O show da noite anterior, em Sidney, tinha sido incrível. E mesmo com a correria era impossível não se divertir com a equipe.
Agora, ao meu lado, Shawn dormia tranquilamente sendo agraciado pela luz que entrava da janela. Abraçado ao travesseiro, de bruços e com a cabeça virada para o lado oposto eu tinha uma visão incrível dos seus cabelos achocolatados e suas costas relaxadas graças ao sono.
Dividir a princípio poderia parecer algo ruim ou chato, mas dividir com ele era aconchegante; quarto, cama, felicidade, até mesmo meus medos. Me sentia confortável para compartilhar maior parte das coisas e muitas vezes saia tão natural que nem nos dávamos conta. Shawn era meu parceiro e foi capaz de cultivar algo delicado: confiança.
Eu confiava nele para dividirmos a vida.
— Shawn...— sussurrei enquanto deslizava as unhas sobre suas costas ligando os pontos imaginários. — Acorda.
Ouvi seu murmuro abafado e foi inevitável o sorrir.
Em alguns momentos eu me sentia como num atelier e o homem ao meu lado era a obra prima. Talvez a claridade o favorecesse, ou a genética, embora eu tivesse certeza que o achava incrivelmente lindo pelo pacote completo.
Shawn Mendes não era somente um rosto bonito ou uma voz talentosa. O Mendes era aquele que se preocupava com as pessoas ao seu redor, que mantinha sua paciência ao máximo e mesmo tendo alergia a cães e gatos não conseguia evitar o carinho; era também aquele que tomava minhas mãos sobre a sua e conseguia em silêncio gritar pra dentro de mim que me protegeria. Shawn era o sorriso acolhedor, o abraço do lar, a voz de conforto...Exatamente como numa obra prima era a união perfeita de sensações e sentimentos.
Chuva em meio ao sol: Shawn Mendes era o tesouro no fim do arco-íris e somente fui capaz de encontra-lo graças às trapalhadas do destino. O que a princípio era um problema nos transformou na solução um do outro.
— Você precisa acordar.— me coloquei sobre suas costas enquanto meus lábios percorriam sua pele exposta.
Deixei beijos molhados até a altura do seu pescoço e mordi de leve seu ombro. Graças ao silêncio consegui ouvir a risada nasal dele.
— Amor, sério, acorda.— bagunço mais seus fios e ele levantou a cabeça levemente enquanto abria os olhos.
— Se eu fingir ainda estar dormindo você me chama de amor de novo?— a voz rouca de sono e os glóbulos entre abertos aqueceram meu coração.
Sorri. Eu tinha chamado-o de Amor sem nem perceber, mas era exatamente isso que Shawn representava: a genuinidade desse sentimento.
— Se você fingir estar dormindo eu vou perder minha paciência e amor vai ser a última coisa que eu vou ter. — brinquei.
— Have mercy on me, Estella.
— Don't be a fool, Shawn Mendes. — rebati.
— I'm losing my patiente.
— Baby, I'm just tryna be honest with ya. — segurei o riso pela careta que Shawn fez.
— Fã do seu namorado, huh?
Ele bateu a mão sobre minha bunda e eu elevei meu corpo permitindo que deitasse de peito pra cima.
— Só porque tô acompanhando os shows, para de crescer esse ego. — virei o rosto pra não encarar a face risonha e ainda sonolento do Mendes.
— Eu não cantei Honest, Estella.— e eu tinha certeza que sua cara de deboche era maior que seu sono agora.
— Talvez, só talvez, eu tenha colocado umas músicas suas na minha playlist do Spotify.— justifiquei enquanto suas mãos acariciavam minhas coxas descobertas.
Shawn desviou o olhar do meu rosto para suas mãos e em seguida tornou a me olhar nos olhos. Eu amava seus olhos. Amava como ele conseguia percorrer meu corpo com as mãos e acariciar minha alma com os glóbulos achocolatados.
— Qual playlist?
— Uma playlist, oras!
— Hm, quero ouvir.
— Você é muito curioso! — reclamei com uma falsa indignação enquanto Shawn ria de forma sonoramente maravilhosa.
— Se você não me mostrar eu vou achar que essa playlist só tem músicas minhas.
— Você tá muito convencido, credo.
Estiquei meu corpo até o meu travesseiro e peguei meu celular ao lado de um pacote plástico metalizado de camisinha. Eu vinha encontrando aqueles pacotinhos desde que comentei com Shawn que precisaríamos usar; minha ginecologista do brasil recomentou que eu passasse um tempo sem tomar o anticoncepcional pra poder fazer a troca de um medicamento para outro, segundo ela era mais seguro porque talvez eu tivesse alguma reação.
Destravo o celular e abro o aplicativo de música colocando na playlist que tinha criado para a viagem. Meu aleatório acerta em cheio Ruin.
— A probabilidade do aleatório acertar uma música minha é bem pequena, acho que só tem eu aí.— adorava seus momentos de deboche e ego em um leve crescimento. Era engraçado.
