Veja as sombras dançando em mim
Não, nada pode me esfriar
E antes que a noite acabe
Eu acendo uma faísca e deixo o louco sair
Eu sou sua deusa de joelhos
Eu sou mais quente que um incêndio
A água não pode me esfriar
Estou dançando como chamas
E nada pode me esfriarObserve, eu dominar esta cidade
Cool me down (Margaret)
Yuuki apareceu logo em seguida e me deu um calmante, para assim eu conseguir dormir, mas Azusa ficou lá até que eu pegasse no sono, segurando a minha mão. Não posso deixar de pensar o quanto sou fraca, basicamente me deixei ser usada por Shu e também ser enganada por Reiji, e o pior de tudo isso... Lia sabia disso? Sabia sobre Shu? Eu sei que ela sabe, percebi que como andava “diferente” esses dias, é porque claramente está escondendo algo de mim. Mas por quê? Por que Lia mentiu para mim? Eu realmente não posso acreditar em ninguém.
O calmante era bem forte, pois quando acordei já estava entardecendo. Fiquei um tempo encarando o nada, percebendo que o quarto, revirado por mim, voltou a ser exatamente como era antes, como se nada tivesse acontecido. É minha culpa tudo o que está acontecendo? Sensei diria que sim, porque estou deixando-me levar pelos meus sentimentos; Jay diria que eu sou uma prostituta e que mereço isso; e Lola diria que isso está fora do meu controle, no entanto eu não faço nada para mudar minha situação. Eu quero esquecer as pessoas do meu passado, eu quero apagá-las... Não importa o que elas pensam, porque não estão mais aqui para me controlar.
Yuuki retornou trazendo o meu jantar. Como ele sabe quando estou acordada e com fome? O mordomo informou que os sanguessugas já tinham ido ao colégio e que era preferível que eu ficasse na mansão descansando. Assim que ele saiu, fui rapidamente até a gaveta da penteadeira para me drogar — eu preciso disso, preciso da sensação da heroína invadindo as minhas veias, porque ela é minha companheira, ela me fará esquecer as traições, as mentiras, o sofrimento... Deixo me levar por essa êxtase tóxica e viciante, se eu não morrer com o consumo de drogas, vou acabar me matando mesmo.
De repente, sinto a raiva me dominar. Por que Lia? Eu preciso saber! Mesmo sabendo que não estou em condições de dirigir, eu vou até os fundos da mansão e monto na minha moto em direção ao colégio. Chegando lá, mandei uma mensagem para ruiva e pedi que ela me encontrasse na entrada do colégio, pois eu estava sem uniforme. O sino mal havia tocado e pude perceber a presença daqueles cabelos flamejantes de aproximando de mim.
—Azu, o que houve? —Ela não esconde sua preocupação. —Shu e Reiji Sakamaki chegaram com umas caras péssimas, pareciam ter apanhado ou coisa do tipo...
—Lia... Por que você mentiu para mim? —Pergunto com um ódio contido.
Seus olhos castanhos-esverdeados arregalam-se, percebendo que já sei a verdade.
—Azu, eu queria te proteger...
—Me proteger? Ah, por favor! —Exclamo furiosa. —Eu não preciso de proteção! Já fui “protegida” por muito tempo na minha vida.
—Shu-san só queria ajudá-la... —Tenta justificar.
—Você, a caçadora de vampiros, acreditou mesmo que ele só quisesse me ajudar? —Lia não sabe o que me responder, ela está visivelmente constrangida.
Enquanto eu... Bem, com a heroína, meus sentimentos, assim como minhas reações, ficam ainda mais intensos.
—Shu me usou, Reiji me enganou e você... —Encaro-a cheia de rancor. —Você mentiu para mim! De todas as coisas que alguém poderia fazer comigo, mentir é a pior delas. Eu acreditei em você!
—Azurah, seja razoável...
—Não! —Berro de raiva. —Eu não serei razoável. Eu fui boa a maior parte da minha vida, e sabe o que eu recebi? Esporro, xingamentos e ninguém que quisesse me ajudar... Ninguém que me estendesse a mão.
—Azurah, eu quero te ajudar. —Diz parecendo decidida. —Tudo bem, eu errei mentindo para você... Mas eu não sabia o que fazer na hora.
—Por isso você decidiu deixar seu “coração” falar mais alto? —Ele me olha horrorizada. —Você se deixou seduzir por aquele sanguessuga metido.
—Não Azurah! —Isso a deixou realmente furiosa. —De todas as coisas que você poderia me acusar, essa eu não posso aceitar. Jamais deixaria esse vampiro interferir na nossa amizade.
