Lucy, Universidade de Tóquio
Tamborilo os dedos sobre a mesa, enquanto apoio o meu rosto na outra mão. A fala do professor não passa de um zunido distante e qualquer coisa chama mais a minha atenção do que a matéria em si. As árvores balançam de forma tranquila lá fora e eu estou aqui, mofando com o tédio que me consome.
Gray me dissera uma vez que precisamos mudar nossos hábitos de vez em quando, para renovar o mundo ao nosso redor, mas não devíamos fazer disso a nossa meta de vida. Metamorfosear a todo instante faz com que a gente se perca de nós mesmos. Pergunto-me, agora, se não estou deixando meu eu de lado para poder conviver nesse outro mundo que abriu a minha frente. Será que dá para viver como a velha Lucy em meio a demônios e caçadores?
Suspiro pesadamente e recebo cutucões no braço, fazendo-me olhar para minha direita. A garota baixinha e de cabelos azulados está com a testa franzida, além de uma careta confusa no rosto. Percebo que os outros alunos estão saindo da sala, enquanto Levy e eu permanecemos nela.
Junto meus livros e cadernos e jogo-os para dentro da bolsa masculina, herdada de meu pai. Levanto-me e coloco-a no ombro, deixando-me levar pelos bocejos incontroláveis. Levy está falando algo ao meu lado, mas agora os meus ouvidos possuem aquele zunido bizarro que não te deixa focar em nada. Droga, estou com dor de cabeça.
– Lu-chan!
– O-oi... – Pisco e viro a cabeça para olhá-la, mas arrependo-me. Recebo um olhar bravo e um bico de indignação da azulada.
– Perguntei por que você está tão machucada e com olheiras. – Levy segura-me, fazendo-nos parar no meio do corredor. Mesmo sendo baixinha, a garota consegue colocar uma presença marcante quando irritada e preocupada.
– Não seja exagerada, Levy-chan. – Sorrio timidamente e coloco uma mecha de cabelo para trás da orelha. – É uma espinha enorme que precisei tapar com esse curativo. Não é como se eu fizesse alguma atividade física. – Aponto para o curativo na bochecha esquerda. – Não vejo o “muito machucada” aqui.
– Você nunca teve uma espinha, sua desgraçada! E os roxões nos braços? – Agora está com as mãos na cintura e a postura ereta. Ah, Levy, você é praticamente minha mãe.
– Deve ser de tanto você me cutucar, não acha? – Fecho os olhos por conta do riso frágil que escapa dos meus lábios. Estou tão cansada de mentir pra ela.
– Ele bate em você?
Fico surpresa pela pergunta e também por haver um “ele” nela. Franzo as sobrancelhas, mas não é pela pergunta ou pelo fato dela perceber que possuo alguém para que seja um assunto entre nós duas. No momento, estou questionando-me se posso considerar o modo do Natsu de me tratar como espancamento.
Acho que sim.
Mas... é tão excitante.
Droga, droga, droga, isso não era para ser excitante.
Qual o seu problema, Lucy? Isso é sério, não é nada agradável apanhar.
Bom, na verdade, não apanho, só sou mordida e sugada de forma “carinhosa”.
– LU-CHAN!
O rosto pequenino dela está vermelho de raiva, mas tudo se esvai assim que ela larga um pesado suspiro. Parece desistir, mas conheço a garota que chamo de melhor amiga: apenas irá me dar mais um tempo para que, finalmente, possa me abrir com ela. Realmente, ela acha que apanho do Natsu?
– Eu não tenho namorado, Levy-chan. E não, não apanho de ninguém além das provas finais.
– Você está patinando muito pelas provas. – A azulada retira uma folha de dentro da sua bolsa. Sua voz adquire um tom diferente: – Não conte pra ninguém, mas consegui isso pra você.
Ao pegar, vejo questões anotadas apressadamente na folha amassada. Pelos assuntos abordados, percebo do que se trata: uma prova. Meus olhos abrem-se, tornando-se arregalados. Coloco uma das mãos na boca, já que estou ainda mais surpresa. Só não sei se é pelo fato de conseguir algo do gênero, ou porque foi Levy quem conseguiu.
– Dizem que ele nunca muda as provas... então, bom... – Ela está vermelha, mas de vergonha. Abraço-a fortemente.
– Sua danada! – Rio e recebo, da garota, tapinhas nas costas.
– Não há de que. – Ela perde seu sorriso logo depois de nos separarmos. – Mas.. sério, Lu-chan. Não me esconda as coisas.
Balanço a cabeça de forma positiva, culpando-me por fazer algo do gênero com minha melhor amiga. Quero contar-lhe que não estou com uma espinha e sim um corte superficial na bochecha, graças à delicadeza de Erza, minha nova instrutora. A ela devo os roxos e dores em todo o corpo, também. É claro que isso escapou um pouco do controle, porque, tecnicamente, não devíamos pegar pesado no treino para não deixar marcas como essas, a fim de escapar de explicações desnecessárias.
É fato que foi eu quem a provocou, perguntando-lhe sobre os demônios e sobre Silver. Também é verídico que o treino teve sua carga pesada quando lhe pedi, incessantemente, que me treinasse dessa forma. Suas instruções eram de ensinar-me o básico do básico sobre defesa pessoal contra demônios, mesmo que isso fosse um nível avançado para pessoas normais.
Outra coisa, que ainda incomoda-me, é o fato de que Gajeel é o meu guarda costas.
– Yo, meninas.
Cumprimento-o com a cabeça, mas Levy é beijada na bochecha pelo moreno. Quero rir do rosto vermelho que a garota adquiriu, mas sei que irei apanhar por fazer tal coisa. Então, opto por ficar com a cara de debochada, que é resultado do riso preso.
– Levy, deixe-me levar suas coisas.
– Não precisa, Gajeel.
– Ora, quero ser cavalheiro, não me impeça!
– Você não é cavalheiro, seu idiota.
– Porque você não deixa!
