...
- O que faz aqui...Mônica? – Ellen a fitou surpresa.
- Eu estava passando por aqui e resolvi te visitar. – Deu um sorriso amarelo. – Há muito tempo não conversamos e eu queria saber como estava. Deve ter sido muito difícil passar por aquilo tudo. – Relembrou.
- Já faz algum tempo e como pode ver eu estou bem. – Respondeu fria. – Talvez seja melhor você ir embora, vai que alguma das garotas do time te vejam aqui conversando comigo.
- Mas por que elas se importariam? – Mônica a encarou confusa.
- Não foi você mesma que disse que elas não queriam me ver por perto e que isso poderia vir a te prejudicar.
- Ahhh...mas já faz tempo, tudo passou...ninguém nem se lembra mais. Tenho certeza que elas não se importam mais com isso, tantas coisas aconteceram....hoje mesmo quem está na boca do pessoal é a Samantha, acredita que ela...- Começou a contar.
- Não me interessa, não quero saber de fofoca. – Cortou.
- Bem Ellen, eu só queria conversar com você, vê como está a minha amiga e ajudá-la ...
- Não somos mais amigas há um bom tempo Mônica, e francamente, não preciso de ajuda.
- Entendo sua chateação, talvez tenhamos nós precipitado em tirá-la do time, em termos nos afastado de você. – Disse cabisbaixa. – Mas hoje estou aqui e vim lhe propor que volte, posso até mesmo colocá-la em uma boa posição e...
- No time? Acho que as meninas não vão querer, não é mesmo? E que eu saiba vocês estão para serem desclassificadas do campeonato, se perderem mais dois jogos, estarão fora do regional.
- Sim, nos tivemos alguns probleminhas durante o torneio. Sabe como é, muitas das líderes do 03º ano se formaram no final do ano passado e esse ano as que entraram não sabem dançar muito bem. Tive que passar coreografia mais simples, para ver se pegavam alguma coisa. – Justificou. – Mas tenho certeza que juntas, amiga, nos podemos superar esses problemas...podemos elaborar uma boa coreografia, você passa alguns dos seus passos e ...
- Ah então é isso. – Ellen sorriu balançando a cabeça em negação. – Quer que eu novamente te dê meus passos para que os roube e diga que você que criou, como fez da outra vez.
- Não, imagina amiga. Jamais faria isso. Eu diria que eram seus, que você os criou e que nos juntamos para fazer uma nova coreografia. Posso até falar que você é minha assistente, que o que você decidir eu apoio, que estamos dividindo a liderança. O que me diz? – Olhava esperançosa para a loira.
- Sinto muito, Mônica, mas não tenho interesse. Ando muito ocupada e não teria tempo para ensaiar...
- Eu poderia vir aqui na sua casa, se quisesse...ou nos intervalos e...
- Não dá, como eu disse, ando ocupada.
- Ora Ellen, não seja assim. Quer que eu peça desculpas? Se é isso, posso pedir. Mas olhe bem, estou lhe dando a oportunidade de voltar par ao time, de ser popular novamente. Não teria mais que andar com aquelas perdedoras do 01º ano, sei que foram as únicas que te restaram...mas ...
- Chega Mônica! Não vai falar assim das minhas amigas, elas sim são minhas amigas. – Alterou a voz. – Pensa que não sei que se está aqui é porque está com medo de que te tirem do time, pensa que não sei dos boatos que anda rolando na escola. Não tenho culpa se você é uma péssima líder, se não sabe criar passos e montar um boa coreografia. Está com medo e ainda teve a cara de pau de vir atrás de mim, após tudo que fez. Após simplesmente me dá as costas e falar de mim por todo o colégio. – Desabafou toda magoa que sentia.
- Eu??? Nunca fiz isso, Ellen. Jamais falei de você pelas costas... – Mentiu na maior cara de pau.
- Mônica, se me der licença, estou bastante ocupada. – Impaciente para tanta dissimulação, Ellen bateu a porta na cara da garota.
- Estúpida! – Mônica murmurou.
A morena saiu do jardim de Ellen contrariada, seu plano havia falhado e agora não sabia mais o que fazer para melhorar sua situação perante o time.
Andou alguns metros pela calçada e deu um sorriso malicioso ao ver a casa de Jeffrey ao lado.
Pelo menos a viagem não seria perdida, pensou.
