Taeyeon-
A grande casa dos Kwon ainda estava cercada por policiais e viaturas quando chegamos. A pericia ainda procurava por mais provas que pudessem não deixar dúvidas de que Kwon Yuri tinha sido realmente a atiradora naquele fatídico dia. Lee Sunkyu acompanhava cada movimentação dos policiais tomando o cuidado de observar tudo o que era achado e decidir se aquilo serviria para o caso ou não.
Jessica estava inquieta ao meu lado. Suas mãos suavam enquanto ela tentava enxugar passando o tecido grosso do seu casaco por cima de suas palmas úmidas. Lee parecia surpresa em nos ver mas tentou esconder isso o máximo possível.
Depois de muito insistir ela nos deixou entrar para dar uma olhada. Muita coisa já havia sido retirada do quarto e levada para ser analisada mas ainda existia muitas outras coisas por lá. Assim que entramos na casa percebemos que nem mesmo os criados de Kwon estavam presentes apenas dois caras altos e muito bem vestidos acompanhavam meticulosamente tudo o que era retirado da casa. Por coincidência ou não eu os conhecia, não intimamente mas de nome. Eram dois dos maiores e mais bem pagos advogados de Seul, que dirá da Coreia do Sul.
Que o senhor governador não mediria esforços para tirar sua filha da prisão disso eu nunca duvidei.
A medida que íamos adentrando mais a casa eu podia sentir Jessica cada vez mais nervosa ao meu lado, sua respiração estava pesada e rápida o suficiente para que eu a ouvisse claramente perto de mim. Eu não entendia muito bem o porquê daquele comportamento mas decidi não perguntar nada por enquanto já que os policiais estavam de olho em nós. Lee nos seguia logo atrás para ter certeza de que não faríamos nenhuma besteira ao ver o conteúdo do quarto. Não me opus a isso, Afinal essa era a única condição para que pudéssemos entrar.
Ao passar porta a dentro o quarto de Kwon parecia um quarto normal de uma adulta rica com seus móveis e cama de luxo, seu closet abarrotado de roupas caras que ela provavelmente ainda nem havia usado e sua grande coleção de tênis espalhados pelo chão. Nada demais, mas atrás de um quadro existia uma porta estreita que levava a outro lugar. Comecei a suspeitar de que minha prima tinha se tornado claustrofóbica porque seu corpo começou a tremer poderosamente e sua testa ficava encharcada de suor a cada passo que dávamos para mais perto da segunda porta escondida.
Como Lee estava atras de mim e Jessica na minha frente, ela não conseguiu perceber as mudanças da minha prima, mas eu sim e aquilo estava me deixando cada vez mais curiosa sobre o porque. Quando finalmente adentramos o quarto escondido fomos tomadas pelo silêncio. Lee expulsava todos os peritos do quarto para que ficassemos só nós três lá dentro, vendo que ele não era grande o suficiente para tanta gente.
Jessica e eu estávamos paralisadas com o que víamos, as paredes ainda tinham fotos coladas por toda parte. Existia um mapa com lugares em que Jessica e Tiffany frequentavam quando estavam sozinhas, assim como várias fotos delas nesses lugares. Parecia que cada parede tinha informações preciosas sobre cada uma de nós. Na parede direita, a que vimos logo quando entramos o alvo das fotos era Jessica. Na parede do lado esquerdo o alvo se dirigia a Tiffany e o meio, o que ficava no centro de tudo era eu.
No mapa perto das minhas fotos existiam todos os tipos de informações sobre mim: Onde estudei, onde moro, onde corria todas as manhãs, o café que eu frequentava, alguns remédios para dormir que eu tomava, meus quadros, e até uma velha foto de quando eu beijei Jessica em um dia chuvoso. Tudo estava lá, coisas até que eu não me lembrava mais devido ao tempo.
Jessica caiu de joelhos sobre o chão com seus olhos cheios de lagrimas, ela não estava lidando bem como eu pensei que lidaria. Eu conheço Jessica a minha vida toda e se tivesse que adivinhar a reação dela ao ver tudo isso diria que ela ficaria furiosa mas não era o que me parecia agora. Jessica não estava furiosa, ela estava decepcionada e eu não conseguia entender o porque.
