"Eu segui o caminho errado
que me levou a tendências erradas
eu estava no lugar errado,
na hora errada."
Wrong - Depeche Mode.
Ben acordou atordoado com o som do alarme do celular. Ele gemeu uma lamúria e rolou para o lado, afundando a cabeça debaixo do travesseiro e abafando o som. Quantas horas ele conseguiu dormir? E a que horas pegou de fato no sono? Duas, três, talvez quatro da manhã? Ele apenas cochilou, na verdade. Mas mesmo com muito sono e as pálpebras pesando várias vezes, sua cabeça estava a mil, ele não conseguia esquecer a discussão que teve com Rey. Por mais que tentasse esvaziar a mente de tais pensamentos, ele sempre acabava revisitando a fatídica noite do jantar de sua mãe; cada palavra dita por Nick martelando em sua mente.
Queria acreditar em Rey, mas não conseguia se livrar das coisas que ele próprio criou em sua cabeça e do pesadelo do dia anterior. E o pior de tudo: da culpa. O sentimento de ter errado muito com Rey estava o consumindo. Pois, se com ou sem beijo naquele dia, quando eles eram ainda adolescentes, Nick só se aproveitou da fragilidade dela, foi porque ele estava ausente, porque ele a tinha rejeitado, porque ela se sentiu desprezada.
“Eu sou um idiota.” — pensou.
A luz do sol invadia o quarto através das frestas das cortinas venezianas de madeira. Ben se virou em direção a elas, ainda deitado, e apertou os olhos para protegê-los da claridade quando uma das linhas horizontais de luz caiu sobre seus olhos, e como por várias vezes durante a madrugada insone, ele desejou que o dia nunca amanhecesse. Ele mal tinha acordado e já sabia que aquele seria um dos piores dias de sua vida.
O primeiro dia no estágio.
Esse era para ser um dia importante na sua vida e em sua carreira, um dia em que ele deveria estar se sentindo ansioso e nervoso, mas de um jeito bom, com borboletas no estômago e exultante. Porém, Ben estava mentalmente exausto , irritado e profundamente desgostoso.
O alarme do celular voltou a tocar. Ben levantou-se abruptamente mas não conseguiu impedir que um sonoro “Porra!” saísse de sua garganta. Jogou o celular sobre a cama após desligar o alarme e esfregou os olhos, desejando que tudo fosse mais um pesadelo realista e que ele logo acordasse de verdade. Contudo, era inútil continuar fugindo das consequências, pois elas bateriam na porta mais cedo ou mais tarde se não fosse enfrentá-las. Ele caminhou até o espelho e olhou-se nele. “Estou uma merda”, pensou, analisando seus cabelos desgrenhados, seu rosto amassado e as olheiras profundas.
Ben percebeu que a casa estava silenciosa, o que lhe fez pensar que era muito cedo e que Mitaka ainda estava dormindo. Ele deu um leve soco na testa e em seguida mordeu o punho, torcendo para que Mitaka não tenha escutado o seu grito. Então, Ben abriu a porta devagar, não queria acordar o amigo que podia aproveitar de mais algumas horas de sono. A aula só começaria às oito e eles estavam há menos de vinte minutos do campus, no entanto, Ben precisava passar em casa antes.
Mas não sem comer alguma coisa. Enquanto vasculhava a geladeira do amigo, Ben foi surpreendido pela entrada dele na cozinha. Mitaka estava de pijama, com a cara amassada, os cabelos bagunçados e esfregando os olhos.
— Porra, Ben! Seis da manhã, cara! — Mitaka bocejou.
— Eu pretendia deixar um bilhete de despedida — Ben disse — não precisava levantar.
— Essa foi boa, gigante. Que amigo eu seria se deixasse você voltar para casa com fome?
— Ei, eu sei fazer omeletes, não sou um chefe, mas...
— Eu faço o café.
— Não! — Ben arregalou os olhos e Mitaka achou hilário a sua cara de desespero. — Seu café é horrível!
— Você não reclamou ontem — rebateu Mitaka rindo.
— Eu estava sob efeito de muito estresse — Ben explicou —, precisava de uma droga forte para melhorar o meu ânimo, mas hoje decididamente não!
— Seu idiota! — Mitaka retrucou e Ben riu.
Mitaka cuidou do omelete enquanto Ben se encarregou do café, e após comerem Mitaka voltou para a cama, enquanto Ben avisou que mais tarde, após o estágio, ele voltaria com suas coisas, o amigo assentiu.
***
O trajeto de Ben ocorreu sem problemas. Ele chegou em casa e não viu os carros dos pais e nem a Falcon estacionados na garagem ou em frente à casa. Óbvio que Rey sairia mais cedo só para não dar de cara com ele; e apesar de sentir um aperto no peito com aquela situação, ele se sentiu aliviado também, pois tudo que ele queria, pelo menos naquele momento, era evitá-la. Ele entrou usando sua chave e subiu a escada de dois em dois degraus rapidamente.
— Bom dia D. Eleonor — ele disse quando avistou a diarista limpando o seu quarto.
Ela era uma senhorinha corpulenta e baixa, de cabelos loiro-escuros com muitos fios brancos nas laterais. Ela trabalhava para sua família há anos e sempre tinha um sorriso no rosto. Tornou-se amiga da família e há muito tempo conquistou a confiança dos Organa-Solo. Ben notou que havia se esquecido completamente de que hoje era um dos dias dela vir trabalhar, pois achava que iria encontrar a casa vazia.
— Bom dia, garoto — ela respondeu com um sorriso gentil e um aceno de cabeça. — Ah!, seus pais pediram para te dizer que tinham muito trabalho para resolver e que por isso saíram antes de você chegar.
— Certo... E a Rey? — ele perguntou por curiosidade.
— Bem, sua irmã disse que tinha que estar no laboratório de robótica mais cedo, pelo menos foi o que ouvi ela dizendo para a sua mãe — ela explicou.
— Ah, claro! — Ben assentiu. Aquilo apenas comprovou sua teoria.
Ele mal acabou de falar e seu celular tocou em seu bolso. “Não esqueça que você tem uma reunião hoje, esteja pronto.”, dizia a mensagem. Ben fechou os olhos e suspirou profundamente. Era só o que lhe faltava. Ele definitivamente precisava de todo o autocontrole do mundo para sobreviver a este dia infernal.
— D. Eleonor — Ben voltou-se para a mulher mais uma vez. — A senhora pode separar uma mala para mim? Pode ser aquela cinza de tamanho médio.
— Ah, claro, meu rapaz. Vou deixá-la perto do seu guarda-roupa.
— Perfeito! Muito obrigada. — Suspirou. — Bem, vou me trocar agora.
Ben sentiu o celular vibrar no bolso novamente. Ele pegou rápido, pensando ser Mitaka e que ele havia esquecido algo em seu apartamento, contudo, era mais uma mensagem bem específica que chegou: “Use terno e gravata hoje, quero você à caráter para a reunião no fim da tarde”.
— Filho da puta! — Ben resmungou e bufou de raiva. Ele então caminhou rápido para o corredor e chamou: — Sra. Eleonor — Ben a chamou quando ela estava saindo. — Poderia passar o meu terno? Eu precisarei dele hoje.
