Era um domingo à tarde, hoje seria o dia da apresentação beneficente. Eu estou super animada, me sinto bem em fazer isso e a apresentação seria diferente do que sempre fazíamos. Pra não entediarmos as crianças já que a gente sabe que nem todo mundo se interessa então nós adaptamos.
A história ainda é a mesma, mas fizemos algumas piadinhas, algumas coisas mais legais, mais divertidas e isso sempre dava certo. Talvez por não ter que usar técnica isso ficava mais leve, eu não ficava tão preocupada.
E outra coisa que ajudava era o Anthony estar aqui, ele perto de mim me deixava mais calma. Ele estava conversando com algumas crianças, parece que ele realmente gosta dos pequenos enquanto isso eu me arrumava.
Fui para a coxia ficar observando o pessoal arrumar as coisas. Era bom eu ficar por perto pois logo ia começar.
- Tudo certo, Anne? – Elena gritou de longe e eu apenas acenei.
Quando olhei de volta Anthony estava ao meu lado. Sorrindo igual uma criança.
- Animada?
- Muito.
- Eu achei incrível essa ideia, Anne. Não vejo a hora de começar.
- Eu também, adoro isso que eles fazem. Mesmo quando eu não era dessa escola eu já participava. Só acho que isso deveria acontecer mais vezes.
- O melhor de tudo é te ver despreocupada. Feliz por fazer isso e não nervosa com medo de errar.
- É eu sei, também gosto de estar assim. – sorri.
- Tá se sentindo bem, né. Você comeu antes.
- Comi, Tony. Eu estou ótima.
Ele sorriu satisfeito e puxou minha mão para eu ficar mais perto dele, não podíamos ficar nos agarrando, mas que era óbvia a intenção de ambos.
Aos poucos foram aparecendo o pessoal ao meu lado e logo minha professora estava no meio.
- Cinco minutos, Anne. – disse e até eu estranhei o bom humor.
- Vai lá. Boa sorte.
Agradeci e ele deixou um beijo em meus lábios. Logo me virei indo um pouco mais a frente para poder entrar.
Anthony’s POV
Eu me apoiei em uma das caixas ali e fiquei observando Anne no palco, o talento dela ia além do que eu podia imaginar. Ela estava dançando, atuando e ainda arrancando risadas das crianças. Acho que foi a melhor apresentação que já vi, não só por ser uma iniciativa muito bonita, mas também por vê-la tão feliz.
Eu não conseguia tirar o sorriso idiota do rosto enquanto assistia, estava tão distraído que mal percebi a figura que se aproximou ao meu lado. Tinha um cabelo bem preto e a pele pálida e se apoiou na mesma caixa que eu estava, cruzou os braços e ficou assistindo também com um sorriso no rosto.
Foi a moça que chamou a Anne na hora de entrar, deve ser a tal professora. Ignorei e voltei a assistir, não querendo perder um minuto.
- Essa menina é um talento nato – comentou e eu olhei pra ela. – Anne.
- Ela dança muito bem – disse não querendo puxar assunto.
- É mais que isso, ela tem uma capacidade que vai levar ela longe. Acho que até ela desconhece isso. Uma pena que anda tão distraída.
Eu senti isso como uma bela de uma direta. Mesmo assim ignorei.
- Deve ser uma fase.
- Eu espero – olhou diretamente pra mim como se quisesse dizer mais que isso – Ela é nossa preferida. Desde o dia que entrou lá.
Dessa vez eu olhei pra ela e ela entendeu como interesse para que continuasse.
- Sabíamos desde o início o quanto foi difícil pra ela tudo isso, desde o começo, quando trabalhava para pagar as escolas, então depois foi conseguindo bolsa em escola cada vez melhores... Até que chegou a nossa. Ela era nosso tesouro. Seu sonho era entrar no Bolshoi e eu falei a ela que seu lugar já estava garantido.
- E não está?
- Eu já não sei mais. Eu percebo ela distante como se algo a afastasse disso e eu realmente sofro por ela.
- O que você está querendo dizer com isso?
- O que está obvio. Ela se apaixonou e isso mudou a mente dela como acontece com todos. Eu não tenho nada contra você Anthony, mas só quero que saiba que muito antes de você a paixão dela sempre foi o ballet.
- Eu nunca pedi para ela largar isso ou desistir por mim.
- Esse tipo de coisa não se diz com palavras. Ela está presa a você, mas eu sei o quanto ela ainda quer aquilo, você também sabe, pois se não fosse assim ela já teria tomado sua decisão.