Caminhou em direção a garagem do garoto, torcendo para que ele estivesse lá e com a sorte ao seu favor, Jeffrey estava ajeitando sua moto.
- Atrapalho? – Perguntou com a voz dengosa jogando charme.
- O que faz aqui? – O albino admirou-se a presença da garota.
- Estava passando e resolvi vim ver como estava. – Rebolando, se aproximou do garoto, o fitando maliciosamente. – Queria dizer que não fiquei chateada por ter ignorado meus recados no colégio.
Jeffrey apenas fitou a garota sem dizer nada.
- Eu só queria conversar com você, Jeffrey. – Explicou.
- Me chame de Izzy. – Corrigiu. – Seu namorado poderia não ficar muito contente em te vê conversando comigo.
- Não se preocupe, Izzy, eu me entendo com o Jim. – Sorriu de canto. – Então, o que acha de conversarmos um pouco? – Flertou.
- Conversar? – O albino riu com escárnio. – Sei bem o que veio fazer, e tô cansado de perder tempo nesse joguinho. Estou um pouco atrasado, mas ainda... – Olhou para o relógio. – Tira a roupa logo, vamos ali para o canto, te dou o que você quer. – Disse seco.
- O que? – A morena arregalou os olhos pela forma como o albino falou com ela.
- Vai dizer que não é isso que quer? – Questionou descarado.
- O que pensa que sou? Uma de suas vadias? Vejo as garotas que tem andado ultimamente, não vai me tratar como uma daquelas putas. – Respondeu indignada. – Deveria saber como tratar uma dama, Izzy. – Ressaltou.
- Se pensa que porque se veste dessa forma é melhor do que as garotas que ando, está muito enganada Mônica. Pelo menos elas não fingem ser algo que não são. – A garota o encara boquiaberta.
Perplexa, dá as costas para ir embora, mas Jeffrey a segura pelo braço.
- Vai se desculpar? – O encara.
- Na verdade queria ressaltar que eu sei tratar uma dama quando vejo uma. – Frisou. - Assim também como reconheço bem, quando estou diante de uma simples puta. – A olhou de cima a baixo.
Mônica puxou seu braço com tudo, se desvencilhando do garoto. Sentindo-se humilhada e ofendida, saiu apressada da garagem do albino. Nunca esperava ser tratada de tal forma.
Jeffrey subiu em sua moto e saiu apressado. Tinha uma entrega a fazer.
...
A campainha tocou logo que Mônica saiu, assim que ouviu a loira enfadada abriu a porta novamente.
- Eu já disse que estou OCUPADA! – Gritou.
- Desculpa, eu vim mais cedo porque meus pais tinham que sair e aproveitei a carona, mas posso ficar ali na calçada e esperar dar a hora. – Fran justificou assustada.
- Oh Fran, desculpe. Pensei que fosse outra pessoa. – Ellen puxou a morena para dentro de casa.
- Tem certeza que não estou atrapalhando, eu cheguei bem antes da hora. – Estava sem jeito.
- Não, claro que não. Pode me ajudar a levar essas almofadas lá pra cima? – Pediu a garota que se predispõe animada.
...
- Sabia que é a primeira vez que durmo na casa de uma amiga. – Conta. – Teve uma vez, mas eu tinha 11 anos e foi na casa da minha prima, acho que não conta, né?
- Eu também nunca dormi fora, nem recebi amigas para dormi aqui em casa. Vai ser legal hoje a noite. – Ellen falava entusiasmada.
- Será que as meninas vão mesmo conseguir trazer o tal filme? – Suas bochechas coraram só de pensar. – Pode trazer algum problema para você, não acha? – Disse preocupada.
- Vamos tomar cuidado. – Ellen a acalmou. – Bem, já terminamos. Agora só nos resta esperar as outras garotas. – Ela disse descendo as escadas e indo para sala.
...
Estava uma monotonia só, quando Ellen pensou em algo enquanto as outras garotas não chegavam.
- Tive uma ideia! Mamãe ainda deve demorar voltar do mercado, vamos nos meninos, Mike me disse que eles iam ensaiar hoje a tarde. – Chamou a amiga.
- Ensaio?
- Não sabia? Jeffrey tem uma banda...ou quase isso. Eles vêm ensaiar aqui às vezes, antes era mais frequente, mas ultimamente... – Suspirou.
- E quem são?
- Jeffrey, Mike e Bill. – Contou.
