O clima na cobertura estava extremamente pesado. E quem entrasse, pensaria, sem sombra de dúvidas, que ele estava vazio. Porém, na sala, iluminada pelo céu nublado e que se anoitecia de Nova Iorque, garrafas e filtros espalhados se encontravam espalhados pelo chão. As luzes eram inexistentes, dando ênfase à uma silhueta sentada no chão, encostada à borda do assento do sofá, olhando fixamente para as outras silhuetas dos prédios em frente.
Essa silhueta sentada pertencia a Alec, que havia acordado e pegando todas as bebidas presentes na casa. Um Alec melancólico, pensativo e até mesmo choroso. Ele já havia perdido a conta a quantas cervejas haviam sido esvaziadas e até se surpreenderia, se ele tivesse cabeça para pensar nisso, com cada cerveja que ainda lhe restava. Numa mão, a garrafa. Na outra, o cigarro, sendo esse o terceiro maço que ele abria em menos de uma hora.
Sendo sincero, ele já não sabia o que o atingiu tanto. Certo, a discussão com Magnus havia dado uma grande ajuda a sua tristeza e a sua dor de cabeça. Mas ele sabia que a sua reação havia sido bem exagerada. Então, parte de sua dor podia ser o fato dele ter sido tão bruto com alguém que ele realmente estava gostando e a certeza que Alec tinha de ter posto um ponto final na relação ou amizade deles. Afinal, ele conhecia Magnus o suficiente para saber que sua personalidade era maravilhosa o suficiente para ele não ter de aguentar tais reações da sua parte. Além de que Magnus já havia aguentado muito mais tempo que Alec alguma vez imaginaria.
Sua cabeça estava numa confusão tremenda.
Mas, seus pensamentos foram interrompidos pelo som do seu celular, que estava pousado no chão à sua direita, perto das garrafas ainda intactas. Sem muito esforço, Alec pegou seu celular e, sem energia para ver de quem se tratava, apenas atendeu a ligação, ouvindo a voz de Isabelle soar do outro lado da linha.
- Cadê você?! - Seu tom de voz era agressivo e quase nem soava como uma questão. Sem nenhuma dúvida, Alec pode deduzir que Izzy estava bem irritada. - Max ficou a tarde toda te esperando. - Falou ela, fazendo Alec lembrar do encontro com Max.
Sem energia para mais, devido ao cansaço e, até mesmo, à sua embriaguez, Alec apenas fechou os olhos, pedindo que aquele dia não passasse de um pesadelo. Porém, a mais pura realidade é que ele havia fudido com tudo e todos em menos de dez horas. - Eu esqueci… Mas… eu j-juro que vou compezar ele, Izzy. Sério, dessa vez, eu… n-ão fiz por mal… - Tentar formular ele, com dificuldade.
Suas palavras saiam cortadas, algumas delas até pronunciadas errado. Calculando cada detalhe da voz e das falas de Alec, Isabelle não demorou muito para entender o que havia rolado. - Eu não acredito que você deixou seu irmão para beber. Mas que caralho! Uma chance, você tinha uma nova chance para te reaproximar dele e ‘cê fode tudo por bebida?!! - Gritou Izzy, sem sinal de paciência. - Você não tem jeito, eu desisto de te ajudar. Bebida, drogas. Tudo é melhor para você do que a sua própria família. Eu desisto de você, Alec. - Continuou. - ‘Cê tá me escutando?! - Questionou ela, cansada de ouvir o silêncio do irmão. - Deixa pra lá. Foda-se você. Destrua a sua vida se quiser, quer dizer mais do que ela já está. Eu vou cuidar da merda que você fez. ‘Cê tem noção do quanto animado ele estava, Alec? Não, né? Claro que não, afinal você nem sabe o que é isso. Alegria. - Falou ela, fazendo Alec derramar mais uma lágrima e colocando seu celular no chão, já que, mais sem estar no viva-voz, a voz de Isabelle se ouvia claramente. - Eu cansei, Alec. Sempre que a gente tenta ajudar você, ‘cê sempre encontra um jeito de arruinar tudo… Mas eu não vou deixar você foder com a vida e a alegria de viver do Max como você fez com a minha. Eu cansei! - Finalizou, desligando, em seguida.
