...
- Bobby!!! – Murmurou.
Completamente em choque, Mary se afastou.
- Mary, eu posso explicar. – Um John desesperado desceu do carro indo em direção a esposa.
- Não chega perto de mim!!! – Gritou, fazendo gestos com as mãos para que ele se mantivesse longe.
- Me escuta... – John tentava se explicar.
A mulher sentia seu corpo trêmulo e sua cabeça dar voltas lhe causando uma leve vertigem, enquanto procurava entender o que tinha acabado de ver. Ao ver a esposa bambear tonta, John tenta se aproximar para evitar que ela viesse a cair.
- Não me toque!!! – Gritou novamente o afastando-o com as mãos. – Eu já disse para não chegar perto de mim. – Mary deu alguns passos para trás.
- Mary...eu....
- Aaaaaaaaaa... como fui tola!!! – A mulher soltou um grito de dor e desespero levando as mãos a barriga e se inclinando levemente para frente enquanto procurava forças para permanecer em pé.
- Mary se acalme, vamos conversar...eu posso explicar. – John pediu aflito.
- Explicar? O que? – A mulher o encarou séria. – Que você é um doente. Que você é um desgraçado, um maldito, um canalha nojento. – Proferiu descontrolada.
- Tenha calma, Mary? – John pediu.
- Mary, escute o John. Entre no carro e vamos conversar sobre isso. – Bobby que estava do outro lado junto a porta do lado do motorista disse procurando acalmá-la.
- Não se meta, seu cínico, falso do caralho. – Disse raivosa. – Foi você que corrompeu o John, nas suas sujeiras e sem vergonhices. Você o contaminou, seu filho da p...
- Chega!!! – John interrompeu. – Não foi assim Mary, vamos conversar, eu prometo te contar tudo, não mentirei sobre nada...
- Eu não quero falar com você!!! – Berra. – Some da minha frente John, some...vai com esse...- A mulher olhou para Bobby com asco. - ...libertino.
- Mary, por favor...temos que conversar. – Novamente John tenta se aproximar da esposa.
- Já disse para não me tocar. – Esbraveja. – Me deixa em paz...seu...seu...bicha, doente. – Desesperada, saiu correndo até o carro da amiga.
...
Ellen caminhava aflita de um lado para o outro no quarto. A todo momento ia até a porta para ver se seus pais já haviam chegado. Estava tão tensa com toda a situação pensando em como seria essa conversa com seus pais que deu um grito alto assustada quando ouviu um barulho vindo da janela. Assim que olhou para o local viu Izzy pendurado, tentando adentrar seu quarto.
- Jeffrey, tá doido? Se meus pais chegarem e te virem entrando aqui. – Ela fala indo até o rapaz ajudando-o a passar pela janela.
- Eu queria saber como você estava. Vi que sua mãe saiu. E aí, o que ela disse? Te pôs de castigo? – Indagou apreensivo.
- Ela disse algumas coisas, me mandou ficar no quarto. – Bufou. – Provavelmente irá contar tudo para o papai.
- Eu vou ficar aqui com você. Não vou deixar você sozinha, falo com seu pai, com sua mãe, seja com quem for. – Ele diz.
- Não, não...melhor não. – Pondera. – Se eles te virem aqui será pior. Eu sei que minha mãe vai fazer um escândalo, vai brigar, talvez até me ameaçar me prender no quarto para sempre, mas sei que posso contar com o papai. Ele vai me ouvir, vai entender...pode ficar chateado por termos escondido, mas contarei tudo.
- Tem certeza que não quer que eu fique e fale junto com você? – Izzy insiste.
- Tenho, é a melhor opção. – Ellen suspira. – Depois que eu conversar com ele e a poeira abaixar aí conversamos todos juntos. Eles não podem nos impedir de ficar juntos, né. Eu não sou mais criança, sei o que eu quero. – Ela diz olhando para o garoto a sua frente.
Jeffrey encarou Ellen com certo orgulho e cheio de si. Sentiu seu coração aquecer pela tomada firme de decisão da garota, estava tão decidida, tão certa de si e realmente disposta a lutar por ele, logo por ele, pensou.
- Eu não vou deixar que nos separem Ellen. – Ele diz mirando nos olhos da garota.
- Promete? – Ela pergunta.
- Você é o que tenho de mais importante, Ellen. Nunca duvide. E eu sempre estarei ao seu lado, e acima de tudo, sempre farei o que for melhor para você, sempre. - Jura, cruzando dois dedos e beijando os mesmos, sinal o qual sempre faziam quando criança e que para eles tinham um grande significado e que há muito tempo não usavam.
A loira abraça o albino dando um beijo apaixonado. Envolta em seus braços sentia-se calma, tranquila, aquecida, pois era a sensação que ele trazia.
- Agora vá. Não quero que eles o vejam aqui. – Ela pede.
- Tem certeza? Posso ficar mais, te fazer companhia. Vejo como está aflita, assim que eles chegarem eu saio.
- E correr o risco que eles te vejam? Só irá piorar as coisas e com você aqui ficarei mais aflita.
- Tudo bem. – Jeffrey dá meia volta um tanto contrariado, não queria deixá-la sozinha.
- Promete que ficará longe esses dias? Até eu resolver tudo.
- Mas Ellen...
- Eu direi quando tudo estiver mais calmo, só esperamos a poeira baixar. Não fique na janela procurando ver alguma coisa, ou passando lá na frente incessantemente. Por favor???
- Tá, tá...farei isso. – Ele se apoia na janela pronto para descer.
- Obrigada. – Ela se inclina dando um último beijo naquela noite.
- Mas se você precisar...