Enquanto Lee Sunkyu tentava acalmar minha prima, algo perto das fotos de Tiffany me chamou atenção. Uma folha velha de caderno com a caligrafia distorcida e alguns pingos do que eu achei ser água borrando algumas palavras. Na página Yuri basicamente contava o quanto o seu primeiro encontro com Tiffany tinha sido desastroso. Ela escreveu sobre ter ido ao jantar confiante, mas que Tiffany resistiu á morena. Isso era algo que eu não sabia, um pequeno sorriso brotou em meus lábios só de imaginar Yuri sendo rejeitada mais uma vez e de novo por minha causa.
—Vejo que você não está tão abalada quanto a senhorita Jung. - Senti sua respiração bem atrás de mim e o meu sorriso sumiu em um piscar de olhos.
—Apenas estou feliz por Kwon Yuri ter sido presa. Assim não vai poder machucar ninguém. - Lee acenou com a cabeça demonstrando entender o motivo do meu sorriso anterior.
Jessica enxugava suas lágrimas em um paninho cedido por nossa guia Sunkyu, andei em sua direção ainda um pouco preocupada com suas reações. Seus olhos estavam vermelhos, eu sabia que ela ainda estava chateada por ter visto Tiffany e eu juntas mas ver o conteúdo desse quarto só a deixou pior. Toquei em seu rosto tentando mostrar que eu estava ali para ela mas meu movimento foi impedido por sua fala, que me fez gelar em seguida.
—Não acho que foi Kwon Yuri. - Falou para Lee mas seus olhos estavam fixados sobre mim e não era um olhar amigável.
—Esse quarto é a prova de que foi ela. Quem mais poderia ser, senhorita Jung? - Lee se aproximou mas Jessica continuava me olhando. Eu queria perguntar que porra ela tava fazendo?! Se ela dissesse a verdade eu estaria literalmente fodida assim como ela e Tiffany.
—Eu não sei quem poderia ter sido, só posso dizer que não foi a Yuri. Por favor, Lee tire ela de lá. - Eu quase cai quando ouvi sua última frase, ela realmente estava do lado daquela garota?
Eu não a conhecia mais, não conhecia a minha própria prima, a minha melhor amiga e mulher que sempre esteve ao meu lado. De uma hora para a outra Jessica havia mudado de time e ficado contra mim. Kwon Yuri não era uma pessoa boa, não era alguém que se podia confiar. Yuri nos perseguia e nos observava, usou Tiffany contra a minha vida e aquele maldito quarto só estava comprovando tudo de ruim que eu já pensava sobre ela. Mas por algum motivo Jessica estava a defendendo e isso colocaria todas nós em risco.
—Que merda você está dizendo? - Falei. Eu tentava controlar a minha voz para que não parecesse nervosa em frente a Lee mas o que eu queria mesmo era gritar. Eu não sabia o que Jessica estava tramando mas aquilo iria ser ruim pra mim, pra nós.
—Senhorita Jung se sabe de alguma coisa é sua obrigação me contar. - Disse Lee, segurando firme o braço da minha prima enquanto a respiração de Jessica voltava a ficar acelerada.
Jessica se soltou das mãos de Lee e correu a plenos pulmões para fora do pequeno quarto, passando pelo quarto maior de Kwon Yuri e descendo as escadas até finalmente estar do lado de fora da casa. Lee e eu corremos atrás dela que ao chegar a varanda caiu sobre o gramado verde e recém cortado. Algo estava acontecendo com Jessica, algo dentro dela estava diferente e eu só consegui ver agora. O seu ódio por Kwon Yuri não estava mais lá, ele tinha dado lugar a um outro tipo de sentimento, pena, talvez culpa. Eu não sabia muito bem o que era mas sabia que era algo muito perigoso e que não deveria estar lá.
Lee me ajudou a colocar Jessica dentro do meu carro e devido ao estado da minha prima, Sunkyu não nos fez mais perguntas. Dei graças a Deus por isso, não teria como explicar no que Jessica estava pensando ao dizer que Kwon Yuri não era a culpada pelo tiro que me atingiu a dois anos atrás. Não demorei muito para sair da mansão dos Kwon. Acelerei o carro o mais rápido possível indo em direção ao apartamento de Jessica para que ela descansasse e esperava que com isso essas ideias sobre defender Kwon fossem apagadas de sua cabeça.
—Você sabe que isso é errado. Eu nunca concordei com essa besteira que você fez! - Gritou ela me fazendo quase pular do banco do motorista.
—O que aconteceu com você? Esta tentando nos ferrar, Jessica? - Perguntei exaltada, se aquilo era pra testar minha paciência ela ganhou.
—Não posso, Taeyeon. Simplesmente não posso colocar uma pessoa na cadeia sem que ela seja realmente merecedora disso.