– Não adianta querer ganhar pontos agora, mocinho. Ainda estou com a lembrança de ser abandonada porque você teve que atender um telefonema.
– Já pedi desculpas por isso, baixinha. – Gajeel suspira e coça a cabeça, vencido. – Se não me der o material, levarei você no colo.
– Não se atrev...
Levy é interrompida pelo moreno, que a pega no colo rapidamente. As perninhas curtas da azulada balançam no ar e escuto seus xingamentos infantis contra ele. Seu rosto está indiferente, como se ignorasse todos os ataques, físicos e verbais, que Levy lança contra seu rosto. Essa atitude, com certeza, deixa-a mais irritada.
Sinto-me culpada por ter que ocupar o tempo livre do moreno, mesmo que o culpado de sua guarda seja ele mesmo. Quando nos disseram que haveria esse tipo de cuidado, Gajeel ergueu sua mão sem titubear, dizendo ficar responsável por mim. Sorrio ao vê-los juntos, porque mesmo que estejam nessa situação cômica de briga, realmente parecem um casal. Provavelmente, o motivo de querer ser o meu guarda seja por poder ficar mais tempo com a azulada, já que não poderia se devesse cuidar de outro indicado a líder.
Percebo estar parada no mesmo local enquanto encaro as costas largas de Gajeel e os braços e pernas finas de Levy balançando no ar, antes de ser colocada no chão. O moreno está rindo enquanto a azulada está emburrada e vermelha, mas não posso vê-la por muito mais tempo, pois o garoto puxa-a para seus braços e, suponho, dá-lhe um beijo.
Assim que deveria ser um relacionamento normal entre duas pessoas?
Saio dos meus pensamentos quando ouço o grito surpreso da azulada, que está caída no meio da lama. Gajeel não para de rir e corro para ir socorrê-la, pois noto que o garoto não percebe o quão errado é rir antes de ajudá-la. Sinceramente, ele continua sendo um homem bruto sem senso de delicadeza.
– Ela está muito brava.
Balanço a cabeça negativamente para o moreno, mas rio da cara de cachorro sem dono que ele está fazendo. Levy está no banheiro, tentando salvar sua roupa da lama enquanto nós dois permanecemos do lado de fora. Sentamo-nos no banco perto do banheiro feminino e permanecemos em silêncio até que ele fosse insuportável. Sinto que o moreno estava querendo conversar comigo, mas não adquiria a coragem necessária para tal, até o momento.
– Lucy-san, você vai falar algo pra ela? – Gajeel está esparramado no banco, encarando as folhas que caem das árvores com o leve balançar do vento.
– Não, mas se você for falar, eu o ajudo.
– Não sei o que fazer, na verdade. – Ele suspira pesadamente. – Você sabe que é perigoso, certo?
– Sim. – Agarro o tecido da minha saia, amassando-o sob minhas mãos. – Não quero causar problemas a ela.
– Então, escute o que tenho a dizer. – Gajeel vira-se para mim, com o olhar pesado. – Consigo a proteção dela contra os demônios, mas isso é algo que não posso dizer até quando.
– Como assim?
– Lucy, tenho dois motivos para ter pedido sua guarda. – Seu rosto está tão sério que me assusto com a mudança de suas atitudes. Ele sempre fora assim? – Um deles, você já deve saber, é pela Levy. – Confirmo com a cabeça lentamente. – Outro é porque nós dois seremos beneficiados com a confiança mútua.
– Não entendi essa última parte. – Franzo as sobrancelhas.
– Eu sei de coisas sobre você e você, de mim. – Quando faço cara de desentendida, ele suspira. – Ou irá saber. O fato é que nós dois não iremos dedurar um ao outro porque teríamos o que perder em troca, entende? – Há um sorriso nos seus lábios que causa arrepios na minha pele. – A proteção de Levy deriva da minha aliança idiota com os demônios, onde ajo como agente secreto e recebo a segurança das pessoas que amo.
– O que...?
– Se eu ficasse cuidando de outra pessoa, provavelmente teria que abandoná-la para ir responder aos chamados deles, o que acontece quando estou com a Levy. Estando com você, não terei que dar explicações, nem serei descoberto. – Gajeel endireita-se no banco, olhando para frente. – Se fosse, seria uma desgraça pra minha família e, provavelmente, pra baixinha.
– Como você sabe que vou manter seu segredo em segurança?
– Por favor, Lucy. – Seu tom é irônico e impaciente. – Você quer tanto quanto eu a segurança de Levy. E também... – Recebo um olhar malicioso – Seria um caos se descobrissem sua relação com os demônios.
Não respondo nada, fico parada encarando-o. Espero que minha expressão tenha permanecido a mesma, para não entregar-me assim, logo de início. Se ele é um agente secreto, deve trabalhar para vários demônios em busca de informações, inclusive para o Natsu. Isso explica algumas coisas, como o que aconteceu naquela vez, na biblioteca, que Levy me contou. Mas, mesmo assim, porque ele faz esse tipo de coisa?
– Você trai as pessoas que confiam em você, então? – Digo baixo. – Sei a história de Jellal, pois fizeram questão de mencioná-lo como “pessoa não confiável”. Ele realmente é filho de traidores ou, por culpa de pessoas como você, eles foram julgados?
– Não posso voltar no passado para concertar as coisas. – Seu punho treme devida a força que faz para controlar-se. – Jellal é um infeliz azarado e, se pudesse, tomaria sua dor. Tudo faz parte de uma coisa maior do que você é capaz de imaginar, garota, mas não pode me acusar de traição quando você mesma faz esse tipo de coisa. Afinal, sendo filha de um líder, que comanda as investidas contra os demônios, estando no topo como está, sua atitude não é pior do que a minha, sendo eu apenas um soldado raso?