- Eu vou até você. – Ela dá um sorriso fraco de preocupação.
O albino por fim desce a janela e como combinado segue para sua casa enquanto Ellen segue apreensiva em seu quarto a espera dos pais.
...
- Corre, corre, pisa no acelerador, Lola. – Mary grita ao entrar no carro.
A mulher nem tem tempo de contestar, apenas faz como Mary havia pedido e sai cantando pneu ao ver John vindo em direção ao carro. Após andarem uma certa distância e verem que não estavam sendo seguidas, Lola encosta o carro em uma rua qualquer.
- Mary, o que aconteceu? – Lola se vira para a mulher trêmula e tensa que ia ao seu lado. – Eu e Steve não estávamos entendendo nada, esperamos o flagrante, mas ao longe eu vi o Bobby descendo do carro. A vadia estava no banco de trás? – Pergunta.
- Quem era? – Steve se mete curioso. – Outra gostosa? Melhor duas...já que o Bobby estava no meio. – Comenta, levando um psiu rude da esposa.
- Era o Bobby. – Mary balbucia caindo no choro. Lola franze o cenho confusa. – O flagrante, era o Bobby. – Diz entre soluços.
Assim que revela, Lola e Steve fazem um grande Ó com a boca.
- Mas como? Você deve tá delirando, Mary. Não faz sentido. – Lola explana.
- Agora faz todo sentido. – Steve diz ao mesmo tempo que a esposa.
Ambas olham para o homem no banco de trás.
- Do que está falando, Steve? – Lola interroga.
- Lembra que no dia do churrasco estávamos relembrando os tempos de escola, e aqueles boatos idiotas que falaram de mim com o trompete, tudo mentira, devo ressaltar. – Steve diz.
- Ah francamente Steve, esse não é o momento de ficarmos falando de suas histórias de colégio. – Lola o interrompe ranzinza.
- Não, não era isso...bem...
- Diz logo Steve. – Lola perde a paciência.
- Os boatos também não eram só sobre mim. – Steve fala chamando a atenção das duas mulheres. – Tiveram alguns boatos, referente ao Bobby, bem que ele gostava...vocês sabem...de deixar o sabonete cair no banho. – Faz uma piada tosca dando um risinho debochado. – Alguns caras, começaram a ficar incomodados com o jeito que ele os olhava, e também das brincadeiras idiotas que fazia agarrando os caras quando bebiam depois dos jogos.
- Eu nunca soube disso. – Lola pontuou.
- Claro, tudo foi abafado. John e Bobby ameaçaram dar uma surra em Tony, Michael, Will...se falassem algo... mas todos diziam que era inveja, por eles serem as estrelas do time e os pegadores da turma. – Steve explicou.
- Mas como isso era possível? Bobby sempre esteve rodeado de garotas. – Mary pontuou ainda chorosa.
- Aí que tá. Naquele tempo eu não era muito popular, e minha melhor amiga era a Bonie, que tocava trombone...éramos nerds, ninguém tinha muito papo com a gente, mas a Lana era melhor amiga da Bonie fora do colégio e as duas conversavam e a Lana contava tudo sobre as populares para Bonie e ela para mim.
- O que isso tem a ver Steve? – Mary pergunta impaciente.
- Soube que Diana era louca pelo Bobby, insistiu até conseguir ficar com ele e bem, digamos, ela tentou de tudo para os dois...vocês sabem. Até conseguiu fazer os pais dela viajarem e o levou para a casa dela, mas ele...nada. Veio com um papo que não queria desrespeitá-la e tal, só sei que uma semana depois ele terminou com ela. E aí, vieram outras garotas e todas sempre relatavam isso, que nunca rolava nada mais que beijos e abraços.
- Então sempre que se encaminha para algo mais picante...- Lola deduziu.
- Ele ia lá, dava uma desculpa qualquer e terminava. – Steve completou.
- E por que ninguém nunca falou nada a respeito? – Mary questionou.
- As garotas achavam isso fofo, diziam que ele era romântico, que esperava alguém especial...e blá, blá, blá. Depois, ele nunca passava mais de 15 dias com a mesma garota, num dava tempo de firmar nada sério com ninguém e bem...hoje vejo que os boatos não eram tão mentirosos assim. – Steve finaliza.
- Mas e o John? – Mary pergunta. – É desde aquele tempo? – Leva as mãos na boca incrédula com a possibilidade.
- Eles eram melhores amigos, pelo visto, bem mais que amigos. – Lola diz baixinho.
Mary volta a chorar inconformada.
- Me leva para casa, Lola. Me leva agora. – Pede desesperada tentando digerir tudo.
...
- Porra...- John chuta o pneu do carro. – Não era pra ter sido assim, Bobby. – Ele diz para o companheiro.
- Devia ter contado antes, John. Algo me dizia que ia dar merda, eu quase falei naquele churrasco. – Bobby lamentou.
- Eu só precisava de um pouco mais de tempo. – John explica. – Eu preciso falar com ela, eu preciso ir atrás dela. – Fala.
- Melhor deixar para amanhã, John. Do jeito que ela está hoje, não vai te ouvir. – Bobby sugere.
- Eu não posso. Eu preciso contar para a Ellen, não sei o que ela pode dizer para Ellen. – Fala desesperado. – É tudo que me importa, eu quero, eu mesmo contar para minha filha, preciso dizer que não muda nada do que sinto por ela, que estarei sempre ao seu lado.
- Acho que amanhã as coisas estarão mais calmas e será...
- Não, eu não vou ficar em paz. Eu preciso falar com a Mary, eu preciso falar com a Ellen. – O homem repete em desespero.
