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História Words - Mishaps - História escrita por Allexyaa - Spirit Fanfics e Histórias
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História Words - Mishaps


Escrita por: Allexyaa

Notas do Autor


Capítulo novo...espero que gostem ♥️

Capítulo 62 - Mishaps


Fanfic / Fanfiction Words - Mishaps

...

- Eu preciso falar, Ellen!

Mesmo que ela não tivesse interesse em conversar, mesmo que me ignorasse, eu precisava garantir que minhas palavras alcançassem seus ouvidos. Expressar tudo o que estava guardado dentro de mim, todas as coisas que nunca disse até agora. Sempre soube que não era bom com as palavras, pelo menos verbalmente, mas hoje seria diferente, hoje eu me expressaria de uma forma que ela entenderia... tudo o que sempre quis dizer para ela...tudo.

Ellen começou a se virar lentamente, sua expressão denotava expectativa, mas algo estava errado. A confusão se formou em seu rosto, assim como no meu, pois agora eu percebia que aquela não era Ellen. Não era ela.

Surpreso e desorientado, virei-me para Axl.

- Essa não é a Ellen! - Exclamei.

- Sério? - Ele debochou.

- Na verdade me chamo Olivia. - Ela sorri. - Se quiser se juntar a nós, senhor Stradlin. - Me diz saliente.

Era só o que me faltava, uma das diversões do Axl.

- Pensei que a Ellen estava aqui. - Digo confuso.

- Ela estava...

- Onde ela está?

- Amy a acompanhou até a rodoviária. Ela resolveu ir embora hoje. - Conta.

- Não posso acreditar...

- Até poderia ir, mas como tem sido difícil andar pelas ruas ultimamente. Depois da fama, cada vez fica mais complicado levar uma vida normal.

- Preciso alcançá-la. - Apressei-me em direção à porta.

- Izzy não dará tempo... o ônibus dela parte em 20 minutos. - Axl diz.

- Eu darei um jeito. - Passei apressado por ele e corri pelo corredor.

- Izzy... Izzy... não vai dar tempo... - Axl alertou.

- Eu vou conseguir... vou alcançá-la.

Desço pelo elevador e saio em disparada em direção à minha moto. Sabia que o trânsito seria um inferno àquela hora, mas com a moto eu teria a vantagem de cortar algumas ruas e chegar mais rápido do outro lado da cidade.

Coloco o capacete, subo na moto e saio derrapando, acelerando nos trechos onde era possível, tentando tomar atalhos para atravessar a cidade rapidamente. Eu conhecia bem aquelas ruas. Costurava entre os carros e, em alguns momentos, até subia na calçada. No momento, o único objetivo que importava era chegar à rodoviária.

Minha adrenalina estava nas alturas, olhava constantemente para o relógio e via que restavam apenas 10 minutos. Eu ainda estava no meio do caminho e precisava ir mais rápido, só assim conseguiria chegar a tempo.

Entrei em algumas ruelas, buzinei alto para um casal à minha frente, seguia por ruas estreitas e, sem querer, esbarrei na bicicleta de um cara que estava parado no meio da rua. Ele gritou algo sobre não ser permitido andar de moto naquela área, mas eu não tinha tempo para lidar com discussões.

Subi na calçada desviando de um buraco e por pouco não atropelei um pichador. Por fim, cheguei na avenida principal que levava à rodoviária. Faltavam apenas 5 minutos. Eu sabia que conseguiria, agora estava certo disso.

Acelerei ainda mais minha moto, costurando entre os carros e desviando dos caminhões de carga. Os objetos ao meu redor pareciam flashes reluzentes devido à velocidade. Avistei a placa indicando a rodoviária e tentei fazer uma curva à direita, mas não vi o táxi que vinha atrás de mim na mesma direção.

Tive que jogar a moto para a esquerda, evitando uma colisão, mas perdi completamente o controle e acabei derrapando e caindo na estrada, sendo arremessado metros adiante.

Zonzo e atordoado após a queda, abri um pouco os olhos e ergui a cabeça, vendo um carro se aproximando em minha direção... naquela fração de segundos, tive a certeza de que seria o meu fim... e então... tudo ficou preto.

Ellen

...

Cheguei à rodoviária, faltando pouco para o meu ônibus partir. Amy estava ao meu lado, parecendo um pouco apreensiva. Às vezes, parecia que ela queria dizer algo, mas se calava.

- Aconteceu algo, Amy? - Perguntei.

- Eu... eu... vi a Fran - Ela contou.

- Francine? - Meus olhos se arregalaram. - Não acredito! Por que você não me disse antes? Sinto tanta falta dela. Como ela está? - Questionei.

- Ela está bem, acho. Não tivemos muito tempo para conversar. Ela se tornou advogada.