- Bill? – A garota murmurou parando no meio do caminho. – Acho que logo as garotas irão voltar, melhor esperarmos. – Diz.
- Não se preocupe, não vamos demorar. – Insiste. Não resta opção para Fran, se não seguir a amiga.
...
- Hey meninos! – Ellen chega cumprimentando Bill e Mike. – Cadê o Jeffrey? – Pergunta ao notar a ausência do albino.
- Ele teve que sair rapidinho, mas logo está voltando. – Mike diz.
- Olha ele aí. – Bill aponta para o motoqueiro.
- Oi. – Fran diz para os rapazes.
- Olha quem está aqui. – Bill se aproxima deixando a garota tensa. – Oi, nerd. – Ri de canto.
- Oi Fran, tudo bem com você? – Mike também se aproxima simpático enquanto Bill se afasta indo até Jeffrey deixando os dois conversando.
- O que ela está fazendo aqui? – Jeffrey pergunta ao ver Ellen junto a bateria olhando o instrumento.
- Acho que veio ver o nosso ensaio. Por que? – Bill estranha a reação do amigo.
- Pois vamos logo com isso...depois ela deve ir embora, né? – Questiona, mas antes do ruivo responder Ellen vai ao encontro dos amigos.
- Viemos ver o ensaio rapidinho, já tenho que voltar. As outras meninas virão dormir em casa hoje a noite. – Ellen conta animada.
- Legal. – Jeffrey murmura indo em direção a bateria.
- Minha irmã também virá? – Bill franze o cenho.
- Claro, ela vem sim. – O ruivo se admira, imaginando como a irmã havia conseguido convencer Stephen.
- Vamos lá, vamos começar. – Apressado, Jeffrey chama os garotos para começarem logo o ensaio.
Os garotos resolveram tocar D’yer Maker do Led Zeppelin, algo diferente do que vinham tocando ultimamente. Ellen e Fran sentaram-se em um banquinho que havia ao lado para ouvir a canção.
Fran prestava atenção no ruivo que cantava com uma voz mais suave, e diferente do que podia imaginar, era realmente muito bonita. Ele conseguia entoar sons mais graves quando a música pedia, mas no todo, cantava com uma suavidade que não imaginava.
- Eles são ótimos, né? – Ellen pergunta empolgada olhando para o albino que tocava sua bateria.
- Sim, ele é...digo...eles são. – A loira olha para a garota que não desgrudava os olhos do ruivo, ajeitando por diversas vezes seus óculos que insistam em sair do lugar.
- Bill é um ótimo cantor. – Comenta com a garota.
- Percebi, mas os outros também tocam bem. – Fran tenta esconder sua preferência.
Ellen apenas ri, notou a morena ficando cada vez mais encabulada ao olhar para o ruivo.
- E aí garotas? Gostaram? – Mike questiona recebendo uma salva de palmas das amigas. – Um dia, estaremos nos três tocando em Los Angeles, e vocês estarão na primeira fileira como nossas convidadas. – Mike era o mais empolgado com esse sonho de um dia ir para cidade grande.
- Sim, foi ótimo. – Ellen respondeu.
- Hoje nós só vamos tocar isso. Tenho umas coisas para fazer. – Jeffrey diz.
- Sério? – Mike estranha.
- Só mais uma Jeffrey, a Fran nunca tinha visto vocês tocando. – Ellen se levanta indo até o amigo para convencê-lo.
Fran permanece sentada no banquinho olhando para os três que conversavam quando Bill se aproximou sentando ao seu lado.
- Você canta bem. – Ela diz.
- Pelo menos faço alguma coisa bem na minha vida. – Fala pegando seu cigarro.
- Desculpa pelo que disse naquele dia, espero que não tenha ficado chateado por ter te chamado de intrujão. – A garota abaixa a cabeça meio sem graça.
- Eu? Nem poderia ficar chateado, não entendi mesmo do que me chamou. – O ruivo disse risonho. – Mas pelo menos acho que tinha razão, eu devo ser mesmo um prazenteiro. – A fita com um sorriso convencido e safado nos lábios.
- Com certeza também não sabe o que isso significa. – Fran cai na risada enquanto o ruivo franze o cenho confuso.
Ele achava que prazenteiro era algo relacionado a namorador, mas depois da reação da garota, passou a se perguntar então o que era.
- Vamos Fran, os meninos não vão poder tocar e talvez as garotas já estejam chegando. – Ellen chama a amiga.