— É claro, meu rapaz, só me diga onde ele está.
...
Vinte minutos depois, Ben estava saindo de seu quarto vestindo um terno preto com gravata combinando e camisa social de linho branca por baixo. Sentia-se um pouco desconfortável, mas ainda servia bem. Talvez fosse a gravata ou ele que se sentia sufocado daquela maneira por estar ansioso.
Leia havia comprado aquele terno há algum tempo. Ela dizia que ele precisaria de um quando começasse a estagiar. Os trajes de um advogado devem ser elegantes, ela dizia. Ben tinha consciência disso, mas não estava acostumado ainda, e certamente não era no escritório de Snoke que ele queria começar. Camisas sociais ele tinha de sobra, mas dificilmente vestia o traje completo.
— Meu Deus, menino! Você está lindo! — exclamou a Sra. Eleonor, unindo as mãos acima do peito.
— D. Eleonor, a senhora não é paga para mentir — disse Ben.
— Ora, imagina se eu mentiria! Você está realmente muito lindo! Até penteou o cabelo — ela disse, arrumando a gravata dele. Ben sorriu, sentindo-se mais leve pela primeira vez naquela manhã. — É hoje o seu estágio, não é? Sua mãe comentou antes de sair. Ela parecia tão orgulhosa! Você precisava ver, Ben.
E o sorriso logo se desfez.
— Se ela soubesse...
— O que?
— Não, nada — negou rapidamente.
— Está certo, então. Eu preciso ir agora — ela disse. — Tenha um bom dia, meu querido, e boa sorte com o seu estágio.
— Obrigado, D. Eleonor — ele disse. E quando estava sozinho completou: — Vou precisar de muita sorte, mesmo.
Ele voltou ao quarto e parou de frente para o espelho, então revirou os olhos quando se viu. Sem dúvida, Kylo Ren se sentiria poderoso vestido daquela forma, mas ele não. Ben olhou para o relógio em seu pulso e arregalou os olhos, vendo o quão atrasado estava, então ele pegou sua pasta e saiu do quarto, descendo as escadas correndo em direção à garagem.
Ben olhou para sua moto, o único veículo que estava ali, e em seguida para suas roupas, e da moto para o terno mais uma vez.
— Sem chance disso acontecer — resmungou consigo mesmo, pegando o celular e chamando um carro por aplicativo.
***
Ben se sentiu extremamente ridículo enfiado naquele terno. Sem dúvida, a intenção daquele velho asqueroso era transformar seu dia em um inferno desde cedo.
No caminho para o campus, Ben estava tão perdido em seus próprios pensamentos, que se surpreendeu quando o motorista lhe avisou que eles haviam chegado. Eram tantas coisas em sua cabeça, tantas preocupações, que ele já pressentia que ia precisar de um analgésico mais tarde. Mas logo que chegou ao campus, Ben notou que era alvo de muitos olhares. Alguns de deboche, outros de curiosidade, e outros de admiração. Isso era tudo que ele menos queria naquele dia terrível, ser um alvo ambulante.
"É pessoal, o palhaço chegou" pensou ele assim que viu um grupo de alunos rindo dele. Por outro lado, o público feminino parecia estar gostando da sua fantasia de advogado sério. Ele escutou risinhos e até algumas cantadas ousadas, como: “Nossa, como ele está sexy”, disse uma para uma colega; “Vou cometer um crime!”, outra falou; “Vou trocar de curso.”, ele também ouviu, duas vezes. Uma disse: “Cometerei um crime para que ele seja o meu advogado”. Mas aquele terno certamente o envelheceu uns dez anos, pois ele ouviu uma garota chamando-o de Daddy, e esse último arrancou um sorriso de Ben. Era tão absurdo que chegou a soar engraçado.
— Ben! Que diabos aconteceu com você? — Dopheld veio correndo quando o avistou.
— Mitaka, sem comentários.
— Ué, quando você saiu da minha casa estava normal e agora está assim — ele disse, caminhando de costas olhando para o amigo.
— É só um terno, e é melhor olhar para a frente — retrucou Ben.
— Bem, vejo que as alunas apreciaram — Dopheld sorriu. Ben perguntou-se se eles ainda seriam amigos depois se ele desse um soco na boca dele agora.
Ele não se importava com a opinião de garota nenhuma daquela faculdade. A única que ele queria impressionar era Rey, mas ele ainda não a tinha visto e provavelmente ela ainda estava no laboratório. Talvez ele passasse por lá a fim de encontrá-la. Ele precisava pedir desculpas.
— Ben! — Mitaka o tirou de seus devaneios. — Precisamos ir para sala. A aula do Sr. Snoke já vai começar.
— É, eu sei, infelizmente.
— Não entendo seu desânimo, cara. Porra!, ele te deu uma oportunidade de ouro mesmo depois de você recusar diante de todos. Ele ainda deixou você voltar a assistir as aulas dele, juro que não te entendo.
— Eu já falei, olhe para a frente, senão pode cair — retrucou Ben, pois Mitaka ainda o acompanhava caminhando de costas.
No momento seguinte, Mitaka esbarrou num rapaz sentado no chão, que estava com um grupo de amigos. Ele ficou para trás pedindo desculpas e se levantando, enquanto Ben seguia carregando sua pasta e pisando firmemente, com pressa de chegar logo e sair da visão das pessoas.
Quando passava pela biblioteca, Dopheld o havia alcançado de novo.
— Cara, você me deixou para trás! — ele reclamou.
— Eu avisei para não caminhar daquele jeito — Ben redarguiu.
— Olha, eu já reparei que você não gosta quando eu falo do seu estágio, mas não entendo o motivo, sério. É uma oportunidade incrível e muito importante.
— Mitaka, se você soubesse...
Então ele a viu.
Ela estava saindo da biblioteca com dois grossos livros, um debaixo de cada braço, e ela estava tão linda em seus jeans, cabelo solto e camiseta branca, que Ben parou, estático, ficando para trás pela primeira vez, admirando-a. Foda-se!, ele queria muito beijá-la agora.
Dopheld Mitaka quedou-se e virou-se para trás quando percebeu que tinha ultrapassado Ben. Ele seguiu o olhar de seu amigo e logo viu que ele estava olhando para Rey.
Rey levantou a vista e olhou com surpresa para Ben Solo. Ela paralisou por alguns segundos que ele não soube dizer se o choque foi porque o achou bizarro naquele terno ou porque compartilhava da mesma opinião que as outras. Ben esboçou um sorriso, mas ela não retribuiu. Sua expressão se fechou e ela ajeitou seus livros para segurá-los com mais firmeza e foi embora.
Ben sentiu seu coração quebrar um pouco com aquilo. Pensar que ela tinha o direito de estar zangada só aumentava sua angústia. Ele precisava conversar com Rey, arrumar as coisas entre os dois; já não sabia viver sem ela. Tinha consciência disso há muito tempo – talvez desde sempre –, contudo, vê-la dando as costas e partir doeu. Doeu muito.
— Aconteceu alguma coisa?