- Tá, se insiste. Entra no carro. – Bobby fala.
- Não, vou pegar meu carro, melhor que eu vá sozinho. Se a Mary te vir pode ser pior. – Ele fala e Bobby concorda.
- Vai lá, te espero na minha casa. – Bobby se despede e John apenas segue.
...
Lola estacionou o carro em frente a casa de Mary. A mulher respirou fundo olhando para seu gramado, levou as mãos na maçaneta do carro, mas antes de sair se virou para a amiga.
- Prometa-me que não contará isso para ninguém, Lola? – Olhou fixo para mulher segurando suas duas mãos.
- Claro, não comentarei com ninguém. – Lola assente.
- Eu...vou...talvez tenha outra explicação, não é mesmo? – Dá um sorriso fraco.
- Sei não, acho que ficou bem claro. – Steve solta e Lola o fuzila com o olhar, fazendo-o se calar.
- Claro, Mary. Talvez tenha sido um mal entendido. – Lola tenta confortá-la. – Durma, descanse e amanhã você saberá o que fazer. – Aconselha.
- É...- Atônita a mulher desce do carro.
Mary adentra a casa ainda em choque, sua mente parecia cansada de tão farta que estava. Ela acendeu a luz, olhou ao redor da sala vazia e caminhou vagorosamente pelo ambiente. De repente sentiu toda a dor de antes tomar seu corpo, era como se estivesse esperando ela finalmente parar para tudo voltar a tona: raiva, ódio, rancor e dor.
- Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaagrrrrrrrrrrrrrrr. – Deu um grito raivoso ecoando por toda sala. – Maldito, maldito. – Gritou.
A mulher caminhou até as escadas sentando-se no primeiro degrau se desmanchando em lágrimas num choro penoso.
- Mamãe? O que houve? – Ellen surgiu no topo da escada.
- Eu fui uma boa esposa, eu fui uma boa esposa. – Repetia para si mesma.
- Mamãe? – Ellen chamou novamente a mulher. – Cadê o papai?
- Seu pai...maldito...é um canalha, um canalha. – Murmurou.
- Vocês brigaram? O que aconteceu? – A garota desceu mais alguns degraus preocupada com sua mãe.
- Ele...vai embora...vai embora...e eu fui uma boa esposa, eu fui...
- Vai embora? Pra onde? O que está acontecendo, mãe? Vocês brigaram? Onde está o papai? Você brigou com ele? – Perguntou começando a ficar mais preocupada.
- Eu? Claro, sempre sou eu a errada, a má, a culpada...mas a culpa não é minha, é dele...por que eu sempre cuidei do nosso casamento, sempre...
- Foi pelo que houve entre mim e o Jeffrey? Porque nós íamos contar e... – Ellen falou se aproximando da mãe que estava conturbada.
- Isso...é culpa sua. – A mulher se levantou apontando para a filha. – Sua, é claro, sua...não é minha, não é. – Diz descontrolada.
- Minha? Mas...o que...do que? – Ellen sentiu seu coração batendo apertado sem entender nada.
- Seu pai...vai embora...nos trocou...abandonou essa família...e a culpa é sua, só pode ser sua. Eu fui uma boa esposa, fui...fiz tudo certo...mas você...você estava agindo por aí como uma qualquer...ele deve ter ficado sabendo.
- Uma qualquer? – Repetiu com os olhos cheios de lágrima.
- Deve tá cheio de desgosto...como não ficaria? Sendo pai de uma garota que não se dá o respeito, que se comporta como uma qualquer. – Grita.
- Eu não fiz nada, mãe. – Ellen murmura chorando desesperada.
De repente Mary escuta o carro do marido parar na frente da casa. Olha de relance pela janela confirmando ser John.
- Sai daqui, Ellen. Suma daqui, vai para o seu quarto e fique lá. – Mary grita.
- Mãe..eu juro que não fiz nada...- A garota diz aos prantos.
- Já disse para sair daqui. – Mary diz raivosa e a garota atende subindo para o quarto.
...
Ellen adentrou o quarto desesperada. Estava confusa, chorando e com uma dor no peito. Não entendia por que sua mãe estava agindo daquele jeito, sabia que sua reação não ia ser dar melhores, mas não assim. Começou a pensar por que ela estava falando aquilo do seu pai, porque ele iria embora. A briga tinha sido tão feia assim? A loira sentia-se culpada...e a única coisa que pensou foi em falar com Jeffrey. Precisava dele, precisava saber que ele estaria com ela independente do que acontecesse. Correu para a janela procurando vê-lo do outro lado, mas nem sinal do albino. Lembrou que tinha pedido para ele ficar longe. Então resolveu cair na cama se entregando a vontade de chorar.
...
Assim que John abriu a porta da sala, Mary correu até ele.
- O que faz aqui? Fora da minha casa, fora!!! – Gritou.
- Mary, precisamos conversar. – John insistiu.
- Não temos nada para conversar. – A mulher foi furiosa para cima do marido o fazendo sair de sua casa. John ficou parado no gramado enquanto a mulher o fitava irritada da varanda da casa.
- Mary, eu sinto muito, eu não queria que fosse assim. Eu ia te contar, só estava aguardando o momento...- John começou.
- Me contar? O que? Que nosso casamento sempre foi uma mentira. Que eu me casei com um doente, um degenerado. – Profere enfurecida.
- Não foi uma mentira.