No entanto, antes de saírem, duas outras garotas chegam à garagem do albino. Uma garota morena de cabelos cacheados chamada Melanie e outra de cabelos tingidos de amarelo, Loren. Ambas Ellen já havia visto anteriormente na casa de Jeffrey.
- Hum, pelo visto vocês vão querer mesmo diversificar a festa. – A morena riu debochada olhando para Fran.
- Oi Barbie, faz um tempinho que não a vejo. – Loren sorri para Ellen.
- Não me chama de Barbie. – A loira range os dentes.
- Você tinha razão, ela é invocadinha mesmo. – Melanie comenta com Loren.
- Hey garotas...sem confusão. – Jeffrey se aproxima um tanto pálido.
- Relaxa Izzy, viemos apenas curtir a festa. – Loren adentra a garagem junto com Melanie indo em direção a Mike.
- Vão fazer uma festa aqui? – Ellen fita o albino inconformada.
- Não é bem uma festa, só vamos beber um pouco... – Tenta se explicar.
- ...comer e ouvir música. – Bill conclui.
- Para mim, isso é uma festa. – Fran salienta.
- E aí Izzy, você vem ou não? Quero guardar as bebidas. – Loren chama.
- É “Izzy”, vai lá guardar as bebidas com a sua "amiga". – Ellen dá as costas para o albino puxando Fran pela mão.
- Agora entendi qual era a pressa. – Bill ri da cara pálida do amigo.
- Valeu aí pela ajuda. – Ironiza.
- Cara, tu é muito idiota. E acha mesmo que ela não iria descobrir depois? Bro, ela é tua vizinha, mora aí do lado. – Salienta.
- Talvez...
- Tivesse combinado em outro lugar, na rua debaixo por exemplo. Vai ser difícil um dia você se acertar com a Ellen, sendo burro desse jeito. – Bill diz enquanto o albino lhe fecha a cara.
- E quem disse que quero me acertar com ela? Somos apenas amigos, sempre fomos e vamos ser só isso. Ela já deixou bem claro. – Ressalta indo de encontro a suas convidadas.
...
- Realmente ele é um “easy” sabia, sem vergonha e fácil. Deve já ter saído com metade dessas meninas da rua de baixo. – Ellen falava mal humorada enquanto Fran apenas a seguia.
- Bill também é assim? – Pergunta.
- Os dois...são tudo farinha do mesmo saco, talvez só Mike escape e olhe lá. Eles logo devem desviar o garoto também. – Estava claramente alterada.
- Você gosta dele? – Fran observa a atitude da garota muito semelhante a alguém com ciúmes.
- Eu??? Claro que não, apenas o acho um boboca. Por isso queria que nos saíssemos de lá. Estou chateada por isso, porque ele nos trocou por aquelas...
- Elas eram bonitas, né? – Fran pouco ajudava a loira.
- Só porque se vestem daquele jeito, mas tirando toda aquela maquiagem, roupas provocantes, saltos ... o que sobra? – Ellen indaga.
- Um belo corpo? – Fran opina.
- É pra me ajudar a falar mal Francine. – Ellen ressalta.
As duas tornam a entrar em casa para esperar suas amigas.
...
Já era noite, as garotas já haviam chegado e jantavam pizza na sala enquanto conversavam umas com as outras.
- Querem mais alguma coisa, garotas? – Mary apareceu segurando uma garrafa de refrigerante e oferecendo as meninas.
- Ai não, obrigada senhora Collins, mas se eu comer mais alguma coisa, vou explodir. – Jéssica agradece.
- Digo o mesmo. – Bea leva as mãos a barriga.
- Estamos bem, mamãe. – Ellen responde. – Será que a Amy não vem mesmo? – A irmã de Bill era a única que ainda não havia chegado.
- Já passou muito do horário. – Fran comenta olhando o relógio.
- Então vamos fazer pipoca, pegar uns doces e subir para assistir o filme? – Ellen chamou e todas se levantaram animadas.
- Acho que não vai precisar da pipoca. – Fran comenta.
- Quando estiver na metade do filme, você vai ver, estaremos todas com fome novamente. – Bea diz divertida.
Todas vão para a cozinha, enquanto Mary volta pra arrumar a sala. A mulher se senta no sofá quando ouve a campainha tocar. Ao atender, reconhece a irmã do ruivo.