Seu olhar petrifica-me. Não acho furos em seu discurso, muito menos mentiras. Precisava receber a verdade dessa forma, dura e direta. Sou uma idiota por tratá-lo assim, achando-me superior a ele. O que eu sei sobre o Gajeel e sua vida até aqui? Não posso julgar suas atitudes dessa forma. Infelizmente, não posso dizer o mesmo de mim, pois, ao contrário dele, envolvi-me por puro sentimentalismo. Não é por medo de perder pessoas amadas, como no seu caso.
Isso não faz de mim uma péssima caçadora?
Uma péssima... pessoa?
Caminho lentamente, chutando as pedrinhas a minha frente. Não troquei nenhuma palavra com o moreno depois daquela conversa, aproveitando da raiva da Levy como desculpa para permanecer em silêncio. Não há como dizer que ele não a ama, pois muitos não fariam o que Gajeel faz por ela. O modo como age com Levy é totalmente diferente do “ele” longe dela. Creio que ele guarda tudo isso só para ela, deixando-se levar pelo prazer da companhia da azulada.
Eles tomaram um rumo diferente do meu, indo para algum lugar que não prestei atenção. Mordo o meu lábio ao ficar de frente com a entrada do prédio de Natsu, sem saber se devo ou não prosseguir. Começo a preocupar-me com a possibilidade de ser pega por outro caçador, além de poder causar problemas a Gajeel caso seja visto comigo numa situação dessas. Droga, são muitas coisas a se pensar parada no meio da calçada.
Entro rapidamente e subo a escadaria até deparar-me com a porta do estúdio do rosado. Sinto cheiro de comida e franzo a testa, surpresa por não ter sido chamada para ser a cozinheira escrava dos rapazes, de novo. Bato três vezes na porta e ouço um “já vai” de Gray. Pelo jeito, Natsu não está em casa.
Mesmo fazendo apenas um dia que não o vejo, estou preocupada.
Não, o que sinto não é bem preocupação.
– Oi, Lucy. – Gray fala antes de abrir a porta e sou recebida com um sorriso.
– Aprenderam a cozinhar? – Digo abraçando-o rapidamente e entrando no estúdio. Meus olhos percorrem o local a procura do rosado.
– Juvia cozinha bem. – “Bem” saiu como uma demora razoável. Levei como um “quase bem”.
– Oi, Lucy-san!
A azulada está com um avental florido, em frente a um fogão. Juro que posso ver algumas chamas vindas da frigideira, o que me dá certa agonia. Aceno para ela, querendo tirá-la do perigo do fogão.
– Você não irá mais as aulas? – Pergunto ao sentar-me no banquinho disposta na mesa americana. Pelo visto, compraram móveis.
– Não até que Gray-sama vá novamente. – Ela sorri para mim e solta um gritinho ao ser atingida por uma gota de óleo. – Mas minha falta ocorre mais pela necessidade dele de ter-me por perto.
– Ei, não funciona desse jeito. – Gray debruça-se sobre a mesa americana. – Eu disse para voltar à faculdade.
– E ter que sair toda hora porque você precisa de mim? – Ela olha por sobre o ombro – Por favor, Gray, é inviável.
– Eu posso aguentar um pouco. – Ele resmunga, mas não parece muito convencido.
– Se você conseguisse suportar mais os ataques do Natsu, eu ficaria mais tranquila.
– Como assim? – Interrompo-os.
– Que maldade, Juvia. – Gray finge tristeza na voz. – Aquele cara estava muito violento, embora não estivesse muito forte. Acho que você sabe o porquê. – Ele dá de ombros e suspira. – Mesmo assim, conseguia me machucar a ponto de me deixar esgotado demais pra curar os ferimentos rapidamente. Então, Juvia tem ficado comigo.
– Achei que tivessem dado uma pausa no treinamento. – Falo enquanto observo Juvia desligar o fogão e pegar alguns pratos. – Digo, com o que tinha acontecido e tudo mais.
– Bom, como nós dois nos recuperamos... – Ele fala apontando para si e para a azulada – Natsu achou melhor seguir, mas agora paramos novamente.
– Porque?
O casal troca alguns olhares, sendo que Juvia lança-lhe um de repreensão. Dando de ombros, o garoto vira-se para mim e respira fundo, mas antes de falar, é interrompido pela azulada. Ela, agora, está perto de nós, olhando-me seriamente.
– Lucy, o tagarela aqui estava todo nervoso, dizendo não querer envolver você nisso, porque o Natsu está... bem, sedento. Mas pelo visto, ele não consegue segurar a língua. – Gray resmunga um pedido de desculpa. – Sabemos que você iria querer ajudá-lo, porque, querendo ou não, já é do nosso conhecimento o envolvimento dos dois.
– Não tenho envolvimento com ele... – Falo baixinho.
– Tá, então, reformulando a frase... – Juvia ri e fala: – Você iria querer ajudá-lo como eu ajudo o Gray.
Fico vermelha com a insinuação e o a risada do Gray não ajuda em nada a minha situação. Fora isso, sinto-me culpada por ter deixado Natsu chegar a esse ponto. Mas, parando pra pensar, se ele não está aqui, onde está? Olho-os seriamente, fazendo-os parar de rir. Acho que, com isso, troquei o clima totalmente.
– Se está sedento e não está aqui, onde ele está?
– Juvia expressou-se mal. – Gray fala calmamente, como se quisesse amansar um animal. – Ele está machucado, não sedento. Bom, não mais...
– O que? – Levanto-me da cadeira.
– Lucy, o cara tava detonado! – Gray ergue as mãos. – Dá um desconto! Eu sei o que tava rolando, ele me contou. Enfim, ele não podia simplesmente correr pra você, mesmo que isso tenha sido a vontade dele. Não é algo tão controlável assim, sabia?
– Onde ele está?