—Eu não me importo, realmente. —Sou indiferente, o que parece atingi-la imensamente. —Se eu poupei a vida dele, foi porque está interessada nele...
—O que... Você que fez aquilo? —Indaga assustada.
—Não, pelo menos não diretamente. —Sorrio sadicamente. —Acabou a minha relação com Reiji. Eu expus que ele contratou um caçador de vampiros para matar a mãe dele.
Essa informação deixa Lia boquiaberta.
—Reiji contratou um caçador de vampiros para... —A ruiva está incrédula.
—Isso deixou Shu muito nervoso, porque Reiji também matou o melhor amigo dele... Tudo porque ele inveja Shu. —A caçadora não parece saber lidar com essa informação. —Agora você pode ficar com ele sabendo da história.
—Não... Azurah, espere... —Ela agarra o meu braço com uma força surpreendente, impedindo-me de ir. —Isso não tem nada haver com ele, tem haver com nós duas.
—Acabou, Lia. —Digo puxando meu braço para mim. —Siga o seu caminho, a sua missão... Enquanto eu faço o mesmo.
Subo na moto e dou a partida, antes de acelerar lanço um último olhar dos meus olhos negros por trás do capacete aos seus castanhos-esverdeados, podendo perceber a tristeza neles, contudo eu não me importo, já deixei de querer me importar. Ao invés de seguir de volta a mansão, vou até algum lugar onde posso consumir minhas drogas em paz e deixar tudo para trás.
—//—
Está quente, sinto como se estivesse queimando, mas sem queimar de verdade. De repente, os gritos ecoam sem parar, as pessoas estão presas e não conseguem fugir das chamas, por isso acabam sendo asfixiadas, enquanto lutam para sobreviver — por que viver nesse mundo sem sentindo, no qual elas não tem nada? Eu estou no meio fogo, mas ele não me queima. Qual o significado disto? Os gritos continuam e parecem gravados na minha mente, o que é ensurdecedor.
Olho para as minhas mãos e percebo que elas estão vermelhas, não pelo calor da cena, mas sim porque estão manchadas de sangue.
—…Então eles me propuseram para treinar o meu próprio time. Você não acha demais, Lola? —Pergunta a minha eu de dezesseis anos, excitada com a ideia de subir na nossa máfia.
—Eles realmente te disseram isso? —Minha melhor amiga morena parece descrente.
—Sim! —Exclamo puxando-a para um abraço. —Sabe, eu quero você como meu braço direito.
—Braço direito? —Indaga incrédula.
—Claro! —Separo-me dela, ainda sorridente. —Sem você, eu não seria nada, não estaríamos aqui e...
—Você deve muito para mim, não Azu? —Questiona encarando-me de uma maneira indescritível.
—Você é a melhor pessoa que conheço, alguém que se importa comigo de verdade. —Confesso um pouco sem jeito. —Foi com você que... Bem, eu descobri um outro lado meu.
Puxo-a para um beijo ardente e cheio de sinceridade. Lola foi a primeira com quem fiz sexo consentido e isso era muito importante para mim, mesmo que não fôssemos namoradas, éramos boas amigas e ela sempre me ajudou muito, trouxe-me para a máfia e me deu a chance de construir algo novo, uma nova vida. Separo nossos lábios e sua mão vem rapidamente afagar os meus cabelos, olhando-me de uma maneira diferente, de uma forma que ela nunca olhou para mim.
—Achei que não fizéssemos mais isso... —Diz seriamente, enquanto sorri amigavelmente para mim. —Achei que você estivesse com o MM.
—Bem, estamos ficando, mas não é nada sério. —Respondo dando de ombros e afastando-me de seus braços. —O ponto é que teremos que nos mudar, para uma casa maior e quero você junto comigo.
—Acho que não vai dar, Azu...
—Claro que vai! —Eu estava muito decidida.
Pego uma pequena mochila e começo a tacar as minha poucas coisas roubadas nela, ficando de costas para Lola.
—Agora pegue as suas coisas, porque vamos...
Escuto o som de algo metálico raspando no chão. Assim que viro meu rosto para encarar da onde vinha aquele barulho, sinto algo atingir com força a minha cabeça.