- Advogada? Sempre pensei que ela fosse seguir medicina ou física - Revelei.

- Ela está advogando contra o meu irmão. - Amy conta.

- Bill? Mas o que ele fez para ela? - Franzi a testa.

- Na verdade, ela está defendendo uma vizinha que acusa o Axl. Francine é a advogada dessa garota. - Contou.

- Poxa... Mas por que a Fran aceitou esse caso? Ela sabe quem é o Axl, eles eram amigos, e depois de tudo que ela fez... - Refleti confusa. - Agora entendo por que não conversaram. Não deve ser fácil ver uma antiga amiga processando o seu irmão. Ela deve ter mudado muito, depois de tudo o que ela fez...

- Ela não fez nada - Amy me interrompeu.

- O quê? - Olhei para ela. - Ah, desculpe, Amy. Talvez você não saiba, mas acredito que isso não importe mais. Não somos mais crianças - Ri. - Ela e o Bill tiveram um namorico na escola. Ele parecia gostar muito dela, e eu achava que ela sentia o mesmo por ele. Mas depois do que ela fez no baile... Talvez o Bill nunca tenha te contado, mas ela o abandonou no baile - Revelei.

- Ah, Ellen... - Amy abaixou a cabeça, parecendo segurar as lágrimas.

- O que foi? - Perguntei.

- Eu estava ciente do relacionamento entre Axl e Fran - Amy disse.

- Ah... tudo bem, mas não precisa ficar assim. Eu também torcia por eles dois, afinal, eles eram meus amigos e pareciam gostar um do outro. Mas infelizmente, se ela não o quis e...

- Eu fiz algo terrível, Ellen. Algo terrível! - Amy segurou minha mão enquanto seus olhos se encheram de lágrimas. Não conseguia entender sua reação.

- Calma, Amy - A abracei, tentando tranquilizá-la. Ela parecia extremamente abalada.

- Eu...

"Embarque para Indiana pela TransIndianapólis, horário previsto às 14h, por favor se dirijam à plataforma 23." - Ouvimos o anúncio para o meu ônibus.

- O que aconteceu, Amy? - Perguntei preocupada para a garota.

- Você vai perder o ônibus.

- Ainda tenho uns dez minutos antes de terminarem de embarcar a todos. - Respondi. - Agora, me diz: o que você fez, Amy?

- Fui eu que separei a Fran do meu irmão... - Ela começou a contar sua história.

...

Eu fiquei completamente chocada com o que acabara de ouvir. Não conseguia acreditar que Amy era capaz de tamanha maldade.

- Por favor, Ellen, não me odeie. - Ela suplicou.

- Por que você fez isso, Amy? - Eu a encarava perplexa.

- Eu era uma garota idiota. Fiquei com raiva, me senti traída e abandonada pela minha amiga, e com raiva do meu irmão por se interessar por uma das minhas amigas novamente. Eles estavam me enganando, mentindo para mim, então eu quis ensiná-los uma lição. Só não imaginava que ele realmente gostava dela. Tentei voltar atrás, mas Gigi me ameaçou. Ela já sabia de tudo e tinha um plano. Não sei ao certo o que ela fez com a Fran, mas me fez entregar um papel dizendo que foi a Fran quem escreveu para ele. Desde então, Bill mudou tanto, ele nunca mais foi o mesmo.

- Coitada da Fran... Sabemos bem do que a Gigi era capaz. Fico imaginando o que ela disse para a Fran. - Lamentei.

- Me arrependo tanto, Ellen... tanto - Amy disse angustiada.

Apenas abaixei minha cabeça, pensando em tudo pelo que aqueles dois haviam passado. Agora compreendia por que Fran decidiu aceitar o caso contra o Axl.

- Ellen, por favor, não fique com raiva de mim - Amy implorou.

- O que você fez foi horrível, Amy - Declarei.

- Eu sei, eu sei... - Ela começou a chorar.

- Você precisa contar a verdade para o Axl e a Fran.

- Não posso, não posso... - Ela estava desesperada.

- Amy... você tem que contar!

- Ele nunca mais me olharia, Ellen. Ele não me perdoaria. - Disse angustiada.

- Ele é seu irmão. Ele pode ficar bravo, mas vai te perdoar. Você não pode deixar as coisas continuarem assim... as coisas entre eles podem piorar muito com esse processo.

Eu não suportaria ver como o meu irmão me olharia depois que ele descobrisse o que eu havia feito... assim como você está me olhando agora... como se eu fosse um monstro, uma megera...

"Ônibus com destino a Indianapolis via Lafayette, Dayton e Thorntown, partindo da plataforma 23."