– Primeiro, escuta. – Gray está sério. – Junte o fato de ele ter parado de se alimentar com a luta que ele teve noite passada que você vai ter um demônio ferrado, totalmente. – Ele olha para a Juvia por um momento, depois, volta a encarar-me. – Do jeito que ele estava, desgastado e todo mal, se fosse a sua casa, não teríamos conseguido pará-lo. – Antes que pudesse interrompê-lo, ele segue: – Não, não venha dizer que ele “não parou com outras pessoas e, por isso, acabou sacrificando mais vidas”. – Fecho minha boca, chateada por Gray ter adivinhado o que eu falaria. – Depois de fazer um favor a ele, procurei-o pelo cheiro e o encontrei se alimentando. Ajudei Natsu a parar, mas foi muito difícil. – Gray levanta a camisa e encontro várias faixas. Na verdade, tem várias dessas pelo seu corpo. Como não notei isso antes? – Eu sei como ele se sente, porque tenho uma relação parecida com Juvia.
– O nosso sangue, por algum motivo, para eles, é bem mais suculento e inebriante. Algo muito mais incontrolável toma posse do corpo deles. – Juvia fala.
– Ele já parou comigo uma vez, quando estava machucado. – Digo e cruzo os braços. – Você poderia ir junto e pará-lo, Gray.
– Lucy, deixa de ser teimosa. – O garoto suspira. – Mesmo tomando o seu, iria precisar de muito mais. Aliás, se tomasse o seu primeiro, ele iria ficar ainda mais descontrolado, porque é agonizante parar quando se está naquele estágio de necessidade, além de outras coisas que não devo falar agora. Naquela vez, você por acaso o viu ficar sem beber algo?
– Não, eu estava desacordada. – Falo baixo.
– Pelo menos não o culpe tanto, ok? – Juvia sorri para mim.
– Onde ele está, Gray?
– Na garagem. – Quando ergo uma sobrancelha, o garoto dá de ombros. – Também fiquei surpreso por ter algo do gênero aqui. Fica no subsolo, mas se você for, irei junto.
– Se está alimentado, não tem porque ficar com medo dele me atacar, não é? – Pergunto.
– As coisas estão diferentes dessa vez. – Gray coça a cabeça e olha para o lado.
Estamos caminhando por um corredor apertado e com pouca luminosidade, até que as escadas chegam e podemos descer para o subsolo. Seria bem interessante um elevador nesse prédio, já que só vejo escada para lá e para cá. Mesmo sem olhá-lo diretamente, sinto que estou sendo observada, pois minha pele queima. Não entendo o porquê da insegurança dele, nem porque está tentando me defender tanto.
– Lucy. – Sua mão segura meu antebraço e paramos quando atingimos a garagem. Posso ver, mais adiante, uma porta que esbanja uma luz amarelada. Infelizmente, Gray não me deixa continuar. – Se precisar, grite meu nome que virei correndo.
– Você está sendo exagerado.
– Nunca é demais prevenir... – Ele suspira e solta meu antebraço. Agora, parece sem jeito. – Nós nos conhecemos há muito tempo, não é? – Ele dá um pequeno sorriso e aceno com a cabeça. – Passamos por bastante coisa juntos, boas e ruins. – Abraço-me com a última frase, sabendo exatamente do que se trata. – Então, eu estarei aqui se nada der certo, ok?
– Quanto pessimismo em uma frase. – Sorrio sem graça e recebo um beijo na testa.
– Se precisar conversar, sobre qualquer coisa, Lucy, sabe onde me procurar. Eu posso... sentir que não está tudo tão bem aqui. – Seu indicador toca meu peito. – Somos melhores amigos ainda, não?
– Não sei do que está falando, Gray. – Seguro sua mão e a retiro do meu peito, mas não ouso encará-lo. Ainda não contei sobre meu pai, ou sobre minha atual situação com os caçadores. Parece que estou traindo-os e com essa preocupação toda, com conversas sobre tudo der errado, só pode dizer que está desconfiado.
– Droga.
Em um instante, estou atrás de Gray, com o rosto em suas costas. Uma de suas mãos mantém-me ali, enquanto a outra está erguida. Não consigo enxergar o que está acontecendo, mas quando ouço uma risada feminina, minha pele arrepia-se.
– Usando o brinquedinho do capitão? Que ousadia. – As costas dele ficam tensas sob meu rosto. – Ele é possessivo, sabia?
– Ela é o meu brinquedinho, que divido de vez em quando com o Natsu. Afinal, não podemos ir pegando várias mulheres por aí para a diversão.
O tom do garoto está totalmente diferente, carregado com uma segurança e raiva que não tinha o visto sentir ainda. Meu peito está ainda mais dolorido agora, porque estou sendo tratada como objeto e, pior ainda, pelo Gray. O que diabos ele acha que está dizendo?
– Achei que você fosse um lixo, por conta do que Natsu nos diz, mas tem bons reflexos e reação. – Outra risada para mais uma tensão nas costas de Gray. Arrisco uma olhada sobre o ombro do garoto, ficando nas pontas dos pés, e encontro uma mulher de longos cabelos brancos com uma estaca de gelo tocando-lhe na região perto do coração, enquanto ela está com alguma coisa negra em seus dedos, os quais estão cravados no braço erguido do moreno. – Oh, olá loirinha.
Um arrepio passa pelo meu corpo com aquele cumprimento macabro. Há sangue escorrendo de seus lábios, mas não encontro ferimento algum que o faça escorrer. Por um momento, pergunto-me se ela estava com o Natsu.
– Hmmm, eu conheço esse cheirinho podre. – Ela desvia o olhar e fica encarando o moreno, seriamente. Sua cabeça inclina-se e faz um bico pensativo. – Já nos encontramos antes? *
– Não. – Rosna Gray.
– Bom, não tenho tempo para perder aqui, com crianças e brinquedinhos. – Escuto o barulho de sangue pingar quando seus dedos abandonam os buracos no braço de Gray. A estaca que ele projetara na palma da mão caí e estilhaça-se, mostrando mais um pouco de sangue saindo pelo mesmo buraco que o gelo saíra.
Assim como ela chegou, do nada, foi embora. Nós dois ficamos parados no mesmo lugar por alguns instantes, até que estapeio seu ombro, enraivecida pelo o que dissera antes. Seu olhar demonstra surpresa e sua boca está entreaberta, como se quisesse se defender, mas sem saber o que dizer.