- Não? Vai me dizer que vocês não estão juntos desde o colégio? Que não ficavam sempre que possível...aquelas viagens, aquelas saídas e eu achando que ele poderia te levar para pegar outra mulher, sendo que...aaaggrrrr...eu o chamei para minha casa, preferia que ficassem aqui para que não corresse o risco dele te apresentar a uma de suas “amigas”. Pobres trouxas tão iludidas quanto eu. Fazíamos noite de jogos quando nos casamos, o chamava para dormir aqui, quase o convidamos para ser o padrinho da Ellen e vocês....deviam rir de mim.
- Não, não foi assim Mary.
- Aggggrrrrrr...como pôde, John? Como pôde? – Mary não conseguiu segurar o choro e caiu de joelhos na varanda sentando-se sobre suas pernas, conseguindo se acalmar um pouco enquanto deixava as lágrimas aliviarem sua dor.
Devagar John se aproximou da mulher sentando-se na varanda próximo a ela.
- É verdade que rolou quando eu e Bobby estávamos no colégio. Éramos muito amigos, havíamos bebido comemorando mais uma vitória do time, estávamos sozinhos e acabamos nos beijando. Colocamos a culpa na bebida e prometemos nunca mais tocar no assunto, mas...aconteceu outra vez e depois de novo, de novo. Éramos jovens, não entendíamos bem e achávamos que era uma coisa idiota que todo adolescente faz.
Mary ergueu a face olhando apática para o marido.
- Comecei a namorar a Rachel, mas acho que ela sacou...então terminou comigo...fui mais firme com Bobby e resolvemos pôr um fim em algo que achávamos que era errado. Comecei a namorar com você e ele bem, com outras, tentando apagar tudo que sentíamos. Ele passou para a faculdade e foi embora e eu fiquei aqui, nos casamos e...
- Achou que nosso casamento era a cura para sua doença? – Mary indagou séria.
- Não Mary, as coisas aconteceram rápido e eu não entendia, Bobby tinha ido embora e por um instante achei que aquilo tivesse acabado. Seu pai pressionava para que nos casássemos e eu aceitei...mas com tempo, vi que me precipitei. Eu estava certo de pedir o divórcio enquanto ainda era cedo, mas aí veio a Ellen. E eu nunca imaginei que sentiria o amor que senti por aquela pequena garotinha que segurei em meus braços. E resolvi tentar.
- Fez tudo pela Ellen, só por ela?
- Não, você era uma boa mulher, uma boa esposa, companheira, eu realmente cheguei te amar Mary, mas faltava algo... e não era em você...era em mim.
Mary leva as mãos ao rosto secando mais algumas lágrimas.
- Bobby sempre vinha de férias, saíamos como amigos, quando ele vinha em casa, éramos só amigos, nunca aconteceu nada. Aí ele voltou para assumir os negócios do pai dele e numa noite, dei uma carona e acabamos tendo uma recaída. O pai dele nos flagrou, teve um pequeno infarto e praticamente o deserdou. Hoje ele mal fala com ele. Estávamos dispostos a nos separar novamente, mas o que sentíamos era mais forte que a gente e se continuássemos a nos enganar só estaríamos ferindo mais e mais pessoas.
- Você acha que essa história torpe e suja me comove, John? Acha que isso justifica o que fez?
- Não, não justifica, mas queria que soubesse que não fomos sádicos...que...ele não queria vir naquele churrasco...há tempos ele pede para que eu abrisse o jogo, mas eu estava esperando a Ellen se formar para contar
- A Ellen? E quanto a mim, John? Quanto a mim? – Ela fita o marido com mágoa. – É a minha vida também. Você destruiu a minha vida, tudo não passou de uma mentira...de uma desculpa para suas sem vergonhices. Acha mesmo que acredito que você iria contar? Estava muito cômodo para você ter uma boa reputação perante a sociedade e por trás viver na sórdida luxúria com seu amante.
- Não, não...eu iria Mary, eu iria contar.
- E agora, John?
- Eu vou entrar com o pedido de divórcio. Não se preocupe, você não ficará desamparada, nem você, nem a Ellen.
- Divórcio? – A mulher arregalou os olhos.
- Era o que eu pretendia, Mary. Assim que a Ellen se formasse, mas como tudo veio à tona. Lamento que tenha sido desta forma.
- Não, não...divórcio não. O que eu irei fazer? O que as pessoas vão dizer? Eu serei uma divorciada, com uma filha sozinha para criar. – Mary entrou em desespero.
- Eu não as desampararei...prometo.
- Não, não faça isso, John...eu lhe rogo...eu não posso ser uma desquitada, o que as pessoas irão falar? Vão me julgar, vão achar que não fui uma boa esposa, que não soube manter meu casamento. Vamos tentar, vamos ao terapeuta, ao médico...você se casou, teve uma filha...talvez tenha cura para sua doença... foi ele que te desviou...foi o Bobby, ele é o dissipado, ele é o degenerado, ele só te contaminou, contaminou a sua mente, mas nos podemos reverter isso, meu amor. Deve ter um remédio. – Pede desesperada.
- Mary eu lamento...eu esperava por esse momento há muito tempo. Não tem volta para a gente. Eu não poderia fazer isso com você, continuar com isso. – Ele encara a mulher. – Você ainda é jovem, é bonita, uma boa mulher...tenho certeza que conhecerá um bom homem e será feliz como merece. – Fala de coração aberto com a esposa. – Só peço que deixe eu mesmo conversar com a Ellen, ela irá entender, sei que será difícil no começo mas...
Mary encarou John fixamente, sua face tornou-se sombria e seus olhos turvos de raiva. Com ódio emanando por seu corpo a mulher pôs-se de pé.
- Seu canalha, maldito...você destruiu a minha vida, me usou e agora acha que irá me descartar assim...saindo como se não tivesse feito nada demais. Você roubou os anos da minha vida, os meus sonhos, e joga toda a minha dedicação por ralo abaixo. – O fita com rancor.
