Meu olhos pesam e sinto uma ardencia forte ao meu peito, consigo franzir o venho de dor mas a sinto mais forte na cabeça. Tento me recordar de algo e lembro da queda que sofri, dos latidos que ouvi antes de desmaiar. Abro os olhos com dificuldade e suspiro pesadamente ao ver que estava numa sala branca, semelhante a uma enfermaria. Ótimo, tudo o que precisava agora era o envolvimento de humanos.
Rodo os olhos pelo cômodo e vejo uma agulha no meu braço, ligada a um líquido transparente que provavelmente seria soro. A luz clara que entra pelas janelas me faz crer que era já era de manhã. Tento me sentar e arfo ao sentir uma dor forte nas costelas, tiro a agulha do meu braço e me acomo da maca, me acostumando com o incômodo.
— Você acordou. — Ouço e meus olhos se guiam até um rapaz não muito alto, me olhando de forma confusa e um pouco empolgada. Sinto que é familiar, mas não me lembro de onde o vi. Seus olhos me devoram minha pele exposta em curiosidade e um leve reflexo de desejo, observando meu físico. — Não devia ter tirado o soro, você ainda está se medicando. — diz, pigarreando, enquanto aponta para a agulha e se aproxima lentamente.
Me mantenho em silêncio, tentando criar um plano e sair dali o mais rápido possível.
— ... Não consegue falar?
— Não, eu consigo. — murmuro e minha voz sai falhada, talvez pelo tempo que não a usava nessa forma.
— Certo. — soa desconcertado e se senta em uma cadeira perto de mim. — Está se sentindo bem?
— Eu quero ir embora. — Não respondo a sua pergunta e o encaro desconfiada.
— …Ah, receio que não possa ainda. — sussurra tímido, talvez sem graça por ter desviado de sua pergunta. — O xerife quer saber o que houve com você. Já que quando a achei, estava machucada e… nua.
Quase arqueio a sobrancelha e respiro fundo, reconhecendo o cheiro dele e sua identidade. Ele mora na casa.
— Não quero abrir um B.O. — falo e o olho. — Eu cai na floresta e rolei até perto de uma casa. Estava apenas nadando por um rio perto dali.
O rapaz me olha desconfiado e quase reviro os olhos com a desconfiança desnecessária.
— Tem certeza disso? Saiba que pode contar o que houve. A polícia vai lhe dar suporte e proteção. — Seu tom é cuidadoso e até riria de sua tentativa falha de me fazer confessar um suposto estupro, mas me mantenho séria.
— Não preciso de proteção.
Ele me encara por alguns segundos e suas irís escuras aparentam tentar descobrir algum tipo de enigma, seus lábios parecem hesitantes.
— Qual o seu nome? — pergunta e eu o olho levemente intrigada. Apesar de hesitar, lhe respondo.
— Akira. — digo e engole seco, parecendo voltar a realidade.
— Me chamo Jungkook. — diz e estende a mão, da qual não aperto. Analiso seu nome e entendo que não é daqui, então o observo, dessa vez curiosa.
Seu corpo e energia passam uma aurea sombria e triste que já havia sentido antes, me lembrando em como sua alma parecia ferida. Seus lumes me dão uma sensação de familiaridade e me repreendo por lembrar das vezes que o observei sem seu conhecimento. O garoto do cão perdido, o mesmo que chamou minha atenção da última vez.
O contato visual se estende e memórias da noite que nos vimos em minha forma progenitora me faz lembrar da inexistencia do medo em seu olhar. O brilho da lua dava à suas irís um tom de azul escuro que me encantaram e quase me fizeram perder o controle.
Sinto seu suspiro surpreso e percebo que está vidrado em meus olhos. Meus pelos se arrepiam e meu coração acelera em súbito, mostrando que meu estado de reflexão trouxe meu outro lado à ativa. Desvio o olhar e vejo uma mulher baixinha vir até nós.
— Você acordou! Que bom! — Seu sorrio apresenta uma felicidade genuína. — Como se sente? — Se aproxima e a vejo tocar minha mão com delicadeza. Desvio de seu toque lentamente e me permito sorrir suavemente, tentando passar um falso conforto.
— Me sinto bem, obrigada. — sou curta e ela apenas assente.
—Vou chamar o médico e o xerife, certo? Precisam conversar. — avisa e olha para o garoto, em seguida sai.
O silêncio reina e vejo que o tal Jungkook não me encara mais, mas ainda se atenta a meus movimentos. Sua linguagem corporal me incomoda por sua ansiedade e uma tensão vem ao ar.