- Nossa Amy, como está diferente. Você cresceu. – Diz.
- Oi senhora Collins, faz tempo também que a vi. Continua muito bonita. A Ellen está?
- Sim, pode entrar. Suas amigas estão todas na cozinha.
A garota entra saltitante enquanto Mary só observa o grito que as garotas dão ao notarem a amiga chegar. A senhora volta para sala, liga o rádio e senta-se no sofá com uma revista em mãos, observando ao longe as garotas preparem alguns baldes de pipoca.
- Já vamos subir mamãe. Boa noite. – Ellen se despede da mulher indo junto com suas amigas para o seu quarto.
- Qualquer coisa é só chamar. – Se oferece, mas estava preocupada com o que as garotas podiam aprontar.
Não demorou para que seu marido chegasse e ela lhe repassasse todos os acontecimentos. John sentou-se no sofá com um jornal em mãos, satisfeito em saber da alegria que Ellen deveria estar ao lado de suas amigas.
- Acho que eu deveria ir lá em cima, saber se tudo está bem. – Impaciente, a mulher balançava o pé e olhava a cada 10 segundos para o andar de cima.
- Deixa as garotas se divertirem. – John relatou.
- Mas elas podem... – Diz ao ouvir um riso alto das garotas. – Acho que estão aprontando algo.
- O que elas poderiam aprontar, Mary? Estão em casa, não? Estão apenas assistindo uma comédia, deixa elas em paz. – Pede.
Mesmo contrariada, a mulher resolve ouvir o seu marido. Pega um pequeno bordado que estava por fazer e tenta relaxar. Talvez John tivesse razão, pensa. O que elas poderiam fazer de mais? Estavam em casa.
...
As meninas se divertiam no quarto. Falavam de seus ídolos, dos garotos e das metidas do colégio. Assunto não faltava a base de muitas risadas.
- Acho que não tem mais o perigo da minha mãe vir por aqui. – Ellen espionava pela porta do quarto. – Meu pai já chegou e agora ela terá com quem conversar e não vai vir nos importunar. – Deduz.
- Ah Ellen, sua mãe é tão legal. – Bea comenta.
- Muito atenciosa. – Jéssica ressalta.
- Ela nem sempre é assim. – Ellen rola os olhos. Se joga nas almofadas no chão enquanto Jéssica se levanta indo até o videocassete.
- É aquele filme mesmo? A lagoa azul? – Amy indaga curiosa.
- Não seria melhor a gente começar pelo de comédia? – Fran sugere.
- Esse filme é grande, melhor começarmos por ele e se tiver algum problema a gente tira. – Jéssica diz. – E a minha prima me fez prometer que levaria ele amanhã cedo. Ninguém pode saber que eu peguei. – Ela ressalta.
Assim que a garota aperta o play, todas as garotas se viram vidradas para a tela da TV. Mal conseguiam piscar os olhos, vendo a cena em que os dois jovens se perdiam no mar.
...
- Ei Jeffrey? Onde está? – Mike e Bill chegam ao quarto do albino.
Ambos foram atrás de Isbell que havia subido para seu quarto atrás de um de seus famosos pacotinhos.
- Estava aqui procurando. Podia jurar que tinha um escondido atrás da cômoda. – Ele diz abaixado junto ao chão.
- Cara, tu era pra ter um monte dessas coisas. – Mike ressalta.
- As garotas estão ansiosas, ficaram feliz quando você sugeriu de animar um pouco mais a festa. Ficarão decepcionas se chegarmos de mãos vazias. – Bill diz.
Mike se abaixa tentando ajudar Jeffrey enquanto Bill vai até o armário do amigo.
- Estou procurando, pensei que tinha mais, mas vendi muito esse final de semana. – Finalmente o garoto encontra o pacote. – Aqui está. – Izzy diz animado.
Os dois amigos se levantam do chão. O pacote era pequeno mas dava para curtir aquela noite. No entanto, Mike repara que Bill estava entretido com outra coisa.
- O que faz com um dicionário? Resolveu estudar agora Bill? – Ri sarcástico.
- Só estava olhando uma coisa aqui. – Ele responde sério.
- Esquece Bill, nós somos burros de nascença. – Brinca.
- Era só...ah vai te fuder. – O ruivo joga o livro sobre a cômoda do albino.
- Caras, eu acho que tenho um resto de bebida aqui em cima do guarda-roupa. – Izzy sobe em um banco procurando pela garrafa.