Ben Solo levou um susto quando ouviu a voz de Mitaka, que o despertou para a realidade. Ben não chegou a externar, mas ficou abismado que havia se esquecido da existência dele e que ele estava ali ainda. O outro homem estava olhando ainda para ele esperando por uma resposta.
— Não foi nada — Ben redarguiu.
Eles seguiram pelo caminho e Dopheld Mitaka não falou mais nada. Ele enfiou as mãos nos bolsos da sua jaqueta e seguiu silencioso e pensativo, mordendo o interior da própria bochecha. Ben agradeceu internamente por seu amigo não falar mais nada sobre aulas ou Snoke, assim ele podia se concentrar melhor em caminhar rápido.
O ruído de passos e o burburinho dos estudantes pelos corredores lotados encheu os ouvidos de Ben Solo. Ele usou essa cacofonia para distrair seus pensamentos e não pensar tanto em seus problemas. E estava dando certo, até que...
— Senhores! — A voz cavernosa de Snoke sobrepujou a cacofonia do ambiente.
Ben levantou a cabeça e seus olhos se encontraram o olhar gélido de seu maior inimigo. Diminuiu a passada imediatamente, sentindo seus batimentos cardíacos dispararem. Ele cerrou o punho e um lapso de memória projetou-se diante de seus olhos por um segundo. Num instante, o rosto horrendo e deformado do Snoke do passado apareceu no lugar do rosto daquele homem, e, no instante seguinte, havia sumido, e o outro voltou a ter a aparência humana que tinha agora. Em ambos os casos, o olhar era o mesmo.
— Bom dia, Sr. Snoke! — Mitaka falou empolgado e Ben balançou a cabeça. Como seu amigo podia admirar tanto esse ser asqueroso?
— Sr. Solo vejo que seguiu meu conselho e veio à caráter — Snoke falou diretamente para Ben Solo, ignorando completamente Dopheld Mitaka. Ben o encarou com hostilidade, mas isso só serviu para fazer Snoke sorrir de canto diabolicamente. — O terno lhe caiu muito bem.
Ben não respondeu e virou a cabeça para o outro lado. Mitaka ficou boquiaberto ao ver Ben ignorando os elogios de Snoke.
— Bem, os vejo logo mais em sala de aula. — E dito isso, Snoke seguiu em frente, deixando os dois amigos parados no meio do caminho. Faltava de fato ainda alguns minutos para a aula começar de verdade e Ben queria utilizá-los para se recompor e controlar-se, senão sairia correndo.
— Porra, Ben! Você o ignorou completamente — Mitaka disse.
— Eu não tinha nada para dizer — respondeu.
— Você é louco! — disse Mitaka e entrou primeiro.
Ben olhou para trás, em direção da biblioteca, mas Rey já havia sumido. Ele bufou irritado e seguiu para sala junto com o amigo.
***
Durante a aula Snoke colocou Ben no centro de seus questionamentos. Ele até mesmo conduziu um exercício de simulação de um julgamento por assédio de um professor para com uma aluna. Ben precisou respirar fundo diversas vezes ao saber que seu papel seria ter que defender o aluno que seria escolhido por Snoke para representar o seu cliente, ainda mais sabendo que o acusado hipotético era culpado.
— Sr. Sanders — chamou Snoke. — Por favor, venha até aqui e sente-se no banco dos réus. — E mostrou o local indicado. A sala estava organizada de maneira que se parecesse com um tribunal, e Snoke seria o juiz. Os demais alunos estavam em pé, à volta, observando tudo com bastante atenção. — O senhor fará o papel do acusado.
— Espera aí um minuto, eu vou ter que defendê-lo?! — indagou Ben.
— Eu suponho que sim, Sr. Solo — Snoke respondeu. Miles estreitou os olhos e sorriu maliciosamente. O Solo filho da puta não esperava por essa.
— Acho bom conseguir que eu seja absolvido, Solo — Miles disse —, ou sua carreira vai para o espaço.
— Mas ele é culpado! — Ben exclamou. — Veja as provas. Como posso defender um molestador?
— Senhores! — Snoke levantou a voz para chamar atenção deles. — Devo avisá-los desde já essa situação é mais comum do que imaginam — falou olhando para o resto da turma, como se estivesse realmente ensinando como um professor faria. Ben ficou enojado. — Precisam estar preparados para defender seus clientes mesmo que eles sejam...
— Culpados! — Ben gritou.
— Mal interpretados, eu diria.
— Não! Ele é culpado! — insistiu ele com firmeza. — A vítima apresentou provas contundentes — ele apontou para sua colega, Bazine Netal, que representava a vítima. — Defender um homem como esse só me faria ser humilhado perante a corte e massacrado pela promotoria e acusação! Que tipo de professor incentiva seus alunos a jogarem seu juramento no lixo?
— Sr. Solo, está deixando seus problemas pessoais com o cliente falarem mais alto.
Então Ben fitou Snoke primeiramente surpreso por ele saber de sua inimizade com Miles Sanders, mas depois seu rosto virou uma carranca de raiva. É claro que Snoke sabia, aqueles abutres dos seus capangas com certeza delatavam tudo para ele.
— Não é isso! — retrucou Ben, encolerizado. — Ele assediou a vítima. Ela tem testemunhas.
— Que podem muito bem ter sido compradas — retorquiu Snoke.
— O que? Não! Não foram.
— Como pode ter tanta certeza? Pelo o que eu vejo aqui — disse ele pegando o roteiro da encenação anexado ao plano de aula —, a vítima tem um histórico bem peculiar. Já acusou falsamente o padrasto por assédio.
— O tribunal foi injusto! A mãe encobriu a verdade para proteger o marido e a filha tem morado com a avó desde então.
Todos os outros alunos olhavam de um para o outro discutindo como se estivessem assistindo a um jogo de pingue-pongue. Cada argumento usado por Ben, era rebatido por Snoke rapidamente, e vice-versa.
— Agora o senhor acusa o júri de agir com injustiça, Sr Solo — disse o professor. — Desse jeito sua carreira vai acabar antes mesmo de começar. Já perdemos tempo demais com essa discussão sem sentido. — Ben ergueu os braços não acreditando no que tinha acabado de ouvir. — O senhor é o advogado de defesa, faça seu trabalho! Sr. Mitaka — chamou. — O senhor será o advogado de acusação.
Ben se aproximou de Snoke e falou baixo cerrando os dentes: — Não pense que farei isso fora daqui!
— Veremos.
A atividade transcorreu de maneira tensa. Ben por diversas vezes vacilou e Mitaka aproveitou as brechas para ganhar vantagem. Por fim, Miles foi condenado.
— Sr. Mitaka, parabéns! Sua nota estará disponível no portal mais tarde — disse Snoke ao fim do exercício. — Sr. Solo, sua atuação foi vergonhosa! Espero que não faça eu me arrepender de ter lhe contratado. Muito bem, senhoras e senhores, tenham um bom dia
— Espera! — Miles gritou, mas Snoke já havia deixado a sala e a maioria dos outros alunos também. — Como assim contratado? Você vai estagiar com ele? — questionou a Ben.
— Não tenho tempo para os seus shows agora — respondeu Ben, e falava sério. Estava com uma enxaqueca dos infernos e precisava de um analgésico o quanto antes.