Desperto com um grito de dor. A minha pior memória, e eu sei porque estou relembrando isso — a traição, a pior sensação que há. Até hoje nunca tinha entendido porque Lola fez aquilo, contudo, olhando para a rixa entre Shu e Reiji, tenho um novo parâmetro de comparação. Lola tinha inveja de mim porque eu estava me saindo melhor? Eu subi tão rapidamente dentro da máfia, sendo que a morena já estava lá antes; no começo ela ria como os caras mais de cima ficavam encantados com a minha beleza e também com minhas habilidades, no entanto para mim nada daquilo fazia sentido, pois eu devia tudo aquilo a ela. Será que somente a minha eterna gratidão ou a nossa amizade não foi suficiente para ela? Eu a amei, talvez mais do que como uma amiga, Lola era alguém muito especial para mim, todavia ela também não hesitou em me descartar. Por que as pessoas são assim... Tão gananciosas?
Visto o meu robe e decido descer para tomar alguma coisa, pois minha garganta está seca e sei que isso é por conta da ressaca. Merda! Nem lembro como voltei para a mansão. Já deve ser por volta das quatro e meia da manhã e sinto que ainda não dormi nada, o que é ainda mais desanimador. Vou até a geladeira e pego um copo de água gelada, pois sinto que estou queimando por dentro. Aquele incêndio... Lola... Por que isso? Justo agora que estou tão fraca. Acho que é isso, esse flashback serviu para mostrar como eu sempre fui fraca e susceptível aos ataques alheios.
Viro-me para levar o copo à pia, quando dou de cara com um dos sanguessugas. Na hora do susto, acabei largando o copo que acaba se partindo em mil pedacinhos — sorte que não caiu no meu pé.
—Me desculpe... —Pede ele abraçado com seu ursinho.
—Não foi nada. —Digo abaixando para catar os cacos de vidro no chão, tomando muito cuidado para não me cortar.
—Por que está triste, Azurah-san? —Surpreendo-me com sua pergunta.
—Não estou triste, Kanato-kun. —Respondo colocando os cacos em cima da pia.
—Você ficou um longo tempo olhando para o nada, com um olhar vazio... Parecia triste para mim. —Comenta com um olhar sério e também analista.
Ótimo! Eu estou ficando transparente agora.
—Só estava pensando, Kanato-kun. —Digo após catar todos os cacos. —Muita coisa na cabeça. Mas e você, o que faz aqui? —Questiono, olhando-o curiosa.
—Eu não conseguia dormir, por isso fico sentado lá na sala de estar, no escuro, com Teddy. —Kanato é tão solitário, chega a dar pena. —Foi quando eu a vi descendo e decidi vir atrás de você.
Não sei dizer, o clima entre nós tem uma aura estranha, no entanto não há mais aquele ódio mútuo que existia após o que aconteceu naquele cemitério.
—Kanato-kun... —Chamo-o, o que faz seus olhos roxos voltarem-se para mim que sou um pouco mais alta que ele. —Você disse que esperava que um dia eu lhe perdoasse… —Ele balança a cabeça em concordância. —Eu te perdoo.
Ele sorri para mim, um sorriso quebrado, mas ainda um sorriso, isso faz meu coração se apertar em meu peito.
—Eu gostaria também de me desculpar com Yui-san. —Sou novamente surpreendida, agora por seu tom confessional. —Eu não fui um bom namorado para ela.
—Você a amava, Kanato-kun? —Pergunto curiosa e esperando que ele não surte comigo.
—Acho que ninguém aqui nessa casa sabe o que é amor. —Não posso negar as palavras de Kanato, principalmente quando olho para mim mesma. —Sabe, às vezes penso que todos vão me abandonar... Bem, eles já me abandonaram. —Diz com uma voz triste e olhos lacrimejantes.
Isso é verdade! Mesmo antes do surto de Kanato, ele não se relacionava com os irmãos, estava sempre com Teddy, conversando com ele e levando-o para todos os lugares consigo — como se tivesse medo de ser abandonado. Quando olho para isso, percebo que Subaru também está sempre isolado no seu canto, olhando para fora e perdido em seu jardim; Shu também não se relaciona com seus irmãos, mas não é completamente um caso perdido, pois seu problema é o medo de se apegar; Reiji relaciona-se com todos porque vê como uma obrigação, não como se considerasse os irmãos, mas como quase uma mãe dando ordens. As exceções só Ayato e Laito, que estão sempre juntos, contudo a relação deles é tão superficial, não é como se vissem um ao outro como irmãos e companheiros. Qual a diferença entre eles e os Mukamis? Será que porque os Mukamis escolheram ser irmãos, enquanto os Sakamakis vivem juntos aqui nesta mansão porque são obrigados pelo Pai deles? Era isso que Elas queriam que eu visse?
—Você está chorando, Azurah-san? —Questiona inclinado-se um pouco para o lado e encarando a minha obscuridade.