Levantei-me do banco, pegando minha mochila e minha bolsa. Queria muito ficar e conversar melhor com Amy, admito que estava sendo difícil assimilar tudo o que ela havia me contado. Eu precisaria de mais tempo, mas infelizmente não o tinha no momento.

Uma Amy abalada permaneceu sentada no banco, com a cabeça baixa e lágrimas nos olhos, envergonhada pelo que havia feito. Então, abaixei-me na sua frente:

- Confesso que estou chocada com o que você me revelou. Eu queria ter mais tempo para conversarmos, para que eu mesma pudesse entender melhor. Como amiga, não posso simplesmente passar a mão em sua cabeça, foi sim horrível o que você fez, mas como você mesma disse, todos nós cometemos erros... Você era apenas uma criança na época, tentou voltar atrás, mas já era tarde demais, não tinha como consertar... Porém, agora você tem uma nova chance, Amy. Não a desperdice novamente.

- Eu não sei se sou capaz... - Ela disse, hesitante.

Eu me levantei e a puxei do banco, levando-a comigo em direção à plataforma de embarque.

- Você vai ter que encontrar essa coragem - Disse. - É o mínimo que eles merecem, Amy, a verdade - A fitei nos olhos.

Ela pensou por um momento e então abaixou a cabeça novamente.

- Foi ótimo te encontrar. - Eu a abracei apertado, em despedida.

- Obrigada por não ter me virado as costas ao saber a verdade. - Ela disse.

- Somos amigas, Amy. Nos bons e nos maus momentos, lembra? - Ela sorriu, mesmo que fraco.

- Boa viagem, Ellen.

Assim que entrei no ônibus, encontrei meu assento próximo à janela. Olhei para fora e vi Amy lá, esperando o ônibus partir.

Decidi abrir a janela rapidamente.

- Amy... - Chamei sua atenção. - Faça o que é certo, conte a verdade para eles. Não deixe essa culpa te consumir. - Insisti mais uma vez.

Ela balançou a cabeça em concordância, e parecia que finalmente havia se convencido de que era melhor revelar a verdade.

- E se precisar de uma amiga, pode me ligar - Sorri, enquanto percebia o ônibus começando a se movimentar.

Amy acenou, se despedindo.

Logo depois, me acomodei na poltrona e me entreguei aos meus pensamentos, que me acompanhariam durante aquelas longas horas de viagem.

...

Amy

Voltei para casa repassando em minha mente todas as palavras de Ellen. Ela estava certa, eu precisava contar tudo para Axl.

Sabia que não seria fácil, sabia que o que eu fiz era imperdoável, mas tinha esperança de que nosso amor fraternal superasse tudo isso. Verdadeiramente me arrependi no exato momento em que tudo aconteceu, quando percebi a quão errada estava. Fui covarde, deveria ter falado naquele instante, mas talvez a imaturidade daquela época tenha me calado, meus medos e receios sobre o que meu irmão pensaria de mim, se ele me odiaria e se afastaria. Ainda tinha esse receio, mas a conversa com Ellen me deu a coragem necessária para, finalmente, dizer toda a verdade.

Subi rapidamente pelo elevador até o apartamento de Axl. Mal toquei a porta e ela se abriu, revelando uma garota loira saindo com um sorriso no rosto. Ela passou por mim, me olhando de cima a baixo, indo em direção ao elevador. Mais uma na infinita lista de conquistas de Axl Rose, pensei, revirando os olhos.

Entrei no apartamento em seguida.

- Que é isso, Amy? Não sabe bater na porta? - O flagrei fechando o zíper da calça.

- Você tem um quarto. Por que não usa? - Falei, desejando que esse fosse o pior flagra que já presenciei. Precisaria de terapia eternamente. Eca... só de pensar no que os dois acabaram de fazer ali naquele sofá, senti um arrepio. Anotação mental: sentar apenas nas cadeiras.

- Não deu tempo. - Riu cafajeste, mas depois se recompôs, afinal era com sua irmã que ele falava. - E a Ellen? - Perguntou.

- Ela embarcou há uma hora - Contei.

- E o Izzy? - Ele questionou.

- O que tem ele? - Indaguei.

- Eu sabia que aquele albino teimoso não a alcançaria. Eu disse isso a ele - Resmungou.

- Ele foi atrás dela? - Perguntei, surpresa.

- Sim, estava aqui parecendo um filhote perdido quando... - Me contou a história.

- Ele deve ter chegado depois. Uma pena - Refleti.

- Ele pode muito bem pegar um avião e encontrá-la amanhã em Lafayette - Disse indo até a mesinha lateral para pegar um copo de uísque.

- Sim, podemos sugerir isso para ele. Eu ofereci a Ellen uma passagem de avião, mas ela recusou e ainda disse que tem muito medo - Sorri.