Quem? Quem havia dado a Alec a oportunidade de acordar naquele dia? Alec não podia odiar mais a pessoa ou o ser que havia permitido tal coisa… Depois da discussão com Magnus, Alec não teve cabeça sequer para se lembrar que devia ter levado Max ao cinema, assistir algum filme da Marvel que ele tanto ansiava. Isso nem havia passado pela cabeça dele. Mas quem era ele para discutir com Isabelle? Afinal, há quanto tempo ele não honrava seus compromissos? O quanto ele podia foder o que estava se remendando pouco a pouco?
O quanto aquele dia o levaria para o fundo da fossa?
Entre bebida e cigarro, alguns minutos se passaram, suas lágrimas ou pensamentos auto-destrutivos nunca cessaram, no entanto. Foi então, que o interfone soou pelo apartamento, fazendo Alec lembrar de Raj, que havia alugado seu apartamento para sua festa idiota. As lágrimas de tristeza se tornaram lágrimas de raiva, sua raiva passou a desespero e vários pedidos sussurrados para que tudo terminasse e que aquele interfone parasse de tocar.
Então, ele se levantou, sentindo seu corpo balançar, embriagado. Porém, ao invés de caminhar até o interfone, ele pegou seu celular e suas chaves do carro, saindo pela porta dos fundos. Ele desceu alguns andares, cambaleando e fazendo o máximo para se manter de pé, com a ajuda do corrimão. Ao chegar no décimo primeiro andar, ele desistiu das escadas e pegou um pequeno elevador, pouco usado, apenas no caso de avaria do principal, e desceu até o estacionamento traseiro. Atordoado, ele andou até o seu carro, jogando seu celular para o banco do carona, ligando o carro e saindo com ele, fugindo dos gritos de Izzy que ainda ecoavam pelo apartamento, da sua marca na parede e do interfone que nunca se calaria nessa vida. Mesmo bêbado, ele fazia o possível para dirigir seu carro, mas o vai e volta que ele fazia de esquerda para a direita na faixa dificultavam a tarefa, obrigando os carros na contramão a se afastar para suas direitas, evitando o choque.
Já Alec não sabia direito para onde ia, apenas seguia um itinerário preso na sua memória, fudido demais para sequer se importar com os policiais que poderiam estar nas ruas. Alec havia desligado todo o seu bom senso, ou a sua vontade de sobreviver até. Ele só queria fugir de tudo e todos. Talvez até cheirar ou engolir algo que o levasse para bem longe daquele mundo. Para onde tudo parecia mais bonito, para a alegria que ele nunca conseguiu ter sóbrio. O que poderia ele fazer? Ficar escutando tudo, vivendo aquilo tudo e sentindo aquilo tudo, sem um único comprimido ou uma única gota, e esperar estar vivo ao fim do dia? Nah, isso já era pedir demais dele. Aliás, o máximo que ele poderia oferecer às pessoas, que diziam o amar, era o fato de ele ainda viver, já que, se dependesse dele, esse seria um problema resolvido há bastante tempo já.
Ele sabia o que todos pensavam dele: o pobre garoto herdeiro de uma família e empresa milionária que já não sabia o que fazer ao seu dinheiro. Mas quem entre eles todos sabiam da sua pressão? Dos abusos verbais que ele aguentou quando crescia? Com os olhares de desprezo de seus pais? Com a solidão? Com os sentimentos e emoções tão negativos naquela idade? Da morte de seu melhor amigo por culpa dele? Da ruína que ele foi na vida de todos os que o amavam? No descaso de seus pais que o viam apenas como um instrumento para gerir uma empresa, esquecendo totalmente da sua infância? Das comparações? Das punições? Sabiam eles que o “herdeiro” nunca teve acesso a um centavo da fortuna, tendo de alugar a própria casa para manter seus vícios? Da culpa que ele carregava por ter tido uma overdose na frente do seu irmão de menos dez anos? Das idealizações de terminar a vida que Alec tinha todos os dias, desde a sua adolescência?