— Não! Isso não é justo! Você foi péssimo em me defender durante o exercício, não assiste às aulas direito, sai a hora que quer, não se esforça na disciplina dele, mas mesmo assim vai estagiar no seu escritório? Porra, inferno!
Miles chutou as cadeiras que estavam por perto, complemente fora de si. Ele se aproximou de Ben apontando o dedo em sua cara, o que levou Dopheld a se colocar rapidamente entre dois, para impedir qualquer confronto, no entanto, Ben parecia bem mais cansado do que qualquer outra coisa.
— Isso não vai ficar assim! — Miles disse, então deu as costas e foi embora.
— Uau... Ele acabou de te ameaçar, cara — Dopheld falou.
— Foda-se ele. — Ben tirou o paletó, o colocando de qualquer jeito na costas da cadeira. Ele afrouxou as abotoaduras da camisa e enrolou as mangas. — Temos um tempo até a próxima aula.
— Sim, vamos, eu te pago um café, Kevin Lomax.*
Ben até que conseguiu rir com a piada do amigo.
— Confesso que já estou constrangido — Ben disse sentando-se.
Um grupo de alunas que estavam em uma mesa próxima a deles não paravam de comentar sobre o visual de Ben, Mitaka notou que uma delas até mesmo deu uma piscada para ele.
— Ainda bem que a Lila não estuda aqui. Veja, elas estão dando até em cima de mim!
— É, você está andando do lado da mais nova atração da faculdade — Ben disse, pensando no circo de horrores que aquele dia estava sendo.
Deu uma olhada no celular, na esperança de uma mensagem de Rey, mas nada chegou. Ele decidiu que ligaria, mas desistiu assim que a viu. Rey se sentou com o traidor a uma certa distância, mas que estavam bem de frente para ele e Mitaka. Porém, ela estava tão distraída que não notou sua presença ali tão perto dela. Finn, por sua vez, estava mais atento. Ele lançou um olhar mortal na direção de Ben, que torceu a boca em reprovação.
— Acho melhor sentarmos em outro lugar, amendoim.
— Por quê?
Antes que ele pudesse responder, ela finalmente olhou para frente, e por um segundo, pensou em seguir o conselho do amigo. Todavia, Ben já tinha lhe visto. Ela decidiu que não daria a ele esse gostinho.
— Eu posso lidar com ele.
— É, eu percebi pela maneira que chegou ao meu apartamento ontem — redarguiu Finn com ironia.
— Já passou, Finn, agora quer pedir logo essa droga de lanche?
— Ok! Eu vou pedir.
Alguma mulher soltou uma risada perto dela, o que fez com que Rey olhasse para trás. Uma loira com o olhar sedutor que estava rindo de jeito cúmplice com as amigas. Era um grupo de cinco mulheres no total, e todas estavam olhando para frente. Não demorou muito para Rey perceber que estavam admirando seu irmão.
— Porra! Tá quente aqui! — disse a loira alto o suficiente para que Ben ouvisse.
— Nem parece aquele emo franzino que chegou aqui há quatro anos — respondeu uma de suas amigas.
Elas pararam de falar por um momento quando o pedido delas chegou, Rey virou para frente e pensou no quanto queria socar o rosto de cada uma delas. E do irmão idiota também, afinal, ele se vestiu assim de propósito. Parecia estar gostando de ser apreciado como se fosse uma espécie de pavão majestoso.
— Aqui, amendoim — disse Finn empurrando o sanduíche na direção dela, mas Rey acabou olhando para ele com a cara zangada. — O que foi? O X-Egg é o seu favorito, não é? Que cara é essa? Não gostou?
Ela abanou a cabeça.
— Só estou um pouco estressada — respondeu. Rey deu uma mordida no sanduíche e largou. — Não desce, desculpa.
— Toma ao menos o suco de laranja.
Então as risadas atrás deles voltaram, chamando a atenção de Finn. Ele deu uma olhada para o grupo de meninas e logo entendeu o motivo da falta de apetite e irritação de Rey. Talvez ele devesse distraí-la, pensou. Sim, era uma ótima ideia.
— Então, Rey, deixa eu te contar. O Poe e eu...
Finn deu uma palestra sobre o dia em que Poe o deixou pilotar, ou melhor, tentar. Porque as mãos dele tremiam de nervoso. Rey tomou a contra gosto um pouco do suco, e de várias vezes pegava Ben olhando para ela.
— Então o Poe me disse eu sou o melhor piloto daqui e... Rey! — Finn gritou. Rey piscou os olhos recobrando-se do susto. Você ouviu o que eu falei?
— Eh... Claro! Você estava dizendo que o Poe é... Que ele era...
— Rey, você não está conseguindo disfarçar. Quer saber, por que não vai falar com ele?
— Porque ele foi um idiota!
— Foi ou é?
— Eu adoraria que ele fosse meu daddy! — disse a mulher na outra mesa. — Ai, ele nesse terno espancando minha bunda, me chamando de garota má!
Rey e Finn olharam ao mesmo tempo para a loira desaforada. Quando ela percebeu que havia chamado atenção dos dois, sorriu e era claro o deboche em seu sorriso.
— Olá, cunhadinha!
Rey levantou com o punho cerrado e Finn segurou sua mão imediatamente, pedindo para ela manter a calma.
— Perdi a fome!
Ela pegou sua mochila e saiu, deixando a conta para Finn pagar. Estava com tanta raiva que não conseguia nem pensar direito. Precisava lembrar de como acalmar sua mente. Ela quase bateu naquela garota, o que estava pensando? “respire garota, você é muito afoita!” - uma voz familiar falava em sua cabeça.
Ben que observava tudo, levantou-se na mesma hora e avisou a Mitaka que voltaria rápido. Ele seguiu atrás de Rey, e quando passou por Finn, escutou ele murmurar um “idiota”. Ele revirou os olhos e continuou andando.
As alunas assoviaram quando ele passou por elas e a loira gritou um sonoro "gostoso" que teria massageando o ego dele há uns anos atrás, contudo, agora nada importava a não ser ela.
Ben notou que Rey estava indo para o esconderijo deles. Um lugar afastado que eles haviam descoberto há algum tempo, ideal para a troca de beijos e abraços. Será que ela queria fazer isso ou apenas lhe dar uma boa bofetada longe da vista de todos?
Quando ele finalmente chegou lá Rey estava encostada na parede com os braços cruzados.
— Sabia que eu viria? — ele perguntou.
— Sim. Por que acha que o guiei até aqui?
Os dois permaneceram em silêncio por alguns segundos até Rey voltar a falar.
— E então você resolveu realizar a fantasia das mulheres do campus ou só quis dar uma mudada no visual?
— Rey, por favor, tenho estágio mais tarde. É a roupa padrão.
— Elas estavam bem empolgadas — rebateu ela. — Até te chamaram de daddy — mencionou a palavra com nojo, mas Ben deu aquele sorriso que a fazia derreter. — Você está gostando de ser elogiado, não é?
— Quem não gosta? — disse ele dando um passo à frente.
— Idiota.
Ben se aproximou mais, lentamente. Colocou as mão na parede de tijolos atrás dela, cada uma das mãos de um lado dos ombros de Rey, a prendendo contra a parede. — Mas ainda não ouvi a única opinião que importa: a sua. Me diga, você gostou?