Eu já me sentia mal sem ninguém me dizer nada, agora com essas palavras eu me sinto péssimo, intruso, alguém que está bagunçando tudo.
- Acho que você está entendendo errado.
- Não, é você quem está. Não vê como isso é injusto?! Isso não existe, um dia vai acabar e o que ela vai fazer? Olhe você, desistiria da sua carreira por ela?
- Isso são coisas diferentes. E eu não estou pedindo para ela desistir.
- Mas nem precisa pedir, olhe pra ela. Vai dizer que não percebe ela ausente? Acha que não tem parte nisso?
Eu fiquei em silencio, ela não fazia ideia de como eu me sentia culpado por isso.
- Ela ainda quer isso, Anthony e ela ainda tem tempo. Não estrague isso que ela lutou tanto pra conseguir. Eu sei como pode ser difícil, mas é o melhor jeito pra vocês dois.
Eu não tinha mais onde argumentar, ela estava certa, eu sabia de tudo isso, mas essa moça falando comigo foi realmente um choque, alguém além de mim pensava assim.
Eu olhei pro palco e ela ainda dançava, é o que ela gosta, eu não posso tirar isso dela. E eu sei que eu estou a prejudicando. Me deu um aperto no peito, uma sensação estranha só de pensar em ficar longe dela, isso ia doer mais do que eu podia imaginar, mas não vou ter outra saída a não ser tentar me afastar.
Fim Anthony’s POV
Eu me sentia realizada no final da apresentação, ver todas aquelas crianças era mais gratificante do que ver um monte de jurados aplaudindo em pé.
Mas quem eu mais queria ver não estava na plateia, corri para a coxia e ele ainda estava ali. Só que estranho, distraído talvez.
- Tony?
Chamei e ele me olhou, tentava parecer normal, mas claramente estava passando outras coisas por sua cabeça.
- Tá tudo bem?
- Tá sim. Eu só estava pensativo.
- Hmm. O que achou? – perguntei animada.
- Lindo, você foi perfeita. – disse, mas eu percebia que algo estava estranho ali.
- Anthony o que aconteceu?
- Não é nada, eu só estava pensando em umas coisas da banda. Me desculpe. Mas Anne, você foi incrível, não sabia que você fazia comédia também.
- Não sou boa nessa parte, mas a gente faz o que pode.
- Você é boa em tudo que você quiser Anne. – ele falou com um jeito carinhoso e mesmo assim aquela preocupação não saia de seu rosto. Eu queria tanto saber o que aconteceu pra ele estar assim.
Mas acima de tudo eu estava feliz por ele estar comigo e por tudo ter dado certo, o abracei querendo relaxar esse momento e ele pareceu não querer retribuir. Fechei meus braços com mais força e coloquei minha cabeça em seu peito.
- Me diz o que você está pensando – pedi e ele não respondeu, mas dessa vez me abraçou e me abraçou forte. Me segurando em seus braços e afundando o rosto em meu pescoço.
- Vamos pra casa. – eu assenti e ele sorriu
No caminho até que ele foi voltando ao normal, estava conversando e tudo mais, só não gostei da conversa na hora que ele disse que teria que voltar pra casa pra resolver uns assuntos. Mas tive que concordar.
Eu estava exausta, só queria banho e cama, mas me desanimava pensar em ficar sozinha.
- Anne, eu vou pra casa. – disse já perto da porta
- Já?
- Uhum, combinei com o Flea. Desculpa.
- Ta tudo bem. – sorri e fui até ele. – Eu não sei o que aconteceu, Anthony, sei que você não vai me contar, mas pelo amor de Deus, pense no que vai fazer.
Eu não sabia se o que eu falei tinha feito sentido, mas eu senti que algo envolvia tudo que estávamos passando e não a banda. Ele me puxou pros braços dele em outro abraço apertado, eu levantei meu rosto até o seu e encostei meus lábios nos dele. A início foi um beijo calmo e doce, eu tentava manter nesse ritmo, não sabendo o que esperar dele. Mas pra minha surpresa ele começou a aprofundar deixando mais intenso. Parecendo aqueles beijos de reencontro ou despedida.
- Vai ficar tudo bem – eu disse – Já disse que não vou a lugar nenhum sem você.
Eu não estava realmente muito preocupada, acho que ele só estava um pouco confuso, espero que amanhã ele esteja melhor.
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