História Whatever - A pior festa

Posso dizer que não sou uma pessoa que costuma sair muito, beber e pegar um monte de gente em uma festa, mas somente o fato de que essa festa é a oportunidade de conhecer outros youtubers, acho que seria capaz de ir em um salão só para poder ir.

Eu estava extremamente indecisa sobre o que vestir. Não tenho muitas roupas pra essas coisas, mas as que eu tenho já foram o suficiente pra me trazer a maior indecisão da minha vida. No fim, eu acabei escolhendo a mesma roupa que eu sempre uso para festas.

Fui pra sala esperar pela Luíza, que, como sempre, demora mais pra se arrumar. Liguei meu notebook que estava em cima da mesinha de centro e continuei a editar o ultimo vídeo que gravei.

Tempo depois, com o vídeo já sendo enviado, a Luíza aparece vestindo uma roupa que eu ainda não conhecia.

– Pronta? – pergunto me levantando.

– Yes! E tu?

– Quase.

Abaixei a tela do computador e peguei meu celular que estava do lado dele.

– Agora sim.

– Então vamos.

Saímos do apartamento e encontramos o carro do lado de fora do prédio, onde eu deixei mais cedo, já que não era pra demorar muito pra sairmos de novo.

Eu pensei que era eu quem tava ansiosa pra essa festa, mas durante o caminho todo a Luíza não parava de falar de como esperou pra conhecer os amigos do Coelho e que só piorava por eles serem youtubers.

Por um momento ela pareceu chateada por eu ter que estar aqui pra isso acontecer, já que eu também sou youtuber. Mas logo ela se animou de novo, então nem comentei.

Quando chegamos na frente da casa, me assustei um pouco. Pessoalmente ela é bem maior do que parece pelos vídeos.

Eu congelei, tava nervosa e cheguei a pensar em desistir.

– E-eu acho melhor n-não... Por que a gente não volta? Nem é tão importante assim, sabe – falei com as mão ainda grudadas no volante.

– O QUE? Ta falando sério? Vamos logo! A gente ta perdendo a festa – conseguíamos ouvir a música alta vinda da casa.

– Eu não sei... Tem certeza? A gente pode assistir um filme, eu faço a pipoca! Ou a gente pode ir no cinema.

– Se tu não vai, eu vou! Tchau – ela sai do carro.

– Me espera! – também saio seguindo ela pra dentro da casa. – Espera Luíza!

Quando percebi, já estávamos dentro da casa, paradas na frente da porta, encarando vários youtubers, alguns dançando, outros bebendo e alguns só conversando.

Vi de canto de olho a Luíza abrir um sorriso enorme, enquanto eu não parava de tremer. Era um sentimento de nervosismo e vergonha misturados.

Nunca me senti confortável perto de pessoas que eu não conheço. Sempre que sinto a possibilidade de estar sendo observada pelas pessoas, eu fico com vergonha. Começo a tremer e mordo a parte de dentro do meu lábio inferior. E eu me encontrava nessa exata situação.

Não sei por quanto tempo eu fiquei ali parada, também não sei quando a Luíza saiu do meu lado, mas queria ter ficado ali.

– Ei, Vihtória! – voltei à realidade com o Coelho me chamando. – Quando chegou? E cadê a Luíza?

– Ah, er... E-eu não sei – minha voz tremia.

– Vem! Vou te apresentar pra galera – ele me puxa pelo pulso pra perto de um grupo de garotos conversando. – E aí, gente! Essa aqui é a Vihtória, ela mora com uma amiga minha, quando eu achar ela apresento pra vocês.

– Tu não é aquela garota do canal Whatever? – falou um garoto que parecia já estar meio bêbado, que eu reconheci como um youtuber, mas não tinha certeza de quem.

– Esse é o Júlio, do Canal Canalha – ele acena com a mão. – E esse é o Damiani e a Satty, namorados.

– Oi – falou a Satty sorrindo, com o Damiani a abraçando.

– E esses são o Luba, o T3ddy, o Calango e o Polado, que divide a casa comigo.

– É-é, eu conheço e-esses últimos.

– Ta tudo bem? – o Luba perguntou.

– Ahn? É, ta tudo bem. Eu acho – sussurrei a ultima parte.

– Ta, eu vou apresentar ela pro resto do pessoal, já volto.

O Coelho volta a me puxar, pra outro lado. E no grupo que ele me levou agora, tinha o loiro e o moreno que eu mais tenho encontrado ultimamente.

– Beleza? Essa é a Vihtória, ela também é youtuber, se mudou pra cá não faz muito tempo.