- Tu deixa todas essas coisas no teu quarto? – Bill franze o cenho.
- Tenho que deixar, se o maldito do Calvin descobrir, pega para ele. – Explica.
- Hey...o que as meninas estão fazendo? – Mike encosta na janela de Izzy olhando para o quarto de Ellen.
Com as cortinas semiabertas, os rapazes conseguiam vê um pouco do quarto da loira, viam a mesma rodeadas por suas colegas da escola e ao que pareciam estavam por assistir TV. De repente, escutam as garotas fazerem um “ooohhh” assustado, levando as mãos a boca e por fim caindo na risada.
- O que será que estão assistindo? – Mike tenta enxergar curioso.
- Deve ser um desses filmes de garotas, com príncipes e princesas. – Bill responde.
- Provavelmente. – Jeffrey concorda.
- Melhor voltarmos, deixa as meninas se divertirem com seus romances. – Bill satiriza.
- Vamos, vamos...as duas gatas lá embaixo nos esperam. – Mike sai empolgado seguido pelos amigos.
...
- Volta, volta!!! – Bea grita.
- Minha noossaaaaaa... – Amy arregala os olhos.
- Nos já voltamos essa cena umas 30 vezes, Bea. – Jéssica enfatiza.
- É que eu não vi direito. – A garota se justifica.
- Como você não viu? Deu pra vê tudo. – Jéssica torna repetir.
- Caramba... – Fran olhava vermelha para a tela. – É bem...diferente dos livros. – Sentia suas bochechas corarem.
- Muito diferente. – Ellen também encarava a cena dos dois jovens descendo em uma queda d’agua.
As meninas estavam chocadas com a cena, nunca tinham visto algo parecido na TV. Nem podiam com a censura da época e seus pais tão rígidos. No filme, os jovens que acabavam sozinhos em uma ilha quando crianças, cresciam e de forma natural descobriam o amor. Censurado na época, apenas adultos podiam alugar tal filme e assistir o mesmo, e apesar de uma linda história de amor entre os jovens apaixonados, haviam muitas cenas em que ambos apareciam nus.
- Eles vão nadar! – Bea apontou.
- E estão sem nada. – Fran tampou o rosto, deixando uma larga fresta entre seus dedos para não perder nenhum detalhe.
- Esse Richard é tão lindo. – Amy suspira.
- Volta!!! – Novamente Bea pedia para reprisar uma cena.
- Ai meninas, deixa o filme rolar. Até parece que nunca viram um garoto nu. – Jéssica proferi.
Todas se olham entre si, afinal nunca tinham visto mesmo.
- Você já viu? – Ellen pergunta.
- Claro. – Jéssica responde. – Quer dizer, uma vez, meu primo ia saindo do banho e deixou a porta do quarto aberta e ... eu vi. – Contou.
- E como era? – Bea perguntou risonha.
- Ah desse jeito do filme. – Apontou.
Ela pausou o filme para contar os detalhes. Depois soltou o play novamente.
Quando acabou, todas ficaram triste pelo final.
- Será que eles só estavam dormindo? – Amy suspirou.
- Não podem ter morrido. – Ellen disse triste.
Um silencio se instaurou no quarto por alguns segundos.
- Querem assistir de novo? – Bea propôs.
- Éhhhhh... – Todas concordaram.
Rebobinaram a fita e assistiram novamente. Dessa vez conversando entre as cenas, apontando para cada detalhe. Compartilhando suas dúvidas. E assim foi a noite, todas sentiam aquele entusiasmo da descoberta, os anseios e as dúvidas que todas tinham, sonhando com o primeiro amor, com a sua primeira vez.
...
No dia seguinte, as garotas foram embora logo após o café da manhã. Como haviam dormido e acordado tarde, mal tiveram tempo para conversar. Após seu desjejum Ellen seguiu para o quarto da sua tia.
- ... então tinha, acho que você teria gostado do filme. Se eu pudesse tinha trago para cá para gente assistir, mas a Jéssica tinha que devolver hoje cedo. – Ellen dizia para a mulher que balançava a boneca em seus braços.
- Mas eu posso contar, é uma história tão linda, mas tem umas cenas...- Disse risonha.
Ela contou todo o filme para a Ayla que por vezes parava e prestava atenção na garota, mas nada dizia e nem mesmo Ellen percebia esses sutis momentos.
