Sua mão fechou-se em punho enquanto ela desferia batidas sobre uma porta alguns andares abaixo do quarto onde estávamos minutos atrás.
– Pai? - seu rosto recai dentro da sala e logo estamos ambos inteiramente no local.
– Rápido, Estella . - seus olhos não sairam da pilha de papéis até finalmente perceber a filha explicar em inglês o que acontecera e me ver ali. – Shawn!! Acredito que não te dei as boas vindas ainda.
O homem de meia idade levantou-se vindo em minha direção, apertamos as mãos e ele sorria mais simpático agora.
– É um prazer senhor Escobar.
– Por favor, filho, pode me chamar por Eduardo.
– Mas, voltando ao assunto principal... - a garota se pôs entre nós.
Ela era persistente.
– Ele está no meu quarto, provavelmente disseram o número errado pra ele e agora o coitado está sem lar. – ela estava de brincadeira ou? Coitado? Sem lar?
– Impossível, eu mesmo escolhi o quarto que ele ficaria, um dos melhores... – o homem virou digitando algo no notebook. – 1999, ele está na suíte 1999.
Levantei levemente a sobrancelha lançando um olhar desafiador para Estella que parecia muito confusa.
– Mas a suíte 1999 é a minha!
– A gente tinha combinado de você trocar, lembra?? - ele pareceu se segurar pra não falar nada a mais.
A menina cruzou os braços sobre o corpo numa atitude de revolta.
– Você sabe o significado daquele quarto pra mim!
– Pensasse nisso antes de achar que está lidando com coleguinhas e não clientes do hotel! – ele foi duro e ela bufou.
– Eu já expliquei que não foi intencional assustar a Sra.Cardoso.
– Então você estava andando tranquilamente com um rato na mão e deixou-o cair na banheira de hidromassagem??!
Tentei me segurar levando em conta que estava em uma discussão de casos de família, mas imaginar aquela traquina aprontando com os hospedes me fez querer rolar de rir no chão, tirando o fato, claro, de eu ser um hospede.
Será que eu era um futuro alvo na sua lista??
– Não era um rato, o Rodolfo era um hamster!
Rapidamente virei o rosto de lado liberando um riso. O mais silencioso que eu já havia tido. Os argumentos dela só pareciam piorar.
– Estamos no Rio de Janeiro, já checou a temperatura?!! Ele precisava de um banho.
Meu rosto doeu na tentativa de segurar o barulho das gargalhadas que queriam ser liberadas.
– Já chega, Estella!
– Ma...
– Chega!! - ele repetiu mais uma vez sem ser necessário elevar seu tom de voz.
Respirei fundo e observei a menina contrair os lábios rosados num pequeno bico.
– Você vai apresentar o hotel ao Shawn quando ele tiver guardado as malas dele devidamente no quarto.
– Pai, m... – e somente com um olhar ele foi capaz de cala-lá.
– Você vai desocupar o quarto. Já deveria ter feito isso.
O homem voltou a sentar-se atrás da mesa e notei Estella piscar mais que o necessário irritada.
– Vou chamar a Marta pra tirar minhas coisas e...
– Nada disso. Você deveria ter feito, a Marta não vai ajudar em nada a não ser limpar o quarto para o Shawn.
Queria dizer que não seria necessário, mas pelo que notei aquele era o castigo da garota. Quem era eu para me intrometer em sua educação huh?
Saímos da sala logo após e seu olhar seria capaz de queimar a parede caso ela tivesse super poderes.
– Sinto muito pelo castigo...– eu realmente sentia, deveria ser péssimo perder seu quarto para um estranho.
– Sim, meu castigo é ter que ficar andando com você pra cima e pra baixo te apresentando o hotel.
Ouch.
– Não sou tão chato assim.
Na verdade, não me considerava chato nem minimamente. Sempre fiz de tudo para ser simpático e prestativo, menos que isso eu não sabia.
Ela nada respondeu. O elevador parou e andamos em direção a porta 1999 mais uma vez.
Estella tratou de entrar no closet e eu segui vendo a garota passar um sufoco para pegar uma das malas que estava no topo.
– Deixa eu te ajud...
– Não precisa, sou independente.
E eu quis rir. Comprimi os lábios segurando a gargalhada. Estella apreciava cortar a fala das pessoas, pelo que percebi.
O objeto estava na ponta do suporte e ela se esticava ao máximo pra pegar sem deixar cair. A mala era pesada.
Numa fração de segundos o objeto estalou e iria de encontro com seu rosto se eu não tivesse agarrado antes.
É. Estava pesado.
A menina caiu de bunda no chão com o susto e dessa vez eu não deixei de rir enquanto arrastava a mala para fora do closet.
– Independente, huh? – provoquei e pude ouvir seu grunhido de raiva.
Estella parecia o tipo de pessoa fácil de lidar, mas somente se quisesse que assim fosse. E, bem, no meu caso ela não parecia querer facilitar tanto.
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