- Mary...
- Você não vai sair vitorioso, John. Acha que só eu vou perder nessa história? Fique com seu amante...- Diz com asco. - ...mas a Ellen, você não terá. Ela é minha filha, e vai ser só minha.
- Você não pode fazer isso, Mary. Ellen também é minha filha, eu tenho direitos. – John exclama.
- Ela vai te odiar, John. Eu a farei te odiar tanto, que nunca mais ela irá querer vê-lo. – A mulher dá um sorriso maléfico ao final.
- Mary, sei que está falando pela raiva e...
- Esqueça a sua filha, John. – Rapidamente a mulher corre para dentro da casa e tranca a porta.
- Mary abra a porta. – John bate repetidas vezes na mesma. – Abra a porta agora!!! – Exige.
- Vai pro inferno, John. – A mulher grita.
Após alguns minutos o homem desiste indo embora. Esperaria até o dia seguinte quando a mulher estivesse mais calma para conversar com ela e Ellen.
...
Mary seguiu até o quarto da filha, a qual havia caído no sono após tanto chorar. Mary cobriu a garota e fechou a janela do quarto, saindo silenciosamente de seu quarto.
A mulher perambulou pelos cômodos da casa, sem sono, pensava em como seria sua vida dali pra frente. Os comentários, os olhares de julgo, tudo que iria enfrentar...angustiada, seguiu até a estante da sala e pegou uma garrafa de vodka do marido. Viu o porta retrato com a foto de seu casamento em uma das prateleiras pegando o mesmo e seguiu para o seu quarto onde se jogou na cama, olhando fixo para a foto e bebendo diretamente da garrafa até apagar na cama completamente embriagada.
...
No dia seguinte
O dia amanheceu ensolarado, Ellen despertou com a claridade que invadia seu quarto pelas frestas da janela. Ainda um pouco confusa, levantou-se da cama e foi até o banheiro jogar uma água no rosto.
A loira desceu as escadas notando um silêncio estranho na casa. Nem um barulho vindo da cozinha, como era costume todo sábado pela manhã, nem o café estava pronto. O quintal também estava vazio, diferente dos outros finais de semana que seu pai aparava a grama.
Intrigada a loira subiu as escadas indo até o quarto de seus pais.
- Mamãe? Papai? – Bateu na porta duas vezes e total silêncio.
Devagar abriu a porta e avistou sua mãe deitada na cama. Se aproximou com cuidado e notou que ela estava com os olhos abertos e vermelhos agarrada a um porta-retrato e olhando para o nada.
- Mamãe...tá doente? – Perguntou.
- Ahhhh...Ellen...minha filha. – A mulher esticou a mão em direção a loira a fazendo-a sentar na cama. – Se você soubesse...- Suspirou.
- O que houve? Aconteceu alguma coisa com o papai? – Indagou preocupada.
- Aconteceu minha filha...ele não era quem nos pensávamos. – Mary diz.
- O que quer dizer? – Franze o cenho.
- Ele me deixou, Ellen. Ele nos abandonou. – A loira arregala os olhos descrente. – Me disse coisas horríveis após eu flagrá-lo ontem à noite. Riu de mim, debochou de tudo que vivemos, que construímos, e eu tentei tanto minha filha, tentei fazer ele voltar a si e voltar para gente, mas ele disse que não aguentava mais a nossa família.
- Como assim, mamãe? O flagrou? O papai tem outra? – Ellen pergunta tensa.
- Ah minha filha...você não sabe como me dói...mas eu disse a mim mesma e para ele que não esconderia nada de você. Seu pai tem um caso com o Bobby. – Mary revela fazendo Ellen arregalar os olhos incrédula.
- Vo...você deve ter entendido errado, mamãe. Tio Bobby? Não, não...o papai...não...
- Ah minha filha, queria que fosse mentira...mas não é...todos esses anos, seu pai esteve doente minha filha, contaminado por esse degenerado que acabou com nossa família. Foram anos rindo da gente, nos enganando...seu pai disse coisas tão cruéis, Ellen. – Mary soluçou. – Agradeceu por eu ter descoberto, que não aguentava mais essa vida, as responsabilidades, de cuidar de você. – Contou.
- De mim?
- Ah minha filha...foram coisas horríveis. – Mary abaixa a cabeça.
- O que? Não me esconda. – Pede.
- Ele sentia-se obrigado a ficar aqui por sua causa, que todos esses anos se sentiu sufocado em ser seu pai, em arcar com as responsabilidades da sua criação. Ele não aguentava mais, queria se libertar, ser livre e não ter mais que ... cuidar de você. Ele até me confessou que pensou em pedir o divórcio logo que nos casamos...mas aí o erro já era maior...pois eu estava grávida de você.
- Erro? Eu fui um erro para ele.
- Eu nunca te disse, Ellen, mas seu pai não queria filhos. Você foi um deslize, claro, que abençoado para mim, mas um fardo tão grande para ele. Por que acha que não tivemos outros? Ele dizia que era pelo dinheiro, mas hoje vejo que não. – Mary abaixa a cabeça triste.
- Ele não me queria? Vocês não me queriam? – Perguntou com os olhos marejados.
- Eu sim, minha filha, sempre fui grata por ter você. Agora seu pai...- Mary olha para a reação triste da menina para ver se a mesma estava acreditando. - ... com você adolescente, acho que pesou ainda mais...os gastos com a formatura, a faculdade...uma hora ele ia estourar e dizer a verdade né. Só não pensei que fosse tão pesado para ele, mas o que fazer, ele te culpa...para ele você o impediu de viver a vida dele.