– Você é um babaca.
– Lucy, desculpe, eu só quis defendê-la. – Fala erguendo as mãos para cima.
– Aquele papo todo de proteção e agora vem dizer que sou seu brinquedinho? – Noto o rubor tomar conta da face de Gray. – Não sou objeto para ficar sendo divido entre os dois demoniozinhos amigos.
– Você não está sabendo interpretar a situação, Lu. – Ele suspira e estende a mão, mas bato na mesma, afastando-a. – Como se você tivesse sido alguma vez. Era só ter compreendido o que estava acontecendo.
– Não fui porque não quis. – Cruzo os braços, brava.
– O que? – Sua voz sobe uma oitava, mostrando-me sua indignação. – Por favor, Lucy, isso foi há anos e nós éramos crianças. Aliás, era Silver quem ficava querendo nos casar.*
– Idiota! – Resmungo.
– Como se eu fosse competir com o Natsu por você. – Ele passa a mão no cabelo, o que me deixa mais irritada. Está pegando até as manias do rosado! – Já tenho a Juvia e sou feliz com isso.
– Desculpe, falei sem pensar... – Mordo meu lábio e, novamente, não o encaro. – Eu só estou irritada e o que aconteceu não me deixou ... feliz.
– Desculpe. – Ele diz e começa a caminhar pelo caminho que viemos. – Qualquer coisa, grite.
Aceno com a cabeça e começo a caminhar até a porta aberta, do outro lado da pequena garagem do prédio. Ao ficar parada perto da porta, absorvo todos os detalhes que posso, vendo a bagunça de metais e ferramentas, junto com alguns equipamentos diferentes. No centro da sala, abaixado próximo ao que imagino ser uma moto, está Natsu.
Está sem camisa e com uma calça de abrigo escuro, mas não consigo ver sua pele ao todo, pois há faixas cobrindo-lhe*. Sua situação é pior que a do Gray, pois vejo resquícios de sangue no branco das ataduras. Ele não está totalmente curado, mesmo depois de se alimentar?
– Vocês fazem muito barulho.
Sua voz rouca chega aos meus ouvidos depois de um tempo, mas não recebo seu olhar ou um oi normal. Ele parece querer que eu saia dali e isso me deixa ainda mais no fundo daquele poço chamado “atual casinha da Lucy”. Mordo meu lábio e abraço-me novamente, sem saber exatamente o que dizer ou fazer. Estou brava por ele ter quebrado o trato que fizemos, mas temo ter sido realmente necessário. ´
– Tudo culpa daquela sua amiga. – Falo tentando colocar um pouco de graça na situação, mas Natsu levanta-se e vai até uma estante, onde pega uma chave de fenda. Seu rosto está muito indiferente.
– Ah, Mira é um pouco impulsiva. – Ele para por um momento e vira-se para mim, encarando-me. – Mas Gray tem razão, você não soube interpretar a situação.
– Você... ouviu tudo? – Minhas bochechas queimam, mas não consigo desviar o olhar do seu rosto. Há cortes no pescoço, peito e maçã do rosto, que parecem ser pouco profundos. Porque não está curado?
– Sim, sou um demoniozinho bom de ouvido. – Ele ergue uma sobrancelha. Seu tom, atitude e postura estão incomodando-me. Porque está tão.. distante? – Ele realmente fez aquilo pra te proteger, Lucy, seja agradecida.
– Do que? – Saio de perto da porta, entrando no recinto. Cuido meus passos para não pisar em alguma ferramenta. – Ela poderia ter me atacado, mas só resolveu dar um susto no Gray.
– Hm, verdade. – Ele volta a mexer na moto com a chave de fenda e joga por sobre o ombro um pano sujo. – Mas ele não quis entregar nossa relação, Lucy. Embora seja indiferente, já que Mira sabe sobre nós.
– Como assim? – As pessoas resolveram me surpreender hoje.
– As coisas estão começando a ficar complicadas, permanecer encontrando-nos pode gerar uma briga bem feia. Acho que me entende, não é? – Novamente, ergue uma sobrancelha e sinto como se meus segredos fossem descobertos, mesmo que não tenha contado a ninguém sobre. – Acho que vamos ter que dar um tempo.
– Você está dando um tempo.... comigo? – Falo pausadamente. Solto uma risada nervosa. – Não temos nada para ter um “tempo”. Você é um idiota, Natsu, vim aqui para ver você e te encontro todo ferrado. Aliás, algo pra falar para mim? – Indago-o.
– Vamos dividir as tarefas, então. – Ele larga a ferramenta no banco da moto, vai até uma mesa e se apoia nela. O rosado parece fraco. – Eu te conto umas coisas e você me conta outras, que tal? – Sua cabeça inclina-se para mim e posso sentir o gosto da derrota na boca. – Ah, você não vai querer assim, então, tá. – Ele suspira.
– Não tenho nada para falar a você. – Falo convicta, mas só na aparência. Mesmo sabendo que ele pode sentir tudo de negativo que eu sinta, não consigo controlar o nervosismo no meu peito.
– Vamos fingir que não tem. – Ele não sorri em nenhum momento, o que é muito agonizante. – Vou ser sincero com você, porque acho isso bem importante. – Ele cruza os braços e coça o queixo. – Sim, bebi sangue de várias pessoas essa madrugada, o suficiente para curar-me. Mas, veja que azar, ainda estou fodido. – Ele abre os braços, mostrando-me todos os locais com ataduras. – Eu estava sedento, morto de fome de dor, medo e sangue, sabe? Ontem acabei ficando descontrolado por alguns momentos e quase fui a sua casa, mas o Gray impediu-me umas... cinco vezes, eu acho. – Ele dá de ombros. – Embora esteja machucado, estou saciado. Parece que, dessa vez, sangue não irá me curar.
– O que vai te curar, Natsu? – Pergunto baixo. Ele parece furioso comigo, mas não sei o que eu fiz.