- Medo eu teria de passar o dia inteiro no ônibus para voltar a Lafayette - Axl fez uma careta.

- Axl, eu... - Respirei fundo, procurando uma maneira de iniciar essa conversa.

- Como será que está a cidade? Provavelmente a mesma porcaria de sempre e... - Ele continuou a falar.

- Axl... eu preciso te dizer que...

- Será que aqueles idiotas ainda vivem lá? Seria engraçado ver a cara daqueles otários... - Riu, interrompendo-me.

- William!!! - Exclamei alto, chamando sua atenção. Rose franziu a testa e se virou para mim. Raramente o chamava de William.

- Você sabe que odeio que me chame assim. - Ele me encarou.

- Preciso conversar com você... é importante - Sinto minha voz fraquejar, mas tento manter minha postura.

Axl colocou o copo de uísque de volta na mesinha lateral e se encostou na mesma.

- Então diga - Percebi a expressão séria em seu rosto. Ele sabia que era algo importante.

- Eu tinha que falar... contar que o que aconteceu quatro anos atrás foi...

"Trim-Trim-Trim" - O telefone tocou.

Axl se virou para atender.

- Deixe ir para a secretária eletrônica - Pedi.

- Mas pode ser... - Ele começou a falar, mas desistiu. - O que tem de tão sério para me dizer? - Franziu a testa, dando-me toda a sua atenção.

- Eu preciso falar que...

- Olha... se for sobre o Steve, eu não estou com paciência para isso... - Ele interrompeu. Será que ele não podia fechar a matraca?

- Me ouça, Axl!!!

Exclamei.

- Eu sou a culpada... a culpada de...

"Deixe o recado após o sinal: Falo daqui do hospital central de Los Angeles, queremos informar que deu entrada o senhor Jeffrey Dean Isbell, você consta como contato de emergência na sua agenda e..."

Imediatamente, Axl correu até o telefone e o atendeu.

Fiquei ansiosa ao seu lado.

- Sim... sim... claro... estou indo imediatamente... - Ele falava ao telefone. - Mas qual é o estado dele? - Perguntou.

E assim que vi sua expressão, soube que algo muito sério havia acontecido.

...

No dia seguinte

Ellen

...

Depois da exaustão da viagem, finalmente cheguei em casa. Abri a porta e larguei minha bolsa e minha mochila no chão.

- Oiiii... mãe... tia... - Chamei.

Tia Ayla apareceu no topo da escada, enquanto minha mãe veio da cozinha. Corri para abraçar tia Ayla.

- Ellen, minha querida, você não só chegaria amanhã? - Tia Ayla perguntou confusa.

- Oh, minha querida... como sua mãe sentiu sua falta. - Minha mãe veio até mim com todo amor e me deu um abraço. Confesso que até estranhei tanta demonstração de afeto.

- Eu terminei o curso e o último dia seria apenas para confraternizar e receber os certificados. Como eles enviam pelos correios, acabei preferindo voltar antes para preparar as coisas do casamento. - Contei.

- Ah, que bom... que bom - Mamãe comemorou. - Eu falei que você não gostaria daquela cidade e que sentiria falta daqui. Viu como sua mãe sempre sabe o que é melhor para você? Poderia ter poupado essa viagem e ter feito o curso aqui mesmo em Indiana. - Ela me fitou.

- É... talvez tenha razão, mas já foi... já voltei. - Sorri fraco.

Notei tia Ayla calada, observando-me cuidadosamente.

- Deve estar cansadinha da viagem. Vem, minha querida, vou preparar umas panquecas para você. - Mamãe me conduziu até a cozinha.

Tia Ayla apenas pegou minha bolsa e mochila e subiu as escadas. Estranhei sua reação.

...

Já estávamos na sala e mamãe continuava a falar sobre os enfeites do casamento, as roupas e tudo mais. E sempre que eu mencionava ir para o quarto, ela me segurava, puxando assunto.

- Vou tomar banho. - Avisei, levantando-me do sofá.

- Agora?! Fique mais um pouco, minha querida, temos tanto para conversar. - Ela pediu.

- Mãe, eu já voltei. Teremos tempo de sobra para conversar, mas agora eu realmente preciso tomar banho. - Respondi.

Notei sua frustração e fiquei confusa com sua reação, mas, no fim, ela "me liberou" para subir até meu quarto.

...

Estava terminando de me trocar após o banho quando tia Ayla bateu na porta do meu quarto.

- Já ia atrás de você. Acho que não ficou com tanta saudades assim de mim. - Brinquei.

Ela sorriu e foi até minha cama.

- Ficou só eu e a Mary em casa, dá para sentir meu desespero em não ter sua companhia. - Ela sorriu.

