoke!
Ben deu as costas para Snoke e para a turma, e deixou a sala a passadas rápidas. Todos estavam em choque com a cena que presenciaram, mas Snoke estava furioso e segurando para não explodir com a rejeição. Cerrou os punhos e exibia uma carranca; os olhos gélidos na porta por onde o jovem Solo tinha saído.
Recuperando o controle de si mesmo, ajeitou a postura e tentou não se mostrar abalado de alguma forma, contanto seu interior estava irado e cheio de ódio.
— Bem, já que tudo está resolvido, vamos dar início à aula de hoje.
— Espera! — Miles conclamou. — Se ele recusou, o senhor ainda pode escolher outro como estagiário.
— Não estou interessado — respondeu friamente.
Miles tempestuou-se. Tanto esforço para nada? É isso? Não podia aceitar. Esperava pelo menos que o professor fosse aplicar algum tipo de teste. Esperava por isso tanto que passou os últimos dias estudando excessivamente.
Lorean Snoke ser tão frio em sua negativa para escolher outro no lugar do Solo era prova de que, desde o início, aquilo foi uma tremenda palhaçada encenada para ao final escolhê-lo sem razão alguma além de atender sua própria vontade. Sem sentido e sem justiça. E aquele era um curso de Direito ainda por cima.
Possesso pela raiva, lançou um palavrão e abandonou a sala, empurrando carteiras, mesas e até colegas, chutando o balde de lixo antes de bater a porta com um estrondo.
Um breve segundo de silêncio foi seguido por cochichos dos demais alunos, cuja maioria não conseguia ainda sorver o que tinha acabado de acontecer, mas o falatório cresceu até que foi interrompido por Snoke que fingiu estar tossindo.
Temperando a garganta, perguntou:
— Mais alguém quer deixar a sala ou já podemos começar? — O silêncio foi a resposta. — Muito bem, abram seu material...
Numa sala próxima, Sr. Hatinson, professor de anatomia, dissecava o corpo de um morto enquanto dava suas explicações. Toda a turma mantinha-se atenta às palavras do homem de meia idade e ao que fazia; alguns faziam caras feias – calouros ainda não acostumados a lidar com aquilo que já era normal para os veteranos – porém Stephen Huang, embora observasse o professor cortando a barriga do morto, era o único que sorria com aquilo, sentindo até certo prazer. Ademais, num pensamento pérfido, imaginou como seria se ao invés de um cadáver, estivesse usando uma pessoa viva.
— Vejam, senhoras e senhores — dizia o Sr, Hatinson —através desse corte transversal aqui é possível ver o músculo principal do abdômen...
— Cara, que loucura! Imagina alguém fazendo um corte desses em uma pessoa — disse uma colega caloura ao seu lado para outro aluna e ele escuta.
— Tipo numa briga? — indagou o rapaz.
A moça estava pronta para retrucar, mas a voz de Stephen ao lado dela a interrompeu.
— Hm, é incrível! — ele falou com um sorriso presunçoso nos lábios, lembrando da forma como matava seus inimigos no passado.
— Como assim incrível? — perguntou a moça abismada. - Parece até que você já fez isso.
— Eu não duvido — cochichou o outro rapaz no ouvido dela. — Ele tem olhos de um assassino — completou.
Stephen fingiu que não ouviu e continuou submerso em suas lembranças...
O corpo do soldado rebelde caiu ao chão já desfalecido. O sangue do traumatismo craniano que sofreu começava a espalhar-se pelo lugar e sujou as solas das botas de Sniper. O soldado já estava morto a alguns segundos quando o cavaleiro o lançou violentamente contra a parede, fazendo-o chocar a parte frontal do crânio na parede e ser perfurada por um vergalhão que desprendia da construção em ruínas. No seu peito, a ferida profunda e calcificada do sabre de luz de Sniper.
Ele desativou a lamina do sabre e apertou a empunhadura com firmeza, sentindo aquela estranha sensação de plenitude que envolvia o seu peito toda vez que matava um dos seus inimigos. Aquele mísero rebelde era apenas mais um na sua incontável lista de vítimas, e nem em sonho ele pretendia parar por ali.
— Sniper, eu não entendo esses métodos selvagens que você utiliza. — Armony observou o estrago feito no tórax e na cabeça do soldado morto.
Depois de tanto anos naquela vida, tinha estômago para encarar o estrago que o irmão tinha feito no soldado inimigo. Mesmo assim, não ficou olhando por muito tempo. As atitudes violentas de Sniper eram, em sua maioria, injustificáveis e desnecessárias.