— Seu jogo de sedução não funciona comigo — ela respondeu.
Ben roçou os lábios suavemente no pescoço de Rey, subindo e descendo lentamente. Ela não o empurrou ou se encolheu, mas aceitou a carícia. Ele parou para sussurrar em seu ouvido:
— É mesmo?
Rey sentiu a dureza dele através da calça. Merda! ela estava quase cedendo! Ben roçou seus lábios aos dela, sussurrando as palavras seguintes.
— Só você importa, Rey. Quando vai entender?
— Ben...
— Eu sinto muito.
— O quê?
— Pelo o que eu disse ontem. Eu duvidei de você, eu fui um imbecil. Por favor, meu amor, me perdoe.
Rey sentiu lágrimas de emoção se formando em seus olhos. Ela sorriu fracamente, mas se deixou levar e relaxou. Ben mordiscou o lábio inferior dela e deu uma lambida em seguida. Os dois estavam prestes a se beijar quando escutaram passos.
Ela se afastou rapidamente e Ben olhou ao redor. — Droga! — rosnou frustrado.
— Mais tarde conversamos — ela disse.
— Não sei a que horas eu vou chegar.
— Vai emendar para outro lugar?
— Não sabia que era tão ciumenta — ele provocou, sorrindo.
— Foda-se Ben!
Ela virou de costas e saiu.
Ben observou Rey desaparecer no corredor. Ele respirou fundo e tentou organizar os pensamentos. Bater de frente com ela seria pior.
Ele estava tão distraído que não notou as duas figuras se aproximando.
— Se distraindo novamente com a rata imunda, Ren? Não esqueça do compromisso com o líder Snoke — Hux cuspiu as palavras meticulosamente com um ar de sarcasmo.
Stephen completou: — Ren nunca vai cansar de correr atrás daquela vadia.
Ben estaria disposto a ignorá-los, se eles tivessem falado de maneira diferente, mas palavras que eles usaram para a se referir a Rey fizeram seu sangue ferver; não podia e não ia suportar aquilo. Virou-se na direção dos dois e marchou contra eles como uma fera raivosa, os empurrou contra uma parede próxima e apertou a garganta de ambos com os antebraços.
— Acho bom tomarem cuidado com o que falam — vociferou. — Ou da próxima vez que se referirem à Rey dessa forma, alguém vai acabar perdendo a cabeça.
Ele apertou mais forte antes de finalmente soltá-los. Stephen cambaleou para trás, com a mão no pescoço, enquanto Hux caiu e se apoiou em uma das mãos enquanto a outra massageava a pele de seu pescoço. Ben deu-lhes as costas e saiu.
— Maldito Ren! — Hux ladrou enquanto tossia. Stephen também o amaldiçoava enquanto lutava para se recompor rapidamente.
Ben voltou para a lanchonete suspirando fundo. Seu café já havia esfriado e ele não tomaria de qualquer forma. Aquela discussão estúpida com Hux e Stephen acabaram completamente com seu apetite e seu estresse tinha sido elevado há níveis perigosíssimos.
— Poxa, que conversa rápida — Dopheld disse se levantando.
— Rey estava com pressa — respondeu Ben secamente enquanto organizava sua pasta na mesa.
— Ela parecia bem chateada — Dopheld insistiu falando no assunto. — Reparei que as coisas andam estranhas entre vocês.
Ben respirou fundo. Aquela era última coisa que ele queria lembrar. Sua cabeça estava latejando e Mitaka não estava ajudando nenhum pouco. — Olha, podemos ir para aula?
— Ok... Desculpa, é só que...
Antes que Mitaka pudesse terminar, foi interrompido pela chegada intempestiva de Miles Sanders. As pessoas que ainda estavam na lanchonete, quase vazia agora, viraram-se para olhar atraídas pela curiosidade. Miles tinha os olhos vermelhos e parecia furioso, além de visivelmente transtornado.
— Caí fora! — rosnou para Dopheld, que se contraiu. — Meu assunto com esse idiota do Solo é particular.
— Não tenho nada para falar com você — Ben respondeu com indiferença, nem ao menos olhou para seu rosto. Terminou de juntar suas coisas na pasta e levantou. — Vamos, Mitaka.
Miles empurrou Ben contra a mesa, ignorando o que ele havia falado e forçando-o a ficar ali.
Ben novamente não olhou para o rosto de Sanders, mas para onde a sua mão estava: contra seu peito. Algo dentro dele ficou buliçoso, rugiu e tentou se desprender das correntes, mas Ben controlou-o. Ele cerrou os punhos e virou a cabeça lentamente na direção de Miles, fitando-o com um olhar fuzilante.
— Seu lacaio pode ouvir então — disse Miles. — Até agora eu fiquei calado, porque cai no papinho da sua amiga Phasma.
— Ex amiga! — retorquiu Ben entredentes, batendo na mão de Miles para tirá-la de cima de seu tronco.
— Não importa se é ex ou atual, foda-se! Eu não vou sair perdendo nem que pra isso eu tenha que contar para todos o que eu sei! — Miles falou entredentes, em tom de ameaça.
— Você está louco, Miles. As drogas estão corroendo o seu cérebro. Mitaka, vamos embora.
Ben passou por ele, seguido por Dopheld de perto. Mas Miles, não satisfeito, seguiu atrás de Ben e disse:
— Essa vaga é minha, Solo! Você não merece esse estágio, você não merece nada, seu doente.
Ben parou. Seus ombros ficaram resetados, seu punho cerrado. Uma sombra enfarruscada cobriu o olhar de Ben e sua pupila contraiu-se quando correntes imaginárias se desprenderam em seu âmago. Todo o autocontrole acabara de se liquefazer diante de uma ira descomunal que o assumiu. Os ombros resetados, as sobrancelhas vincadas. Ele deu meia volta e se aproximou de Miles, tremendo de raiva.
— E quem merece? Você? — Indagou, sua voz ficou um tom mais grave que de costume. — Por favor, não me faça rir, Miles. Um pobre coitado como você se enxerga? Que contatos você tem? Quantas pessoas da sua família são influentes no nosso meio? — Ele abriu a boca para falar, mas Ben o cortou rápido. — Não, deixa que eu respondo! Nem uma! Minha mãe é Leia Organa, meu caro, só esse fato é motivo suficiente para eu ser aceito em qualquer lugar. Já você — fitou-o de cima abaixo com desprezo — tem que ficar mendigando oportunidades através de golpes ou chantagens, seu merdinha.
Mitaka estava boquiaberto e Miles tentava em vão controlar um choro já evidente escorrendo por suas bochechas.
— Essa humilhação vai lhe custar caro, Solo! — murmurou com todo o ódio que sentia.
— Uh! Estou tremendo de medo.
Miles virou-se e saiu, praticamente correndo. Ben ficou muito satisfeito ao vê-lo fugir daquela forma de sua presença, quase rindo da forma como ele parecia estar a ponto de chorar e chamar pela mamãe. Mas quando ele se virou para Mitaka, este estava olhando para ele com a cara fechada e o olhar de indignado.