- O que aconteceu? - Fui até ela e me sentei ao seu lado.

- Eu e sua mãe brigamos, não é nenhuma novidade, não é mesmo?

- Por quê? - A olhei fixamente.

Ela ficou calada por um momento.

- Primeiro... me diz como foi sua viagem. E não venha com aquela encenação barata de que preferiu voltar antes da viagem para preparar o casamento... você já tem tudo muito bem planejado. - Ela ressaltou.

- Não posso esconder de você, não é, tia?

- Você sabe que não pode. - Ela sorriu.

Respirei fundo, pensando por onde iniciar.

- Eu encontrei o Jeffrey... - Então comecei a contar toda a história.

...

Tia Ayla me ouviu pacientemente, sem interrupções. Contei tudo para ela, não havia motivo para esconder, afinal, ela era minha melhor amiga.

- Sério que ele disse que você arrumou um Ken? - Ela perguntou aos risos.

- Eu te conto tudo e é isso que você me pergunta. - Estava indignada.

- Mas foi engraçado...até que lembrando bem você fazia o estilo Barbie.

- Tiaaa... - Jogo um ursinho nela.

- Desculpa...é que...me lembrou muito quando vocês eram crianças...e sempre que brigavam ficavam provocando um ao outro. Lembra que você o chamou uma vez de Chico Bento por estar com as calças curtas e que ele uma vez a chamou de Mafalda depois que sua mãe fez um penteado com um laço vermelho enorme para a apresentação de vocês na escola. Sempre era assim quando brigavam.

- Nós éramos crianças tia. - Ressalto.

- Mas se provocaram igual. - Diz risonha enquanto fecho a cara. - Tá, desculpa...desculpa. Foi só para aliviar um pouco essa conversa. - Ela diz.

- Me sinto tão péssima, tia. Como pude fazer isso? - Levei as mãos ao rosto.

- Ellen, eu queria poder te dizer que não foi nada demais, mas sabemos que foi.

- Eu não sei o que estava pensando.

- Preciso saber, Ellen. O que você sente pelo Jeffrey? - Ela perguntou séria.

- Nada! - Afirmei, mas ela balançou a cabeça. - Quero dizer... claro que ele é... foi... importante para mim. Talvez tenha sido a emoção de vê-lo novamente, uma mistura de sensações e sentimentos que tomaram conta de mim, e acabei me rendendo a algo que faz parte do passado.

- O que você sente por ele está realmente no passado, Ellen?

Olhei de um lado para o outro, respirei fundo, pensando em como era difícil definir meus sentimentos quando se tratava dele.

- Que diferença faz, tia? O que ele fez... ou melhor... não fez... em todos esses anos. Ele não deu nenhuma explicação, nem um pedido de desculpas... falou palavras bonitas que nem sei se eram verdadeiras... mas o que eu queria ouvir... ele não falou.

- Ele explicou sobre o baile. - Ela ressaltou o trecho da conversa que acabara de lhe contar.

- Sim, o que aconteceu na noite do baile já não é mais um mistério, pelo menos isso ele revelou. Agora, tia, e depois? Por que ele não me ligou? Por que não me procurou? Por que não veio até mim?

- Talvez medo do Falcon... - Ela sugeriu.

- O Falcon foi morto um ano após o baile, e, quando eu perguntei se ele sabia, ele não negou, disse que sabia. Então, se a desculpa era essa, medo do Falcon, ele não tinha mais razão para não vir atrás de mim. Talvez a razão seja a mais óbvia de todas, e eu demorei tanto para enxergar. Eu não era importante para ele, nunca fui. - Abaixei minha cabeça.

- Sinto muito, Ellen. - Ela me consolou.

- E agora me sinto tão culpada. Não podia ter feito isso com o Kenny... eu gosto dele e traí sua confiança... - Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

- Queria poder dizer que não foi nada demais, mas não é isso que penso. Foi errado sim... foi. Eu gosto do Kenny, e você sabe disso, vejo o quanto ele é bom para você. Mas também, Ellen, entendo sua confusão. Sei o quanto o Jeffrey, a quem vi crescer, significava para você. Você sempre foi tão certinha, tão controlada por sua mãe, que não soube lidar com seus sentimentos. Entendo como deve estar se sentindo culpada.

- Muito... se eu pudesse voltar atrás... - Pensei em voz alta.

- Então você pode fazer duas coisas: pode esconder tudo ou falar a verdade para ele.

- Eu vou contar o que aconteceu. Refleti muito sobre isso durante a viagem e decidi ser verdadeira com ele.