Nem havia me dado que meus olhos se umedeceram com tais pensamentos.
—Eu não choro, Kanato-kun. —Respondo após respirar fundo. —Pelo menos, não de verdade.
—Você sabe mentir tão bem. —Ele aperta Teddy mais contra si. —Eu não gosto de mentiras.
—Eu também não. Mas a vida é uma grande mentira. —Digo sem esconder uma certa frustração. —Estou aqui esperando o dia em que vou morrer.
—Nem isso eu tenho. —Lamenta Kanato tristonho, desviando o olhar.
—Cada um tem seus próprios demônios para lidar. —Dou um longo suspiro, cansada. —Por que não consegue dormir, Kanato-kun? —Questiono a fim de evitar esse clima mórbido e depressivo.
—Eu não tenho o costume de dormir muito. —Sim, dá para perceber pelas olheiras profundas.
—E se eu cantasse para você? —Minha proposta não apenas surpreende o roxeado, como também o faz arregalar bastante seus olhos roxos.
—Você vai cantar para eu dormir? —Indaga desconfiado e incrédulo.
—Bem, tem o costume de funcionar. —Dou de ombros. —Ninguém nunca cantou para fazê-lo dormir?
—Não. —Nega com um olhar distante. —Eu quem cantava para mamãe dormir. Ah, ela amava a minha voz! Vivia me chamando de “nightingale”.
Lembro-me disso, lembro da sua doce voz, a melodia infantil, inocente e melancólica que ele cantava. Cordélia realmente parecia adorar a voz dele, tanto que o forçava cantar até que ela se cansasse; e Kanato a obedecia sem hesitar, mesmo que doesse, pois ele a amava e queria que ela ficasse com ele, que não o abandonasse.
—Ninguém nunca cantou para mim também. —Conto também, de certa forma, distante. —Mas eu tinha o costume de cantar às crianças do orfanato, principalmente para acalmar os bebês... Nunca se tem alguém apropriado para cuidar delas.
Kanato pigarreia para me despertar de meus devaneios.
—Você deita no sofá. —O roxeado me olha intrigado, não parecendo muito disposto a receber minhas ordens. —Você tem que deitar se quiser dormir.
Vamos até a sala de estar, onde o vampiro deita-se abraçado com Teddy e passa a me olhar com curiosidade, assim que me sento no chão, ficando ao seu lado.
—Estique o seu braço. —Peço tentando não soar autoritária.
—Por que eu tenho que fazer isso? —Questiona duvidoso.
—Deixe eu fazer isso. —Insisto com meus belíssimos olhos negros.
O menor cede e estica o seu braço sobre o sofá, abraçando Teddy com o outro.
—Eu gosto bastante dessa música e acho que é perfeita para o momento. —Confesso enquanto me preparo para cantar:
Eu não consigo dormir à noite
Acordada e tão confusa
Tudo está em ordem
Mas estou machucada
Eu preciso de uma voz que ecoe
Eu preciso de uma luz para me levar para casa
Eu meio que preciso de um herói
É você?
Minhas mãos começam a passear pelo braço do vampiro, por cima do seu moletom branco, quase que bailando e fazendo movimentos circulares a fim de relaxa-lo.
Eu nunca vi a floresta por entre as árvores
Eu realmente poderia usar sua melodia
Querido, estou um pouco cega
Eu acho que é hora de você me encontrar
Você pode ser o meu nightingale?
Cante para mim, eu sei que você está aí
Você pode ser minha sanidade
Me trazer paz
Cante para eu dormir
Diga que você será meu nightingale
Canto o mais baixo que posso, pois sei que mesmo os outros dormindo, eles podem nos escutar. Os olhos roxos de Kanato estão inteiramente focados em mim, ao passo que posso vê-los menos tensos.
Alguém fale comigo
Porque estou me sentindo no inferno
Preciso de você para me responder
Estou sobrecarregada
Eu preciso de uma voz para ecoar
Eu preciso de uma luz para me levar para casa
Eu preciso de uma estrela para seguir, eu não sei
Eu nunca vi a floresta por entre as árvores
Eu realmente poderia usar sua melodia
Querido, estou um pouco cega
Eu acho que é hora de você me encontrar
Você pode ser o meu nightingale?
Cante para mim, eu sei que você está ai
Você pode ser minha sanidade
Me trazer paz
Cante para eu dormir
Diga que você será meu nightingale
Aos poucos seus olhos vão se fechando, rendendo-se ao cansaço e também ao doce soar da minha voz.