Talvez até tivessem razão. Talvez nada passasse de um capricho sem fim. Mas isso só fazia Alec odiar ele mesmo ainda mais. Como podia ele ousar zombar e se apropriar de problemas tão sérios? Como podia ele arruinar a vida de sua família por um mero capricho? Talvez sua mãe estivesse certa e ele fosse inútilmente fraco e um atraso na vida deles. Afinal, mães sentem um amor incondicional pelos seus filhos e nunca mentiriam ou os fariam sentir assim, né? O amor materno sempre era verdadeiro, não é mesmo? É o que diziam todos os livros, comerciais e… bem… tudo. Que a família vem primeiro e que o amor da família sempre prevalece… Quem mentiria desse jeito…
Afinal, aqueles pais que arruinaram a vida de seus filhos, só estavam fazendo o melhor para eles. Aquele filho que destruiu seus pais apenas os amava incondicionalmente. E a gente sempre deve perdoar sua família, afinal todos temos um mau dia, não é mesmo…
Mesmo que isso te marque para o resto da sua vida… engraçado…
Mas, no meio de sua crise existencial, algo em Alec disse para parar o carro. E ali ele viu. Era apenas um bar comum, mas ali estava a cura para a dor de Alec. Ele sentia alguns olhares sobre ele, mas apenas associou a sua típica paranoia quando se encontrava em público e caminhou para dentro do estabelecimento, até o bar, sendo mais exato. Ao se sentir, ele viu o barman o olhando de lado, julgando a sua embriaguez, provavelmente, mas lhe entregando o shot de tequila que Alec pediu ao chegar, que o pegou e desceu de uma única vez.
- Calma aí, campeão. Seria horrível ver você desmaiar. - Disse uma voz à sua direita, fazendo Alec o olhar, lentamente. Sentado à sua esquerda, estava um homem mais ao menos da sua altura, não que Alec estivesse em posição de pensar muito. Seus cabelos eram ruivos e seus olhos estavam muito longe para que Alec conseguisse identificar, mas pareciam claros. Ninguém que Alec conhecesse, ou pelo menos que se recordasse. - Desculpa, eu não queria me meter na sua vida. Erro meu. - Se desculpou o desconhecido, mal interpretando o olhar fixado de Alec.
- É o deporto preferid-do de todo mundo, a.. parentemente. - Respondeu Alec, olhando para o copo de shot vazio, fazendo sinal para o barman. O desconhecido o analisava e, por mais que tenha se desculpado, tentando mostrar algum charme de good boy, Alec sentia que era um daqueles que não valia absolutamente nada. Nem um dólar. - humm… me acom...panha? - Propôs Alec, indicando o shot recém preenchido pelo barman.
Depois de um sim, falsamente hesitado, Kevin, o sujeito que acompanhava Alec, se aproximou do mesmo pedindo algo que Alec não entendeu, mas que na prática era incrível: uma placa de um metro repleta de shots de diversas bebidas, entre elas tequila, vodka, whisky. Pelo que Alec entendeu, era uma especialidade da casa, que, definitivamente, ficaria na lista de bares de Alec, no caso de ele se lembrar de algo no dia seguinte.
Dito e feito, as únicas lembranças de Alec eram os dois bebendo e rindo. Então ele acordou. Num quarto que, definitivamente, não era o seu, escutando uma respiração que não era a sua. Do seu lado, cem por cento pelado, assim como ele mesmo, estava o cara do bar. Alec se deu conta que esse sujeito havia esperado a noite toda para o levar para a sua casa, esperando que Alec estivesse o mais bêbado possível para nem perceber. Alec não se importava. Quer dizer, se fosse outra pessoa ali, bem no lugar dele, ele acentuaria o quanto aquilo era errado e reprimível, até mesmo pela própria lei, mas algo em Alec o impedia de se achar uma vítima, ele tinha um sentimento de autopunição presente há anos.