— De onde você é? — fala em um muxoxo, tentando puxar assunto.
— Sou de uma cidade próxima, moro sozinha numa casa da floresta. — O olho e seus olhos não conseguem mais me encarar. Parece perdido, receoso, talvez?
— Millston?
— Isso. — afirmo, não me preocupando em dar mais detalhes da cidade pequena.
— Ah, entendo. — Fica em silêncio e não me preocupo em quebrá-lo, apenas esperando o médico chegar para poder sair dali.
Espero poucos segundo, logo vendo um senhor de idade entrar. Ele faz os exames em mim, parecendo confuso e intrigado.
— Você está incrivelmente bem. — diz parecendo levemente estupefato. Ignoro sua surpresa e apenas me preparo para levantar.
— Ótimo. Quando poderei ir embora?
— Vamos esperar os resultados de alguns exames antes de pensarmos nisso, ok?— diz e reflete alguns segundos. — Pode me dizer o que houve com você?
— Estava na floresta, resolvi tomar banho em um riacho perto, mas me assustei com um barulho e caí rolando ladeira a baixo. Devo ter me machucado na queda, mas apenas isso. — falo e seus olhos varrem meu rosto, procurando algum tipo de mentira.
— Seus exames mostram que há algumas vitaminas baixas, vou passar alguns suplementos e daqui alguns dias quero que volte para fazer um check-up, tudo bem?
— Uhm… Creio que não poderei voltar. — digo e me olham curiosos. — Irei viajar. — minto. — Talvez demore para voltar.
— Entendo. Bem, tome as vitaminas corretamente e assim que puder, volte para o hospital, tudo bem? — O médico me dá um sorriso gentil, logo assentindo e se afastando.
— Ele irá lhe dar alta daqui a pouco. Não se preocupe, logo poderá ir para casa. — A enfermeira me avisa e se retira.
Suspiro aliviada, ansiosa para sair. O garoto de olhos rasgados ainda me encara e não aparenta perceber isso.
— … Encarar é rude, sabia? — pergunto e o olho, vendo uma tonalidade vermelha assumir suas bochechas. Ele ri sem graça e desvia o olhar.
— Desculpe. — Pigarreia. — Eu trouxe uma muda de roupas para você, para que ficasse confortável.
Sorrio de leve. Gentil, porém desnecessário.
— Obrigado. — agradeço e ele dá um sorriso simples.
Minutos se passam e a enfermeira gentil volta. Ela me dá alguns remédios e faz uns últimos exames, dando-me alta e em seguida me ajudando a vestir.
Arrumo a calcinha visivelmente nova e me remexo desconfortável, não estando habituada a usar roupas como fazia antes. O vestido que usava era solto e eu agradeço por isso. Seu tecido é leve e confortável, tornando a experiência um pouco melhor. Prendo meus cabelos, sentindo calor, e uso a rasteirinha que o garoto também havia trazido. Me olho no espelho e estranho. Estou bonita, mas não me remete. Talvez pareça humana demais.
Saio do hospital e vejo o garoto de antes perto de um senhor de aproximadamente 50 anos. O clima parece ser tenso e ambos parecem trocar faíscas de provocação.
— Jungkook… — pronuncio seu nome e chamo a atenção dos dois, me aproximando e ficando mais próxima do garoto, observando desconfiada o homem que aparentava ser o tal xerife.
— Olá, você deve ser a Akira. — Sorri com um olhar de segundas intenções, seu sorriso me dá ânsia. Ele me estende a mão mas não aceito, apenas olho com um leve desprezo.
— E você o xerife. — digo e ele assente, recolhendo a mão, claramente desconfortável. — Bom, pelo o que sabe, não há sinais de estupro. Foi apenas um mal entendido, então não acho que seja necessário abrir um boletim de ocorrencia.
Seus olhos ficam sério e ele dá um sorriso irônico.
— Então, por que estava correndo nua? E como apareceu na casa do senhor Jeon? — Se refere ao garoto ao meu lado.
— Eu estava me banhando no rio, acabei escorregando e desci ladeira abaixo, o que coincidentemente acabou me levando até a casa do senhor Jeon. — digo e meu tom é ácido. O mais velho me olha com desaprovação, mas não há o que ele possa fazer, então deixa a discussão de lado, ajustando a postura.
— Certo. Já que não posso prestar meus serviços investigando, então pelo menos me deixe levá-la para casa.
Os olhos me varrem e sinto que não haviam boas intenções, então me afasto, trombando as costas com o peitoral do garoto.
— Na verdade… — Olho por cima do ombro para o de olhos puxados. — Eu prefiro que o Jungkook me ajude.