Eu não sei o que faria sem você
Suas palavras são como sussurros, sobrevivem
E contanto que você esteja comigo hoje à noite
eu estou bem
Você pode ser o meu nightingale?
Sinto tão perto, sei que você está aí
Ooooh, nightingale
Cante para mim, sei que você está aí
Porque, querido, você é a minha sanidade
Você me traz paz
Canta para eu dormir
Diga que será meu nightingale
Sua expressão torna-se inteiramente serena, parecendo até uma fofa criança abraçada com seu ursinho, dormindo após sua mãe cantar ou ler uma história para ele. Dou um longo bocejo, vejo que isso também serviu para me relaxar, o que é muito bom.
Levanto-me do chão e começo a caminhar em direção à escadaria, dessa forma voltando ao quarto. No entanto, ao chegar ao topo, posso sentir presenças estranhas, o que me faz bufar cansada.
—Eu sei que estão aí... —Comento lançando um olhar na escuridão. —Vocês não são tão bons quanto tentam parecer que são.
Nenhum deles se revela, mas sei que estão ali, é como se eu pudesse sentir a aura deles. Sigo meu caminho, trancando a porta assim que passo por ela, em seguida jogo-me na cama e sinto-me abraçada pelo cansaço.
—//—
Acordei deitada sobre as cobertas. Foi relaxante, acho que o fato de colocar Kanato para dormir também me fez relaxar — enquanto dormia, jurava que podia ouvir a voz de Cordélia me agradecendo. Levanto-me e puxo as cortinas, deixando os fortes raios do meio-dia me banharem, sentindo-me, dessa forma, renovada. Abro meu guarda-roupa e vesti um novo conjunto que comprei pela internet, um body de renda bordô, com um decote bem generoso, e um shorts de pano, cintura alta, preto com finas listras branca — eu vou fazer sucesso com uma coisa provocativa dessas, contudo eu não me importo, o corpo é meu e vou vestir o que quiser, dane-se os sanguessugas.
Desço até a cozinha, porque estou morta de fome, quando acabo trombando com alguém bem na porta.
—Olha por onde anda, Kachiku! —Exclama furioso.
Ótimo para começar o dia... Dando de cara com o sanguessuga pretensioso, que só não é quem mais me odeia nessa casa porque tem o Reiji.
Seus olhos azuis acinzentado, frios como um céu de nevoeiro, descem rapidamente ao meu decote antes de retornar aos meus olhos negros.
—O que é isso que está vestindo?
—É nova, gostou? —Indago provocativa.
—Você pede para ser atacada. —Ele solta um riso nasal. —Enfim, faça o que quiser.
Antes que ele vá, seguro seu braço, enquanto meus olhos correm pela cozinha.
—Por acaso, você viu o mordomo? —Pergunto após não o encontrar.
—Acho que ele saiu para fazer compras. —Responde olhando fixamente para a minha mão.
—Merda! Eu estava com fome. —Exclamo revoltada.
—Não sabe cozinhar, Kachiku? —Questiona provocativo e com certo ceticismo.
—Só porque sou mulher tenho que saber cozinhar? —Indago com certa fúria, soltando o seu braço.
—Não disse nesse sentido. —Tenta se justificar. —É que você parece ser do tipo que sabe tudo. —Uau, ele acha isso de mim?
—Eu sei muitas coisas, mas cozinhar não é uma delas. —Ele sorri provocativo, o que é uma merda porque eu sei que ele sabe cozinhar, e muito bem.
—Você é realmente um gado sem salvação. —Comenta com soberba.
—Pode dizer o que quiser, eu não ligo. —Dou de ombros.
Pretendia deixá-lo ali, com toda a sua arrogância, quando ele, desta vez, agarra o meu braço.
—Eu cozinho para você, Kachiku. —Não fico supresa com aquilo.
—Em troca do meu sangue, é isso? —Indago já sabendo a resposta.
—Pense que estou sendo um mestre bem bondoso, porque eu poderia muito bem arranca-lo à força. —Diz mirando no meu pescoço, ou um pouco mais abaixo.
—Oh bom mestre... —Satirizo. —O que vai fazer para nós?
—Você verá, Kachiku. —Ele não pareceu se deixar levar pela minha brincadeira, gosto assim.
Voltamos para a cozinha e o Mukami abre a geladeira, seus olhos acinzentados correm rapidamente pelas prateleiras, procurando por algo que não sei o que é.
—Você realmente não sabe cozinhar nada? —Questiona sem me olhar.
Será que isso é um teste? Ele está me analisando? Preciso ficar de olho com esse daí.