- Mas eu...eu...sempre estudei, nunca dei trabalho...
- Eu sei minha filha, eu sei...Mas esse seu namorico com esse garoto do lado...ele sempre reclamou da amizade de vocês...mas só pra mim, na sua frente parecia estar tudo bem...mas ele quem mais implicava, Ellen. Só que nisso eu concordo com ele, você devia se afastar desse garoto...
- Eu não vou me afastar dele. – Ellen encara a mãe séria, enxugando suas lágrimas.
- Tudo bem...depois falamos sobre isso. Agora a questão é que seu pai sempre foi um mentiroso, nos enganou Ellen e talvez venha dizer que estar arrependido e queira continuar mentindo para você. Mas eu não vou deixar minha filha.
Ellen se inclinou levando a mão a testa enquanto pensava em tudo que a mãe tinha dito. Será que era verdade? Ou sua mãe tinha endoidado de vez?
De repente ouviu a voz de seu pai no andar de baixo. Rapidamente a loira se levantou e correu para sala, estava disposta a tirar essa história a limpo.
- Ellen....minha filha. – John sorriu ao ver a garota descendo as escadas.
- Não se aproxima. – Ela pede.
- Minha filha, temos que conversar. – John fala.
- É verdade? Sobre o tio Bobby? Você tem um caso com um homem, pai? – Ela olhava confusa para John.
- Ellen...
- Não mente para mim. – Ela o fita seria.
- É verdade, mas eu posso explicar.
- Como pôde fazer isso, pai? Com a mamãe, comigo?
- Minha filha...é complicado...mas saiba que eu te am...
- O que faz aqui, John? – Mary surgiu nos degraus. – Já não nos enganou o bastante.
- Mary, eu tenho direito de falar com a Ellen, de me explicar. – John rebate.
- Não precisa, a mamãe já contou. Não se preocupe comigo, pai. Não precisa mais carregar esse peso, o fardo que fui para o senhor...pode ir viver sua vida como sempre quis. – Ellen diz com a voz trêmula e os olhos cheios de lágrima.
- O que? Não, Ellen...minha filha, você nunca foi um fardo, eu te am... – John começa dizer.
- Sai daqui, John, já não basta o que fez ontem? Terei que chamar a polícia? Se chamar, não omitirei o tapa que você me deu. – Mary diz.
- O que? – John arregala os olhos.
- Você bateu na mamãe? – Ellen olha surpresa e inconformada para o pai.
- Não, eu...ela está mentin.. – John tenta se explicar.
No entanto, Mary simula passar mal e senta-se na escada.
- Mãe....o que você tem? – Ellen corre para socorrer Mary.
- Ficou tudo turvo, não estou respirando bem. – Ela diz.
- Mary, você está mentindo. – John volta a afirmar.
- Vai embora, pai. Sai daqui! – Ellen grita indignada.
O homem fica parado por alguns segundos, mas resolve seguir o pedido da filha saindo da casa e indo embora.
- Venha, mamãe. Vou te ajudar. – Ellen acompanha Mary até o quarto, a deitando na cama. – Fica aqui, eu vou buscar algo para você comer. – Fala.
...
Mary já havia tomado um suco com torrada e voltado a dormir quando Ellen deixou seu quarto. A loira adentrou seu quarto sentindo seu mundo desabar, tudo que ouvira de seu pai, toda a traição que ele fez com sua mãe, o fato dela ser um fardo para ele, lhe causavam uma angústia, uma revolta e uma dor tão grandes dentro do peito.
Ela correu para janela, precisava falar com Jeffrey, desabafar com ele tudo que estava sentindo, mas ao avistar o albino no quintal indo em direção ao portão de casa, notou que ele iria ao encontro da garota de cabelo amarelo que havia aparecido no outro dia. Jeffrey entregou um pacote para a garota, mas ao invés de voltar para casa, saiu em sua companhia em direção a rua debaixo. Ellen acompanhou tudo pela janela, com pesar, não conseguiu falar com a única pessoa que talvez entenderia o que ela estava passando. Voltou para sua cama e se deitou, sentindo uma tristeza imensa no peito.
...
***
- O que acha do vestido, mãe? – Fran pergunta para Dora.
- É muito bonito, minha filha. A sua amiga Ellen que te ajudou? – Ela pergunta.
- Sim, eu não tenho muito jeito para escolher roupa e às vezes acho que está muito...não sei. – Fran comenta com a mãe.
- Está lindo, eu escolheria talvez um com umas ombreiras, ou com mangas avantajadas. – Dora opina. – Mas esse de alcinha lhe caiu muito bem. – Diz sorridente.
Fran se olha no espelho acostumando-se com o modelo tão diferente dos que ela estava acostumada.
- Vai me ajudar a arrumar meu cabelo, não é? – Pergunta para a mãe.
- Claro, talvez uma escova...ou um penteado...no dia veremos qual fica melhor. – A mulher diz animada. – É tão difícil ser convidada para o baile no primeiro ano, mas fico feliz que o Benjamim tenha a convidado. Lembro quando vocês estudavam os debates para a aulas extras. – Dora diz.
- Éhhh...Ben foi muito legal. – Fran dá um sorriso amarelo.
- Fico tranquila porque sei que ele é um cavalheiro. Acha que deveria mandar um bolo ou ligar para os pais dele para conversar sobre a formatura? – Pergunta para filha.
- Não, mamãe. Ninguém mais faz isso.
- Já entendi, é ultrapassado. Ai vocês jovens. – A mulher sai do quarto da filha. – Vou verificar o bolo, Francisca. Tire o vestido para eu ajeitar a barra. – Pede.