Ambos os olhos me encaram, mas o antes citado não se opõe e aceito como um sinal de consetimento.
— Não acho que o senhor Jeon queira ser incomodado. Ele já fez demais.
— Por mim tudo bem. — Me olha e dá um sorriso que tinha um fundo irônico. Eles não se gostam mesmo, é visível. — Não me incomodo, senhor. Não se preocupe. — O tom levemente debochado do garoto soa como faícas para ambos e vejo o rosto do xerife se enrugar mais, mal humorado.
— Certo, que seja. — Assente e arruma seu uniforme, nos olhando mais uma vez antes de sair.
O vejo ir e suspiro, recebendo o olhar curioso do garoto.
— Então… — Me olha curioso e sorri sem graça. — Onde você mora?
— Você não vai me levar em casa. — digo como se fosse óbvio e ele franze o cenho.
— Mas você disse que…
— Eu só quis me livrar de um velho esquisito. — falo vendo ele assentir, encabulado. — Enfim, eu vou indo.
— Espera. — diz e me observa por alguns segundos. — Pelo menos deixa eu te levar até a metade do caminho, para minha casa, que você disse ser perto do seu caminho ou pelo menos te pagar um café. Você precisa comer algo antes de sair assim quando acabou de ter alta do hospital.
— Não quero, não insista.
— Uhm… — Aparenta pensar e dá um sorriso de lado, provocando. — Eu posso voltar ao xerife e dizer que prefiro que ele vá deixá-la, aí terá que lidar com a insistência dele e não a minha.
Quase rosno e suspiro, passando as mãos pelo vestido, cansada com todo aquele teatro.
— Você pode voltar a partir do meu quintal. Vai ficar mais fácil de você chegar em casa… — Tenta me convencer e seus olhos demonstram expectativas. O encaro por alguns segundos. — Só um café da manhã e você está livre de mim.
— Céus. — Bufo irritada e cedo. — Você é muito insistente. — Ele sorri e dá de ombros.
— Estou fazendo meu trabalho como bom cidadão e fazendo você ir bem para casa. — Seus lábios adornam um sorriso irritante e eu reviro os olhos, vendo-o nos guiar até um carro.
Entramos no automóvel e eu olho em volta, experimentando os novos aromas. O cheiro do couro e pinho me deixam satisfeita e eu suspiro. Sinto ser observada e olho o garoto insistente, ele desvia o olhar rapidamente ao se dar conta e começa a dirigir.
Sua pose parece tensa e seus olhos focados. Se pudesse adivinhar, diria que ele não se relaciona com uma garota há um bom tempo e parece nervoso por estar perto de mim. Observo bem seus detalhes e vejo que possuia um estilo não tão comum. Seus fios escuros eram lisos e bem arrumados, os olhos, que já havia cobiçado algumas vezes, eram grandes e redondos, num tom escuro e com um brilho incomum porém conhecido. O nariz levemente avantajado era fino e redondinho, logo abaixo possuia lábios vermelhos e chamativos, com um sinal formoso perto do queixo. A mandíbula chamava atenção, marcada e tensa, dava um ar mais másculo e viril. Vestia poucos brincos chamativos e consigo ver que sua pele adornava algumas tatuagens.
Jungkook era diferente da forma humana da qual estava acostumada. Não apenas fisicamente, mas também como sua personalidade. Tinha um ar sempre malancólico, calmo e tranquilo, como se não houvesse pressa ou receio em ir e vir, diferente dos humanos que já vi e até mesmo os meus iguais. Sua timidez era diferente daqueles que conviviam comigo, assim como sua terrível forma de disfarçar.
Rio suavemente com minha conclusão, recebendo sua atenção.
— Então… Sempre morou por aqui? — Puxa assunto.
— Sempre. Nascida e fui criada, assim como meus pais.
— Uhm… — Murmura. — Eu sou da Coréia do Sul.
Assinto, mesmo não tendo muita certeza de onde fica. Ficamos num silêncio desconfortável. Seu semblante pensativo quase entrega os pontos de interrogações que passam por sua cabeça. Sorrio de leve, achando graça em sua curiosidade.
— O que quer perguntar? — falo antes que ele o diga. — Está claro que está curioso.
— Ahm? Não, não! Não se preocupe. É só que… Moramos numa região pequena onde todos moram perto e fazem festas juntas. O que quero dizer é todos são muito próximos… por isso estranho nunca ter te visto. — Me olha e seus olhos me analisam por breves segundos.
— Talvez tenha visto. — Dou de ombros, mentindo. — Apenas não prestou atenção ou não lembra.