- Acho que isso é o mais correto, mas também tenho outro conselho para te dar. Se tem absoluta certeza de que quer se casar com ele, dizer isso agora só iria magoá-lo. Se você se comprometer a nunca mais pensar nisso, no Jeffrey... talvez seja melhor esquecer esse deslize e seguir em frente com sua vida.

- Não sei se seria capaz, tia. Me sentiria mal em relação ao Kenny.

- Ellen, ele te ama... provavelmente irá te perdoar...

- E isso não é bom? Podemos seguir a nossa vida sem mentiras.

- Seria bom se estivéssemos em um filme ou novela. Na vida real não é assim... ele te perdoando ou não, assim que você contar... uma dor irá se instalar em seu peito... e por mais que ele fique ao seu lado e os anos passem... isso sempre irá permanecer ali, causando sofrimento a ele de tempos em tempos. Então... se sua intenção é colocar um fim nisso, acho que vale a pena dizer, mas se você quer seguir com ele e se casar, poupe-o dessa dor e se comprometa a ser a melhor esposa que ele possa ter.

- Não tinha pensado por esse lado, tia. - Refleti. Fiquei realmente surpresa com esse conselho. Eu esperava que ela me obrigasse imediatamente a contar para ele.

- Na maioria das vezes, quando alguém vem contar algo que fez, usando a desculpa de que não queria mais mentir ou que desejava ser honesto com a pessoa, na verdade, essa pessoa não está pensando em quem vai ouvir, mas sim tentando aliviar sua própria culpa por ter agido errado. Então, quando alguém conta o que fez de errado, ela se livra da culpa e da dor, e quem acaba sofrendo é o outro. As pessoas acham que estão fazendo um favor ao contar, mas muitas vezes, não contar seria a melhor decisão que alguém poderia tomar por você. Em vez de se livrar da culpa e transferir a dor de algo que você fez para o outro, aprenda a lidar com ela.

- Então... você acha melhor eu não contar? - Perguntei, refletindo sobre suas palavras.

- No seu caso, acho que sim. - Ela respondeu com franqueza. - Mas apenas se você tiver absoluta certeza, Ellen. Certa de que é com ele que você quer ficar.

Não disse nada, apenas fiquei ali refletindo sobre suas palavras.

- Bem, você tem alguns dias para pensar. Ele só volta daqui cinco dias. - Ela acariciou levemente minha bochecha.

Tia Ayla se levantou da cama e caminhou em direção à porta.

- Ei... você não me contou por que brigou com a mamãe. - Perguntei.

- Discordamos sobre qual seria o melhor tipo de flor para os corredores. - Ela explicou. - Não se preocupe, reflita sobre o que eu disse e depois conversamos mais. - Ela fechou a porta, me deixando sozinha no quarto.

...

Ayla

Reconheço que o conselho que ofereci pode não ter sido o mais sábio a se dar. Como tia e a mais velha da história, eu deveria ter instruído Ellen a fazer o que era certo e revelar toda a história para Kenny. Contudo, fiquei me questionando se essa realmente era a melhor solução. Verdade seja dita, a verdade liberta, mas também tem o poder de destruir.

Eu os conhecia... conhecia Ellen... conhecia Kenny... então sabia que havia outra forma de não acabar com a história dos dois. Eu compreendia o quanto ela estava arrependida e o quão difícil seria para ele. No entanto, eu tomava essa decisão porque, acima de tudo, desejava ver minha sobrinha feliz.

Compreendo o quão difícil foi para ela superar o Jeffrey. Confesso que, durante muito tempo, torci por um final feliz entre os dois. Apesar de não entender completamente o que aconteceu e por que ele a abandonou, mantinha uma pequena esperança de que acabassem juntos. Contudo, não seria a primeira vez que eu erraria em relação a um homem. Eu mesma depositava tanta confiança no meu noivo, e veja só o que ele fez. Gostaria de poder imaginar que havia mais por trás dessa história entre eles, porém, já não estou na idade de criar elaboradas justificativas. Às vezes as coisas são simplesmente assim... é a vida... é um fato... ele simplesmente não a amava como eu acreditava. E eu não queria que, por causa dele mais uma vez, ela se enredasse numa infelicidade interminável, como anos atrás. Kenny surgiu como um sopro de ar fresco de que Ellen precisava. E era por isso que não me arrependia de tentar mantê-la o mais próximo à felicidade possível.

Descia as escadas, imersa em pensamentos, quando me deparei com Mary ao final dos degraus.

- E então... você contou para ela? - Ela perguntou ansiosa.

Não disse nada, apenas passei por ela e segui em direção à cozinha.

- Eu sei que você contou... eu sei que contou. Pedi tanto para você não contar. Sei que me odeia e quer tirar a minha filha de mim. - Ela me seguiu apressadamente.