—Eu sei fazer pipoca, conta? —Ele solta outro riso nasal, basicamente é um riso de julgamento.
—É, você não sabe cozinhar. —Diz apanhando algumas coisas.
—O que vai fazer? —Pergunto curiosa.
—Um peixe cozido, não tem muita coisa na geladeira. —Responde ainda focado nas suas coisas. Será que ele não se sente afetado pela minha presença? —Por que não me ajuda cortando esses legumes que eu separei.
—Cortar as coisas eu sei. —Digo animada por pelo menos fazer algo.
Apanho uma tábua de madeira e uma faca de cortar legumes e começo a pisca-los.
—Está fazendo errado. —Adverte Ruki bem atrás de mim.
—Não era só para cortar? Estou cortando. —O que ele quer que eu faça?
—Você não está segurando a faca corretamente. —Suas mãos geladas rapidamente vem envolver o pulso com a faca. —É diferente de segurar uma faca para atacar alguém.
O Mukami basicamente colou atrás de mim, com minhas costas sentindo a malha da sua camisa preta e podendo sentir a sua respiração gelada contra os meus cabelos. Sua mão é tão macia, bem diferente das minhas que são ásperas e calejadas.
—Segure assim, da outra forma parece que você está com ódio dos legumes. —Comenta tão seriamente que me faz rir. —O que o Kachiku acha tão engraçado? —Ele permanece sério, mesmo que levemente irritado pela minha ousadia.
—Sei lá, você está agindo como se fosse meu professor. —Digo ainda em um tom provocativo.
—Tão ousada... —Seus lábios aproximam-se da minha orelha, fazendo-me arrepiar. —Não quero que a comida fique com um gosto ruim por sua causa. Porque, senão, terei que te punir.
Estamos cozinhando ou sugerindo outra coisa? Ele me mostra como devo contar os legumes e eu sigo suas instruções, ficando bem evidente a diferença do meu corte antes e depois de Ruki me ensinar. O vampiro prepara o peixe e também o molho, mostrando ser realmente bem eficiente naquilo. O cozido não demora a ficar pronto e surpreendo-me quando Ruki me deixa provar primeiro.
—O que achou? —Ele pergunta como se já soubesse da minha resposta.
—Está bom, mas falta alguma coisa... —Eu fico pensativa, enquanto o vampiro aguarda a minha palavra final. —Acho que falta sal.
—Parece que você não é tão burra, Kachiku. —Diz com toda a sua pretenção.
Eu avisto o sal em cima da bancada da cozinha e estico para apanha-lo, contudo o Mukami também fez o mesmo movimento, o que fez com que tocássemos no saleiro no mesmo exato momento. Qual a probabilidade disso acontecer? Meus olhos negros voltam-se ao vampiro e percebo o quão próximo estamos, sentindo a respiração um do outro. Por que esse tipo de coisa tem que acontecer? Eu já não consigo ‘manter minhas mãos para mim mesma’, quem dirá ficando tão perto dele assim.
Ele se inclina levemente na minha direção, mas assim que pisco os olhos, escuto o som do chicote e o canto dos corvos, fazendo-me afastar dele na hora. Estou assustada, isso aconteceu de novo, eu não vi o Ruki atual e sim a sua versão de criança demoníaca.
—Falta sal... —Digo distante, sem encara-lo.
Ruki encara-me desconfiado antes de retornar ao cozido, como se nada tivesse acontecido. Droga, não posso me deixar abalar por causa disso, mesmo que tema para onde essas visões podem me levar.
Eu comi o peixe que preparou e está realmente delicioso, gostaria até que tivesse mais, porque eu comeria muito, muito mais.
—Você parece satisfeita, Kachiku. —Comenta assim que levo o prato e os talheres a pia.
—Ficou realmente delicioso. Obrigada, Ruki-kun. —Agradeço ligando a torneira. —Então, como vai querer o seu pagamento? —Questiono, encarando-o de maneira maliciosa.
—Que tal fazermos assim... —Ele avança contra mim, ficando frente a frente comigo, com nossos olhos escuros encarando-se mutualmente. —Você deve essa para mim.
—O que? —Indago nervosa assim que ele se afasta um pouco. —Não foi isso o que combinamos.
—Eu vou aparecer alguma hora e você não poderá negar. —Diz a última parte com um sorriso vitorioso, enquanto segura o meu queixo.