—VOCÊ PREFERE IR NO LUGAR DELA? - Gritei batendo minhas mãos sobre o volante fazendo o carro correr em zigue-zague por um minuto. Jessica ficou assustada com a minha ação e começou a derramar mais lágrimas. Eu detestava fazer isso, detestava saber que eu sempre era o motivo daquelas lágrimas mas não podia concordar com o que ela estava fazendo. Se Kwon Yuri não fosse presa então ela e Tiffany seriam, e isso eu não poderia deixar. —Me desculpe, Jess… mas você precisa entender que se contar a verdade, vamos sofrer as consequências dela.
Depois dessa breve conversa nenhuma palavra a mais foi acrescentada. Ficamos em silêncio o resto do caminho até seu apartamento. Eu queria cuidar dela, tentar me explicar pelo o que aconteceu mais cedo no hospital mas podia sentir que o que ela mais queria naquele momento era ficar sozinha. Acatei sua vontade e assim que ela desceu do carro e entrou em seu apartamento sem me dizer ao menos um adeus, eu acelerei o carro sem rumo.
Enquanto eu dirigia pelas ruas de Seul só conseguia pensar em quais motivos poderiam existir pra Jessica defender Kwon. Não era peso na consciência, disso eu tinha certeza. Tinha algo mais eu só não estava conseguindo descobrir o que era de fato. Der repente meu coração acelerou com a mesma rapidez que o meu pé pressionava o acelerador. Minhas mãos começaram a soar e como se meu corpo já soubesse o que aconteceria em seguida eu a ouvi de novo.
—Você não consegue enxergar o que está na frente dos seus olhos. - Sua voz estava grossa, raivosa. Eu não tive palavras para responder e nem precisei. —Kwon Yuri está conseguindo o que sempre quis, ter Jessica apaixonada por ela.
E com o fim daquela frase todas as peças se encaixaram na minha cabeça e eu percebi o quanto aquilo ferraria tudo. Me senti traída, devo dizer. Mesmo que eu não seja a melhor pessoa para se estar apaixonada, Kwon é mil vezes pior do que eu. E se eu já faço Jessica sofrer, Kwon acabará com ela.
Eu não posso deixar essa vadia ferrar com tudo o que eu construí para nos proteger.
Tiffany-
—Eu não quero ela aqui. - Falou, com seus braços cruzados na altura dos seios e bico nos lábios. Seohyun me encarava.
Era cansativo e desgastante discutir com ela, principalmente quando o assunto era Taeyeon. Eu não sabia bem se tínhamos nos acertado finalmente porque não houve uma conversa aberta sobre isso mas o meu coração estava tão em paz que eu sentia que agora as coisas finalmente começariam a dar certo.
Infelizmente Seohyun não pensava assim. Como minha melhor amiga e minha protetora oficial, Seo ainda não confiava nas intenções da Tae. Pra a Seo, Taeyeon só estava fingindo arrependimento para que eu acreditasse em suas intenções e fosse magoada novamente sem qualquer piedade. Eu queria poder dizer a ela que tinha certeza de que a Tae não me magoaria novamente mas eu não podia. Taeyeon tinha se tornado imprevisível e por mais que Seohyun e eu mesma fique pensando se todo aquele arrependimento foi realmente verdadeiro, eu não posso me dar ao luxo de ficar longe dela por que isso também me faz mal.
—Seo, ela parece realmente arrependida. Você conhece a Taeyeon, sabe que ela não é de chorar e demonstrar seus sentimentos. Se ela fez isso agora, o seu pedido de perdão tem que ser de coração. - Seohyun bufou inconformada com o fato de eu ainda defender a Taeyeon depois de tudo o que eu passei e ela tinha razão em estar brava. Se Yoona fizesse com ela o que Taeyeon fez comigo eu com certeza estaria brigando com ela do mesmo jeito que a Seo está comigo.
—Não posso decidir sua vida amorosa por você Tiffany, mas eu te peço… por favor tenha cuidado com a Kim. Ela não parece bem.
—Ninguém está bem ultimamente…
Seohyun se despediu de mim e logo em seguida foi embora para se encontrar com Yoona e resolver assuntos da empresa me deixando mais um dia no hospital. Hyoyeon ainda não tinha me dado alta por eu ainda estar fraca mas ela pôde reconhecer a minha súbita melhora depois do encontro inesperado entre Taeyeon e eu. Não dava pra esconder que aquela mulher tinha o poder de me destruir e me refazer, e aquilo chegava a ser assustador.
