Eu: Srta. Kalas, a senhorita tem um instante? Preciso fazer uma pergunta.
Srta.Kalas: Pode entrar querida. Preciso apenas fazer um telefonema e já estarei livre para responder sua pergunta. Você se importa de aguardar um momento?
Eu: Não, pode demorar o tempo que precisar.
Enquanto ela gentilmente teclava os números com seus dedos finos e compridos, eu observava com atenção cada detalhe em sua sala. Era um cômodo pequeno, não tinham muitas coisas, até por que não tinha espaço para muitas coisas. Havia um armário próximo a porta, sobre o armário havia um porta-retrato com a foto de uma menina, que devia ter uns 5 anos aproximadamente, segurando no colo um bebê. Ao meu ver, deviam ser os afilhados de Srta. Kalas ou algo do tipo. Sua mesa era bem organizada. Bem a sua frente havia um laptop onde ela devia anotar todas as informações sobre a escola e digitar os bilhetes. Bem ao lado havia outro porta-retrato, novamente com as duas crianças, mas dessa vez elas estavam bem maiores, o garoto era meio estranho, usava um óculos redondo de lentes bem grossas, era magro, quase anoréxico e tinha os dentes bem tortos, mas dava para ver que ele estava bem feliz quando a foto foi tirada. A menina devia ter mais ou menos a minha idade e o menino alguns anos mais novo. Havia também uma caneca rosa com vários lápis e canetas dentro, uma impressora e obviamente o telefone em que ela fazia a ligação.
Srta.Kalas: Pronto, terminei.
Eu: Esses da fotografia são seu sobrinhos ou algo do tipo?
Srta.Kalas: Na verdade somos eu e meu irmão quando éramos menores. Essa foto de quando eu tinha 15 anos e ele tinha 10. Foi a última foto que tiramos juntos.
Eu: Última?
Srta.Kalas: Sim. Ele morreu dois meses depois que essa foto foi tirada.
Eu: E porque ele morreu?
Srta.Kalas: Suicídio. Ele era muito novo e sofria muito na escola. Eu tentava proteger ele, os valentões o chamavam de ''4 olhos magricela'' ou de ''escroto do dente torto''. A minha aula terminava 1 hora e meia depois da aula dele terminar. Todos os dias, quando o ônibus escolar me deixava em casa, eu saia correndo, as outras crianças davam risadas do jeito desengonçado que eu corria, mas elas não sabiam que eu corria porque queria ter certeza de que meu irmão não tinha se matado enquanto eu estava na escola. Certa vez eu fiquei uma semana sem ir à aula, e quando eu voltei as outras crianças perceberam. Eu tinha parado de correr.
Ela disse isso com os olhos cheios de lágrimas e dou toda a razão a ela, não devia ter sido fácil para ela perder um irmão sabendo que ele se matou por causa do que sofria. Eu sabia muito bem disso, porque muitas vezes senti a mesma vontade, mas eu aprendi a ficar forte, seguir em frente, e eu conseguia compreender o que aquele garoto sentira. Fiquei arrepiada com a história, e não era de menos, nunca ouvira algo parecido. Ela parecia não entender o por quê de o irmão ter feito o que fez, mas eu entendia.
Eu: Eu lamento Srta.Kalas, me desculpe por ter tocado nesse assunto.
Srta.Kalas: Não querida, não se desculpe. Eu me sinto melhor quando desabafo sobre isso. No dia 1 do mês que vem vai fazer 11 anos que isso aconteceu.
Ela limpou as lágrima de seu rosto com as costas das mãos e continuou a conversa como se aquele episódio não tivesse acontecido.
Srta.Kalas: E sua pergunta, é sobre a noite de talentos? Você tem alguma dúvida?
Eu: Bom, eu estava pensando em me apresentar...
Srta.Kalas: Ai que bom!!! Tenho certeza que você é muito talentosa.
Eu: Obrigada, mas nem tanto. E eu queria saber se eu podia fazer a apresentação com um amigo que não é da escola.
Srta.Kalas: O show é livre, você faz o que quiser e com quem bem entender.
Ela me deu um sorriso um tanto quanto motivador no final de sua frase, como se ela estivesse ansiosa para ver quem se apresentaria comigo e o que seria. Saí de sua sala muito contente. No meio do corredor tive outra ideia brilhante. Minha mãe devia ter colocado alguma coisa no meu cereal matinal, pois eu estava tendo chuvas de boas ideias.
Voltei para a sala de Srta.Kalas e da porta da sala falei:
Eu: O que pretendo fazer no show vai te deixar impressionada, e eu já sei a quem dedicar a apresentação - Eu dei uma piscadinha e ela percebeu que a dedicatória seria à ela.
Já tinha todas as ideias, o que eu ia fazer, com quem eu ia fazer, a quem iria dedicar e como iria fazer. Já estava tudo no esquema, só faltava saber se meu convidado ia aceitar o convite para se apresentar ao meu lado na Noite de Talentos.
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