- ... e esse foi o fim. Triste, né? Espero que eles só estivessem mesmo dormindo. – Suspira.
Ela deita na cama e fita o teto.
- Sabe tia, vou contar uma coisa que não contei para ninguém. Por vezes imaginava ser eu e o Jeffrey presos naquela ilha, se bem que acho que teria matado ele. Ele anda meio boboca ás vezes. – Relata. – Mas tia...eu...eu...gosto dele. – Confessa envergonhada.
Ayla para de embalar a boneca e passa a olhar para Ellen que permanecia fitando o teto.
- Queria tanto que você me ouvisse e me ajudasse. Tem algumas coisas que gostaria de conversar com você e não posso falar sobre isso com a mamãe. – Lamenta. – Eu...eu...tenho dúvidas sobre...- Faz um pausa. - ...sexo. – Diz quase que inaudível. – Eu, eu não sei o que fazer. E se ele não gostar, ou se eu fizer algo errado e...eu queria ser como as garotas que ele anda, seguras, experientes, que não se importam com o que dizem.
A loira fica um tempo pensando.
- Ah que bobagem, eu falo assim e nem ao menos somos namorados. Acho que nunca seremos. – Ri sem humor. – Mas eu queria tanto poder conversar sobre essas coisas com você. – Ela se vira para a tia que permanecia olhando para a garota. Até mesmo parecia entender.
- Tia Ayla? Tá me ouvindo? – Ellen rapidamente se levanta da cama encarando sua tia que a fitava serena. Ansiosa a garota aguardou alguma manifestação da mulher, mas novamente Ayla voltou a embalar sua boneca.
Ellen deu um longo suspiro. Achava que talvez dessa vez ela tivesse a ouvido e quem sabe retornasse de seu transe.
- Elleeennn!!! – A loira ouve o grito de sua mãe ecoar pela casa.
- Afff...esqueci de lavar a louça. – Resmungando, levanta-se num pulo e sai para a cozinha para fazer suas tarefas.
...
Na segunda quando se encontraram no colégio, o assunto ainda era sobre o filme e as cenas de nudez do rapaz. Ellen estava tão animada pela noite que passou com suas amigas, sentia-se tão próxima delas, mesmo sendo dois anos mais velha, talvez ainda tivesse as mesmas dúvidas.
Conversava com Bea, Jéssica e Fran, quando avistou Amy chegar e entrar apressada em direção aos armários. A loira estranhou a reação da amiga, correndo até ela para saber o que tinha acontecido.
- Amy, espera. – Chamou. – Algum problema? – Perguntou assim que a garota parou em um canto.
- Não, só estava com pressa para ir ao banheiro. – Murmurou.
- Por que está com óculos escuros? – Nunca a tinha visto usando na escola.
- Alergia. – Ela falou baixo.
- Amy, pode me falar o que aconteceu. – Insistiu. Sabia que havia algo errado.
A garota abaixou a cabeça triste e devagar tirou o óculos mostrando o roxo em sua face. Ellen arregalou os olhos assustada com o machucado no rosto da amiga. Havia um corte junto a sua bochecha e um roxeado ao redor do olho direito. Não demorou muito para que a loira desconfiasse quem era o responsável por aquilo.
- Stephen? – Indagou.
- Minha mãe só tinha deixado eu ir naquele dia para sua casa, porque meu pai ia viajar e esperamos ele sair. Porém ele retornou antes e quando soube que eu havia dormido fora...bem...ele disse que isso não era coisa de garota direita. – Contou.
- Mas nós não fizemos nada de errado. Você contou sobre o filme?
- Não, claro que não. Foi só porque passei a noite fora de casa.
- Sua mãe nem te defendeu, Amy? – Ellen estava inconformada com tamanha ignorância do pai da amiga.
- Ela tentou... – Amy disse com a voz trêmula.
A garota abaixou a cabeça e Ellen entendeu. A mãe da garota também havia apanhado.
- Não conta para as meninas, Ellen. Eu vou dizer que caí.
- Tudo bem.
- E não conta pra o Bill, por favor. – Pediu preocupada.
- Acho que ele devia saber. – A loira opina.
- Não, seria pior. Ele pode machucar o Bill e eu não quero, por favor, não fala para ele. – Implora.
- Tá, tudo bem. Se você quer assim. – Suspira dando um abraço apertado na amiga.
...