Parecia até um pouco doentio, eu era perdidamente e loucamente apaixonada por alguém que tinha altos e baixos e esses altos e baixos me afetavam tanto psicologicamente quanto fisicamente, mas mesmo assim eu ainda a queria. Ainda que ela me machucasse mil vezes eu ainda sentia a sua falta imensamente.
Aquilo não era saudável, não era normal. Sentir aquele tipo de amor me deixava assustada e me fazia questionar se realmente Taeyeon estaria arrependida do que fez. Eu queria ter sido forte e ter aguentando ficar longe dela por mais tempo, mas eu fui tão fraca… Quando vi seus olhos, quando reconheci o seu olhar eu não pude me manter forte diante dela, era como se eu finalmente estivesse a vendo de verdade. Como se sua mascara, a mascara da garota má e vingativa estivesse caído e a verdadeira Taeyeon se mostrasse pra mim.
Agora eu não sabia como tudo se seguiria, se voltaríamos como um casal ou se tudo ia continuar na mesma confusão de sempre, mas por algum motivo eu estava confiante sobre o nosso futuro. Algo bom aconteceria, eu só não sabia o que.
***
As horas naquele hospital passavam tão depressa quanto uma tartaruga correndo. Já fazia horas que eu não tinha notícias da Taeyeon e nem da sua prima. Depois que ouvimos sobre a prisão de Kwon e o que foi encontrado no quarto da morena, Tae e Jessica saíram em disparada para o local. Eu também iria se pudesse, ouvi dizer que haviam fotos de nós três no tal quarto escondido e aquilo só me deixava mais curiosa sobre o que se passava realmente na cabeça de Kwon Yuri. Para me envolver nos seus planos de ficar com a Jessica ela devia ser muito maluca.
Já havia se passado um dia desde que vi pela última vez Taeyeon e Jessica. Depois do nosso encontro repentino aqui no hospital, não soube de mais nada sobre as duas. Esperava que Taeyeon voltasse e conversasse comigo sobre o que viram no quarto e sobre nossa situação atual mas as horas passavam e nenhum sinal dela.
Não aguentava mais ficar presa naquele quarto e já que eu ainda não tinha alta, pensei em andar um pouco pelo hospital. Soube que eles tinham um jardim enorme nos fundos em que os pacientes menos graves passavam as tardes lá para saírem um pouco do ambiente de hospital. Peguei meu soro o empurrando junto comigo e fui andando até a porta de saída.
Uma enfermeira alta e um tanto bonita me olhou desconfiada mas não disse nada sobre eu estar saindo do quarto. Tentei dar um sorriso fraco para que ela não tivesse ideias erradas de que eu estava tentando fugir ou coisa do tipo, se isso chegasse aos ouvidos de Hyoyeon, a loira me prenderia aqui por mais um dia só de pirraça.
Fui andando a passos lentos até o jardim do hospital, não era muito longe do meu quarto mas como eu ainda estava me recuperando parecia que eu tinha andado uma maratona inteira para chegar até ele. Ao passar pelas portas que davam para o grande jardim fui surpreendida por uma brisa suave que passou por mim tão delicadamente que me fez fechar os olhos apenas para aprecia-la por inteira.
O sol da tarde tocava minha pele pálida com seus raios de luz alaranjados, o ar era puro e existiam vários pacientes espalhados pelo local. Alguns sentados em bancos com seus familiares e outros apenas apreciando o final de tarde. Caminhei até o banco mais próximo onde existia uma jovem muito bonita sentada lendo um livro. Tentei me sentar cautelosa para não tirar sua atenção da leitura mas ela percebeu minha aproximação e repousou seus olhos negros sobre mim, por algum motivo ela parecia surpresa em me ver.
—Desculpe, eu não queria atrapalhar a sua leitura. Será que posso me sentar ao seu lado? Me sinto um pouco cansada. - Falei devagar poupando o meu fôlego, meu corpo ainda estava fraco disso eu não tinha dúvidas. Minha recuperação foi rápida e ótima mas ainda não era o bastante para me sentir bem novamente.
—Oh, por favor fique a vontade. - Falou sorrindo enquanto se afastava um pouco me dando mais espaço para me sentar com o meu amigo soro ao meu lado. —Creio que conheço você. Seu nome é Stephanie Hwang, certo? - Perguntou fechando o livro e o colocando em cima do seu colo. Só naquele momento pude observar do que se tratava a sua leitura.