— O que foi agora?
— Que diabos deu em você, Ben? Humilhar o Miles daquela forma, você está louco?
— Ele mereceu — redarguiu ele. — Estou cansado das ameaças desse filho da puta.
— E essa é a sua arma? — Dopheld inquiriu. — Eu pensei que fosse melhor que ele.
— E eu sou! Não ouse me comparar com esse merda!
Mitaka balançou a cabeça, incrédulo por Ben não enxergar o quão enganado estava. Em anos de amizade, não era essa a imagem que ele tinha de Solo: humilhar outra pessoa por sua posição inferior, por vantagens que ele tinha que a outra pessoa não, por ser filho de quem era, mesmo seus maiores desafetos. O Ben que ele conhecia e era amigo não era assim.
— Olha, é melhor você ir — disse Dopheld —, eu vou ficar mais um pouco na lanchonete e estudar.
— Mitaka, por favor, vamos brigar por causa do Miles?
— Estou justamente querendo evitar isso, então, por favor...
— Está certo — ele suspirou. — Até depois.
Ben balançou a cabeça irritado com a atitude do amigo, mas entendeu que era melhor dar um tempo para Dopheld. Ele não fazia ideia do quão perigoso Miles era, e não adiantaria Ben insistir que estava certo e Miles errado.
Sentiu uma leve pontada na cabeça e parou para massagear a têmpora. A dor rapidamente passou, sumindo exatamente como havia surgido, de repente. Sua pupila voltou ao tamanho normal. E sem sentir nada fisicamente, ele seguiu caminhando em direção ao prédio, mas dessa vez ignorou os assobios que vinham lhe perseguindo desde que chegou no campus.
***
— Se aquele desgraçado acha que pode nos intimidar, está muito enganado — Stephen rosnou furioso ao se lembrar do que havia acontecido minutos atrás. Mais uma vez, ele foi humilhado por Ren.
— Maldito Ren! — Hux gritou enquanto ajeitava a camisa amassada.
O banheiro estava vazio, apenas eles dois ali dentro depois de praticamente expulsarem quem estava nele assim que chegaram. De fato, a maioria das pessoas já se afastava instintivamente ao vê-los aparecer em qualquer lugar, e não foi diferente dessa vez.
— Porra, olha essa marca na minha garganta, Hux! Ai, que raiva! — gritou ele, chutando a porta de uma das cabines do banheiro. Hux não lhe deu muita atenção, mais preocupado com sua própria raiva e desejo de vingança.
Os dois estavam tão distraídos em suas próprias lamúrias, que não viram Miles se aproximar. Eles foram surpreendidos com o reflexo de Miles no espelho do banheiro.
— Veja só — disse Miles —, parece que o Solo tirou o dia para humilhar as pessoas.
— Miles! Como está? — Stephen arriscou perguntar, mesmo que fosse nítido em seu semblante, em seus olhos estavam inchados e vermelhos, quão péssimo estava.
— Eu? Como deveria estar depois de descobrir que o Solo tomou o meu lugar?
Ele deu um passo na direção dos dois. Stephen e Armitage Hux se entreolharam, compartilhando os mesmos pensamentos e cientes de que Miles havia descoberto que havia sido enganado.
— Calma, Miles... — Hux tentou.
— Calma um cacete, seu ruivo de merda! — berrou ele. — Vocês me enganaram! Me fizeram promessas em troca do meu silêncio, mas quer saber? Foda-se! Vou contar para todo mundo que o Solo fode a irmãzinha dele, vamos ver se vai continuar sendo tão influente e importante.
Miles se virou, mas Hux correu para a porta do banheiro, trancando-a e impedindo Miles de sair.
— Abre essa porra agora! — berrou Miles.
— Miles querido — Stephen se aproximou. — precisamos ter calma.
— Foda-se esse seu papinho, Stephen! Não caio mais, cansei de ser feito de palhaço por vocês! Stephen o encarou por alguns segundos e Miles começou a se sentir constrangido.
— Que porra é essa? pare de me olhar assim.
— Você bravo é uma gracinha sabia.
— Stephen! Hux gritou em desaprovação. — Não é hora pra isso.
Os dois deixaram de se encarar e focalizaram a atenção no ruivo.
Hux respira fundo e pensa rápido. A tentativa de sedução de Stephen não parecia estar funcionando, e eles não podiam deixá-lo sair daquele banheiro sem mudarem sua cabeça antes.
— Miles, olha — disse ele —, nós vamos ter uma reunião mais tarde com o líder, digo, com o professor Snoke. Você pode vir com a gente e convencê-lo de que é melhor que o Solo.
— Sim, Miles, o Hux tem razão — disse Stephen. — Não adianta você usar a única arma que tem contra o Solo de forma errada, não é? Além do mais, nós conhecemos o Sr. Snoke, ele é um homem de mente aberta, então tenho certeza que irá escutá-lo.
Miles parou e tentou raciocinar friamente pela primeira vez naquele dia. Analisou por alguns segundos a proposta e se deu conta de que ela não era nada ruim. Ele nunca teve a oportunidade de falar com Snoke a sós, quem sabe ele mude de ideia e dê a vaga para ele.
— Tudo bem, aceito — falou Miles — mas se não der certo, eu jogo a merda no ventilador. — Ele esbarrou no ombro de Hux com força, fazendo-o finalmente sair de seu caminho e alcançar a maçaneta da porta. — Até mais tarde então.
Assim que Miles saiu, Hux e Stephen suspiram fundo. Ambos sabiam que aquelas palavras não eram vãs ameaças. Se Miles não conseguisse o que queria, ele iria sim fazer o que disse.
— Essa foi por pouco, e agora? — perguntou Hux.
— Meu jogo de sedução já funcionou antes! - Stephen falou com o olhar distante.
— Serio Stephen?
Stephen sorriu vaidoso.
— Com aquele drogado surtado qualquer coisa funciona.
— Acho que vou...
— Stephen! Foco! — Hux gritou.— Precisamos falar com o Líder Supremo agora mesmo. — Armitage gemeu massageando o ombro dolorido.
— Acho que sei a solução.
— Sim, eu também. Mas não vamos sujar as mãos sem antes termos o aval para isso.
***
O dia passou rápido demais. E como ele havia imaginado, Mitaka se manteve distante e monossilábico. Era fácil reverter isso, bastava assumir que estava errado, mas Ben não conseguia enxergar dessa forma. Achava ainda que o que aquele idiota recebeu foi pouco diante de tudo que ele havia feito, porém, era óbvio que Dopheld não pensava daquela forma. Então Ben preferiu respeitar o espaço do amigo.
Eles almoçaram separados e as únicas palavras mais longas que trocaram foi quando Ben perguntou se ainda podia ir para o seu apartamento, e Mitaka assentiu que estava tudo certo, que ele provavelmente chegaria mais tarde, pois tinha um encontro com Lila, mas que o porteiro já estava de sobreaviso. Os dois se despediram brevemente e Ben pela primeira vez se sentiu tentado a assumir que errou, contudo Mitaka saiu rápido demais, sem dar-lhe a chance de falar qualquer coisa.