Apesar de tudo, tanto o que aconteceu, quanto a dor de cabeça extrema que Alec sentia, ele ainda pensava na decepção de Magnus, Max, Izzy, Raj e todos os outros que poderiam ter conhecimento dos eventos do dia anterior. Assim sendo, ele não tinha reais forças para se levantar. Sua cabeça viajava, se desprendia da realidade, usando como válvula de escape à realidade a lembrança de momentos que poderiam ter sido felizes graças a escolhas diferentes das tomadas na época. Entre elas, estavam várias memórias de Carter, mas outras de Logan, pessoa que Alec considerava, hoje, aquele que poderia o ter ajudado a caminhar um caminho saudável ou, pelo menos, menos tóxico. Ele que sempre quis realmente saber como Alec estava, apesar da barreira que Alec insistia construir por volta dele, que guardaria seus segredos, que decidiu se afastar para não ver seus amigos pulando do penhasco que levou um deles à morte e o outro ao poço donde não consegue sair até hoje.
Então, ele apenas caçou suas roupas pelo chão da casa de Kevin, calçou seus sapatos e saiu, deixando o ruivo pelado, e ainda adormecido, para trás na sua cama. Ele vagava pela rua, que percebeu ser do lado do bar da noite anterior. Sua enxaqueca o impedia de abrir os seus olhos, que eram feridos pela claridade do sol. Estando perto do bar, Alec não hesitou ao caminhar até seu carro, onde ficou sentado, de cabeça apoiada no banco, tentando fazer sentido de seus pensamentos. Flashbacks de episódios sem sentido passavam pela sua mente, o sentimento de vazio se instalou de novo, seguido por um rugido de raiva que o consumia por dentro. O ambiente foi preenchido por um som emitido pelo seu celular, chamando a atenção para numerosas chamadas perdidas de Raj, provavelmente questionando o seu paradeiro e exigindo todos os cêntimos investidos ao lugar e organizar sua festa. Dinheiro esse que Alec não tinha, após ter gastado em vícios e compras sem sentido. Constatando que essa seria a última coisa que Alec gostaria de resolver nesse momento, ele apenas jogou seu celular para o banco de trás, se aconchegando mais no banco, deixando claro o seu desejo e sua necessidade de conforto que ele nunca teve.
Porém, mais uma vez, as imagens de Magnus o invadiam, e, com elas, várias questões: será que ele exagerou? Será que Magnus pensava que realmente tinha algo de errado com ele? Será que Magnus achava ele louco? Será que ele realmente tinha razão? Talvez essa fosse a ajuda que ele tanto esperava… Isso o deixava confuso e sem ter a menor noção do que fazer no momento. Assim, ele apenas ligou o carro e saiu pela cidade. Alec não tinha a certeza do destino dele, talvez fosse apenas uma maneira de arejar as ideias, de botar a cabeça no lugar, para, então, ser apto a resolver algo na sua vida. Porém, o instinto dele o mandou parar o carro e o mesmo assim obedeceu.
Ele passou um tempo fora de si, mas, ao olhar para o lado direito, viu um prédio bem familiar. Ele tinha quatro andares com uma fachada que lembrava bem tempo não tão longínquos na sua memória. Suas paredes exteriores tinham um tom atijolado, com o seu alaranjado mais visível devido a uma renovação bem recente. Umas escadas de incêndio davam acesso da rua a janelas, enquanto a porta de entrada era banhada numa tinta vermelha, também recente, sendo ela situada no alto de cinco pisos formando a escada de acesso à entrada. Ao olhar em volta e, logo de seguida, o número da porta, sendo ela o 75, Alec se lembrou dos tempos antigos, onde ele fugia do colégio com Logan e corria para a casa do mesmo para brincar até o último minuto possível, antes de voltar ao colégio onde o assistente de seu pai o buscaria. A onda de nostalgia não durou muito, já que, sob seus próprios olhos, a porta vermelha se abriu, deixando passar um homem de vinte e poucos anos, vestindo o uniforme do departamento de polícia de Nova Iorque. Quem diria que depois de tantos anos, Logan não havia mudado nada…
Mas, aparentemente, a mesma constatação havia sido feita do outro lado também. Já que Logan não parecia ter tido alguma dificuldade em reconhecer o antigo amigo, que as decisões da vida fizeram questão de os afastar. Os dois se encaravam e nenhum tinha realmente a coragem de dar o passo e iniciar uma conversa. Provavelmente, pelo clima desconfortável que ficaria, mas também porque nenhum tinha realmente a certeza do que dizer. Foi então que o amigo de longa data do jovem Lightwood se iniciou.