- Eu não contei. - Respondi calmamente, sentando-me à mesa e pegando uma maçã.

- Até que enfim você usou o bom senso. - Ela ergueu as mãos ao céu e agradeceu.

- Ainda não contei, mas irei contar. - Deixei claro.

- Por quê? Não percebes que isso a fará odiar-me? - Indagou, fitando-me com indignação. - Ela não vai entender... não vai compreender que tudo o que fiz foi pelo seu próprio bem.

- Pelo bem dela? - Dei uma risada zombeteira. - Não seja hipócrita, Mary. Você fez isso por interesse próprio, pelo teu ego ferido. - Afirmei.

- Não... não foi por mim... foi por ela... Vê como ela está bem? - Apontou.

- Bem? Bem? A Ellen está bem? - A fito indignada. - Se deixasse de olhar para o seu próprio umbigo e olhasse um pouco que fosse para sua filha saberia que há muito tempo a Ellen não está bem. Ela nunca esteve completamente bem, Mary.

- Está delirando, Ayla. Ela vai se casar, está feliz e...

- Ela simplesmente seguiu em frente com a vida dela, mas durante muito tempo esteve triste e apática, sofrendo em silêncio. Sabes que ela nunca mais foi a mesma depois que John partiu e tu os afastaste. - Ela fez uma careta. - E depois daquele baile, após...

- O quê? Poupa-me dessa história. Quem magoou Ellen foi aquele... aquele... delinquente. Apesar de eu implorar para que ela desistisse de sair com ele, e de adverti-la sobre a má índole daquele garoto...

- Lembro-me dele aqui em casa, Mary... embora eu estivesse com a mente confusa naquela época... ainda tenho flashes daquela noite e lembro dele conversando contigo. O que disseste a ele? O quê? - Questiono, desconfiando de suas palavras.

- Não sei do que está falando, ele não esteve aqui aquela noite. Deve estar se confundindo com algum outro dia, aquela noite se quer saber, ele não apareceu nem para levar a Ellen ao baile.

- Posso estar enganada quanto a isso, mas só ele poderia me dizer, porque em você eu não acredito. - Digo.

- Não conte a ela, Ayla. - Mary suplica, voltando ao assunto.

- Lamento, Mary, mas ela precisa saber. Ela precisa descobrir que, ao longo desses anos, quem pagou por tudo - faculdade, cursos, formatura e até mesmo o próprio casamento - foi o pai dela. O pai que você constantemente joga na cara dela como ausente, que a abandonou e a esqueceu. O pai que escreveu inúmeras cartas que você esconde na gaveta, juntamente com cheques e comprovantes de transferência do dinheiro que ela sequer imagina que ele enviava. Uma quantia muito maior do que ela recebia.

- Ele não merece o afeto dela. Não após o que ele fez. - Mary range os dentes.

- Isso será algo que ela dirá, não você. - Respondo firmemente.

Volto a dar uma mordida na minha maçã.

A mulher sai enfurecida da cozinha.

Eu iria contar, só não tinha mencionado hoje porque isso só traria mais problemas para ela. Mas assim que ela resolvesse suas questões com Kenny, eu lhe contaria... e então ela decidiria o que fazer em relação a seu pai, aquele que ela acredita tê-la abandonado.

...

05 dias depois

Izzy

Abro os olhos, ainda me acostumando com a intensidade da luz, sentindo meu corpo dolorido e minha cabeça zonza. Aos poucos, percebo que estou em um quarto completamente branco. Viro minha cabeça para o lado e encontro Axl sentado em uma poltrona, me observando atentamente.

- O que aconteceu? - Pergunto para ele.

- Dessa vez, você realmente me assustou. - Ele levantou-se e veio em minha direção.

Em um dos meus braços, notei a presença de um acesso intravenoso, por onde recebia soro. Ao meu lado, monitores acompanhavam meus sinais vitais. Deitado em uma cama gradeada, com um colchão desconfortável, percebo que minha perna está enfaixada.

- Estou em um hospital? O que aconteceu? - Pergunto confuso.

- Você caiu da moto. Ficou três dias em coma e, há um dia, abriu os olhos brevemente, mas logo adormeceu novamente. Pronunciou algumas palavras soltas antes de apagar novamente. Hoje foi a primeira vez que acordou por completo. - Explica-me.

- Fiquei apagado por cinco dias... - Murmuro.

- Ontem, enquanto você estava acordado, chamava o nome de Ellen várias vezes. - Ele informa.

- E onde ela está agora? Onde está Ellen? - Indago, preocupado.

- Ela foi embora, cara, partiu para Lafayette. Você não conseguiu alcançá-la. Amy e eu consideramos em avisá-la, mas não sabíamos se era isso que você iria querer.