O livro se chamava “Hoje eu sou Alice” o que me chamou bastante atenção. Na faculdade eu tinha algumas poucas colegas que cursavam psicologia e uma delas uma vez reclamou horrores sobre um professor ter passado questões sobre esse livro. Ela tirou uma péssima nota já que não havia lido o mesmo por inteiro. Eu por pura curiosidade pesquisei sobre a sinopse e me interessei por ele, o livro falava sobre uma garota que adquiriu múltiplas personalidades por conta de coisas que aconteceram em sua infância, coisas realmente cruéis. Eu assim como a minha colega nunca consegui terminar o livro, só de imaginar o que aquela garota passou eu senti meu coração diminuir dentro de mim.
—Sim, como me conhece? - Perguntei curiosa. Eu não conhecia nenhum paciente daquele hospital, achar alguém que sabe o meu nome era algo bem estranho. Ela sorriu mais uma vez.
—Eu sou Kim Seolhyun, psicóloga deste hospital e por um acaso estive com uma amiga sua, Jessica Jung. Ela me falou um pouco sobre você. - Ela chamou Jessica de “amiga” minha com tanta naturalidade que eu só podia achar que aquilo fosse alguma brincadeira idiota.
—Jessica vai ao psicólogo? Quero dizer, ela realmente precisa mas Isso é novidade pra mim. - Falei confusa, o que só deixou a moça mais risonha.
—Deixe-me explicar. Jessica me falou sobre você para que eu pudesse ajudar Kim Taeyeon. - Eu estava ainda mais confusa, porque Taeyeon precisava de ajuda e o que tinha acontecido pra Jessica me envolver nisso? Aquela garota me odeia tanto que não pediria minha ajuda nem se a vida dela dependesse disso, muito menos se a ajuda for pra Taeyeon. —Espere… ela ainda não te contou?
—Me contou oque? Doutora o que houve com Taeyeon? O que está acontecendo? - Já estava desesperada, se Jessica tinha me envolvido algo estava muito errado.
—M-Me desculpe, eu não deveria falar disso com você. Achei que a Jessica tinha te contado o que aconteceu. Pelo menos foi o que ela me disse que faria. - A mulher adquiriu uma postura rígida e passou a andar a passos largos para longe de mim, me impedindo de fazer qualquer pergunta a ela mas eu não desistiria tão facilmente.
Algo estava acontecendo, algo relacionado a saúde mental de Taeyeon e eu precisava saber o que aquilo significava, mas não tinha certeza se aquela mulher poderia me dizer tudo. Afinal ela era uma psicologa, e se ela sabia de algo sobre a Tae, não me contaria sem a permissão da própria. Tudo culpa dessa ética profissional, droga!
Peguei meu celular em mãos e mandei varias mensagens para Taeyeon, mas a mesma não respondeu nenhuma delas. Minha única opção era a Jung, se ela não me explicasse o que esta acontecendo então eu teria que invadir o consultório da doutora Kim e força-la a me dizer. Isso com certeza me traria problemas mas eu estava disposta a arcar com as consequências se necessário.
“Preciso conversar com você e tem que ser agora.”
- Mensagem enviada às 15:33
“Comigo? O que quer comigo Hwang?”
- Mensagem recebida às 15:36
“Encontrei Kim Seolhyun e ela me disse coisas bem confusas, coisas que só você pode me explicar então eu acho bom você parar seja lá o que esteja fazendo e trazer o seu traseiro pálido pra cá. Agora!”
- Mensagem enviada às 15:37
“Cacete… ”
- Mensagem recebida às 15:39
***
Eu já estava impaciente. Eram 17:56 da tarde, o sol já estava se pondo e a Jessica ainda não havia chegado ao hospital, Taeyeon também não tinha me respondido nenhuma das minhas mensagens nem ligações. Me sentia uma bomba relógio pronta para explodir em alguém. Parecia que todos tinham combinado de me ignorar hoje. Minhas pernas por mais cansadas que estivessem não conseguiam se manter paradas em um lugar só, eu andava e andava de um lado a outro contornando todo o quarto com milhões de pensamentos na cabeça. Eu não sabia o porque de Taeyeon precisar de uma psicóloga, só se seu motivo fosse seus excessos de raiva. A ultima vez que ela foi a um psicólogo foi por quase matar alguém de pancadas, o que teria acontecido dessa vez?