– Não sei, Lucy. – Seu tom ameniza, parecendo frágil. – Acho que as armas estavam com um encantamento diferente ontem, algo novo que impede a cura. Isso explicaria muita coisa, já que eu estava incapaz de me regenerar durante a luta.
– O que aconteceu? Ninguém me falou nada ainda.
– Caçadores e Silver.
Sinto uma pontada de culpa no peito e desvio o olhar, encarando o chão. Sinto meu canino rasgar a pele do meu lábio, devido à força que utilizo ao mordê-lo. Ouço alguns passos e logo, sinto o cheiro delicioso do corpo do rosado. Quero abraçá-lo, mas tenho medo de machucá-lo.
– Porque está machucada?
Natsu segura meu queixo entre o polegar e o indicador, erguendo meu rosto. Seus olhos varrem a minha pele, deixando-me constrangida. Quero lhe dizer a verdade, mas isso implicaria num desenrolar gigante. Minha cabeça dói e estou sem paciência para esse tipo de conversa.
– Andei praticando um pouco, vá que precise me livrar de você em um momento. – Falo brincando, tentando fazê-lo rir ou soltar alguma piada sobre minha fraqueza, mas seus dedos abandonam minha pele e seu rosto permanece sério. Acho que piorei nossa situação.
– Entendo. – Diz.
– Não foi o que eu quis dizer...
– O que quis dizer? – Seu rosto está próximo do meu, impedindo-me de desviar o olhar. Não me toca em nenhuma parte, mas sinto a energia emanar de seu corpo.
– Que preciso saber lidar com você... caso precise fazê-lo parar. – Bom, pelo menos isso era uma meia verdade. – Mas pelo visto, você já quer “parar” totalmente, não é?
– Não quero. – Sua mão direita encaixa-se perfeitamente na minha nuca, segurando algumas mechas do meu cabelo. – Mas era o certo a se fazer.
– Por quê? – Pergunto intercalando o olhar entre seus olhos e seus lábios.
– Nós dois juntos... isso vai ser complicado. Mesmo que você não queira se abrir comigo, agora, eu vou fazê-lo com você. – Seu polegar acaricia minha bochecha, enviando uma onda de choque pelo meu corpo. – Estão desconfiando de mim, posso sentir isso. Vão ir atrás de você parar averiguar e será um inferno se decretarem que sim.
– O que poderiam decretar que sim? – Paro meu olhar no seu, vendo aquelas belas orbes negras cintilarem.
– Acho que não merece saber ainda. – Finalmente, aparece um sorriso em seus lábios e sinto minhas pernas amolecerem. – Vão tentar nos usar, vai ser divertido, talvez. – Ele dá de ombros e eu balanço a cabeça.
– Não é divertido usar outras pessoas, Natsu.
– Você não está me usando? – Seus lábios roçam os meus e sinto seu hálito quente contra minha pele. – Porque estou me divertindo com isso.
– A usada aqui sou eu. – Falo aos sussurros.
– Acho que você já está a um patamar acima de mim, Lucy. Não tenho controle sobre você. – Seu rosto se afasta, encarando-me melhor. Seu polegar segue acariciando minha bochecha, em um ritmo lento.
– Diga-me, Natsu... se beber de mim, agora, irá ficar melhor? – Minhas bochechas queimam e o sorriso canalha que ele me lança dá-me mais vergonha ainda.
– O que te faz pensar que é diferente das outras? Que é especial? – Sua mão abandona meu pescoço e sinto um frio na pele. Natsu cruza os braços, claramente divertindo-se com a conversa.
– Eu sei que sou diferente, sinto que você me acha especial. – Falo fazendo bico, indignada com tal conversa.
– E se eu disser que te trato como faço as outras? Não se iluda. – O sorriso sacana dança em seus lábios e desejo ardentemente arrancá-lo.
– Desculpe, Natsu, mas não consigo ver verdade nos seus olhos quando fala algo do gênero. – Ele ergue uma sobrancelha, como se me desafiasse a continuar. – E... bom, acho que você ganha mais comigo, do que com elas.
– Repito... – Seu indicador passeia pela minha clavícula, sobe e desce pela pele do meu pescoço até terminar sobre meus lábios. – O que a torna especial?
– Sou boa de cama? – Sorrio.
Sua risada aquece meu peito, mas a careta de dor que ele faz deixa-me mais nervosa. Ele parece um homem que apanhou para um grupo violento, não um demônio com regeneração rápida. Acho que terei que perguntar à Silver o que está acontecendo, até porque ele estava lá.
Ele também é responsável pelos ferimentos de Natsu.
– Então me peça para bebê-lo. – O rosado retira o pano sujo de seu ombro e o joga para a mesa com a maior naturalidade. Como ele pode ficar tão bem em qualquer situação?
– Não irei mandar em você. – Digo seriamente. – Natsu, faça o que achar certo fazer. Qualquer coisa, desde me tocar ou beijar-me, só irá acontecer se você quiser. Não mandarei em nada, pois não sou sua dona. Assim como você não é o meu.
– Não está com medo? – Um sorriso ainda maior surge em seus lábios. – Pelo que me lembro, a última coisa que prometi a você é deixá-las sem andar.
– Com seu corpo nesse estado? Sério? – Balanço a cabeça. – Nem cócegas.
– Provocativa. – Ele começa a abrir os botões da minha camisa, sem desgrudar os olhos dos meus. – Não imagina quão grande é minha determinação. E, acredite, ela me dá muita força pra fazer o que quero.
Quando o último botão deixa sua casa, o rosado tira minha camisa de forma lenta, parecendo gostar da minha espera. Coloca as mãos em meus ombros e empurra o tecido da camisa, fazendo-a escorregar pelos meus braços e ir até o chão. Seus olhos observam alguns roxos espalhados pela minha barriga e posso ver um pingo de raiva neles. Não consigo interpretá-lo, mas qualquer que tenha sido o pensamento, Natsu deixou de lado para beijar cada um dos machucados.