- Não... não... fez bem em não ligar. - Penso, consciente de que não tinha o direito de preocupá-la.

- Izzy, você quase... - Axl para ao lado da minha cama, fitando-me com os olhos cheios de lágrimas.

- E você se preocupou? Sou cabeça-dura, esqueceu? - Dei um sorriso, mas logo soltei um gemido de dor. Sentia meu corpo todo dolorido.

- Vou chamar o médico. - Axl disse, prontamente.

...

- O senhor teve sorte, Stradlin. - Foi a primeira coisa que o médico me disse, enquanto pegava meu prontuário e conferia as anotações da enfermagem.

- Sorte? - Franzi a testa.

- O carro conseguiu frear a tempo, caso contrário, você não estaria aqui para contar sua história... ou tocar suas músicas. - O médico comentou sorrindo, tentando ser bem-humorado.

Não disse nada. Digamos que eu não estava com disposição para suas piadas, principalmente enquanto sentia tanta dor.

- Vou lhe receitar um analgésico. Os ferimentos ainda estão bem feios, mas a tomografia da sua cabeça não mostrou nenhum dano grave. Agora precisará descansar devido ao joelho e esperar as escoriações nas costas cicatrizarem.

- Quando poderei ter alta? - Perguntei, curioso.

- O quê? Acordou há meia hora e já quer ir embora? - Ele questionou. - Terás que ficar pelo menos mais dois dias, até ser liberado pelo ortopedista. Ele ainda fará mais alguns exames no seu joelho e perna. - Informou-me.

- Que saco! - Detestava hospital.

- Bem, voltarei mais tarde. Se precisar de algo, é só me chamar. - Ele avisou. - Ah...tens um fiel amigo... ele dormiu aqui todos esses dias. - Apontou para Rose.

- Não era necessário, cara. - Disse para Axl.

- Sabes que o considero como um irmão. - Ele apertou minha mão.

A enfermeira chegou ao quarto e me deu um remédio. Fiquei semi-deitado na cama, apoiando minhas costas na cabeceira, enquanto esperava a sopa. Imaginava o quão deliciosa ela deveria estar, uma sopa sem sal, sem carne, sem tempero, sem sabor...

- Izzy, em relação a Ellen... sabe que ainda é possível conversar com ela... sobre...

- Não, Bill, acho que foi melhor assim... talvez tenha sido o melhor mesmo. - Interrompi-o.

Ele estava prestes a insistir, mas fomos interrompidos por três caras barulhentos que aproveitavam a hora da visita.

- Cara... eu disse que o albino estava apenas procurando umas férias! - Steve chegou empolgado, vindo até mim e me dando um meio abraço.

- Cara... tu quase foi para a cidade dos pés juntos. - Duff cumprimentou-me.

- Ainda bem que comprou o ticket de volta. - Slash também apertou minha mão.

- E então... viu umas anjinhas te chamando para a luz? - Steve perguntou brincalhão.

- Ah, para, Steve... foi sério. - Duff o interrompeu. - ... estamos falando do acidente do Izzy...sendo assim provavelmente ele viu umas diabinhas. - O Girafa completou.

Acabei caindo na risada.

- Vocês são uns motherfuckers por me fazerem rir. - Levo as mãos ao abdômen, tentando acalmar a dor causada pela risada.

- Vou ligar para a Amy. - Axl sai do quarto.

Bem, ficamos ali conversando por uns cinco minutos, tempo que durou a visita dos caras antes de serem expulsos por: baderna.

Depois fiquei algum tempo sozinho, pensando que sim... eu realmente vi alguém quando estive à beira da morte... mas nesse momento ela estava ao lado de outro e não ao meu lado.

...

Ellen

Cinco dias se passaram desde que conversei com tia Ayla ponderando sobre tudo o que ela me disse. Sei que ela só quer minha felicidade, mas ainda questionava se seria justo esconder o que aconteceu de Kenny.

E depois de muito pensar, tomei minha decisão.

Descia as escadas quando fui surpreendida por alguém me agarrando e me dando um beijo surpresa.

- Como eu senti sua falta! - Ele disse, me abraçando apertado, levantando-me do chão e girando comigo.

- Kenny... - Ri e me endireitei após ser solta.

- Esses dias quase não passaram... - Ele comentou. - Ainda bem que falta tão pouco para ter você ao meu lado para sempre. - Disse carinhosamente.

Dei um riso suave e caminhamos até a sala, sentando-nos no sofá.

- Tenho algo para te contar. - Anunciei.

- Tudo bem... pode falar. - Ele me olhou expectante enquanto eu pensava em como começar aquela conversa.

***



Notas Finais


Espero que tenham gostado ❤️
Uma ótima semana pra todos😉


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