É isso que dá dar liberdade demais a esses sanguessugas, eles já vêm achando que podem fazer o que querem. Minha expressão furiosa acaba fazendo o Mukami sorrir, antes de retirar-se da cozinha. Infelizmente, esse aí sabe como me surpreender, além de ser bem difícil saber o que se passa na cabeça dele.
Lavo toda a louça ainda com o sanguessuga pretensioso na minha mente — o que ele pretende fazer com isso? Há algum momento em especial que ele deseja beber meu sangue? Ou ele quer que eu faça outra coisa? Deve ser esse o plano dele, querer me enlouquecer, fazer eu ficar imaginando quando será o próximo passo dele... Bem, o melhor mesmo é deixar isso para lá.
—Coxas grossas... —Mas será possível que hoje é o meu dia!? —Vejo que mudou o visual.
—Ayato-kun. —Saúdo assim que termino de enxugar a louça.
Esse cabeça vazia não consegue mesmo aprender uma lição.
—Mais uma roupa provocativa para seduzir os vampiros dessa casa? —Indaga quase que me comendo com o olhar.
—Querido, não preciso de muito para seduzi-los. —Digo provocativa e sorrindo maliciosamente.
—Isso é verdade. —Comenta um certo ídolo vindo à cozinha pela porta da sala de jantar.
—O que faz aqui, Kou-kun? —Pergunto interessada.
—Senti um cheiro bom no ar e vim ver o que era. —Responde farejando a cozinha. —Ruki quem cozinhou? Espero que ele não tenha sido mau com você.
—Já está saindo com ele, coxas grossas? —Questiona com uma das suas sobrancelhas arqueadas.
—Não, ele não é tão fácil como você. —Brinco para tirá-lo do sério.
É tão óbvio que Ayato me deseja, principalmente porque não respondo as suas expectativas como presa obediente e servil, ou ele também gosta quando eu o humilho.
—Você não planeja brincar com Ruki, né Neko-Chan? —Pergunta encarando-me com desconfiança.
—Não sei. —Dou de ombros. —Depende do meu humor, da estação, da posição dos astros...
Kou acha graça.
—Não sabia que cantava, Neko-Chan. —Confessa o ídolo. —Você tem uma voz muito bonita.
—Eu já disse, há muitas coisas que vocês não sabem sobre mim. —Lanço uma piscadela para ele.
—Você acha que aquele cara tem mais chance do que ore-sama? —Ayato relembra da nossa discussão lá na detenção.
—Ah Ayato-kun, se você menos arrogante e abaixasse essa bola de “ore-sama”… Quem sabe. —Meus olhos negros correm pela sua figura tão cheia de si parada na porta da cozinha. —Sabe, você não é ruim apesar do... —Uso meu polegar e o indicador para indicar o tamanho do seu pênis.
—Você realmente... —Sua feição raivosa é interrompida por um tapa nas costas.
—Brincando com fogo de novo, mi lady? —Pergunta Laito chegando de súbito.
—O fogo deveria ser eu, não? —Indago apoiando meus cotovelos na bancada de madeira da cozinha. —O que é isso? Reunião dos pervertidos da mansão? —Encaram os três sanguessugas.
—Acho que está faltando o Shu, não? —Ayato disse aquilo para me provocar, porque todo mundo sabe do caos que aconteceu lá na biblioteca.
—Bem, não precisamos dele para nos divertirmos. —Respondo mordendo o lábio inferior.
—Neko-chan... Tão gananciosa. —O loiro se teletransporta bem atrás de mim para enlaçar a minha cintura e roçar o seu nariz no meu pescoço. —O vermelho fica lindo em você. —Refere-se a minha blusa.
—Ele tem razão. —Diz Laito caminhando sensualmente até mim, ajeitando seu chapéu. —É lógico que eu te acho melhor sem nada, mas não posso negar que esse modelito ficou maravilhoso em você.
—E você, Ayato-kun? —Volto-me para o ruivo que não está com uma expressão muito alegre parado na porta.
Hoje eu decidi que quero provocar.
—Você não é de se jogar fora, coxas grossas. —Diz cheio de malícia.
—Eu acho Neko-Chan uma graça. —Comenta Kou ainda agarrado a mim.
—Mi lady é, definitivamente, uma mulher muito, muito sexy. —Laito se aproxima mais, o que me faz ficar encurralada entre ele e o ídolo. —Fufu~ Por que não transformamos esse encontro em uma situação di-ver-ti-da?
—Eu posso aguentar os três. —Digo cheia de determinação. —Mas vocês terão que implorar. —Sorrio maldosamente.
—Eu não vou... —Ayato tentou protestar.