– É, a gente já se conheceu – o Rafael falou e o Felps apenas confirmou com a cabeça.

– Mas a gente não. Zelune, prazer – ele estende a mão e eu aperto.

– Flávia – falou com um sorrisinho de lado.

– Eu sou o Alan – ele me deu um aceno curto e rápido. – Eu conheço o teu canal, Whatever, não é?

– É, eu t-também conheço o c-canal de vocês.

– Mudando de assunto, como vocês se conheceram mesmo? – Coelho voltou na conversa.

– Pegamos o mesmo voo pra cá, e ela e o Felps moram no mesmo prédio.

– Ah tá. Bom, eu vou indo. Acho que com as garotas tu consegue sozinha, certo? – assinto e ele sai, me deixando sozinha com os outros cinco.

– Er, bom, eu vou procurar a minha amiga. Até mais.

Enquanto procurava pela Luíza, falei com mais duas meninas. A Kéfera e a Maddu. As duas são bem legais, mesmo que tenhamos conversado pouco, já que meu objetivo principal era a Luíza.

Fiquei andando um tempão sem saber onde ir. Quando finalmente achei a Luíza, tive a brilhante imagem dela vermelha de vergonha, sendo paquerada por um cara qualquer. Fiquei olhando por um tempo, mas resolvi não atrapalhar.

Fui para o bar que o Polado tinha contratado pra festa e pedi a melhor bebida que tivesse. Uns três copos depois já me sentia meio tonta e minha cabeça doía pela musica alta.

Depois do sexto copo, percebi alguém sentando do meu lado e pedindo o mesmo que eu. A voz foi familiar, mas já estava bêbada o bastante pra não assimilar de quem é.

– Ainda não se enturmou? – ele falou de repente.

– Ahn? O que disse? Desculpa, eu não ouvi.

– Perguntei se ainda não fez amigos – me virei e dei de cara com Rafael. Esse cara ta me seguindo?

– Ah, não. Não me dou muito bem com estranhos.

– Mas tu não tem problemas comigo, ou tem?

– Não, mas do jeito que ta não somos mais estranhos – ele sorri e eu viro pra frente, percebendo o que falei. Peço mais uma bebida, uma diferente, dessa vez.

– A gente ta quase lá – ele fala ainda sorrindo. – E vou dar o meu melhor pra chegar o mais rápido possível – franzi o cenho.

– Olha, a gente não se conhece direito. Conversamos só 4 vezes, contando essa. Eu não sei nada sobre ti e tu não sabe nada sobre mim. Não sei o que tu quer, mas não vai rolar – me levantei com o copo na mão e voltei a procurar pela Luíza.

Depois que eu sai, me senti mal pelo que falei, foi meio babaca. Mas continuei sem olhar pra trás, depois falo com ele.

Encontrei a Luíza sentada no meio da pista de dança. Fui até ela e a puxei pelo braço, a colocando de pé.

– Por que sumiu daquele jeito? Me deixou sozinha!

– Vai fazer os teus amigos, eu já fiz os meus – apontou para um grupo de pessoas dançando mais pro lado.

– Obrigada por me deixar – revirei os olhos. – O Coelho tava te procurando.

– Eu já falei com ele. Agora eu vou voltar a dançar, vai lá fazer uns amiguinhos.

Ela se virou e voltou a dançar. Eu voltei pro bar, e me surpreendi ao ver que Rafael não estava mais ali. Me sentei e pedi mais uma bebida.

Depois de alguns outros copos, já não era mais consciente do que eu fazia. Falava coisas sem sentido, que nem eu entendia.

Mas o meu maior erro foi decidir ir dançar. Naquele segundo toda a vergonha que existe dentro de mim se foi, não ligava pra mais nada.

Quando começou a tocar Mi Gente, eu larguei o copo que eu segurava e fui pra pista de dança.

Me espremi no meio de algumas pessoas e comecei a dançar, sem ritmo nenhum ou se quer de acordo com o estilo da música, já que eu rebolava. Coisa que eu não sei fazer, então provavelmente estava ridículo.

Pouco tempo depois as pessoas já se afastavam para me assistir passar a maior vergonha da minha vida.

Além de dançar horrivelmente, eu cantava junto com a música. Muito desafinada, errava a letra e provavelmente as pessoas perto de mim sentiam meu bafo de álcool.

Chegou um ponto em que ninguém mais ligava pra mim, faziam outras coisas enquanto eu só passava vergonha.

Mas eu não tive fôlego suficiente pra continuar dançando, então eu fui beber mais. E eu não lembro de mais nada depois disso.