— Armory, você é piedoso demais — retrucou Sniper. — Eles são nossos inimigos.
— Sim, eles são, mas não entendo como os rebeldes podem vir a colaborar se você os atravessa com o sabre antes mesmo deles nos darem alguma informação — Armony argumentou.
— Não posso evitar! Eu odeio essa maldita escória e tudo que eles representam.
— Acho que você a imagina em cada rebelde que captura — rebateu o outro, encarando o irmão e usando um tom mais firme e repreendedor. — Por isso age dessa forma.
— Não me lembre da existência daquela rata imunda!— Sniper retornou, marchando rumo a Armony, sentindo o sangue em suas veias ferver só com a imagem da Jedi aparecendo em sua mente. Ele a odiava! Oh, como a odiava! Se comparado ao ódio por ela, o que sentia em relação aos outros inimigos não significava nada.
— Certo irmão. — Armony disse, convencendo-se de que não adiantava discutir com Sniper quando ele estava daquele jeito, ainda com adrenalina em suas veias. — Eu vou continuar vasculhando isto aqui à procura de algo que seja importante para nós e você procure o mestre e informe que não há prisioneiros. — Adicionou em seguida: — Graças a você.
Sniper bufou irritado. Esbarrou propositalmente no ombro de Armony e caminhou em direção onde Ren havia ficado. Porém, ao se aproximar mais, escutou uma voz familiar que conversava com seu mestre, portanto parou e se escondeu atrás de uma árvore.
— Não pode ser! — exclamou baixinho. Espiou rapidamente e seus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo. Era mesmo ela! A rata do deserto.
- Maldita!” — exclamou sentindo o sangue ferver, quase alto o suficiente para ser ouvido.
Aquela situação por si só era patética, mas ver o poderoso Kylo Ren, seu mestre, sua referência, orbitando em volta daquela catadora, se humilhando e fazendo promessas que certamente não poderia cumprir era demais. Dentro de si nascia uma revolta enorme ao escutar o quanto ele implorava para aquela rata dar a ele uma chance e se unir a ele, quando Ren deveria tê-la matado já há muito tempo. Oportunidade não faltou.
“Junte-se a mim e eu prometo ser misericordioso com seus amigos.” — ele dizia.
Mas uma vez ela negou. Ren bradou que um dia ela mudaria de lado, como sempre fazia todas as vezes que ela o rejeitava. Sniper sentiu uma raiva descomunal naquele momento. Ele queria gritar, mas não podia. Queria correr até lá e desmembrá-la, mas ponderou que não era o momento.
Se ele fosse fazer aquilo, tinha que fazer direito. Quando viesse o momento oportuno e ela estivesse distraída, ele daria o golpe final e seria rápido e sem misericórdia, para se livrar e livrar o mestre de uma vez por todas da imunda catadora de lixo de Jakku.
— Sua hora ainda vai chegar desgraçada!
— De quem? — A voz ecoou na mente de Sniper, fazendo-o dar um pulo. — De quem? — A voz insistia em perguntar.
De repente, o cenário da floresta sumiu e em seu lugar apareceu uma sala cheia de pessoas assustadas e um professor mínimo irritado.
— Sr. Huang, a hora de quem vai chegar?
Stephen finalmente se deu conta do que estava acontecendo. Os alunos que o haviam indagado antes dele imergir no passado, agora estavam cochichando a uma distância significativa, demonstrando estarem com medo dele.
— Eu... Bem, eu tive uma noite difícil, Sr. Hatinson. — Inventou uma desculpa qualquer.
— Percebi por suas pupilas quão difícil deve ter sido. — Havia qualquer tom de ironia na frase dele.
— Será que eu... posso dar uma saída? — perguntou pouco confortável.
— Claro! — respondeu o professor indiferentemente. — Só não se esqueça da sua atual situação não apenas na minha matéria, mas no curso como um todo.
— Prometo que vou me esforçar para me lembrar.
Saiu pelo corredor a fora, procurando o banheiro mais próximo para descarregar sua raiva.
Ele precisava liberar a sua raiva de alguma forma, ou acalmar-se antes que cometesse uma besteira. Coisa que não aconteceria se ele continuasse naquela sala. Assim sendo, tomou o rumo do banheiro. Tinha que ficar sozinho com seus pensamentos, molhar o rosto e achar uma solução.
No entanto, tudo que ele fez foi bater a porta com um baque forte e gritar de ódio um palavrão.