—Você quem perde. —Dou de ombros. —Eu não tenho nada a perder, mas vocês têm muito. —Dou ênfase na última palavra.
—Ora, ora mi lady pervertida... —Cantarola Laito animado. —Se você quiser que eu implore, eu vou implorar.
O quinto Sakamaki retira o seu chapéu, depositando-o na bancada de madeira e ajoelhando-se perante mim, quase se curvando, mas sem tirar aqueles brilhantes e luxuriantes olhos verdes dos meus. Essa visão é tão excitante.
—Mi lady... Deixe-me sugar do seu sangue. —Implora agarrando a minha coxa. —Eu vou fazer isso ser muito prazeiroso para você.
—Você é muito bom nisso, Laito-kun. —Diz Kou com risinhos contidos. —Né, minha princesa maldosa... Deixe-me sugar o seu sangue. —Beija o meu pescoço. —Eu serei bem obediente a você.
Dou uma risada sádica.
—Vocês são maravilhosos! —Exclamo orgulhosa. —E você Ayato? Vai só olhar? —Sim, eu quero ver o Grande Ayato implorando por mim, quero vê-lo novamente humilhado ao meus pés.
O ruivo, bem contrariado, avança até mim ficando ao lado do irmão gêmeo que está ajoelhado.
—Você não nega que deseja ore-sama...
—Não, não... Você quem me deseja aqui, Ayato-kun. Você é quem tem que implorar. —Ver Ayato quebrando o seu orgulho somente para ter o meu sangue, isso é algo que eu desejo. —Diga que quer.
—E,Eu quero... —Ele parece incrivelmente seduzido. —Dê seu sangue para mim, coxas grossas. Eu não vou desperdiçar nada. —Implora fazendo-me sorrir satisfeita.
—Bem, acho que bon appetit, garotos. —Digo para a felicidade dos três.
Laito morde o interior das minhas coxas, Kou o meu pescoço e Ayato o meu busto, perto da clavícula. Solto um grito de dor num primeiro momento, mas eu rapidamente fico satisfeita sendo saciada por três deles, que me mordem com muito desejo.
—Está tão quente... —Comenta Laito com seu rosto corado. —Mi lady está excitada.
—Uma gatinha tão suja. —Fala Kou próximo ao meu ouvido.
—Eu sempre soube que você era do tipo que gostava de fazer essas coisas. —Diz Ayato olhando-me com o verde brilhante de seus olhos ardilosos.
—Vocês que são menininhos muito levados... Se sujeitando assim para uma mulher como eu. —Digo envolvida pelo meu pecado da luxúria, ou seria da gula?
Os três voltam a me morder, o que me faz gritar um pouco alto demais, por mais que eu tente me controlar.
—O que está acontecendo aqui? —Pergunta uma voz infantil e distante que faz os três parassem.
A intromissão de Kanato é boa, pois me permite respirar normalmente. Nem sequer sei como estou aguentando isso.
—Histérico, não é um bom momento. —Diz o primeiro trigêmeo lambendo seus lábios manchados com o meu sangue.
—Mi lady não está mais brava com Kanato, né? —Indaga Laito para mim, mas ele já sabe a resposta.
—Talvez Kanato-kun queira uma mão. —Digo estendendo o meu braço direito para o roxeado.
—Neko-chan, você acha que aguenta quatro? —Questiona Kou duvidoso.
—É só pedir, Kanato-kun. —O menor avança até mim segurando o meu braço.
—Seu sangue não é tão doce, mas irá me fazer feliz. —Diz sorriso docemente para mim. —Obrigado Azurah-san, você é legal!
—Mi lady é a melhor! —Exclama voltando a me morder.
Kanato é o próximo, suas presas parecem mais finas e afiadas, as quais perfuram a fina pele do meu pulso, o que me faz gemer um pouco alto demais. Ayato também não hesita em voltar a me morder.
—Neko-chan é mesmo uma caixinha de surpresas. —Sei que o loiro está sorrindo maliciosamente ao pé do meu ouvido. —Talvez devêssemos tentar novamente com a casa cheia. —Dessa forma, acaba mordendo a base do meu pescoço.
Com os quatro me mordendo, ao mesmo tempo, sinto que muito do meu sangue me abandona, contudo ao invés disso acabar comigo, me colocar perto da morte, pelo contrário parece encher algo dentro de mim, meu peito queima e sei que há algo. Eu me sinto... satisfeita? O que é isso? Sinto-me desperta, precisando que eles fossem mais fundo para darem tudo para mim.
—O que está acontecendo aqui? Quero saber agora! —Parece que a festa acabou.
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