Entreguei o aparelho a Shawn que deslizou os dedos enquanto parecia ler atentamente aos títulos.
— Slow dancing in a burning room.— sorri.
— Sim. Coloquei depois que você me acordou com ela, todas as músicas do John são incríveis, na verdade.— comentei.
— Help me out, — era a música da Julia Michaels, a que estava abrindo os últimos shows.— Você ouve a Julia?
— Coloquei na playlist só de enfeite. — fiz minha melhor cara de seriedade enquanto ele rolava levemente os olhos. — Fui procurar alguma música dela pra colocar ai depois que nos conhecemos. Vou confessar que embora ela cante muito bem, minhas partes favoritas são as do Adam.
Help me out era uma música da Michaels com Maroon 5 e eu não poderia deixar de externar minha predileção pela banda.
— Começou a falar dele só para amanhã agora.— Shawn bufou me fazendo rir.
— Eu nem ia falar, mas você viu a nova tatuagem dele? — perguntei.
Meu namorado arqueou a sobrancelha e deixou os lábios numa linha reta.
— Eu tenho cara de quem acompanha Adam Levine, por acaso?
Balancei a cabeça freneticamente enquanto segurava a gargalhada que queria ser liberada por entre meus lábios. Ou eu riria escandalosamente ou cuspiria em Shawn, preferi o barulho estranho que acabou contagiando o Mendes, embora muito pouco por ele ainda tentar manter a cara fechada.
— Tem sim, Mendes, inclusive você segue ele no instagram.
— Como você sabe? Fica olhando quem me segue agora?
— Deus me livre, tem muita gente. Eu fui olhar os seguidores verificados que o Adam tinha ai encontrei meu namorado lá.— isso realmente tinha acontecido, eu tinha ido em busca de pistas sobre uma suposta nova parceria de música e precisava estar ciente de quem o Adam andava mantendo contato.
— Mas eu não acompanho ele.
— Toda foto que ele posta fica lá em baixo "curtido por Shawmendes e outras tantas mil pessoas". Se isso não é acompanhar eu não sei o que é.
— Não quero falar das tatuagens do Adam, você já viu as do John Mayer?
— Meu Deussss, Shawn Mendes você é muito John Mayer stan. — joguei minha cabeça pra trás rindo.
— Ok, vamos falar das nossas tatuagens então...
— Eu não tenho tatuagem duuuh.
— A gente pode resolver isso, a não ser que você tenha med...
— Tá se sentindo o bambambam por causa de algumas tatuagens, Shawn?!
— Eu não falei nada, Estella.
— Ok, queridinho.
Sua mão apertou a carne da minha perna rindo e eu fiz o mesmo com sua barriga.
— Eu vou fazer uma tatuagem temporário em você...— Shawn direciona a palma em minhas costas e em segundos eu estou deitada sobre ele. Seus lábios escorrem como água por entre minha pele quente do pescoço e eu arrepio ao sentir seu dente morder levemente a área. O barulho de sucção é audível e eu murmuro apertando seu braço que me segura com mais força. O canadense afasta após dar-se por satisfeito e deposita um beijinho carinhoso por cima do local dolorido. Certamente a coloração já deveria estar em leve evidencia.— Pronto. Te tatuei.— brinca me arrancando um risinho.
Bobo. Ele já estava tatuado bem onde minhas costelas davam sinal de vida por um coração acelerado. Shawn tinha se instalado em cada pequeno pedaço de mim e chegava a ser engraçado a ideia de uma mera marca como tatuagem quando seu nome estava assinado em mim com letras maiúsculas.
— I love you so bad. — ele lia o título de uma das músicas.
—Eu sei. — brinquei.
— LANY...nunca ouvi.
— Deveria, eles são incríveis.
Shawn deu play na música e eu deixei que meu corpo se aconchegasse melhor sobre o seu.
Ain't never felt tihs way. Can't get enough so stay with me
A voz de Paul, o vocalista, soou pelo cômodo e eu apertei mais meu namorado contra mim.
It's not like we got big plans, let's travel around town holding hands
Apreciei os dedos de Shawn por entre meus fios de cabelo num carinho reconfortante. Meu ouvido estava posicionado exatamente sobre a altura do seu peito e nada nunca soou tão melodioso quanto as batidas da música junto com as do seu coração.
O refrão me atingiu em cheio porque ele tocou meu queixo deixando o mesmo apoiado sobre si e dando inicio a um contato ocular. Pele com pele, olho com olho, agora mão com mão...Shawn e eu conversávamos silenciosamente.
Oh, my heart hurts so good. I love you, babe, so bad.
Jurei ter ouvido aquela parte mais vezes do que o refrão permitia enquanto tinha as orbes do Mendes sobre mim.
Quebrei contato para depositar um beijo casto sobre seu peitoral.
As últimas batidas da canção foram ouvidas.
— É muito bom acordar com música.
Meu namorado balançou a cabeça de forma lenta e negativa.
— É muito bom acordar com você.— rebate.