Fran dá mais uma verificada em frente ao espelho, estava tão contente que não cabia em si. Admitia que ficava triste por mentir para sua mãe, mas se ela soubesse com quem na verdade ela iria, com certeza não deixaria ela ir. Mesmo seus pais sendo legais, não eram tão liberais assim e muito menos ficariam felizes de vê-la com um garoto com fama de bad boy como Bill.
- Espero que você goste. – Ela dá um suspiro pensando em seu bad boy ruivo.
Por fim, com um sorriso bobo no rosto, tira o vestido e joga-se na cama, sonhando com esse momento tão mágico e que estava tão perto.
***
...
O sol já havia se posto quando Ellen acordou. Havia dormido durante todo o dia. Levantou-se ainda angustiada, parecia que aquele aperto no peito não passaria por nada. Saiu do quarto indo atrás de sua mãe, mas a mesma não estava em canto algum, parecia ter saído.
Um desespero começou a lhe afligir, ela precisava desabafar com alguém, mas chegou à conclusão que ninguém conseguiria tirar aquela dor que estava sentindo. Seus pais estavam se separando, sua mãe era contra seu relacionamento com Jeffrey e seu pai simplesmente a culpava por não ter vivido a vida que sempre quis.
Parecia que tudo que tinha vivido era mentira, e que nada que tivesse feito valia de alguma coisa. Não aguentava mais isso, pensar nisso. Sua cabeça dava voltas com tantas perguntas, com tantas questões, com tanta dor.
Estava desesperada e tudo que queria, era que aquela dor passasse.
...
Izzy voltava da rua debaixo, havia vendido boa parte de seus pacotes. Estava praticamente finalizando seu estoque e por fim se veria livre dessa vida e começaria um novo negócio, só que dessa vez, algo legalizado. Só assim poderia pensar em um futuro com Ellen.
Mesmo procurando seguir o pedido da loira, Jeffrey continuava preocupado com a reação dos pais de Ellen sobre eles. Queria manter-se afastado, mas resolveu bisbilhotar a casa ao lado quando passava em frente. Não viu ninguém e tudo estava escuro, como se tivessem saído, mas ao chegar na sua casa levou um susto ao ver a loira sentada no degrau de sua varanda com a cabeça baixa e segurando uma garrafa quase vazia de whisky.
- Ellen...??? – Izzy franziu o cenho.
- Jeffrey...- Ela correu até ele dando-lhe um abraço apertado. – Faz parar essa dor, Jeffrey, faz parar. – Pediu desesperada. – Me dá uma daquelas coisas que você vende, me dá? – Implorou.
- O que? – Ele arregala os olhos surpreso.
- Eu já ouvir falar que essas coisas faz a gente esquecer, faz a dor sumir...então me dá...por favor. – Ela pede aos prantos.
- Ellen, eu não posso fazer isso.
- Por quê? Eu sei que você já usou, o Bill também...até o Mike.
- Isso não é pra você, Ellen. – Ele tenta explicar.
- Por quê? Eu não sou diferente de ninguém. – Diz revoltada. - É sempre isso: Ellen não pode, Ellen não faz, Ellen a certinha...tô cansada disso, de sempre fazer o que os outros esperam, o que os outros querem e nunca o que eu quero. A Mônica tinha razão, sou uma covarde, uma mimada, uma boba que nunca faz o que quer. – Ao finalizar a loira cai novamente no choro.
Izzy encara confuso a reação da loira, não sabia por que ela estava daquele jeito. Nunca a tinha visto daquela forma.
- Me dá isso aqui? – Ele toma a garrafa da mão da loira. – Quanto você bebeu? – Havia apenas um dedo de bebida naquela garrafa.
Ellen não diz nada. Apenas chora.
- Vem cá. – Ele faz um carinho em sua cabeça. – Quer que eu te leve até em casa? Parece que tem alguém chegando. – Diz ao ver a luz da frente se acender na casa de Ellen.
- Não, não quero ir para lá. Me tira daqui, Jeffrey. – Ela pede.
O albino puxa a loira pela mão até a garagem, pega sua moto a ligando.
- Tá segura? – Pergunta.
- Estou. – Ela aperta firme em sua cintura. – Só me tira daqui, tá bom? – Pede.
- Pode deixar, sei muito bem para onde vamos. – Ele dá um sorriso fraco e sai em disparada.
...
- Jeffrey, que lugar é esse? – Ellen pergunta vendo a mata fechada numa estreita trilha de terra.
- Você me disse uma vez que conhece esse local como a palma da sua mão, Ellen. Só vim por um caminho diferente. – Ele para a moto deixando o farol ligado para iluminar em meio toda aquela escuridão.
- Não acredito. – Ela desceu reconhecendo o lugar. – O lago, nossa cabana, nosso lugar secreto. – Dá um sorriso fraco sentando-se em meio as folhas olhando para o lago.
- O que aconteceu? – Jeffrey sentou-se ao seu lado.
- Meus pais...estão se separando...e meu pai...ele não me ama. – Contou com os olhos cheios de lágrima.
- Não diga isso, tenho certeza que ele ama. – Jeffrey fala.
- Eu sei que ele vai embora, ele vai me esquecer...- Ela abaixa a cabeça. – Você sabe que vai acontecer isso. – Encara o albino.
Jeffrey nada fala, apenas abaixa a cabeça. Como ele podia dizer o contrário se foi exatamente isso que aconteceu com ele, seu pai simplesmente o abandonou com o passar do tempo e nunca mais o procurou depois de formar uma nova família.