- Há quanto tempo… - Falou Logan, tentando quebrar o silêncio mortal e o desconforto que incomodava ambos.
- É… - Respondeu Alec, deixando o silêncio voltar a se instalar. Ele se questionava o porquê de ter ido ali e, se fosse qual fosse a razão, Alec estava seriamente arrependido. A vida de ambos havia seguido rumos totalmente diferentes e ele talvez não soubesse como lidar com isso. Ver seu amigo de anos atrás ali, seguindo um rumo com a sua vida, enquanto ele estava ali, mais perdido que um cego em tiroteio… Porém, Logan foi em quem ele confiou primeiro, quem nunca o desiludiu. E ele realmente estava necessitando uma luz no fim do túnel… - Será que… hum… será que a gente pode conversar? - Pediu Alec, olhando para o chão, se sentindo cansado, até mesmo derrotado.
Logan demorou para dar sua resposta. Parecia que um filme passava por sua cabeça e, depois de tanto tentar ajudar seus amigos no passado e ser ignorado, pensou em recusar e continuar com a sua vida como havia feito até então. Mas, parte dele não conseguia ver seu ex-amigo tão acabado, derrotado. E outra estava ainda ferida e se culpando por não ter conseguido evitar o trágico fim de Carter… Culpa essa que o invadia por vezes durante a noite, nos seus sonhos, o obrigando a viver um momento em que ele sequer estava presente.... Então, ele aceitou, sem realmente dar uma resposta, mas voltando a andar até a porta de onde havia saído e a abrindo, esperando silenciosamente, dando o sinal para Alec entrar no pequeno prédio.
A subida até o quarto andar foi silenciosa, assim como a entrada no apartamento de Logan. Se a rua parecia igual à sua infância, o apartamento em si era totalmente diferente do que Alec lembrava. A velha mobília era, agora, mais moderna, porém ainda não chegava ao nível de mobiliária das residências Lightwood, devido a diferença de orçamento entre as duas famílias. Porém, se antes aquela era a casa de Logan, seus pais e sua irmã, hoje, aquele apartamento parecia pertencer ao antigo amigo de Alec, que se perguntava onde estaria o resto da família que sempre o acolheu tão bem.
- Cadê todo o mundo? - Questionou Alec, olhando em sua volta, enquanto Logan retirava seu casaco e o posicionava no porta-casacos, do lado da porta de entrada.
- Minha mãe decidiu que Nova Iorque era movimentada demais, então eles se mudaram para o interior. Até que estão gostando. - Comentou, caminhando até o sofá castanho, de couro sintético.
- Então… policial? - Falou Alec, quebrando o silêncio ocasionado depois da resposta de Logan.
- Estagiário, na verdade. Mas eles exigem que todos tenhamos farda. - Falou, mostrando a escrita no seu uniforme indicando o status dele. - Estou quase terminando meu curso, mas exigem um estágio por semestre então… aqui estou eu. - Completou. - E você? Tem feito o quê? - Perguntou, gerando um pequeno riso pelo nariz de Alec, que não tinha uma resposta para a pergunta.
- Melhor deixar pra lá… - Adicionou, apenas, deixando Logan confuso, mas que preferiu não questionar mais. Antes que o silêncio voltasse a se instalar no ar, Alec se apressou a adentrar no que o havia levado ali. - Sabe, nos tempos antigo, você sempre foi o mais… sei là… sábio, pode se dizer, de nós os três… e, nos últimos tempos, parece que o mundo está acabando e eu, sinceramente, nunca pensei que me sentiria como me sinto hoje e… eu ficou sempre estragando tudo e isso está me enlouquecendo. Então, como eu sei que eu tenho tendência a… não pensar direito nas coisas e meter os pés pelas mãos… eu queria a sua ajuda porque eu jà não sei mais o que fazer e parecer que, à qualquer momento, eu vou explodir e fazer, sabe se lá o quê… - Se abriu, percebendo algumas lágrimas de desespero chegarem a seus olhos, mas que não se atreviam a sair.
