História Will You Still Love Me Tomorrow - Capítulo 18

Eu estava no meu horário então andava sem pressa pelos longos corredores, havia uma multidão olhando no quadro. Eu me aproximei ainda sem muita curiosidade e parei ao lado de Maggie.

- O que tá acontecendo?

- Saíram as datas da audição pro Bolshoi.

Na hora que ela falou me bateu um gelo, eu queria olhar, mas me dava medo. Tudo passou na minha cabeça nessa hora, desde tudo que eu fiz para conseguir isso e tudo que eu tenho vivido com o Anthony.

- Em dois meses.

- Já?

- Uhum, vão ser dois dias de audições para três bailarinas, quem conseguir já está com o lugar garantido no voo pra Moscou.

- Moscou?

- Sim. – respondeu com normalidade. – Por que?

- Essa é a única opção?

- Que foi, Anne? Você sabia disso, tudo bem que não era confirmado, mas não é nenhuma novidade pra você.

- É que eu achei que tinha a chance de entrar em uma escola aqui dos EUA, talvez.

- Mas por que isso? – me encarou – Você sempre quis ir pra lá, desde que eu te conheço é isso que você vem sonhando. – eu permaneci em silencio, apenas pensando na bagunça que tudo estava se tornando. – Ah, é por causa dele né.

E então ela achou o ponto que me machucava. Era exatamente com o Anthony que eu estava preocupada, eu não quero e não posso deixar ele.

- Você realmente está gostando dele, não é? – apenas assenti não querendo entrar nesse assunto.

- Eu não sei o que fazer.

- Você gosta dele a ponto de desistir de tudo isso que lutou? É maior que todos esses anos de esforço?

- É mais importante que tudo isso. Não vejo mais sentido nessa audição se for para sair do país.

Observei sua boca abrir um pouco e ela ficar surpresa com minha declaração, até eu estava.

- Então qual o seu medo?

- Eu amo ele, mas as vezes me assusta a ideia de desistir de tudo. Não parece comigo. 

- Você não está desistindo. Não existe só o Bolshoi. Imagina você passando frio na Rússia e não ter aquele pelo par de braços pra te abraçar. – ri do jeito dela

Me encostei na parede querendo pensar, mas minha cabeça estava a mil.

- Nadar e nadar pra morrer na praia?

- Nadar e nadar para encontrar o salva vidas na praia. – deu uma piscada com um sorrisinho e eu não pude deixar de sorrir.

Só ela para me distrair numa horas dessas.

- Tá na hora, meninas! – Elena surgiu na porta ao final do corredor anunciando. – Vocês têm tempo pra isso.

Eu já não estava mais com vontade de fazer aula, eu queria dormir, chorar, fugir, qualquer coisa menos ter que me concentrar no que me da dor de cabeça.

Era um esforço terrível para conseguir me concentrar na sequência e eu não fiquei até o final da aula, na primeira oportunidade que eu tive eu sai dali, só precisava ir pra casa, nada mais.

Fui o caminho inteiro pensando, eu praticamente nasci fazendo ballet, lutei anos da minha vida para conseguir bolsa nas melhores escolas, trabalhei muito para conseguir chegar onde eu estou e estou a um passo do que eu sempre quis, ir para o maior ballet. Eu nunca me importei em deixar tudo e em seguir, mas antes era diferente. Hoje eu não consigo imaginar que vou ser feliz apenas com o ballet, pode ser a melhor escola do mundo. Anthony é maravilhoso, mas será que ele realmente está pensando em um futuro comigo? Até outro dia ele estava com uma a cada dia, como vou saber se comigo não vai ser diferente?

Cheguei em casa e me joguei no sofá com essa dúvida, eu não tinha fome nem sono apenas medo de fazer algo errado. Fiquei por horas pensando, sempre ali sentada no sofá, parece que o tempo passou como o vento.

Ouvi um barulho na porta e logo outro motivo da minha indecisão chegou. Estava tão lindo com uma camisa branca e um agasalho azul, aquele cabelo longo e a mochila de um ombro.

Qualquer outra coisa que estivesse na minha mente sumia ao ver ele, como eu posso considerar a ideia de deixa-lo? Eu nunca me preocupei com o passado dele, mas tudo vira motivo pra me deixar confusa agora.

Ele me deu aquele sorriso que fazia meu coração acelerar e fechou a porta.

- Chegou cedo. – veio ao meu lado e me beijou. – O que foi? – perguntou sério, sua expressão já mudara totalmente ao perceber a minha.

- Nada, só sai mais cedo.  – ele deixou a mochila de canto e se sentou ao meu lado.

- Não tente esconder de mim. Você está preocupada com algo. – ele me segurou e me colocou no colo dele.

- Saíram as datas para as audições.

- E quando são?

- Em dois meses.

- E é esse seu medo, meu amor? – sorriu carinhoso – Vai dar tudo certo.

- Na verdade acho que agora esse é meu medo. – ele me olhou confuso então eu continuei. – Se eu passar eu teria que ir para Moscou.

- Por muito tempo?

- Até quando eu estivesse no ballet de lá.

Enfim ele entendeu o que eu quis dizer, sua expressão mudou e ele então me compreendeu.

- Então...

- Não. Isso não! – afirmei sabendo do que ele estava falando. – Eu não vou deixar você.

- Era por isso que você dizia que não podia dar certo né. – assenti

- Eu achei que eu teria uma filial por aqui, que eu não precisava necessariamente ir pra lá.

- Anne, eu não posso dizer nada. Eu não quero te atrapalhar, eu sei o quanto você lutou por isso, o quanto você ama o que faz.

- Eu amo o que eu faço, mas amo você mais ainda. Já disse que não vou ir.

- Então o que vai fazer?

- Nada, vou deixar as coisas irem normalmente.

- E se você passar?

- Eu não sei, vou dar um jeito e conseguir uma por aqui.

Ele não pareceu acreditar do que eu disse, talvez eu não devesse ter contado pra ele, eu deveria ter feito como se nada tivesse acontecido, mas ele iria perceber mais cedo ou mais tarde.

Ele fechou seus braços em torno de mim me abraçando forte, foi algo meio repentino, mas eu retribui do mesmo jeito. Seu rosto estava afundado no meu cabelo que caia pelo ombro enquanto eu brincava com seu cabelo.

Então ficamos assim por um longo tempo, apenas juntos.

- Eu não quero te perder. – disse sem me encarar.

- Você não vai, Tony. Não pense muito nisso porque nem eu vou pensar.

- Mas você vai nessa audição, não vai?

- Vou. Porque se eles me aceitarem e eu não for, várias das melhores escolas daqui vão me chamar também.

- E é isso que você quer?

- Eu só não quero ficar longe de você. – sorri tentando aliviar um pouco aquele clima e lhe dei um selinho. – Então, quais os planos pra hoje?

- Por que veio mais cedo?

- Tava cansada. – dei de ombros.

- Milagre você admitindo. 

Ele não ficou no seu humor normal, por mais que ele tentasse, eu sei que eu to numa confusão grande, mas eu tenho que mostrar pra ele que eu realmente não estou disposta a abrir mão dele.