Sorri.
— Bom dia então.
— Bom dia.
Permaneci deitada sobre ele apreciando seus toques e nosso contato. Meu subconsciente gritava avisando que nos atrasaríamos para o café da manhã, mas meu corpo apertava mais Shawn contra mim a cada lembrete.
Ao som do aleatório tranquilo da playlist dormimos novamente, ou ao menos eu me entreguei a um cochilo confortável no topo do corpo de Shawn.
— Seu sono passou pra mim, cruzes, Shawn Mendes. Cruzes! — reclamei quando percebi que tinha dormido. Levanto preguiçosamente xingando meu corpo que não queria quebrar o contato dos poros de nossa pele.
— Não duvido nada que o Geoff saia sem esperar pela gente. — e eu realmente senti o tom de verdade entre aquela brincadeira. Acho que Jessica seria a primeira a incentiva-lo a nos deixar.
— Então não demora no banho, por favooor. — arrastei a voz juntando minhas palmas como numa súplica.
Shawn mexeu os lábios parecendo pensar e em seguida sorriu largo. Eu sabia que ele soltaria alguma pérola.
— Se você tomar banho comigo vai ser muito mais rápido.
— Eu realmente estou interessada no passeio de hoje. — alertei. — Somente banho e se a gente demorar eu... — pensei numa vingança, mas acabei falhando porque Shawn já ria da situação.— eu arrumo algum ponto fraco seu até lá.
O deboche voltou com a continência que Shawn fingiu bater.
Entrei no banheiro sendo seguida pelo meu namorado. Livrei meu corpo das roupas e prendi os cabelos no topo da cabeça, não molharia.
O Mendes ligou o chuveiro na água gelada fazendo eu me encolher levemente.
—Shawn!!! — repreendo quando as gotas fortes começaram a atingir meus fios caramelados graças a sua altura. — Eu não quero molhar o cabelo.
A risada do canadense ecoou no box e eu bufei empurrando seu corpo para longe e me colocando na direção do chuveiro. Me ensaboo enquanto ele lava os cabelos e cantarola algo desconhecido por mim.
Quando terminamos o banho e nos vestimos foi questão de minutos até estarmos na mesa do café da manhã ouvindo sobre nosso atraso de uma Jessica que ainda trajava os pijamas. Se meus cálculos estivessem certos somente cinco minutos nos distanciava do horário combinado, mas eu nunca fui muito boa em exatas.
A melhor sensação foi chegar ao barco e ver o clima ao nosso favor. Não era um sol de torrar, mas tinha certeza que aqueles 23°C nos manteria confortável durante o tempo necessário.
Entre a lista de coisas que fizemos naquela manhã e no início da tarde entram: conversar com pinguins como se eles nos entendessem, segundo a Jessica ela sentiu-se no filme de Madagascar; o elenco do filme contava com Shawn Mendes as Melman, a pequena, ou nem tanto girafa, Geoff Warburton as Alex, o leão pelo simples fato da representatividade de uma figura mais séria (ou não, já que depois de um tempo Geoff se tornava o responsável pelas piadas em momentos aleatórios); Andrew Gertler as Mort, o rato lêmur servo do Rei Julien, a justificativa foi que o ratinho era fofo e aos olhos dela o Andrew também. Não consegui me concentrar no resto da nomeação já que estava ocupada tentando enxugar as lágrimas que escorriam pelas gargalhadas descontroladas. Se eu não estivesse apoiada já tinha caído na água.
As risadas já começavam a sessar quando Shawn caminhou até mim se abaixando.
— Injusto a gente receber nomes de personagens e você ficar na boa rindo.
— Você já parou pra pensar que se forem adaptar os filmes e tirar do formato desenho eles podem te chamar pra interpretar o Melman mesmo?! — provoco.— Você fica ai desmerecendo o Melman só porque quer ser o Peter Park, dá pra ser os dois na boa, Shawn.
Crispando as sobrancelhas o Mendes bufou, ele queria rir e eu percebia pelo leve tremor no canto dos seus lábios rosados. Diferente de mim que vestia meus trajes de banho e tentava absorver o máximo de luz solar possível, meu namorado se escondia dentro do seu casaco e bermuda tactel.
Antes que ele respondesse minha piada Josiah chama nossa atenção apontando para a câmera em mãos.
— Vocês ficam ótimos nas câmeras. — comentou enquanto ajustava a lente.
— Não só nas câmeras. — consigo ouvir a voz de Jessica e deixo escapar um sorriso sem jeito.
Shawn me lança um olhar e em seguida desvia para a máquina nas mãos do amigo, faço o mesmo embora seja difícil parar de tentar descobrir detalhes mínimos sobre ele. O barulho indica que a foto havia sido tirada e o momento eternizado.
A vantagem dos registros fotográficos era que embora não fossem capazes de descrever tudo, elas guardavam, nos momentos felizes, corações intactos, o tempo era congelado e naquela imagem eu e Shawn jamais quebraríamos nossos corações.
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