Os dois ficam em silêncio enquanto a loira suspira olhando para a sua frente.
- Na última vez que estive aqui estava com tanta vontade de nadar. – Diz pensativa. – Não nadei porque não podia chegar em casa molhada, porque iam me ver e falar, porque... – Ela se levantou. – Quer saber, eu vou nadar. – Diz decidida.
- O que? Tá de noite, Ellen. – Jeffrey pontua.
- E daí?
- Não trouxemos roupa extra ou...
Ellen apenas dá de ombro e começa a tirar sua roupa. Ela tira sua blusa ficando apenas com um sutiã branco e em seguida seu short ficando uma calcinha tipo shortinho. O albino arregala os olhos surpreso com a atitude da garota. Isso não era coisa dela, pensou.
Um tanto conflituoso ele olhava para a loira seminua a sua frente, desejando que aquilo fosse em outro contexto. Mesmo sabendo que era um tanto errado, ele não conseguia não olhar para suas curvas, balançando a cabeça para não se perder em seus pensamentos.
- Ellen...não acho que seja uma boa ideia. – Jeffrey diz completamente surpreso e perdido com a atitude da loira.
- Você não vem? – Ela pergunta caminhando até a borda do lago.
- Você bebeu, Ellen. Melhor voltar e se sentar aqui. O que acha?
Ela apenas ignora o garoto entrando na água.
- Tem certeza que não vem? – Indaga.
- Não e acho que já está bom, agora sai daí. Tá muito escuro. – Jeffrey a olha preocupado.
A loira apenas dá um sorriso submergindo na água.
- Ellen, para de brincadeira. Ellen? Ellen? – Jeffrey observa o lago esperando a loira retornar a superfície.
Preocupando-se com a demora de Ellen, Jeffrey acaba tirando sua camiseta e sua calça ficando apenas com uma cueca preta estilo short, pulando na água em seguida.
- Merda, Ellen. – Vira de um lado para o outro procurando a loira.
Ellen reaparece aos risos, notando o desespero do albino em lhe encontrar.
- Não teve graça, Ellen. E a água está fria. – Ele diz chateado.
- Para de ser resmungão. – Ela vai até o albino colocando os braços ao redor de seu pescoço enquanto os dois flutuam na água.
- Fazíamos tanto isso quando éramos pequenos. – Ele comenta.
- Quando você chegou aqui não sabia nadar, eu que te ensinei. – Ellen disse toda cheia de si.
- E eu te ensinei a beijar. – Jeffrey encara a loira encabulada colando seus lábios no dela.
...
Os dois permanecem mais um tempo na água até resolverem sair aos risos após relembrarem as brincadeiras de infância.
Encolhidos pelo frio da noite, os dois sentam-se um ao lado do outro. Jeffrey pega sua camiseta entregando para Ellen para que ela pudesse se cobrir e se aquecer. A loira olha para a camiseta em sua mão, mas apenas a joga para o lado.
- Prefiro você. – Ela agarra Jeffrey dando um beijo quente e apaixonado.
Os dois se deitam em meio as folhas, com o albino inclinando seu tórax sobre o corpo de Ellen. Ele aprofunda o beijo, e aquele pouco frio que antes tomava seus corpos molhados, agora dá lugar a um calor sem igual. Seu sutiã branco completamente molhado deixava transparecer um pouco de seu mamilo intumescido. Jeffrey permanecia apenas com sua cueca tipo short preto um pouco apertado.
Os lábios do albino deslizaram pelo pescoço da garota lhe causando calafrios. Ele ergueu a cabeça olhando de cima a baixo para o corpo curvilíneo da garota. Mordeu seus lábios ao reparar os seios avantajados seminus da loira, desejando sentir o gosto, a textura e o sabor dos mesmos.
Ellen o encarava com desejo, sua respiração estava acelerada e seu coração batia forte. Jeffrey voltou a inclinar-se sobre a loira e assim que ela fechou os olhos para receber um beijo, ele parou se afastando.
- Eu...eu...eu não posso. – Disse sentando-se ao seu lado.
- Por quê? – Ellen também se sentou olhando fixo para Jeffrey. – Não gosta de mim? Você não me deseja? – Estava confusa e insegura.
- Você está bêbada. Eu não posso fazer isso. – Ele conta.
- Eu não estou bêbada. – Ela rebate.
- Eu vi a garrafa quase vazia.
- Ela já estava daquele jeito, quase vazia. – Disse chorosa. – Nem pra isso eu presto. Peguei para tentar me embriagar, mas só conseguir dar um gole. Era horrível, eu cuspir para fora o único gole que dei. – Falou quase caindo no choro.
- Mas e tudo que você fez hoje...fugindo, se despindo e caindo na água.
- Só estava revoltada ou sei lá...mas não foi a bebida. Foi por tudo que aconteceu. – Confidenciou.
- Então mesmo que não esteja bêbada, você está com a cabeça cheia. Está fazendo isso porque está chateada com seus pais.
- Não, estou fazendo isso porque eu quero, porque em meio a todos esses problemas você é o único que consegue me fazer esquecê-los, que me faz sentir bem, que me faz bem. – Ela segurou no rosto do garoto fitando fixamente seus olhos. – Estou fazendo isso, Jeffrey, porque é o que mais desejo. – Fala.
Ellen torna a deitar enquanto encara os olhos castanhos esverdeados cheios de desejo do garoto. Ele se inclina, passando a mão na lateral de seu rosto, afastando delicadamente uma mecha do cabelo da loira.
- Tem certeza disso? – Questiona paciente.
A loira se inclina até seu ouvido:
– Me faça sua. – Sussurra.
E então...
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