— Acredite, se eu tivesse te visto seria difícil ter esquecido. — acentua e consigo ver suas bochechas corando suavemente. Ele estava flertando?
Sorrio e rio fraco.
— Como?
— Digo… — Pigarreia. — Sua aparência é diferente, seu jeito. Você é marcante! — Fica nervoso tentando consertar a fala, então apenas rio mais.
— Eu entendi, obrigada.
Ele suspira, aparentemente nervoso. Logo chegamos a sua casa e inspiro, sentindo o cheiro do seu cachorro então suspiro nostálgica.
— Eu não fiz muito café, se importa de esperar um pouco? — Seu tom é manso e seus atos são hesitantes.
Bem, acho que não tenho pressa de ir pra casa, fora que ele é charmoso e suas reações são divertidas, então…
— Não, não me importo. — Entro na casa e vejo um ambiente quase todo em madeira. Rústico e bem arrumado, o local é cheiroso e surpreendentemente limpo.
— Sinta-se à vontade. — diz e põe os sapatos perto da porta, faço o msm com minha sandália e vejo seu companheiro vir correndo até mim, me cheirando e rosnando suavemente. Olho suas orbes e como se soubesse, ele apenas para, se afastando e indo para o sofá, se deitando resmungando no móvel como se nada tivesse acontecido.
— Que estranho. — O dono do canino fala. — Ele costuma adorar visitas.
— Eu não me dou bem com cachorros. — digo e dou de ombros, me aproximando e olhando a casa. — Sua casa é linda. — desconverso e ele agradece.
— Obrigada. Não é a maior do bairro, mas é muito confortável. — Sorri de lado, indo em direção a cozinha em conceito aberto. — Gosta de café?
— Não, obrigada. — digo e sorrio de leve, vendo-o pegar algumas frutas.
— Gosta de panquecas?
— Panquecas? — Fico curiosa.
— É, as clássicas mesmo, com calda de caramelo.
Ok, talvez eu nunca tenha comido panquecas. Já havia comido caramelos, então pelo menos isso eu sei que de uma coisa eu vou gostar.
— Ah, tudo bem. — Assinto e ele assente, começando a pegar os ingredientes.
— Então… Akira, quantos anos tem?
— Tenho 22 anos. — digo e vejo ele assentir, parecendo anotar mentalmente. — E você?
— Tenho 25. — Sorri e me olha por cima do ombro. — Trabalho como fotógrafo em Atlanta, me mudei pra Wattervile faz dois anos.
— Interessante. — digo e olho em volta, prestando atenção em algumas fotos que adornavam o lugar. — Você parece ser muito bom no que faz.
Pego um dos porta-retratos e vejo uma foto de uma praia, com uma mulher ao fundo, de costas para a câmera. As cores vibrantes de azul dão um ar tranquilo para a foto, numa memória feliz.
— Obrigado. — Se aproxima e me entrega um prato com as tais panquecas, algumas frutas e um copo de iorgute. — Mas, e aí, com o que você trabalha? — Se senta comigo a mesa.
— Eu... trabalho com meus pais. — omito e vejo seus olhos me acompanharem. — Eles tem um pequeno negócio de madeira e produção de móveis.
— Ah, legal. Gosta do que faz? — Apoia a mão no próprio queixo e me olha curioso. Rio fraco e arqueio a sobrancelha.
— Você é sempre tão curioso assim ou é sua forma de flertar? — provoco e o vejo corar mais uma vez, desviando o olhar.
— Seria um problema se flertasse? — balbucia e molha os lábios, lambendo-os suavemente. Suspiro, entendendo como uma provocação, mas me oprimo, me afastando.
— Depende do que você pretende com isso. — Arqueio suavemente a sobrancelha e ele sorri, apenas ficando em silêncio.
Me contento com minha curiosidade e apenas começo a comer. A massa é doce e eu me surpreendo, comendo rapidamente, recebendo um olhar surpreso como resposta. Termino meu café, me organizo e me despeço do garoto curioso, recebendo um sorriso e um convite para uma próxima visita. Entro na floresta com um sorriso no rosto, surpresa comigo mesma por ter cedido tão fácil com o charme do garoto.
Rio sozinha e tiro as roupas, dobrando-as com cuidado e deixando em cima de uma pedra, escondendo-as. Me transformo, sentindo toda a dor novamente. Meus sentidos se aguçam e consigo respirar mais tranquila ao estar na minha forma mais familiar. Recolho as roupas e vou andando calmamente para casa, pensando e percebendo que logo iria aceitar o convite de visitar o garoto insistente.
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