— Maldito Solo! — disse ele, agarrando a mochila mal fechada que escapou do ombro e chutando uma lata de lixo. Não a tinha fechado direito quando saiu da sala logo antes, estava meio aberta porque quando saiu intempestivamente, não reparou que o zíper da mesma abria cada vez mais e seus papéis estavam caindo. — Quem deveria ganhar essa vaga era eu! Desgraçado!
Furioso, foi até a lata de lixo que chutou, a pegou novamente e a arremessou do outro lado do banheiro. A lixeira bateu contra a parede de tijolos, mas pelo caminho sujou todo o banheiro com seu conteúdo.
Nesse interim, mal percebeu uma pessoa adentrando o banheiro. Stephen vinha da aula do Sr. Hatinson, estava ainda pensando nas suas lembranças da outra vida, mas quando se deparou com o banheiro naquele estado e o outro jovem enfurecido, até se esqueceu.
— Ei cara, que é isso? — perguntou.
— Não se meta, idiota! — Miles cuspiu, apontando o dedo na cara de Stephen e ainda segurando fortemente a alça da mochila com a outra mão.
Stephen riu achando graça do ataque do rapaz.
— Nervosinho! Hm... Eu gosto disso.
— Foda-se, porra!
Abaixou-se para catar seus pertences que escaparam da mochila.
Stephen observou o banheiro. — Você fez um estrago bonito aqui — disse ironicamente.
— Escuta aqui, eu não estou para brincadeiras, então se não quiser apanhar, sugiro que saía daqui agora! — Ergueu-se novamente com o dedo em riste.
— Calma cara, eu só... — Notou um item diferente nas coisas que Miles catou do chão, antes de levantar e agora segurava na mão. Era um recorte de jornal, uma matéria sobre o Repertory Theatre, onde a família Solo estava fotografada chegando ao teatro. Na imagem, Ben chegava acompanhado da família; ele à frente, e um pouco mais atrás estavam Leia e Han de braço dado com Rey. Ben, por ser maior e estar mais próximo do fotógrafo, ficava em destaque na imagem.
— Espera um minuto, nessa foto do recorte de jornal que caiu da sua mochila é o Ben Solo.
— Não interessa... — Miles ficou nervoso e tentou esconder o recorte de jornal.
Stephen estranhou aquele pormenor, mas também achou interessante.
- Tá apaixonado por ele!
- O que!
— Para guardar um recorte de jornal daquele babaca nas suas coisas, ou você deve amá-lo muito em segredo — sorriu com escárnio; Miles cerrou o punho indignado com a insinuação — ou então odiá-lo.
Miles guardou as coisas na mochila e fechou-a rapidamente. Não tinha intenção de responder e não queria mais ficar naquele banheiro.
— Vamos, me fala.
— Falar o que?
— Vai ser bom desabafar — disse.
— Cara, do que você está falando?
— Olha, se você é apaixonado por ele, problema seu, mas se você tem um problema com esse cara... Então está falando com a pessoa certa.
Miles expirou fortemente e passou a mão pela cara. Depois disse:
— Era o meu sonho... O sonho de todo maldito aluno daquela turma. E ele simplesmente recusou. Jogou fora a oportunidade e eu ali, desesperado por uma chance. Imagina trabalhar com Snoke? Eu estava... Eu estou mais do pronto para isso; me dediquei, fiz tudo para chamar a atenção dele, mas escolheu o Solo! E o babaca ainda recusou... Quem ele pensa que é?
Stephen endireitou a postura, mais atento do que nunca, com a menção do nome de Snoke. Entendeu exatamente sobre a que o outro se referia. Ainda estava intrigado com o fato de o cara guardar um recorte de jornal com Ben Solo, mas mais do que isso, viu nele uma oportunidade.
Só precisava fazer amizade com ele.
— Olha, eu te entendo. E acredite, odeio esse desgraçado tanto quanto você — disse, pondo a mão no ombro dele. — Você merece que ele pague por toda a frustração que te fez passar, se você quiser, eu posso te ajudar.
— Por que você o odeia? — perguntou Miles.
— Porque ele roubou a minha vida duas vezes — respondeu sério e cheio de ressentimento.
— Sua vida?
— É complicado... Bom, mas agora eu preciso ir, deixa eu ver seu celular.
Ele entregou o aparelho e o outro anotou seu número.
— Me chamo Stephen, a propósito.
— Miles.