Quase ao fim da tarde, Ben decidiu ligar para Rey. Eles não haviam mais se visto desde o encontro furtivo mais cedo, mas a ligação caiu na caixa postal. Ele imaginou que ela pudesse estar ocupada no laboratório e foi até lá procurá-la. Precisava vê-la, ela era a única que poderia confortá-lo e ele precisava de um abraço antes de seguir para a cova dos leões.
Ben perguntou por Rey na porta do laboratório, mas o professor dela informou que Rey já havia saído. Ele assentiu em agradecimento, sorrindo sem graça pela frustração. Seguiu em direção ao estacionamento, teclando no celular uma mensagem para ela, quando foi surpreendido por um homem de meia idade vestido elegantemente.
— Ben Solo? — perguntou o homem.
— Sou eu — respondeu Ben, estranhando a abordagem daquele sujeito. — Quem é você.
— Eu sou o motorista do Sr. Snoke. Devo levá-lo até ele. — Nesse momento, o estômago de Ben embrulhou. Ele apertou o celular em sua mão, sentindo-a suar, e o guardou no bolso. — Por favor, me acompanhe.
O homem se virou e caminhou até uma limusine preta, Ben o seguiu em passos hesitantes. O rosto de Ben se contraiu em uma careta de nojo ao ver o carro. Não conseguia nem imaginar até onde ia a vaidade daquele homem maldito.
O homem abriu a porta da limusine para Ben, mas ele não conseguiu entrar. Suas pernas travaram, suas mãos suavam como nunca e ele tentou enxuga-las no tecido da calça. Ele hesitou e hesitou até que o motorista chamou sua atenção.
— Senhor?
Ben olhou para ele e desviou o rosto. Estava fazendo papel de idiota, mas mesmo lutando contra tudo que gritava dentro dele para sair dali, ele precisava. Então respirou fundo e reuniu a coração necessária para entrar no carro.
Chegou a hora de entregar a alma ao diabo novamente.
Ele manteve os olhos na janela durante toda a viagem. A mão em seu queixo, numa posição reflexiva. Dentro daquele carro, Ben se sentiu com as mãos atadas mais do que nunca. Estava indo para o lugar errado, na hora errada, no dia errado, pelos motivos errados, e sem poder fazer nada a respeito. A sensação de incapacidade era o pior, o que mais lhe perturbava e estava o enlouquecendo.
— Sr. Solo — disse o motorista ao abrir a pequena janela de comunicação. — Temos champagne, se desejar beber. Gostaria de alguma música em particular?
Ah, claro... A ostentação. Óbvio que Snoke mantinha isso. Ben uma careta de desprezo. — Não, obrigado — limitou-se a dizer.
Quando chegaram ao edifício, Ben quase não acreditou no quão alto era ele. A fachada bonita e em tons escuros, as janelas todas de vidro, que certamente refletia intensamente a luz do sol durante o dia. Passou ainda alguns segundos admirado com a elegância do prédio, até que a voz do motorista chamou sua atenção:
— Estarei aguardando pelo senhor — ele disse.
Ben sussurrou um “ok” e entrou. A recepcionista indicou o andar para ele. Ben não pôde deixar de notar que ela o fitava mais do que o normal para um mero atendimento cordial. “O maldito terno”, pensou enquanto pegava o elevador. Quando a porta abriu no vigésimo andar, uma mulher alta e morena o conduziu para a sala de Snoke, decerto era secretária dele.
— Sr. Snoke — ela chamou, abrindo a porta. — Com licença, senhor. O Sr. Solo está aqui.
Então ela se afastou e deu espaço para Ben entrar.
— Ah, finalmente, meu jovem aprendiz! — exclamou ele com sua voz rouca. — Seja bem-vindo. Aproxime-se.
Ben continuou parado na porta, ainda tentando digerir que estava na sala daquele homem horrível, que mais uma vez estava trabalhando para ele. Por pouco ele não sujou o tapete caro daquele maldito, pois a bile estava subindo em sua garganta.
— Eu disse para se aproximar! — Snoke falou firme e autoritário, mostrando que continuava o mesmo de antes. Ben cautelosamente se aproximou. — Sente-se.
— Estou bem assim.
— Não é um pedido, é uma ordem!
Ben decidiu que não valia a pena lutar, ele estava cansado demais mentalmente, e em terreno inimigo.
— Ótimo, você ainda é bom em acatar ordens — disse em tom desdenhoso.
— É o melhor a fazer quando não se tem escolha — Ben retrucou —, mas já lhe digo que não sou e nunca mais serei o seu boneco de ventríloquo Kylo Ren.
Snoke gargalhou alto se segurando na cadeira. — Veremos.
Ben cerrou os punhos, sentindo o ódio pelo homem à sua frente queimar em suas veias como o fogo do inferno.
— Vamos deixar as coisas bem claras, Snoke — Ben disse entredentes —, só estou aqui porque ainda não encontrei um meio de acabar com você e sua chantagem nojenta.
— Pode tentar, mas lhe garanto que não vai ser nada fácil, portanto, acho bom você se acostumar com sua nova realidade.
— Sem rodeios, Snoke, o que diabos você quer que eu faça?
Snoke sorriu de canto, um sorriso diabólico que causou um arrepio na espinha de Ben, mas mesmo assim, ele não cedeu. Manteve seu olhar firme e o maxilar fortemente cerrado. O outro tamborilou os dedos no tampo da elegante mesa de vidro antes de empurrar uma pasta na direção de Solo, ele não a pegou.
— Tenho um caso complexo, na verdade. Eu sei que você ainda não é formado, que apresentou dificuldades na minha aula e tem certos pudores que não condizem com o seu comportamento em família.
— Olha só, seu velho asqueroso... — Ben parou quando sentiu uma dor aguda no estômago. Ele havia sido golpeado. é isso?
— Nunca mais me insulte assim, seu moleque! — Snoke pôs-se de pé para impor sua altura; ainda segurava a bengala que usou para golpear Solo.
Ben arfou de dor segurando o estômago.
— Espero que tenha entendido. — Ben olhava para o chão, respirando fundo várias vezes, tanto para amenizar sua dor, quanto para impedi-lo de saltar sobre a mesa e estrangular Snoke com as próprias mãos. — Continuando, o cliente é meu amigo e sócio, portanto, não confia em mais ninguém além de mim para ajudá-lo.
Snoke deu a volta na mesa e aproximou-se de Ben. Com a ponta da bengala, ele levantou o rosto de Ben. Sua expressão de raiva e dor eram evidentes. Uma lágrima rolou por sua bochecha e Snoke aparou com a ponta do dedo.
— Eu acredito no seu potencial, sei que vai ganhar esse caso para mim. — Snoke começou a andar em volta da sala explicando que o cliente viria para uma reunião no dia seguinte e que Ben não poderia contestar nada. Sua única função era ganhar a causa. Após alguns minutos Ben se recuperou da dor, mas não ousou contestar nada que Snoke havia dito. Ele não tinha forças para fazer isso.
— Tenho mais uma exigência — disse Snoke. Ben não olhou para ele. — Quero que saía da casa dos Solo.
— O que?! — exclamou ele, olhando finalmente para o rosto de Snoke.