A porta do quarto foi aberta revelando uma Jessica suja de neve e com cara de poucos amigos. Ela entrou me encarando e já tirando o seu casaco o colocando em cima do criado mudo perto da cama. Com a sua chegada eu só fiquei mais ansiosa, estava quase pedindo pra que ela abrisse a maldita boca e falasse mas ela continuava me encarando sem dizer nada. Estávamos paradas uma na frente da outra apenas se fitando com mil e um pensamentos sem respostas.
—Diga logo, eu não aguento mais pensar o que pode ser. - Falei sentindo o meu peito palpitar de tanta ansiedade. Ela suspirou e passou a encarar o chão.
—Eu não sei se você vai ser a mesma com Taeyeon depois que eu te disser isso. - Fez uma breve pausa. —E por algum motivo eu não quero ser a culpada pelo seu afastamento dela. Querendo ou não, ela precisa da sua ajuda tanto quanto a minha.
Ok, aquela conversa estava estranha demais, mais estranha do que o meu subconsciente conseguia imaginar. Jessica parecia estar falando muito sério, não existia nenhuma ironia ou brincadeira em sua voz.
—O que aconteceu Jessica?
—Primeiro você precisa entender que não existe mais uma Taeyeon, na verdade eu acho que nunca existiu só uma… - Falou pensativa e seu semblante ficou triste, coisa difícil de se ver em Jessica Jung. O que começou a me preocupar ainda mais. Aquela conversa não fazia nenhum sentido. Como poderia existir mais de uma Taeyeon?
—Jessica, de que porra você está falando? - Perguntei já exaltada, se aquilo era uma brincadeira era melhor ela parar antes que eu voasse em cima daquele pescoço palid… Seu pescoço, só agora eu tinha visto a pequena marca rocha que existia nele, ela estava bem clara, quase desaparecendo mas ainda assim estava lá.
—Taeyeon tem duas personalidades, Hwang. E uma delas te detesta ao ponto de querer te ver machucada e sofrendo.
—O que? Não estou entendendo.
—O hematoma em meu pescoço que você tanto encara foi feito por ela. Taeyeon me machucou pensando que machucava você.
De repente minha respiração simplesmente ficou fraca, como se alguém segurasse o meu pescoço com força impedindo que eu conseguisse respirar normalmente. Eu estava trêmula e minha vista embaçada, minhas pernas ameaçaram ceder antes mesmo que eu pudesse me apoiar em algo para evitar o impacto com o chão. Fechei meus olhos sentindo o meu corpo desabar e já estava esperando pela dor da queda quando senti braços me segurarem impedindo que eu chegasse ao chão.
Fui colocada na cama, sabia disso porque podia sentir o colchão de hospital a baixo de mim. Eu sabia que estava em choque com o que ouvi e tentava me manter calma, manter a minha respiração normal para que meu corpo tivesse forças novamente. Quando consegui, abri os olhos me deparando com Taeyeon. Seu rosto tinha uma feição exausta, pior até do que eu que estava doente. Com seus cabelos soltos penteados desleixadamente ela gritava com Jessica. Fiquei surpresa ao ver e ouvir aquilo. Nunca a tinha visto brigar desse jeito com a Jung, nem quando a própria merecia ouvir umas verdades. Pelo contrário, Taeyeon sempre a tratou feito um bebê que precisava de carinho mesmo estando errada.
As duas discutiam entre si aos gritos, algo sobre o porque de eu ter desmaiado enquanto uma enfermeira invadia o quarto se aproximando de mim e segurando meu pulso checando a minha pulsação e respiração que já se normalizavam aos poucos.
—Eu nunca achei que diria isso, mas por favor parem de brigar. - Falei. Minha voz baixa cortando uma série de gritos. As duas pareceram estar envergonhadas e finalmente calaram a boca.
—Tippa, você está bem? - Perguntou Taeyeon correndo em direção a mim e praticamente arrancando meu pulso das mãos da enfermeira que por sinal fez cara feia e foi totalmente ignorada por minha namorada, ou ex-namorada. Não sei exatamente.
—Já estou melhor. - Respondi levando o meu olhar a Jessica que estava de cabeça baixa a alguns metros de nós. A cena não a deixava confortável, isso era evidente. —Jessica, venha até aqui. - Mandei e ela o fez se aproximando da cama e ficando do meu lado esquerdo, lado oposto a onde sua prima se encontrava. —O que ela fez com você? - Perguntei fechando os olhos por um segundo tentando não olhar aquele roxo em seu pescoço. Sua respiração ficou ofegante, assim como a de Taeyeon que agora a encarava com um olhar de súplica.
—Desculpe Taeyeon, mas para te ajudar ela precisa saber.
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