— Já sabe, se quiser minha ajuda, é só me ligar. — Devolveu o celular para ele.
— Eu entro em contato.
Stephen acenou e virou as costas deixando o banheiro. Sorria maquiavelicamente.
(...)
Rey balançava a caneta na mão, com os olhos na televisão antes e abaixar a cabeça e finalmente olhar para página aberta da sua agenda.
Sentada no sofá com as pernas esticadas, os seus pés descansando sobre o colo de Ben, Rey tentava organizar a sua semana, que mal tinha se iniciado, e já estava sendo uma loucura.
A faculdade vinha consumindo não só o seu tempo ultimamente, como também suas energias. Estava ficando cansada. O que mais desejava era alguns dias de folga, ou mesmo férias, para descansar o corpo e a mente. Também ansiava por um tempo a sós com Ben.
Desde que os dois se reconciliaram, não conseguiram um momento de privacidade em que pudessem ficar juntos intimamente.
Quase aconteceu no teatro, porém, o quase flagra de Phasma atrapalhou... Ela ainda não conseguua apagar da mente a forma como aquela mulher olhou para eles quando estavam indo embora.
Em casa era simplesmente impossível. Com os pais presentes, o máximo que eles conseguiam era uns amassos e beijos furtados quando ninguém estava por perto. Empolgavam-se quase todas as vezes, entretanto, algo acontecia, ou alguém chegava, ou algum deles tinha um lapso de razão e afastava-se – quase sempre Rey.
Não estariam seguros até que tivessem privacidade total.
- Droga! - ela exclamou chamando a atenção dos dois.
- O que foi filha? - Han perguntou.
- Ah, nada Pai, só minha semana que tá muito cheia…
- Esse é o segredo do sucesso minha princesinha. - Han piscou pra ela. Rey sempre achou o pai o cara mais charmoso do mundo. " Ben sempre teve a quem puxar- pensou encarando o irmão que tentava se distrair olhando pra tv.
Ela baixou as pernas, se aproximou de Ben e falou em seu ouvido:
-Você tem planos pra domingo? Tô com saudades.
-Domingo??? Mas hoje ainda é segunda feira!!! - Ben falou mais alto que devia chamado a atenção do pai, Rey o repreendeu com o olhar, o que fez com que ele baixasse o tom de voz.
-Quantos bolos você vai me dar? Já me deixou esperando hoje…
— Esses políticos cretinos! — Han resmungou.
Rey tirou os olhos da agenda por um momento, olhou para o pai e em seguida para a televisão. Estava ligada no noticiário e passava alguma coisa sobre misteriosos assassinatos envolvendo pessoas do governo.
Sem responder à indagação de Ben, Rey voltou a esticar as pernas no colo do irmão e ele começou a massagear seus pés. Olhava para o pai, pro tapete da sala, para Ben. Tudo que queria era que Han, de repente resolvesse dar uma saída. Mas ele parecia bem interessado na tv, então Rey resolveu tentar relaxar, se espreguiçou e, sem querer, acabou esbarrando um dos pés numa parte sensível do corpo de Ben. O rapaz deu um pulo no sofá e olhou pra irmã assustado. Ela apertou os lábios tentado conter uma gargalhada que com certeza chamaria a atenção do pai. Por uns instantes, os dois ficaram paralisados. Mas o choque daquele contato não os deixariam assim por muito tempo. Rey parece ter gostado da ideia e começou a movimentar o calcanhar no volume crescente que começava a dar sinal de vida por baixo da bermuda que Ben usava.
Ben sentiu o sangue esquentar quando os pés delicados de Rey deslizaram suavemente em seu membro. Sua razão dizia para levantar imediatamente dali, mas era difícil dar ouvidos a ela quando sua vontade era expulsar Han Solo daquele sofá e possuir sua amada ali mesmo.
-Pare! sussurrou.
Ela respondeu com um sorriso diabólico nos lábios. Eles se olhavam intensamente, a respiração de Ben começou a acelerar.
- Porra! - Ben deu um pulo.
- Mas que diabos! - Han perguntou assustado.
- É que eu lembrei que... bem, que eu tenho um trabalho para terminar.
Rey riu da reação do irmão.
E Han apenas torceu a boca irritado pelo susto que tomou.
"Que tesão te ver assim se desfazendo apenas por um toque meu." - Rey enviou pelo celular assim que Ben deixou a sala.
"Você tá brincando com fogo garota."
Ben subiu e foi pro quarto "estudar". Tinha realmente um trabalho inacabado para terminar.
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