Bill andava no intervalo junto a quadra, até lembrar-se da garota que fugia para ler. Resolveu ir conferir se ela estava lá e acabou por confirmar.
- Ainda não acredito que não aproveita o intervalo para conversar e se divertir. – Diz.
- Meus livros são divertidos. Eu já ri muito dessa história. – Conta. – Mas o que faz aqui? – Fran o encara meio encabulada.
- Dando um tempo e pensando se cabulo ou não as duas últimas aulas. – A garota ri, mas fica séria logo em seguida ao notar que o ruivo não estava brincando.
- Não devia fazer isso.
- Talvez tenha razão, estou prestes a reprovar e acho que não suportaria mais um ano nesse colégio.
- Detesta aqui tanto assim? – Pergunta.
- Na verdade, detesto essa cidade. – Explica sentando-se ao lado da garota.
- Acho melhor eu ir, já vai tocar o sinal. – Ela levanta mais deixar seu material cair.
O ruivo se abaixa ajudando-a a pegar suas coisas.
- Por que sempre que te vejo você está derrubando algo no chão? Ás vezes até a si mesma. – Brinca.
- Eu sou desastrada. – Ela ri sem graça.
O ruivo repara no material da garota, admirando umas folhas em particular.
- Partituras? Você toca piano? – Ele questiona.
- Um pouco, minha mãe me paga algumas aulas, mas não levo muito jeito. – Confidencia.
- Eu tocava na minha igreja, meu padrasto meio que obrigou eu e meus irmãos a tocarem algo e participar do coral. Mas até que eu gostava. Há muito tempo não vejo um piano. – Relembra.
A garota nota a nostalgia no olhar do ruivo, dando um sorriso singelo.
- O que vai fazer amanhã depois da aula? – Ela pergunta.
- É...o de sempre, beber, fumar, andar por aí. – Conta.
- Vou te levar em um lugar, me encontre na esquina depois da última aula. – Ela não diz mais nada, apenas sai apressada ao ouvir o soar da campainha.
- Fran? Para onde vai me levar? – Pergunta curioso.
- Não se preocupe, Bill. – Ela ri.
- Ei? – Torna chamar.
- Tenho que ir, a aula já vai começar. – Responde apressada.
- Só queria dizer que não sou um intrujão, e que posso sim ser prazenteiro, às vezes. – Ele diz e ela sorri.
Ele realmente tinha ido procurar o que significava, pensa.
A garota volta para a sala de aula enquanto o ruivo permanece deitado na arquibancada da quadra da escola.
...
A noite estava levemente fria. Ellen retornava de mais uma aula de francês ao lado de Patrick, os dois haviam se tornado amigos.
- Não precisava me deixar em casa. Hoje nem tivemos a aula completa. – Ela diz para o garoto.
- Não é nenhum incômodo, muito pelo contrário. – Ele sorri para a garota.
- Acho que já vou entrar. Vou aproveitar esse tempo livre para fazer o dever. – Ela se despede.
- Ellen, espere. É...já tem uma coisa que queria te falar, mas...nunca tive oportunidade.
- O que Patrick?
- Você é muito linda. – Ele fala e então a garota entende aonde a conversar irá levar. – E eu acho que temos muitas coisas em comum.
- Patrick ...eu...
- Eu sei que você é uma garota de família, não se preocupe. Não pense que...bem...eu não levo muito jeito para falar essas coisas. Nunca fico tempo o bastante numa cidade para chegar a me declarar para uma garota. Nem mesmo fico tempo suficiente para gostar de alguma, então...eu falo assim meio atrapalhado quando estou diante de uma garota bonita...
Ela apenas abaixa a cabeça e dá um leve sorriso.
- Talvez eu não devesse apenas falar... – Ele diz se aproximando.
Patrick segura a mão de Ellen e a puxa com cuidado, se aproxima da garota que permanece imóvel. Ele se inclina em direção aos lábios da loira e quando estavam para selar um beijo, ouvem um barulho alto vindo da casa ao lado.
Ambos se afastam e olham para a moto que sai em disparada. Acelerando ao máximo, o escapamento soa alto e a moto canta pneu no asfalto em frente a casa de Ellen. A loira permanece vendo o motoqueiro acelerar a moto ao máximo, correndo em sua rua, mal anda 05 metros, ele perde o controle caindo feio no chão.
- Jeffrey!!! – Ellen dá um grito desesperado correndo em direção ao albino que permanecia imóvel no chão.
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