De início, surpreendo-me com a forma carinhosa que ele roça seus lábios na minha pele, sentindo sua língua umedecê-la uma vez que outra. Quando sobe da minha barriga para meu pescoço, ele mordisca a pele sem rompê-la, enquanto suas ágeis mãos vão ao sutiã para desabotoá-lo. Meus seios estão livres do tecido, mas um deles fica preso sob a mão do rosado.
Com o indicador e o polegar, ele aperta e puxa o bico, que fica mais eriçado a cada segundo. Seus lábios finalmente encontram os meus, mas não há ferocidade, nem urgência. A calma que Natsu transmite não consegue preencher-me, pois meu corpo treme em expectativa. Sei que ele sente isso, a minha vontade ardente de tê-lo por completo, sendo o que nasceu para ser e não um cara carinhoso.
Sua língua percorre a minha, indo e vindo, enroscando e soltando várias vezes seguidas. Sua mão livre entra por baixo da saia, agarrando minha polpa. Até mesmo ali há carinho, nada de apertos excessivos e doloridos. Na verdade, a única área dolorida é minha intimidade.
– Está doendo, não é? – Sua boca avança para meu lóbulo, chupando-o e ofegando em minha orelha. Em uma pausa, continua: – É porque está muito excitada.
Seu dedo passa por minha intimidade por cima da calcinha, causando-me arrepios. Estou tão molhada que nem sinto o tecido da calcinha, estando sensível apenas ao toque dele. Quando resolve tirá-la, sinto o vento gélido que toca minha região íntima, tomada pelo calor. Meus olhos estão fechados, pois permito-me sentir apenas o corpo de Natsu; suas mãos apalpando-me levemente e seus lábios espalhando os beijos pela minha pele nua.
Ele afasta minhas pernas o suficiente para, agachado, ficar com o braço entre elas. Seus dedos brincam ao redor da minha entrada, mas quando abro os olhos, encontro os olhos ônix queimando de ansiedade. Antes que o impeça, sem tirar seus olhos dos meus, sua boca cobre-me e sua língua domina minha intimidade. Gemo pelo prazer que me proporciona, segurando seus cabelos róseos com força. Meu corpo treme enquanto meu clitóris é agitado pela língua ligeira dele.
Quero vê-lo fazer, mas o tecido da minha saia cobre metade de seu rosto. Quando seus olhos param de encarar-me, esconde completamente seu rosto com minha saia e aí o prazer foge do controle. Os dedos dele penetram-me rapidamente, fazendo com que eu gema cada vez mais alto. Os dentes do Natsu não chegam a cortar minha pele sensível, mas mordiscam e puxam. Está tão controlado que não parece o mesmo demônio urgente de dias atrás.
Estou totalmente dolorida naquela região e agora entendo quando ele diz que é pela minha excitação, pois cada vez aumenta mais, até que meu corpo dá os sinais de orgasmo. O sexo oral é interrompido logo que solto um grito pré-orgasmo, sendo esse, parado também. Meu peito sobe e desce, minhas pernas tremem e procuro um lugar ao qual me apoiar. Estamos no centro daquela bagunça toda e Natsu não parece se importar.
Quando ele fica de pé, vejo os resquícios da sua presença lá embaixo, vendo-o com os lábios, nariz e queixo brilhando pela umidade prazerosa que possuo. Sua língua lambe o redor de seus lábios e os mesmos avançam contra os meus. Finalmente, sinto o gosto de sangue em minha boca. Natsu parece mais descontrolado agora, pois meu lábio inferior lateja com a sucção forte dele. Sou empurrada até uma parede, sendo pinicada por algumas ferramentas penduradas.
Sinceramente, não me importo.
Levo minhas mãos até o abrigo de Natsu, abaixando-o junto com sua cueca. Ele me ajuda a retirá-los, mas impede minhas mãos de chegarem ao seu órgão. Seu corpo pressiona o meu e sinto aquele membro rijo contra minha barriga. Natsu ofega e finalmente solta meu lábio, que está dolorido pelos cortes que foram feitos. O punho dele atinge a parede com força, causando a queda de algumas ferramentas e a quebra de parte do concreto. Fico assustada e olho para aquela mão, mas a outra logo segura meu queixo e puxa-me para outro beijo.
Nada mais é carinhoso ou calmo. Sinto seu corpo tremer e seus ofegos de dor e prazer contra meu rosto. Quando o olho nos olhos encontro-os vermelho-sangue, com a orbe completamente negra. Lembro-me do primeiro dia que o deixei beber de mim, que estava com a mesma expressão. Mais um punho contra a parede e sinto o farelo do cimento cair sobre meu ombro. Está tentando manter-se no controle.
E nem estamos transando.
Ele vira-me de costas para ele e espalmo as mãos contra a parede, para evitar que meu rosto bata. Sinto seu braço vir entre meus seios e sua mão encaixar-se no meu pescoço. Há um leve aperto e tenho medo de ficar sem ar, mas lembro-me que ele não seria capaz de ser tão extremo.
Ou seria?
Natsu demora a fazer algo, mas quando o faz, é de forma calma. Penetra-me lentamente para depois, levar a outra mão para minha barriga, escorregando até que seus dedos encontrassem meu clitóris. Junto com o vai e vem, ele masturba-me de maneira deliciosa, fazendo com que eu solte gemidos e empine minha bunda contra seu corpo. Seus dentes perfuram meu ombro e sinto algo escorrer pela minha pele, supostamente meu sangue.
Ouço-o rosnar e a mordida fica mais feroz. Meus seios pulam com o movimento, mas seu braço fica imóvel contra minha pele, segurando meu pescoço firmemente. Falo seu nome várias vezes e sinto-o retribuir-me com apertos e sugadas mais fortes. Quando estou sentindo o incomodo de seu aperto em meu pescoço, ele alivia. Por incrível que pareça, ele parece se dar conta do que está acontecendo antes que perca a linha.