— Não quero você se distraindo com sua putinha e, pior, sendo influenciado por seus pais — Ben cerrou os punhos com tanta força que se estivesse segurando algo, essa coisa se partiria. Ele tremeu e seus olhos lacrimejaram de raiva pura e quente. — Eu sei que sua adorável mãe, quando souber que está trabalhando comigo, vai tentar persuadi-lo a desistir do estágio.
— Eu vou para o apartamento do Mitaka, já estava planejando isso.
— Aquele fracassado continua sendo um lacaio, não é? Não, você vai morar em outro lugar. Um apartamento que eu escolhi especialmente para você.
— Merda! — Ben fechou os olhos, invocando a imagem de Rey em sua mente. “Por ela”, ele pensou. — Tudo bem, eu aceito seus termos, contato que a deixe em paz.
Snoke balançou a mão em desdém, voltou a sentar-se e segurou a bengala com as duas mãos.
— Aquele seu primo, Nicholas Winter, ele sabe do incesto, não é?
— Como... Como soube disso?
— Tenho os meus meios — limitou-se a dizer. — Mas não se preocupe, vou dar um jeito nele.
— Não! Por favor, ele é um idiota, mas minha tia... Ela não merece isso, não o mate.
— Sr. Solo — ele voltou a elevar o tom de voz, impondo-se. — Acho que não entendeu. Quem ousa cruzar meu caminho e atrapalhar meus planos é eliminado, mas vou levar seu pedido em consideração, não se preocupe. Já o Sr. Miles Sanders, no entanto...
— O que tem ele? Você não... Meu Deus!
— Deveria me agradecer ao invés de me julgar — Snoke disse casualmente, com um dar de ombros.
— Já chega! Quero ir embora, não aguento ficar mais um segundo aqui!
Ben levantou, sentindo-se sufocado. Mais um segundo ali e seu autocontrole cairia por terra. De fato, mereceria uma medalha por ter aguentado até ali. Ele caminhou apressadamente em direção à saída.
— Não esqueça da sua mudança... — disse Snoke. — Amanhã. Vou te dar o direito de se despedir de sua patética família hoje.
Ben parou e virou-se para ele.
— Monstro! — gritou antes de sair correndo da sala, ouvindo Snoke gargalhar atrás dele, uma risada maligna que o fez estremecer, mas ele não parou.
Ele gritou, chorou e socou a parede do elevador. Toda a fúria que ele lutou para conter dentro daquela sala agora estava sendo extravasada – pelo menos em parte. Quando entrou na limusine, afrouxou a gravata e tirou o blazer. Ele respirava com dificuldade, sua cabeça latejava, porém ele precisava ser forte. Ninguém poderia fazer aquilo por ele, ele estava sem saída.
***
Quando chegou em casa, Leia estava sentada no sofá o aguardando. Ele entrou e fechou a porta, demorou-se a se virar e caminhar em direção a ela.
— Ben, meu filho — ela disse e Ben sabia que ela estava sorrindo. — Eu estava tão ansiosa para você chegar logo. Me conte, como foi o estágio?
Sem dar tempo para prepará-la, Ben falou de uma vez:
— Mãe estou indo embora de casa!
Leia ficou muda, piscando os olhos perguntando-se se tinha ouvido errado. Ben abriu a boca para dizer mais uma coisa, porém um barulho chamou a atenção dos dois. Ele virou o rosto para o lado e percebeu que era Rey parada ao pé da escada. Ela parecia estar em choque, e se deu conta de que ela ouviu da pior forma sua notícia repentina.
Antes que qualquer um pudesse dizer qualquer coisa, ela correu para o quarto, batendo a porta com força.
Ben teve a certeza: sua vida tinha virado um inferno.
Leia olhou para a escada e depois para o filho. Era óbvio que Rey havia escutado o que ele acabou de falar, e pela forma com que reagiu, estava tão surpresa quanto ela.
Ben foi breve em sua explicação. Apenas disse estar iniciando uma nova fase em sua vida e que isso incluía a mudança de casa. Leia tentou ser o mais compreensiva possível, afinal, ela tinha que aceitar que havia chegado a hora de seu filho alçar voo.
Ben subiu para pegar a mala que havia separado de manhã, seu coração dizendo para bater na porta de Rey, mas a razão falou mais alto. Ela provavelmente não o entenderia, talvez até mesmo o rejeitasse, então essa conversa deveria ficar para o dia seguinte,
Quando ele surgiu na sala, Han estava lá. Os dois se encararam por alguns segundos até o pai se aproximar e abraçá-lo, gesto que surpreendeu Ben.
— Vou sentir sua falta — Han disse.. Ben tentou controlar a emoção, mas estava cada vez mais difícil.
— Eu também, pai — disse com a voz embargada. Leia se aproximou e tocou no rosto do filho.
— Você não precisa ser forte o tempo todo, querido. — Ben fungou enxugando as lágrimas já evidentes. — Tenho tanto orgulho de você, meu Benjamin.
Ben se aproximou da mãe e deu um beijo terno na testa dela.
“Se ela soubesse”, pensou antes de seguir para a porta.
— Eu virei buscar o resto das minhas coisas amanhã, e não se preocupem, conversarei com a Rey amanhã também.
Seus pais o olhavam com ternura, e por pouco Ben não desabou e contou toda a verdade. Ter que deixá-los novamente estava dilacerando seu coração.
— Eu... amo vocês.
Ele saiu antes que perdesse a coragem. O motorista de Snoke já havia ido embora, ainda bem. Ele odiaria depender daquele velho nojento novamente. Ele pediu um Uber que chegou em poucos minutos.
Enquanto o carro se afastava, ele olhou para a janela do quarto de Rey, ela provavelmente estaria lá vendo ele partir. Mas ela não estava. A luz do seu quarto estava acesa, mas não a viu na janela, nem mesmo sua silhueta.
“Meu amor, eu não queria que fosse assim...” — disse em seus pensamentos, desejando que de alguma forma Rey pudesse ouvi-lo.
Quando chegou ao apartamento de Mitaka, ele largou suas coisas na entrada e correu para o banheiro. Sentia-se sujo. Aquele maldito havia o contaminado novamente e isso era tudo que ele desejou que nunca voltasse a acontecer. Por que a Força, o universo, Deus, seja lá quem for, havia dado uma nova vida para ele se o faria passar por toda aquela dor de novo? Ele não conseguia entender e não parava de se perguntar o porquê. Que maldição era aquela que permeava sua alma?
Ele chorou sob o chuveiro, deixando a água levar toda sua tristeza. E depois de quase uma hora, ele finalmente saiu. Já no quarto, pegou seu celular. Pensou em ligar, mandar mensagem, qualquer coisa, mas não teve coragem.
“Eu não a mereço” — pensou ele, deitado em sua cama e olhando para o teto. — “Rey, me perdoa..”
***
Longe dali, Rey estava desolada. Encolhida na cama, ela estava chorando contra o travesseiro. Havia se trancado e ignorado qualquer chamado de seus pais. Ela só queria entender por que ele estava fazendo isso com ela... com eles.
Parecia que ele não aprendia. Mais uma vez estava fugindo. E ela não conseguia entender.
“Ben... Por quê? Por que você fez isso?”
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