Surpreendido pelas palavras e a expressão de dor de Alec, Logan apenas o chamou para se sentar do lado dele e ouviu cada palavra do antigo amigo. Desde a morte de Carter, aos vícios, a expulsão e a almofada de ar fresco que se intitulava “Magnus” e suas ideias. Do lado exterior, Logan percebeu a dor de Alec, seus medos, seus traumas devido ao abuso psicológico que sua família o fez passar. Mas nada disso era recente. Eram factos que ele já havia visto lá atrás, bem lá atrás e o surpreendia que Alec ainda não tinha tido a ocasião de enfrentar seus fantasmas e os tratar. Foi então que a revelação da overdose o assustou. A possível perda de outro amigo, de alguém que já foi tão importante na sua vida. Mas o pior foi perceber que essa overdose havia sido provocada e não acidental. Talvez Alec ainda não tivesse realmente ligado os pontos, mas não havia nada de acidental naquele evento, tudo aquilo foi, sem sombra de dúvida, uma tentativa de suicidio, que quase deu certo e que traumatizou uma outra criança pelo caminho. Um grito de ajuda, totalmente ignorado e tachado de egoísta, irresponsável e desprezado por sua própria família. Ele acabava por se perguntar se algum deles, até mesmo seus irmãos, alguma vez pararam e se perguntaram o que realmente aconteceu? Será que eles sabiam que não haviam sido apenas doses a mais mas uma consumição de uma única substância que Alec tinha a completa consciência que o levaria ao fim? Talvez eles nem soubessem que estavam odiando o seu irmão mais velho por uma tentativa de suicidio e não por ele supostamente querer ter uma vida de rockstar…
Isso preocupava Logan. Ele sabia da sensibilidade de Alec e sabia que, se ele tentou uma vez, poderia tentar várias outras se não fosse acolhido do jeito certo e acompanhado por alguém especializado. Então, quando ouviu a proposta de Magnus seus olhos brilharam, brilho esse que se apagou logo assim que ouviu a reação de Alec.
- E porque não? - Questionou Logan. - Porquê não aceitar a proposta dele?
- Acha que devo? Eu não sou louco, Logan. - Se exaltou de novo.
- Alec, calma. Me escuta. - Pediu Logan, acalmando Alec e o olhando nos olhos. - É apenas um médico. Um médico que cuida de um tipo de dor diferente da física e você não precisa de ser “louco”, como você diz. - Se explicou. - Alec, desde o dia que eu conheci você, eu raramente te vi sorrir de verdade, a dor presa na sua alma é visível. Você tenta esconder isso em… sei lá… festas idiotas, sustancias que te tiram da realidade, um modo de vida que você nem gosta, até mesmo relações sexuais que você nem quer. Mas você está habituado a esconder, está acostumado a fazer o que os outros querem e a ser indiferente com você mesmo. Tenta fazer algo por você. Uma vez nessa vida. Algo saudável, de preferência. - Continuou Logan, olhando Alec nos olhos e enxergando um brilho de lágrimas se apoderando dos olhos avelã do garoto. - Se você não aqui nem precisa ir nessa tal de Catarina, o que não te falta é meios de pagar quem quer que seja. Isso é o de menos. Mas tenta. Isso não vai ser o fim do mundo…
Logan sempre foi o mais sensato dos três. Sempre disse tudo o que pensava, mas nunca para ferir alguém. Talvez ele fosse a pessoa com o maior coração que ele já havia conhecido. Quer dizer, até há semanas atrás, já que a pessoa com o maior coração existente na Terra estava agora algures por Nova Iorque, talvez de coração partido por conta de Alec. Alec se sentia horrível por ter explodido, sendo que ele estaria, provavelmente, certo. Alec se sente inundado com um sentimento de ódio, que o fazia querer arrancar cada membro de seu corpo por ter deixado Magnus ir, por o ter feito ir embora.
Porém Logan estava certo, aquele era o momento dele fazer algo saudável por ele. Algo que o ajudasse a acabar com esses turbilhões e quem sabe ser a pessoa que ele sempre quis e talvez, quem sabe, fazer Magnus feliz. Então, Alec deixou Logan, depois de agradecer toda a ajuda, e saiu pela cidade, dessa vez, pela primeira vez, não estava perdido.
Quem sabe aquela luz que havia se apagado se reacenderia de novo.
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