Mas, em compensação, suas estocadas estão sem pausa, com o ritmo forte e rápido continuamente. Ouço o som da entrada e saída consecutivamente, junto com minhas gemidas. Tento não gritar, pois sei que causaria um alarde. Não quero que Gray venha até aqui, mas, ah, é tão difícil manter o controle da minha voz.
Mordo meu lábio, sentindo o gosto do sangue que ele libera. Controlo meus gritos e isso provoca Natsu. Ouço-o gemer e suas mãos abandonam seus antigos lugares para irem a minha cintura, onde ele puxa-me sem piedade contra seu órgão pulsante. Meu corpo fica cada vez mais inclinado para frente, sendo vencido pelo cansaço da posição. Sem perceber, estou quase de quatro, apoiando-me ainda na parede. Olho-o por sobre o ombro e encontro um rosto contorcido, mas não sei dizer se é prazer ou dor.
Talvez os dois.
Suas bandagens não estão mais brancas. Há apenas o vermelho escuro de seu sangue. Quero pará-lo, mas Natsu não se dá por vencido. Quando solto o grito do orgasmo, ele não me dá tempo para respirar, puxando-me para seu colo, de frente para ele. Não estou encostada a parede, mas mesmo assim, ele me mantém no ar, enfiando todo seu órgão dentro de mim. Não tenho forças para deixar minhas pernas em volta a sua cintura, sendo mantida daquela forma apenas pelos músculos de Natsu.
Meu seio é capturado pela boca dele e logo é chupado violentamente. A dor, porém, não é incômoda. Deixa-me mais ativa e seguro sua nuca com minhas mãos. Minhas unhas arranham sua pele e sinto a presença de um líquido sob elas. Ao olhá-lo, vejo o sangue escorrer pelo corte de seu pescoço, onde a bandagem não está mais presente.
Natsu geme alto ao penetrar-me com força. As mãos que me seguram deixam o local onde apertam, adormecido. Sinto-o fraquejar, fazendo com que nós dois nos direcionemos ao chão. O impacto não é muito grande, pois o rosado faz questão de proteger-me da queda. Ele está sobre mim e agarra minha perna para afastá-la ainda mais. Estou totalmente dolorida com as investidas rápidas dele, mas não quero que pare. Gemo alto para outro orgasmo, quando ele atinge seu ápice também.
Mas Natsu não para.
Coloca toda a sua força restante para penetrar-me mais ferozmente. Sinto a dor misturada ao prazer quando, vencida pela constante penetração deliciosa, gozo novamente. O intervalo é bem mais curto, mas sinto Natsu preencher-me outra vez. Agora, ele para e deixa o peso do corpo cair sobre o meu. Estamos ofegantes e suados, mas ele possui algo que, normalmente, seria apenas eu quem teria: sangue pelo corpo.
Passo as mãos pelas suas costas, sentindo várias cicatrizes estranhas sob as faixas empapadas com o líquido vermelho. Observo seu rosto contorcido de dor, sem saber exatamente o que fazer. Natsu não está olhando-me; seus músculos estão rijos e sua temperatura, febril. Chamo por seu nome repetidas vezes até vê-lo abrir os olhos lentamente. Ao contrário de mim, sua respiração está descompassada ainda e sua careta de dor não some.
– Natsu, você está bem?
Ele ofega e sai de cima de mim, ficando deitado no chão, de barriga para cima. Coloco as mãos em suas ataduras, ouvindo-o gemer de dor. As feridas, pelo jeito, abriram novamente.
– Seu idiota! – Falo irritada com a situação. Sinto os olhos molhadas, culpando-me por deixá-lo a chegar a tanto. É por isso que ele ofegava de dor vez ou outra; estava rompendo o que custara a curar.
– Acho... – Ele faz uma careta ao tentar apoiar-se nos cotovelos, sem sucesso. – Que quem ficou sem caminhar fui eu.
– Idiota... – Inclino-me sobre ele, olhando-o todo suado e dolorido. – Você não bebeu muito, por favor, quero que faça de novo para melhorar.
– Desculpe, mas minha determinação... – Um sorriso cansado surge no rosto. – ... acabou indo embora com essa merda de ferimento.
– Não quero transar de novo! – Resmungo. Quero socá-lo, mas não posso. – E não trate isso como um ferimento, são vários! – Olho ao redor, até encontrar algo afiado. Tento levantar-me, mas a região entre minhas pernas dói e minhas pernas fraquejam. Ouço a risada frágil do rosado e lanço-lhe um olhar irritado.
– Vem cá.
Sua mão toca meu rosto e puxa-me para perto, tocando seus lábios nos meus. O selinho dura alguns segundos até que o sinto puxar-me mais. Sua boca encontra meu pescoço, rompendo a pele e deixando que o líquido escarlate escorresse. Apoio-me no chão, deixando-o tomar a quantidade que quisesse. Minha visão está um tanto turva, mas não digo nada. O estado que ele está, realmente, é deplorável.
Imagino como estivera ontem.
Parecem segundos, mas sei que apaguei algumas vezes e recobrava a consciência mais outras. Natsu para de beber, possuindo a respiração mais controlada e a expressão amena, embora preocupada. Sento-me ao seu lado e coloco a mão na cabeça, tonta. Olho para seu corpo e encontro aquela imagem de sangue por todo lado. Como ele conseguiu perder tanto em pouco tempo?
– Não se preocupe. – Ouço-o dizer. – Assim como ontem, concentrei a regeneração para as partes mais importantes, pra evitar hemorragias. Pelo menos os ossos não voltaram a quebrar. – Há um riso no fim.
– Porque não está conseguindo se curar, Natsu? – Olho-o seriamente, vendo-o sentar-se com dificuldade.
– Não sei, Lucy. – Ele se inclina e deposita um beijo nos meus lábios. – Retiro o que disse antes. – Ele afasta um pouco seu rosto para olhar-me nos olhos. – Você, com certeza, é especial.
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